Art.
4 — Se a anunciação se cumpriu em perfeita ordem.
O quarto discute-se assim. — Parece que a
anunciação não se cumpriu em perfeita ordem.
1. — Pois, a dignidade de Mãe de Deus
depende da prole concebida. Ora, a causa deve manifestar-se antes do efeito.
Logo, o Anjo devia ter anunciado à Virgem a concepção do filho antes de a ter
saudado com a proclamação da sua dignidade.
2. Demais. — Não podemos exigir prova
em matéria onde não pode haver dúvida nem em matéria que pode ser sujeita a
dúvidas. Ora, parece que o Anjo anunciou, primeiro, o que a Virgem duvidava e,
por duvidar, perguntou. Como se fará isso? E só depois acrescentou a prova
tirada tanto do exemplo de Isabel, como da omnipotência de Deus. Logo, a
anunciação do anjo realizou-se numa ordem inconveniente.
3. Demais. — O mais não pode ser
suficientemente provado pelo menos. Ora, mais admirável foi dar à luz uma
virgem, que se o fizesse uma velha. Logo, a prova do Anjo não foi suficiente,
provando a concepção virginal pela concepção de uma velha.
Mas, em contrário, o Apóstolo: Tudo o proveniente de Deus é ordenado.
Ora, o Anjo foi enviado por Deus para anunciar à Virgem, como diz o Evangelho.
Logo, a anunciação pelo Anjo cumpriu-se de maneira mui ordenada.
A anunciação cumpriu-se
pelo Anjo na ordem conveniente. Pois, o Anjo tinha tríplice desígnio em relação
à Virgem. — Primeiro, tornar-lhe o coração atento à consideração de um tão
grande acontecimento. O que fez, saudando-a com uma nova e insólita saudação.
Por isso diz Orígenes, que se a Virgem, que conhecia a lei judaica, soubesse
que uma saudação semelhante tivesse algum dia sido feita a alguém, não teria
ficado amedrontada do seu carácter estranho. E nessa saudação o Anjo
anunciou-lhe em primeiro lugar a sua idoneidade para a concepção, quando disse
— Cheia de graça; depois, anunciou a
concepção, ao declarar-lhe — O Senhor é
contigo; e enfim prenunciou-lhe a honra consequente, com as palavras – Bendita tu entre as mulheres. - O
segundo desígnio do anjo era instruí-la no mistério da Encarnação, que nela
devia cumprir-se. E isso fê-lo, prenunciando-lhe a concepção e o parto, quando
disse – Eis, conceberás no teu ventre,
etc.; e lhe mostrou a dignidade do filho concebido, dizendo — Este será grande, etc. E também quando
lhe revelou o modo da concepção, com as palavras — O Espírito Santo descerá sobre ti. — O terceiro desígnio ao Anjo
era induzir-lhe o ânimo ao consentimento. O que fez com o exemplo de Isabel e
pela razão deduzida da omnipotência divina.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Para uma alma humilde nada causa maior admiração que ouvir falar da sua
própria excelência. Pois, a admiração desperta soberanamente a atenção da alma.
Por isso o Anjo, querendo tornar atenta a mente da Virgem, para ouvir a
revelação de um tão grande mistério, começou por elogiá-la.
RESPOSTA À SEGUNDA. — Ambrósio diz
expressamente que a Santa Virgem não duvidou das palavras do Anjo. São palavras
suas: Mais comedida é a resposta de Maria
que as palavras do sacerdote. Esta pergunta: Como se fará isto? Aquele
responde: Por onde conhecerei eu a verdade dessas coisas? Recusa assim a sua
fé, negando conhecer tais coisas. A Virgem, porém, não duvida, no momento em
que pergunta como se fará, da sua realização. — Agostinho, porém, parece
dizer que a Virgem deixou-se invadir da dúvida, quando afirmou: A Maria que hesita sobre a concepção, o anjo
afirma a sua possibilidade. Mas, essa dúvida foi, antes, de admiração que de
incredulidade. Por isso, o anjo aduz a sua prova, não para adquirir a confiança
da Virgem, mas antes para lhe remover a admiração.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Como diz
Ambrósio, se muitas mulheres estéreis conceberam, foi para que se acreditasse
no parto da Virgem. Por isso foi aduzido o exemplo da estéril Isabel; não como
um argumento suficiente, mas como um exemplo figurado. Por isso, para
confirmação desse exemplo, acrescenta o argumento peremptório da omnipotência
de Deus.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
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