Estas “confidências” têm, obviamente, um autor, que não se revela; foram feitas em tempo indeterminado, por isso não se lhes atribui a data. O estilo discursivo revela, obviamente, que se tratam de meditações escritas ao correr da pena. A sua publicação deve-se a ter considerado que, nelas se encontram muitas situações e ocorrências que fazem parte do quotidiano que, qualquer um, pode viver.
Senhor, ensina-me a falar contigo.
Tenho tanto para Te dizer e não sei como.
Comecemos por agradecer.
A gratidão sem limites que me inunda o coração, pelas misericórdias constantes de que sou objecto.
O Teu carinho de Pai e amigo dedicadíssimo, provendo as minhas necessidades mais urgentes.
Como é o eco no meu coração destas Tuas manifestações de bondade?
Bem pobre e diminuto.
Parece que meço com uma medida estreita a minha gratidão, as minhas acções de graças.
E, no entanto, eu não deveria fazer mais que, estar, permanentemente, com o pensamento em Ti, agradecendo tudo: o estar vivo, o ter uma casa confortável, gente que me serve dedicadamente, pessoas amigas que acreditam em mim e que me ajudam, uma esposa que me apoia guardando para ela a angústia e medo do dia de amanhã, filhas que se contentam com o que têm e que gostam de mim e me respeitam, almoço e jantar todos os dias, água quente, um jardim, automóveis, conforto e, sobretudo, alguém que está sempre à minha disposição para me ajudar, apoiar, incitar para a frente.
Isto tudo, e muito mais, Senhor, deveria eu ter sempre presente, sem contar com as inúmeras graças que diariamente derramas sobre mim.
E eu sou ingrato e esquecido.
Peço e suplico com veemência e devoção mas esqueço-me e abrando, afrouxo a luta por ser melhor, de agradecer ao menos um pouco, por mínimo que seja, a Tua bondade.
Peço-te perdão, Senhor, da minha ingratidão, das minhas faltas, dos meus esquecimentos, dos meus retrocessos contínuos sobre os passos andados.
Faço o firme propósito de lutar para vencer, para me vencer, e aos meus terríveis defeitos que não me deixam progredir conforme devo.
Porém, nada posso sozinho, sem a Tua ajuda, toda a minha luta e esforço serão inúteis.
Sem o Teu auxílio não conseguirei senão somar mais fracassos, reincidir nas mesmas faltas, continuando orgulhosamente, convencido que tenho algum mérito, quando, na verdade, não tenho nenhum.
É pois este o favor, a graça que Te peço:
Tem-me junto a Ti sob vigilância constante, para que eu possa efectivamente encontrar a força e a perseverança necessárias, e fazer algum esforço que valha a pena e dê algum fruto.
Quando Te recebo todas as manhãs, eu sei muito bem que Tu vens porque queres e porque és extremamente bondoso.
Nada Te deve atrair em mim que Te mereça uma visita.
Mas, uma vez que vens, então Senhor, fica comigo o resto do dia e não me deixes cair em tentação, instila no meu espírito a vontade e o querer fazer bem, depressa e sem adiamento, aquilo que tem de ser feito, para glória Tua e merecimento meu para a salvação da minha alma.