Tempo comum XIII Semana
Santa Isabel de Portugal
Evangelho:
Mt 9, 14-17
14 Então foram ter com Ele
os discípulos de João e disseram-Lhe: «Qual é a razão por que nós e os fariseus
jejuamos e os Teus discípulos não jejuam?». 15 Jesus respondeu-lhes:
«Porventura podem estar tristes os companheiros do esposo, enquanto o esposo
está com eles? Mas virão dias em que lhes será tirado o esposo e então eles
jejuarão. 16 Ninguém deita um remendo de pano novo em vestido velho, porque este
remendo levaria consigo uma parte do vestido e ficava pior o rasgão. 17
Nem se deita vinho novo em odres velhos; doutro modo rebentam os odres,
derrama-se o vinho e perdem-se os odres. Mas deita-se o vinho novo em odres
novos; e assim ambas as coisas se conservam».
Comentário:
É de notar que
Jesus Cristo não quer associar o jejum à tristeza.
De facto os cristãos podem e devem jejuar mas como filhos de Deus, jamais
poderão estar tristes.
(ama,
comentário sobre Mt 9 14-15, Carvide, 2015.02.20
Leitura espiritual
São Josemaria Escrivá
Amigos de Deus
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Se a simples presença de uma pessoa de
categoria, digna de consideração, é suficiente para que se comportem melhor
aqueles que estão à sua volta, como é que a presença de Deus, constante,
sentida em todos os recantos, conhecida pelas nossas potências e amada
gratamente, não nos torna sempre melhores em todas as nossas palavras, acções e
sentimentos?
Se,
efectivamente, a realidade que consiste em Deus nos ver estivesse bem gravada
nas nossas consciências e se nos apercebêssemos de que todo o nosso trabalho,
sem qualquer excepção, se desenvolve na sua presença - porque nada escapa ao
seu olhar - com que cuidado terminaríamos as coisas ou como seriam diferentes
as nossas reacções!
Ora,
este é o segredo da santidade que prego há tantos anos: Deus chamou-nos a todos
para que o imitemos; e a vós e a mim para que, vivendo no meio do mundo - sendo
homens da rua - saibamos pôr Cristo Nosso Senhor no cume de todas as
actividades humanas honestas.
Deveis agora compreender ainda melhor que,
se algum de vós não amasse o trabalho que lhe corresponde, se não se sentisse
autenticamente comprometido em santificar uma das nobres ocupações terrenas, se
carecesse de uma vocação profissional, nunca chegaria a penetrar na essência
sobrenatural da doutrina que expõe este sacerdote, porque lhe faltaria,
precisamente, uma condição indispensável: a de ser um trabalhador.
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Aviso-vos, sem qualquer presunção da minha
parte, que noto rapidamente se estas minhas palavras caem em saco roto ou
passam ao lado daquele que me ouve.
Deixai
que vos abra o meu coração, para que me ajudeis a dar graças a Deus. Quando, em
1928, vi o que o Senhor queria de mim, comecei imediatamente o trabalho.
Naqueles anos - obrigado, meu Deus, porque houve muito que sofrer e muito que
amar! - alguns tomaram-me por louco.
Outros,
alardeando compreensão, chamavam-me sonhador, mas sonhador de sonhos
impossíveis.
Apesar
dos pesares e da minha própria miséria, continuei sem desanimar.
Como
aquilo não era meu, foi-se abrindo caminho no meio das dificuldades e hoje é
uma realidade estendida por toda a terra, de polo a polo, que parece muito
natural à maioria das pessoas, porque o Senhor se encarregou de a fazer
reconhecer como coisa sua.
Dizia-vos que, mal troco duas palavras com
alguém, descubro logo se ele me compreende ou não.
Não
me acontece como à galinha que está a chocar a ninhada e sob a qual mão
estranha coloca um ovo de pata.
Passam-se
os dias e só quando os pintainhos partem a casca e vê passarinhar aquela
espécie de bocadinho de lã, descobre através do seu andar desajeitado - pata
aqui, pata acolá - que esse não é um dos seus e que jamais aprenderá a piar,
por mais que se empenhe. Nunca maltratei ninguém que me tenha voltado as
costas, nem sequer quando me pagaram com insolência os meus desejos de ajudar.
Por
isso, pelo ano de 1939, chamou-me a atenção um letreiro que encontrei num
edifício, onde me encontrava a dar um retiro a universitários.
Dizia
assim: Cada caminhante siga o seu caminho.
Era
um conselho digno de ser aproveitado.
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Perdoai-me esta divagação e, embora não nos
tenhamos afastado do tema, voltemos ao seu fio condutor.
Convencei-vos
de que a vocação profissional é parte essencial e inseparável da nossa condição
de cristãos.
O
Senhor quer que sejais santos no lugar onde estais e no trabalho que haveis
escolhido pelas razões que vos aprouveram: pela minha parte, todos me parecem
bons e nobres - desde que não se oponham à lei divina - e capazes de ser
elevados ao plano sobrenatural, isto é, enxertados nessa corrente de Amor que
define a vida de um filho de Deus.
Não posso deixar de ficar um pouco
desassossegado quando alguma pessoa, ao falar da sua profissão, põe cara de
vítima, afirma que lhe absorve não sei quantas horas por dia e, na realidade,
não desenvolve sequer metade do trabalho de muitos dos seus companheiros que,
ao fim e ao cabo, talvez só se esforcem por critérios egoístas ou, pelo menos,
meramente humanos.
Todos
nós, que estamos aqui, mantendo um diálogo pessoal com Jesus, desempenhamos
alguma ocupação bem precisa: de médico, de advogado, de economista...
Pensai
um pouco nos vossos colegas que sobressaem pelo seu prestígio profissional,
pela sua honradez e pelo seu serviço abnegado.
Não
dedicam muitas horas do dia - e até da noite - a essa tarefa? Não teremos algo
a aprender deles?
Enquanto falo, também vou examinando a
minha conduta e confesso-vos que, ao pôr essa pergunta a mim mesmo, sinto um
pouco de vergonha e o desejo imediato de pedir perdão a Deus, pensando na minha
resposta tão débil, tão afastada da missão que Deus nos confiou no mundo.
Cristo
- escreve um Padre da Igreja - escolheu--nos para que fôssemos como lâmpadas;
para que nos convertêssemos em mestres dos demais; para que actuássemos como
fermento; para que vivêssemos como anjos entre os homens, como adultos entre
crianças, como espirituais entre gente somente racional; para que fôssemos semente;
para que produzíssemos fruto.
Não
seria necessário abrir a boca, se a nossa vida resplandecesse desta maneira.
Sobrariam as palavras, se mostrássemos as obras. Não haveria um só pagão, se
nós fôssemos verdadeiramente cristãos.
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Valor exemplar da vida
profissional
Temos de evitar o erro de considerar que o
apostolado se reduz ao testemunho de algumas práticas piedosas.
Tu
e eu somos cristãos, mas, ao mesmo tempo e sem solução de continuidade,
cidadãos e trabalhadores, com obrigações bem nítidas que temos de cumprir
exemplarmente, se deveras queremos santificar-nos.
É Jesus Cristo que nos estimula: Vós sois a luz do mundo.
Não
se pode ocultar uma cidade situada sobre um monte.
Nem
se acende uma candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim sobre o
candelabro, e assim alumia quantos estão em casa.
Brilhe
do mesmo modo a vossa luz diante dos homens, a fim de que, vendo as vossas boas
obras, glorifiquem vosso Pai que está nos céus.
Seja qual for, o trabalho profissional
converte-se numa luz que ilumina os vossos colegas e amigos.
Por
isso, costumo repetir aos que se incorporam no Opus Dei, e a minha afirmação
vale também para todos aqueles que me ouvis: que me importa que me digam que
fulano de tal é um bom filho meu - um bom cristão - mas um mau sapateiro?!
Se
não se esforçar por aprender bem o seu ofício, ou por executar o seu trabalho
com esmero, não poderá santificá-lo nem oferecê-lo ao Senhor.
Ora, a santificação do trabalho ordinário
constitui como que o fundamento da verdadeira espiritualidade para aqueles que,
como nós, estão decididos a viver na intimidade de Deus, imersos nas realidades
temporais.
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Lutai contra essa excessiva compreensão que
cada um tem para consigo mesmo: sede exigentes para vós próprios.
Às
vezes, pensamos demasiadamente na saúde e no descanso, que aliás não deve
faltar, precisamente porque é preciso voltar ao trabalho com forças renovadas.
Esse
descanso, porém, escrevi-o há já tantos anos, não é não fazer nada, mas
distrairmo-nos em actividades que exigem menos esforço.
Noutras ocasiões, com falsas desculpas,
somos excessivamente comodistas, esquecemo-nos da bendita responsabilidade que
pesa sobre os nossos ombros, conformamo-nos com fazer o que é minimamente
indispensável e deixamo-nos arrastar por razões sem razão para nada fazermos,
enquanto Satanás e os seus amigos não tiram férias.
Ouve
e medita com atenção o que S. Paulo escrevia aos cristãos que eram escravos;
instava-os a obedecerem aos seus amos: não
os sirvais como quem trabalha somente porque é visto e para agradar aos homens,
mas como servos de Cristo que fazem a vontade de Deus com todo o coração e
servi-os com amor, sabendo que servis ao Senhor e não a homens.
Que
bom conselho para que o sigamos tu e eu!
Peçamos luz a Jesus Cristo Nosso Senhor e
roguemos-lhe que nos ajude a descobrir, a cada instante, o sentido divino que
transforma a nossa vocação profissional no gonzo sobre o qual assenta e gira a
nossa chamada à santidade.
Verificareis
no Evangelho que Jesus era conhecido como faber,
filius Mariæ, o trabalhador, o filho de Maria.
Também
nós, com orgulho santo, temos de demonstrar com factos que somos trabalhadores,
homens e mulheres de trabalho!
Porque havemos de nos comportar sempre como
enviados de Deus, devemos ter bem presente que não o servimos com lealdade
quando abandonamos a nossa tarefa, quando não compartilhamos com os outros o
empenho e a abnegação no cumprimento dos compromissos profissionais ou quando
nos possam classificar como inconstantes, inconvenientes, frívolos,
desordenados, preguiçosos e inúteis...
Na
verdade, quem descuida essas obrigações aparentemente menos importantes, só com
dificuldade vencerá nas da vida interior que, certamente, são mais custosas.
Quem é fiel nas coisas pequenas, é fiel
também nas grandes; e quem é injusto nas pequenas coisas, é injusto também nas
grandes.
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Não estou a falar de ideais imaginários.
Atenho-me
a uma realidade muito concreta, de capital importância, capaz de modificar o
ambiente mais pagão e mais hostil às exigências divinas, como aconteceu na
primeira época da era da nossa salvação. Saboreai estas palavras de um autor
anónimo desses tempos, o qual resume assim a grandeza da nossa vocação: os cristãos são para o mundo o que a alma é
para o corpo.
Vivem no mundo, mas não
são mundanos, tal como a alma está no corpo, mas não é corpórea.
Habitam em todos os
povoados, como a alma está em todas as partes do corpo.
Agem mediante a sua vida
interior sem se fazerem notar, como a alma mediante a sua essência...
Vivem como peregrinos
entre coisas perecedoiras, na esperança da incorruptibilidade dos céus, como a
alma imortal vive agora numa tenda mortal.
Multiplicam-se dia-a-dia
sob o peso das perseguições, como a alma se aformoseia pela mortificação...
E não é lícito aos cristãos abandonarem a
sua missão no mundo, como não é permitido à alma separar-se voluntariamente do
corpo.
Por esta razão, enganar-nos-íamos no
caminho, se não déssemos importância às ocupações temporais.
Também
aí vos espera o Senhor.
Podeis
ter a certeza de que nós, homens, nos havemos de aproximar de Deus através das
circunstâncias da vida corrente, ordenadas ou permitidas pela Providência na
sua sabedoria infinita.
Não
atingiremos esse fim, se não nos esforçarmos por terminar bem a nossa tarefa;
se não perseverarmos no afã pelo trabalho começado com empenho humano e
sobrenatural; se não desempenharmos bem o nosso ofício como o melhor e, se é
possível - e penso que, se tu verdadeiramente quiseres, assim será - melhor do
que o melhor, porque usaremos todos os meios terrenos honrados e os espirituais
que forem necessários para oferecer a Nosso Senhor um trabalho primoroso,
acabado como uma peça de filigrana, perfeito.
(cont)