05/08/2021

NUNC COEPI Publicações em Agosto 5

 


Quinta-Feira 

 

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)

 

 

Propósito: Participar na Santa Missa.

Senhor, vendo-me tal como sou, nada, absolutamente, tenho esta percepção da grandeza que me está reservada dentro de momentos: Receber o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade do Rei e Senhor do Universo.

O meu coração palpita de alegria, confiança e amor. Alegria por ser convidado, confiança em que saberei esforçar-me por merecer o convite e amor sem limites pela caridade que me fazes. Aqui me tens, tal como sou e não como gostaria e deveria ser.

Não sou digno, não sou digno, não sou digno! Sei porém, que a uma palavra Tua a minha dignidade de filho e irmão me dará o direito a receber-te tal como Tu mesmo quiseste que fosse. Aqui me tens, Senhor. Convidaste-me e eu vim.

Lembrar-me: Comunhões espirituais.

Senhor, eu quisera receber-vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos recebeu Vossa Santíssima Mãe, com o espírito e fervor dos Santos.

Pequeno exame: Cumpri o propósito que me propus ontem?

 


LEITURA ESPIRITUAL

 

Evangelho

Lc IV, 1-44

Genealogia de Jesus

23 Ao iniciar o seu ministério, Jesus tinha cerca de trinta anos. Supunha-se que era filho de José; e este de Eli, 24 e assim sucessivamente: de Matat, de Levi, de Melqui, de Janai, de José, 25 de Matatias, de Amós, de Naum, de Esli, de Nagaí, 26 de Maat, de Matatias, de Chimei, de Josec, de Jodá, 27 de Joanan, de Ressa, de Zorobabel, de Salatiel, de Neri, 28de Melqui, de Adi, de Cosam, de Elmadam, de Er, 29 de Jesua, de Eliézer, de Jorim, de Matat, de Levi, 30 de Simeão, de Judá, de José, de Jonam, de Eliaquim, 31 de Meleá, de Mená, de Matatá, de Natan, de David, 32 de Jessé, de Obed, de Booz, de Salá, de Nachon, 33 de Aminadab, de Admin, de Arni, de Hesron, de Peres, de Judá, 34 de Jacob, de Isaac, de Abraão, de Tera, de Naor, 35 de Serug, de Ragau, de Péleg, de Éber, de Chela, 36 de Quenan, de Arfaxad, de Sem, de Noé, de Lamec, 37 de Matusalém, de Henoc, de Jared, de Maleleel, de Quenan, 38de Enós, de Set, de Adão, de Deus.

 

Jesus na Galileia

14 Impelido pelo Espírito, Jesus voltou para a Galileia e a sua fama propagou-se por toda a região. 15 Ensinava nas sinagogas e todos o elogiavam.

 

Jesus prega na sinagoga de Nazaré

16 Veio a Nazaré, onde tinha sido criado. Segundo o seu costume, entrou em dia de sábado na sinagoga e levantou-se para ler. 17 Entregaram-lhe o livro do profeta Isaías e, desenrolando-o, deparou com a passagem em que está escrito: 18 «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, 19 a proclamar um ano favorável da parte do Senhor.» 20 Depois, enrolou o livro, entregou-o ao responsável e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. 21 Começou, então, a dizer-lhes: «Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir.» 22 Todos davam testemunho em seu favor e se admiravam com as palavras repletas de graça que saíam da sua boca. Diziam: «Não é este o filho de José?» 23 Disse-lhes, então: «Certamente, ides citar-me o provérbio: ‘Médico, cura-te a ti mesmo.’ Tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaúm, fá-lo também aqui na tua terra.» 24 Acrescentou, depois: «Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua pátria. 25 Posso assegurar-vos, também, que havia muitas viúvas em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou durante três anos e seis meses e houve uma grande fome em toda a terra; 26 contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas sim a uma viúva que vivia em Sarepta de Sídon. 27 Havia muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu, mas nenhum deles foi purificado senão o sírio Naaman.»

 

Os habitantes de Nazaré querem matar Jesus

28 Ao ouvirem estas palavras, todos, na sinagoga, se encheram de furor. 29 E, erguendo-se, lançaram-no fora da cidade e levaram-no ao cimo do monte sobre o qual a cidade estava edificada, a fim de o precipitarem dali abaixo. 30 Mas, passando pelo meio deles, Jesus seguiu o seu caminho.

 

Jesus vai a Cafarnaúm

31 Desceu, depois, a Cafarnaúm, cidade da Galileia, e a todos ensinava ao sábado. 32 E estavam maravilhados com o seu ensino, porque falava com autoridade.

 

Jesus liberta um possesso do demónio

33 Encontrava-se na sinagoga um homem que tinha um espírito demoníaco, o qual se pôs a bradar em alta voz: 34 «Ah! Que tens que ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos arruinar? Sei quem Tu és: o Santo de Deus!» 35 Jesus ordenou-lhe: «Cala-te e sai desse homem!» O demónio, arremessando o homem para o meio da assistência, saiu dele sem lhe fazer mal algum. 36 Dominados pelo espanto, diziam uns aos outros: «Que palavra é esta? Ordena com autoridade e poder aos espíritos malignos, e eles saem!» 37 A sua fama espalhou-se por todos os lugares daquela região.

 

Jesus cura a sogra de Pedro e outros doentes

38 Deixando a sinagoga, Jesus entrou em casa de Simão. A sogra de Simão estava com muita febre, e intercederam junto dele em seu favor. 39 Inclinando-se sobre ela, ordenou à febre e esta deixou-a; ela erguendo-se, começou imediatamente a servi-los. 40 Ao pôr do sol, todos quantos tinham doentes, com diversas enfermidades, levavam-lhos; e Ele, impondo as mãos a cada um deles, curava-os. 41 Também de muitos saíam demónios, que gritavam e diziam: «Tu és o Filho de Deus!» Mas Ele repreendia-os e não os deixava falar, porque sabiam que Ele era o Messias.

 

Jesus prega em várias cidades

42 Ao romper do dia, saiu e retirou-se para um lugar solitário. As multidões procuravam-no e, ao chegarem junto dele, tentavam retê-lo, para que não se afastasse delas. 43 Mas Ele disse-lhes: «Tenho de anunciar a Boa-Nova do Reino de Deus também às outras cidades, pois para isso é que fui enviado.» 44 E pregava nas sinagogas da Judeia.

 

Comentário

 

Talvez que este trecho de São Lucas nos dê indicações preciosas sobre a tentação que o demónio “prefere” e usa com mais frequência: o orgulho pessoal. Percebe-se porquê: O orgulho pessoal está na origem de quase todos os pecados que o homem comete porque desfoca a realidade e o critério. O mais grave, porém, é que o orgulho leva a pessoa a considerar-se capaz de tudo – inclusive resistir à tentação – levando-o a desprezar a cautela, a contenção, a prudência, o conselho.

Este episódio evangélico está rodeado de algum mistério. Porque é que o demónio tenta Jesus Cristo e porque é que o Senhor Se deixa tentar? Em primeiro lugar o demónio não tem a certeza de quem é Jesus. Ter-se-á dado conta durante a vida do Senhor das atitudes, palavras e obras que Lhe via tomar, dizer e fazer. Tudo lhe indicará que poderá tratar-se de ‘alguém’ especial. O demónio não tem porque conhecer os planos de Deus para a Redenção e, muito menos, o seu detalhe. Mas sabe, seguramente, que se espera a vinda do Messias. Será Este? De alguma forma obtém uma resposta; se a tentação vingar, então, não é de facto o Messias, caso contrário, isto é, se O for, Ele se manifestará como tal. O que realmente aconteceu. Jesus Cristo deixa que o demónio tente exercer o seu poder de forma a poder definir uma situação: a partir de agora, a luta entre as trevas e a Luz não passará pelo confronto directo que Cristo não consente mas pela exclusiva actuação demoníaca sobre os homens. Com a instalação do Reino de Deus na terra – que está prestes a acontecer - a humanidade ficará com os meios, as defesas necessárias e bastantes para lutar com êxito contra o poder do demónio que, não mais, será discricionário e quase absoluto porque, reatando as ‘relações’ com a humanidade, perdidas com o pecado original, O Criador vai mais longe e converte os homens – todos – em Seus filhos e estará disponível para os ajudar numa luta, até então, desigual. Isto se demonstra na última frase do texto: «o demónio retirou-se d'Ele até outra ocasião» que se verifica em Getsémani quando a humanidade do Senhor entra em conflito íntimo e doloroso com a missão que O trouxe ao mundo. Por duas vezes o Demónio diz «Se és filho de Deus» o que demonstra que, de facto não sabe ou, pelo menos, não tem a certeza de quem verdadeiramente é Jesus. Deve servir-nos de consolação este limite ao conhecimento dos homens imposto por Deus ao Demónio. De facto é-lhe vedado conhecer o nosso íntimo e apenas, como ser inteligente que é, pode presumir, pelas nossas atitudes e comportamento se estamos ou não em situação para sermos tentados. Dando um exemplo muito gráfico e simples, se nos dispomos a ligar um determinado canal de televisão é muito possível que o diabo nos tente em questões que têm a ver com a pureza. Caso contrário seria como que “um tiro no escuro”, o que também faz amiúde.

Quem está disposto a ouvir não se deve importar tanto com que diz, mas com o que é dito, pois ninguém sendo mau, pode falar de coisas boas. Ninguém poderá acusar Jesus de ter deliberadamente escondido a Sua identidade e ocultar a missão que vinha cumprir. Ele próprio o confessa dando como “garantia” das Suas palavras a própria Escritura. É interessante verificar que o Evangelista não menciona que alguém dos que estavam presentes tivesse colocado alguma questão. Ao mesmo tempo, quando dizem «Não é este o filho de José?», percebe-se que entenderam perfeitamente o que Jesus Cristo queria significar com a sentença que proferiu: «Hoje cumpriu-se este passo da Escritura que acabais de ouvir». De facto, não fazem nenhuma pergunta, não solicitam qualquer esclarecimento. Gostam do que ouvem e da forma como Jesus Cristo fala sobre as Escrituras mas… ficam-se por aí porque, a incredulidade começa a instalar-se nos seus espíritos e, o que se passará a seguir, será a prova concludente disto mesmo. Talvez com algum de nós aconteça o mesmo, interessam-se pelo que dizemos e como dizemos mas… não nos levam a sério, têm-nos numa conta que não confere autoridade ao que dizemos e, então, porquê espantar-nos? Quando se diz a verdade há que contar com as dúvidas dos que nos escutam. As pessoas não estão habituadas à verdade e muito menos a aceitam quando ela colide com os seus interesses, preconceitos ou convicções que ao longo da vida foram construindo. Preferem ignorá-la ou, então, que lhes mintam. Assim tudo se torna mais fácil e não haverá que reconhecer o erro e corrigir.

Pela primeira vez, na Sua terra, no meio dos Seus conhecidos e parentes, Jesus Cristo declara a Sua divindade dizendo claramente que, Ele, é o Messias. Talvez por alguma deferência por aqueles que O conheciam desde muito pequeno, a Sua Mãe e demais pessoas de família, não quis perder esta oportunidade, que não se repetirá, de fazer tal revelação mesmo sabendo que não iriam acolhê-la e, muito menos acreditar nele. É um ensinamento precioso que Cristo nos dá no que ao apostolado se refere. Os que nos estão mais próximos devem ser o nosso primeiro objectivo. Jesus Cristo diz com clareza:  “O Espírito do Senhor repousou sobre Mim; pelo que Me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres; Me enviou para anunciar a redenção aos cativos, e a recuperação da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a pregar um ano de graça da parte do Senhor”.» Podemos perguntar: Mas Jesus Cristo não veio para salvar todos os homens? Então porque nomeia os pobres, os cativos, os cegos, os oprimidos? Penso que a razão reside no facto de estes que Ele nomeia são os que estão como que à margem da sociedade e, Ele, nomeando-os, quer significar exactamente que ninguém – absolutamente – é excluído do Reino de Deus, todos têm uma mesma dignidade de Filhos de Deus, todos são “candidatos” à vida eterna. Mas, considerando sob outro ponto de vista, facilmente concluímos que o Senhor Se refere às Obras de Misericórdia que devem ser uma preocupação de qualquer homem e, por excelência, de todo o cristão. Num outro versículo, afirma que também vem: «Pregar um ano de graça da parte do Senhor». Não sei se a Igreja Católica, os Papas, a declararem um “Ano Santo” – como este que vivemos agora, o Ano Santo da Misericórdia [i] – seguem, de alguma forma esse desejo de Missão que Jesus Cristo tão claramente específica.

As pessoas mudam de opinião e atitude com uma ligeireza impressionante. Quando o que ouvem lhes agrada tecem louvores a quem lhes fala e admiram-se com o que diz. Já se o que se diz não é do seu agrado, ou, pior, envolve uma crítica justa e absolutamente correcta sustentada em factos indesmentíveis a assembleia muda de atitude, desinteressa-se do assunto ou, toma atitudes de confronto aberto e violento. De facto, a missão do apóstolo é dizer a verdade custe o que custar e não procurar agradar a quem o escuta. Poder-se-á depreender das palavras de Cristo que nos tempos daqueles Profetas não haveria em Israel gente sã, correcta e cumpridora da lei de Deus? Claro que não! A ilação a tirar é justamente o oposto: Deus é Pai de todos os homens e todos independentemente da sua raça, origem, cor da pele ou outra coisa qualquer merecem o Seu carinho e interesse.

O Senhor não faz – nunca – acepção de pessoas como um Pai não tem mais amor a um filho que a outro.

Há uma afirmação de São Lucas neste trecho do Evangelho que nos dá que pensar: «Mas, passando pelo meio deles, Jesus seguiu o seu caminho.» Como se, de repente, O Senhor ficasse invisível aos olhos dos que O rodeavam – e eram muitos a comprimir-se à Sua volta – de tal forma que deixaram de O ver! Mas, é verdade: o Senhor só Se deixa ver por quem, quando e como quer. Chegada a hora derradeira do Calvário muitos hão-de vê-Lo suspenso da Cruz mas, desses, quantos saberão de facto e acreditam que estão contemplando o Salvador do mundo no Seu derradeiro e extraordinário sacrífico? De facto, os olhos podem ver mas só o coração, a alma simples e pura podem compreender de facto o que aqueles vêem. Muitas vezes, segundo os Evangelistas, as pessoas admiravam-se com a doutrina de Cristo e, sobretudo com a forma como a expunha: com autoridade. Mas não só autoridade, mas com exemplos ou parábolas que a tornavam acessível e simples. ‘Fazei assim como Eu faço’, parece Jesus dizer com veemência conclusiva. O exemplo é o melhor ensinamento, o mais credível e aceitável. Vê-se bem a diferença de acolhimento prestado a Jesus em Cafarnaum e em Nazaré. Será porque os de Cafarnaum têm mais fé? Será, talvez, porque não têm preconceitos nem reservas de intenção, mas, antes, genuína vontade de aprender. Jesus dá-nosu m exemplo muito concreto do que deve ser o nosso apostolado. Por vezes podemos ser tentados a permanecer no mesmo local com as mesmas pessoas com quem vimos desenvolvendo acção apostólica e descurar outros que também precisam de nós. Não quer dizer que abandonemos os primeiros, mas, uma vez 'conquistados' e encaminhados por um director espiritual, continuando a rezar por eles, devemos procurar outros. Quem? Se não o vemos claramente, pedindo ao Espírito Santo que nos ilumine e ao nosso Director Espiritual que nos aconselhe, consegui-lo-emos. O apostolado não pode parar e, muito menos, 'contentar-se' com algum sucesso obtido. Não o esqueçamos, como afirmava S. Josemaria: de cem almas interessam-nos cem! Jesus cura todos os doentes que eram trazidos pelos familiares e amigos. Não um, três ou mais… não, cura todos. Não faz um milagre “geral” mas diversos milagres já que, diz o evangelista «impunha as mãos a cada um deles». Cada homem é objecto da Sua atenção, do Seu cuidado, do Seu amor. Esta lição que o Senhor dá a todos quantos pretendem que a administração dos Sacramentos se pode fazer de forma impessoal e multitudinária. Como um raio de luz incandescente assim é a acção de Jesus sobre os que procuram alívio para os seus males deixando as multidões atónitas e maravilhadas. Este Médico que cura a febre da sogra de Pedro tem remédio para todo e qualquer sofrimento ou debilidade humanas. Pode tudo e tudo se Lhe submete. Como nos deve encher de confiança ter tão extraordinário médico sempre disponível para nos atender.

Devemos guardar como exemplo a seguir este trecho do Evangelho: «falava com autoridade». Temos, portanto, estrita obrigação de conhecer a Doutrina da nossa Santa Religião completamente segura e sem titubeios para que o que transmitimos seja credível e aceite. As pessoas que ouviam Jesus admiravam-se da «Sua doutrina, porque falava com autoridade». No apostolado – missão de todo o cristão – não se pode falar sem a certeza absoluta que o que se diz é correcto. A Doutrina bem estruturada é fundamental para que os outros possam acreditar em nós e, como pretendemos, ser convencidos a acreditar em Jesus Cristo Nosso Senhor. Até ao fim da nossa vida não deve passar um dia sem que aprofundemos a Doutrina que enforma a nossa Fé. Os «espíritos imundos» que o Evangelho menciona mais não são que manifestações diabólicas. Antes da Redenção que Cristo veio realizar na Cruz, o demónio tinha um enorme poder porque faltava essa “barreira” de defesa contra o pecado original. O seu domínio pode, por vezes, apresentar-se como algo agradável, bom e trazendo felicidade. Mas trata-se, sempre, de embuste já que, pela sua própria natureza, só pode querer e fazer o mal. Já se sabe, muitos autores o disseram, Jesus impedia que os demónios falassem porque não queria que a Sua Pessoa Divina, Filho de Deus Pai, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, fosse revelada pelo maligno. A mim parece-me lógico: quem poderia dar crédito ao pai da mentira? Além do mais, o facto de expulsar demónios não fazia de Jesus o Filho de Deus, muitos outros os expulsavam também. Não. Jesus Cristo queria que acreditassem nele pelas Suas obras e, sobretudo, pelas Suas palavras que eram, como disse São Pedro, palavras de vida Eterna. Na verdade devia ser impressionante assistir a estas acções de Jesus. O demónio era, então, o dono do mundo que mantinha sujeito com duríssimas consequências para as pessoas. Jesus vem libertar o mundo dessa escravidão e, estas expulsões de demónios são um sinal e como que uma antecipação do que levará a cabo com a Sua Morte na Cruz e a Sua Ressurreição. Mas os que rodeiam Jesus não sabem nada disto e por isso precisam destes sinais que, entre outros, confirmam que, Ele, é o Messias.

Estas palavras de Jesus que para sempre ficaram gravadas «dificilmente alguém é profeta na sua terra», sirvam de desculpa para fugir às obrigações apostólicas que todo o cristão tem? Bem ao contrário: devem constituir um fortíssimo aviso para o comportamento, o exemplo que tem de se dar. Sobretudo aqueles que nos conhecem melhor, os da “nossa terra” mais que pelas palavras têm de ser “seduzidos” pelo exemplo do que fazemos mais que pelo possamos dizer. Que importa se somos “fáceis de palavra”, interessantes na exposição, atraentes pelo conteúdo se, o que praticamos diz o oposto, se nos conhecem por relapsos, frios, egoístas, desinteressados, soberbos, se não mostramos preocupação pelos outros, as suas vidas, dificuldades ou doenças, se não somos solidários ou participamos nas acções destinadas ao bem comum, se o “copo de água”, o “pedaço de pão”, ficam por partilhar. Ah... sim! Nestes casos bem podemos estafar-nos em “pregações” que ninguém nos dará ouvidos.

Ver Jesus! Deveria ser a vontade de toda a criatura e a sua certeza. Vultum tuum, Domine, requiram! Quero ver a Tua Face, Senhor! E hei-de vê-la, mais tarde, quando Tu assim o determinares e ficar para sempre na Sua contemplação eterna. Parece que quem lê o Evangelho diariamente – o que deveriam fazer todos os cristãos – ao deter-se no que acabou de ler e ao comentá-lo para si ou para outros, se encontra numa posição um pouco desconfortável: repito-me, já meditei, já escrevi sobre este texto! Desconfortável porquê? Cada vez que nos debruçamos sobre o texto sagrado encontramos coisas novas e, hoje, parece-me ter “descoberto” algo que ainda não tinha reparado: na contradição que surge entre os circunstantes conforme os versículos 22 e 33. Porque mudam tão subitamente de opinião? Porque motivo passam da admiração e louvor à ira e à revolta? A resposta está no próprio trecho.

Pode acontecer com qualquer um que se dedique ao apostolado – tarefa de todo o cristão – que estranhem ouvir-nos falar das coisas de Deus. Tal pode acontecer – «o discípulo não é mais que o seu Mestre» - principalmente se não formos conhecidos como cristãos autênticos, com uma unidade de vida comprovada. Defeitos? Teremos sempre, como qualquer ser humano, mas não serão eles que nos hão-de impedir levar a cabo a tarefa.

Tal como os conterrâneos de Jesus, também nós - tantas vezes - queremos um Deus à nossa medida, que seja o que nós esperamos que seja, que actue como julgamos que nos convém, em suma, um Deus ao nosso serviço. E, de facto, Ele veio «para servir, e não para ser servido», o que é bastante diferente de satisfazer os nossos caprichos e desejos. Satisfazer as nossas necessidades? Sim, mas as reais e não aquelas que julgamos ter o que, quase sempre, são coisa muito diferente.

Como é difícil ouvir a verdade! E, mais que ouvir, aceitá-la! Queremos sempre alguma prova que garanta que o que ouvimos é certo e, quando temos essa prova, não nos basta, não é suficiente. Fazemos, quase sempre, no nosso íntimo, uma construção da verdade muito própria, adequada às nossas conveniências e, então, não ouvimos – não queremos ouvir – o que vai contra essa ‘verdade’ que construímos para nós. Cegos que não querem ver, surdos que não querem ouvir, preconceituosos que não querem aceitar! E, eu? Incluo-me nalgum destes? Entrego-me de todo o coração àquele que é e própria Verdade? Ponho entraves, levanto questões, duvido? Dá-me, Senhor, um coração puro e simples para te poder ouvir e, ouvindo, acreditar em Ti. Nos “trabalhos” de apostolado deparamo-nos muitas vezes com o sentimento de vergonha ou, antes, hesitação perante um falso dilema que se nos coloca: Conhecem-me, sabem quem sou… levar-me-ão a sério? Não estranharão que fale e me apresente como uma espécie de “pregador”, eu…  que sou uma pessoa normal e corrente? Como dizia é um falso dilema por duas razões principais: A primeira reside no facto de que o que dizemos não é da nossa “lavra” mas sim sobre a Doutrina da Igreja; a segunda porque, se de facto nos conhecem, sabem muito bem o que fazemos e a forma como tentamos proceder e estranharão – isso sim – que não lhes falemos do que para nós é principal e importante. Mas, evidentemente, o que importa é que o que dissermos esteja de acordo com o que fazemos e praticamos. Só assim mereceremos credibilidade.

Um “milagre menor” poderíamos pensar! Curar uma febre não será assim “tão grande coisa”; qualquer médico, nós próprios com os remédios adequados, fazemos o mesmo quando temos acesso a um ou a outros. É verdade! Mas também é verdade - e esta é que nos interessa considerar – Jesus Cristo é, Ele próprio, o Médico e o Remédio e está sempre disponível e pronto a curar os nossos males. Não há, pois, “milagres menores”, mas intervenções da Vontade Soberana de Deus qua não deseja outra coisa que o nosso bem.

O Evangelista não refere que a sogra de Pedro tenha rompido, como muitos outros, em louvores e acções de graças pela cura alcançada. Diz que ela «levantando-se logo, servia-os». O serviço, mesmo simples e sem notoriedade é verdadeira Acção de Graças porque nada é mais agradável ao Senhor – o Servo por excelência – que imitá-Lo servindo.


 

SACRAMENTOS

 

Sacramentos em geral

1. O Mistério pascal: mistério vivo e vivificante

 

As palavras e as acções de Jesus durante a sua vida oculta em Nazaré e no seu ministério público eram salvíficas e antecipavam a força do seu ministério pascal. «Uma vez chegada a sua “Hora” (cf. Jo 13, 1; 17, 1.), Jesus vive o único acontecimento da história que não passa jamais: morre, é sepultado, ressuscita de entre os mortos e senta-Se à direita do Pai “uma vez por todas” (Rm 6, 10; Heb 7, 27; 9, 12). É um acontecimento real, ocorrido na nossa história, mas único; todos os outros acontecimentos da história acontecem uma vez e passam, devorados pelo passado. Pelo contrário, o mistério pascal de Cristo não pode ficar somente no passado, já que pela Sua morte, Ele destruiu a morte; e tudo o que Cristo é, tudo o que fez e sofreu por todos os homens, participa da eternidade divina, e assim transcende todos os tempos e em todos se torna presente. O acontecimento da cruz e da ressurreição permanece e atrai tudo para a vida» (Catecismo, 1085).

Como sabemos, «no início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo». Daí que «a fonte da nossa fé e da liturgia eucarística é o mesmo acontecimento: a doação que Cristo fez de Si próprio no mistério pascal».

 


 

REFLEXÃO

 

Quando alguém se vê particularmente dominado por um defeito, deve armar-se só contra esse inimigo, e tratar de o combater antes que a outros (...), pois enquanto não o tenhamos superado deitaremos a perder os frutos da vitória conseguida sobre os demais.

 

(São João Clímaco, Escala del Paraíso, 15)

 

SÃO JOSEMARIA – textos

 

 

 

És filho de Deus

O baptismo faz-nos "fideles", fiéis, palavra que, como aquela outra "sancti", santos, empregavam os primeiros seguidores de Jesus para se designarem entre si, e que ainda hoje se usa: fala-se dos "fiéis" da Igreja. – Pensa nisto! (Forja, 622)

 



[i] Ano Santo Da Misericórdia –  de 08 Dez 2015 a 20 Nov 2016