2.ª Tessalonicenses - 2
I.
ORGANIZAÇÃO ECLESIAL
A oração pública –
1
Recomendo, pois, antes de tudo, que se façam preces, orações, súplicas e acções
de graças por todos os homens, 2 pelos reis e por todos os que estão
constituídos em autoridade, a fim de que levemos uma vida serena e tranquila,
com toda a piedade e dignidade. 3 Isto é bom e agradável diante de Deus, nosso
Salvador, 4 que quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento
da verdade. 5 Pois, há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, um
homem: Cristo Jesus, 6 que se entregou a si mesmo como resgate por todos. Tal é
o testemunho dado para os tempos estabelecidos. 7 Foi para isto que fui
constituído arauto e apóstolo - digo a verdade, não minto - mestre das nações,
na fé e na verdade.
Recomendações às mulheres –
8
Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar, erguendo as mãos puras, sem
ira nem altercação. 9 Do mesmo modo, as mulheres usem trajes decentes,
adornem-se com pudor e modéstia, sem tranças, nem ouro, nem pérolas, ou
vestidos sumptuosos, 10 mas, como convém a mulheres que fazem profissão de
piedade, por meio de boas obras. 11 A mulher receba a instrução em silêncio,
com toda a submissão. 12 Não permito à mulher que ensine, nem que exerça
domínio sobre o homem, mas que se mantenha em silêncio. 13 Porque primeiro foi
formado Adão, depois Eva. 14 E não foi Adão que foi seduzido mas a mulher que,
deixando-se seduzir, incorreu na transgressão. 15 Contudo, será salva pela sua
maternidade, desde que persevere na fé, no amor e na santidade, com recato.
230
Universalidade da caridade
“Com
o nome de próximo - diz São Leão Magno - não havemos de considerar só os
que se unem a nós pelos laços da amizade ou do parentesco, mas todos os homens,
com os quais possuímos uma natureza comum... Um só Criador nos fez, um só
Criador nos deu a alma. Todos podemos desfrutar do mesmo céu e do mesmo ar, dos
mesmos dias e das mesmas noites e, embora uns sejam bons e outros maus, uns
justos e outros injustos, Deus, no entanto, é generoso e benigno com todos”.
Nós,
os filhos de Deus, forjamo-nos na prática desse mandamento novo, aprendemos na
Igreja a servir e a não ser servidos e encontramo-nos com forças para amar a
humanidade de um modo novo, que todos reconhecerão como fruto da graça de
Cristo.
O
nosso amor não se confunde com uma atitude sentimental, nem com a simples
camaradagem, nem com o afã pouco claro de ajudar os outros para demonstrarmos a
nós mesmos que somos superiores. O nosso amor exprime-se em conviver com o
próximo, em venerar - insisto - a imagem de Deus que há em cada homem,
procurando que também ele a contemple, para que saiba dirigir-se a Cristo.
A
universalidade da caridade significa, por isso, universalidade do apostolado: Tradução
pela nossa parte, em obras e em verdade, do grande empenho de Deus, que quer
que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade.
Se
temos de amar também os inimigos - refiro-me aos que nos colocam entre os seus
inimigos; eu não me sinto inimigo de ninguém nem de nada - com maior razão teremos
de amar os que apenas estão afastados, os que nos são menos simpáticos, os que
pela sua língua, pela sua cultura ou pela sua educação parecem o oposto de ti
ou de mim.
231
De
que amor se trata?
A
Sagrada Escritura fala de dilectio,
para que se entenda bem que não se refere apenas ao afecto sensível.
É
mais uma determinação firme da vontade.
Dilectio
deriva de electio, de escolher.
Eu
acrescentaria que amar, em sentido cristão, significa querer querer, decidir-se
em Cristo a procurar o bem das almas sem discriminação de qualquer género,
conseguindo para elas antes de mais o que há de melhor: que conheçam a Cristo e
que se apaixonem por Ele.
O
Senhor urge-nos: «Portai-vos bem com os que vos aborrecem e orai pelos que
vos perseguem e caluniam».
Podemos
não nos sentir humanamente atraídos pelas pessoas que nos afastariam, se nos
aproximássemos delas.
Mas
Jesus exige que não lhes devolvamos mal por mal; que não desperdicemos as
ocasiões de as servir com o coração, ainda que nos custe; e que não deixemos
nunca de as ter presentes nas nossas orações.
Essa
dilectio, essa caridade, enche-se de
matizes mais profundos quando se refere aos irmãos na fé, especialmente aos
que, porque Deus assim o estabeleceu, trabalham mais perto de nós: os pais, o
marido ou a mulher, os filhos e os irmãos, os amigos e os colegas, os vizinhos.
Se
não existisse este carinho, amor humano nobre e limpo, ordenado a Deus e nEle
fundamentado, não haveria caridade.
232
Manifestações do amor
Agrada-me
citar umas palavras que o Espírito Santo nos comunica pela boca do profeta
Isaías: “discite benefacere”, aprendei a fazer o bem.
Costumo
aplicar este conselho aos diferentes aspectos da nossa luta interior, pois a
vida cristã nunca se dá por terminada, visto que o crescimento nas virtudes se
obtém como consequência de um empenho efectivo e quotidiano pela santidade.
Como
aprendemos nós a realizar qualquer trabalho na sociedade? Primeiro examinamos o
fim desejado e os meios para o alcançar. Depois perseveramos no uso desses
recursos repetidamente até criarmos um hábito arraigado e firme.
Quando
aprendemos alguma coisa, descobrimos outras que ignorávamos e constituem um
estímulo para continuarmos esse trabalho, sem nunca dizermos "basta".
A
caridade para com o próximo é uma manifestação do amor a Deus. Por isso, ao
esforçarmo-nos por melhorar nesta virtude, não podemos fixar nenhum limite.
Com
o Senhor, a única medida é amar sem medida, pois, por um lado jamais chegaremos
a agradecer suficientemente o que Ele tem feito por nós e, por outro, assim se
revela o mesmo amor de Deus às suas criaturas: Com excesso, sem cálculo, sem
fronteiras.
A
todos os que estamos dispostos a abrir-lhe os ouvidos da alma, Jesus Cristo
ensina no Sermão da Montanha o mandato divino da caridade.
E,
ao terminar, como resumo, explica: «amai os vossos inimigos, fazei bem e
emprestai sem esperardes nada em troca, e será grande a vossa recompensa e
sereis filhos do Altíssimo, porque Ele é bom, mesmo com os ingratos e os maus. Sede,
pois, misericordiosos como também o vosso Pai é misericordioso».
A
misericórdia não se limita a uma simples atitude de compaixão; a misericórdia
identifica-se com a superabundância da caridade que, ao mesmo tempo, traz
consigo a superabundância da justiça.
Misericórdia
significa manter o coração em carne viva, humana e divinamente repassado por um
amor rijo, sacrificado e generoso. Assim glosa S. Paulo a caridade no seu canto
a esta virtude: “A caridade é paciente, é
benéfica; a caridade não é invejosa, não actua precipitadamente; não se
ensoberbece, não é ambiciosa, não busca os seus próprios interesses, não se
irrita, não pensa mal dos outros, não folga com a injustiça, mas compraz-se na
verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo sofre.”
233
Uma
das suas primeiras manifestações concretiza-se em iniciar a alma nos caminhos
da humildade.
Quando
sinceramente nos consideramos nada; quando compreendemos que, se não
tivéssemos o auxílio divino, a mais débil e fraca das criaturas seria melhor do
que nós; quando nos vemos capazes de todos os erros e de todos os horrores;
quando nos reconhecemos pecadores, embora lutemos com empenho por nos
afastarmos de tantas infidelidades, como havemos de pensar mal dos outros?
Como
se poderá alimentar no coração o fanatismo, a intolerância, o orgulho?
A
humildade leva-nos pela mão a tratar o próximo da melhor forma: compreender a
todos, conviver com todos, desculpar a todos; não criar divisões nem barreiras;
comportarmo-nos - sempre! - como instrumentos de unidade.
Não
é em vão que existe no fundo do homem uma forte aspiração à paz, à união com os
seus semelhantes e ao respeito mútuo pelos direitos da pessoa, de modo que tal
aspiração se transforme em fraternidade.
Isto
reflecte uma nota característica do que há de mais valioso na condição humana:
se todos somos filhos de Deus, a fraternidade nem se reduz a uma figura de
retórica, nem consiste num ideal ilusório, pois surge como meta difícil, mas
real.
Perante
os cínicos, os cépticos, os insensíveis, os que fizeram da sua cobardia um modo
de pensar, nós, os cristãos, havemos de demonstrar que esse carinho é possível.
Existem
talvez muitas dificuldades para nos comportarmos deste modo, pois o homem foi
criado livre e tem a possibilidade de se levantar inútil e amargamente contra
Deus; mas esse caminho é possível e é real, porque tal conduta nasce
necessariamente como consequência do amor de Deus e do amor a Deus.
Se
tu e eu quisermos, Jesus Cristo também o quer.
Então
compreenderemos, em toda a sua profundidade e com toda a sua fecundidade, a
dor, o sacrifício, a entrega desinteressada na convivência diária com os
outros.