07/04/2023

Via Sacra





Via Sacra

 

Que nesta Quaresma eu me encontre verdadeiramente com Jesus.

Que a meditação da Sua Paixão e Morte inculquem no meu coração firmes propósitos de melhorar a minha vida em todos os aspectos, mas, principalmente, na devoção verdadeira, no amor entranhado, na luta constante, no repúdio por tudo aquilo que me possa afastar do caminho da salvação Eterna.

Que estas cenas que procurarei viver intensamente, movam a minha vontade de forma irrevogável, em me afastar de todas as ocasiões de pecado.

 

I ESTAÇÃO

JESUS É CONDENADO À MORTE

 

Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.

 

Há longo tempo que os príncipes dos sacerdotes e muitos dos membros do Sinédrio, procuravam a Tua morte. Não podiam tolerar a Tua actividade em Israel. As multidões que Te seguiam, ávidas das Tuas palavras de misericórdia e salvação, fugiam cada vez mais à sua influência, despótica. Serviram-se, da perfídia e traição de um que tinhas por amigo, para o conseguir. Sabiam perfeitamente que não poderiam atacar-te às claras. Várias vezes Te propuseram questões dúbias, tentando apanhar-te em contradição, mas sempre tinham ficado envergonhados e humilhados.

Ficaste sozinho e abandonado de todos os Teus amigos.

Eu, também não intervenho, não quero envolver-me.

Tantas vezes, estive naquele Sinédrio! «Não, não O conheço», (Cfr Mc 14, 67-71) terei dito eu também quando, por conveniência ou respeito humano, me recusei conhecer-te.

A minha alma atormentada por esta realidade, confrange-se de dor, e choro contrito as minhas culpas.

Vou seguir-te, Senhor, no Teu caminho para o Calvário.

Tentarei, com as minhas lágrimas, com as minhas penas, com os meus sacrifícios e mortificações, tornar mais leves os suplícios das Estações que ainda faltam da agonia que agora começa.

Quero afirmar bem alto, sem rebuços, sem medos: ‘Este é o meu Senhor, o meu Salvador, o meu Deus. Por Ele dou a vida se for preciso, a Ele entrego a minha vontade de ser filho fiel e cumpridor dos meus deveres.’

 

PN, AVM, GLP.

Senhor: Tem piedade de nós.

 

 

II ESTAÇÃO

JESUS TOMA A CRUZ

 

Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.

 

Sobre os Teus ombros em chaga, descansa agora o madeiro infamante.

Pesado para qualquer homem é para Ti, meu pobre Jesus, no estado em que Te encontras, esmagador.

Enfraquecido pelas torturas, a que durante horas foste submetido, feridas por todo o corpo gotejando sangue, mal podes com o Teu próprio peso, quanto mais com essa pesadíssima Cruz que Te põem aos ombros.

Mas Tu, Senhor, não gemes, não Te queixas, não Te esquivas.

Simplesmente, aceitas essa Cruz, pois foi para isso que vieste ao mundo.

É uma Cruz terrível, essa; juntam-se nela todos os pecados de todos os homens de todos os tempos, dos que Te rodeiam, ululantes, troçando do Teu sofrimento; dos que Te olham, insensíveis a uma tragédia que pretendem não lhes dizer respeito; dos que com medo de participar no Teu suplício, se escondem e desviam; e, também, daqueles que, chorando contritamente a triste agonia do seu Mestre e Senhor, tentam a todo o custo transpor a barreira dos soldados e acercar-se de Ti para Te consolar, ajudar se possível.

Eu, Senhor, pertenço a todos estes grupos, com os meus pecados, a minha indiferença e também com os meus arrependimentos, dor e remorso.

Ajuda-me Senhor, a ficar sempre no grupo dos que tentam ajudar-te a suportar o peso da Tua Cruz, a pertencer aos que desejam participar dos sofrimentos do seu Senhor. Que, desta forma, possa aliviar um pouco o peso terrível desse madeiro, pedindo perdão pelos pecados de todos os homens que constantemente aumentam o seu peso, desagravando o Teu Santíssimo Nome.

Deixo-te aqui Senhor, nesta Segunda Estação da Tua Via Dolorosa. Vou ter presente, no meu coração, o Teu Santo Nome, pedindo o Teu Perdão, adorando a Tua Divindade e agradecendo comovido, o sacrifício enorme que resolveste levar a cabo por mim, pela humanidade inteira.

 

PN, AVM, GLP.

Senhor: Tem piedade de nós.

 

III ESTAÇÃO

JESUS CAI PELA PRIMEIRA VEZ

 

Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.

 

É demais para as Tuas forças, o peso dessa Cruz que Te esmaga.

Tu, o meu Senhor e o Meu Deus, que caminhaste sobre as águas, que Te elevaste ao Céu transfigurado, não podes mais e cais por terra! Como pode tal coisa estar a acontecer?! Como é possível que ninguém se mova e Te ajude, Senhor meu, a levantares-te?!

Na curta caminhada que fizeste, cada passo foi um tormento doloroso em extremo e quase se não acredita que foste capaz.

Tantos pecados que fui e vou cometendo, vão aumentando o peso desse madeiro, a ponto de já o não suportares e caíres esgotado. E Tu, Senhor, apesar de tudo, perdoas-me e o Teu perdão permite aliviar um pouco o peso sobre os Teus ombros; consegues levantar-te e, vacilando, seguir no Teu fantástico caminho para a Glória.

Percebo o Teu exemplo, Mestre adorado, também eu devo levantar-me; não importa o peso dos pecados que me atiram a terra, tenho de levantar-me e seguir em frente, levando a minha Cruz.

Porem, fraco como sou, nada conseguirei sem a Tua ajuda.

Perdoa-me Senhor, pedir-te ajuda quando estás aí, por terra, esmagado por essa Cruz tremenda, mas, eu sei que é isso mesmo que Tu esperas ansiosamente: que eu Te peça ajuda, conforto, ânimo, determinação para seguir em frente, arrependendo-me dos meus pecados.

Com a alegria que Te dará este meu comportamento, a Tua Cruz torna-se mais leve e não sofrerás tanto. Faço o propósito de ter presente esta Tua queda que os meus pecados provocaram. Espero e peço que, esta lembrança, me ajude a evitá-los. Ajuda-me Senhor, a conseguir esta disposição bem viva na minha alma, para Tua satisfação e minha salvação eterna.

 

PN, AVM, GLP.

Senhor: Tem piedade de nós.

 

IV ESTAÇÃO

JESUS ENCONTRA SUA MÃE SANTÍSSIMA

 

 

Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.

 

Ali, na curva do Caminho Doloroso, Tua Santa Mãe, espera por Ti.

Com o coração desfeito pela dor, a face branca como a cal, o olhar triste de morte.

O Teu olhar, repassado de amor e pena, fixa o belo rosto da querida Senhora.

Amor por aquela pobre criatura que a dor esmaga. Pena pelo sofrimento que nela está patente.

Se ao menos pudesses poupá-la, a Ela!...

O saber que uma espada haveria de atravessar o seu peito, não faz diminuir o seu sofrimento atroz. És, Senhor, o seu Filho!

Então o Teu olhar transmite também gratidão profunda; manifestando assim, com esse olhar que só as mães sabem ler, o Teu agradecimento pela sua presença. O estar ela ali, dá-Te alento, conforta-Te e, por momentos, esqueces as Tuas dores, as Tuas chagas, até o peso da Cruz.

No meu caminho, a cada passo, a minha Mãe do Céu, espera por mim, para me ver passar, gemendo sob o peso dos meus pecados, lutando com a minha pequena cruz. A sua presença conforta-me, arrependo-me das minhas faltas e agarro-me à cruz com mais força, com mais determinação. A minha cruz de todos os dias há-de ser levada com amor e até alegria, se o teu olhar se cruzar com o meu, dando-me força, alento, perseverança.

Mãe Santíssima, pudesse eu aliviar um pouco a Cruz do teu extremoso Filho em vez de a carregar mais e mais com as minhas faltas. Recordare Virgo Mater Dei, dum steteris in conspectu Domini ut loquaris pro me bona. Senhora minha, intercede por mim junto do Teu Amado Filho, limando as agudezas das minhas faltas, realçando, as pequeníssimas branduras das minhas boas obras.

 

PN, AVM, GLP.

Senhor: Tem piedade de nós.

 

V ESTAÇÃO

SIMÃO DE CIRENE AJUDA JESUS A LEVAR A CRUZ


Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.

 

Onde estava eu, Senhor, onde estava eu quando procuravam alguém para Te ajudar a levar a Cruz?

Deveria estar ali, na primeira fila, à espera de ser chamado.

Mas não, estava muito atrás, disfarçado no meio da turba.

Não quis envolver-me no Teu suplício, tive medo de fazer-me notado.

Porque Tu, Senhor, escolhes quem, quando e como queres.

O Cireneu vinha de um campo, passava, portanto. Estivera a trabalhar e, agora, de regresso a casa, vê aquele ajuntamento e acerca-se curioso para ver o que se passa. E é logo "apanhado" por Ti: ‘Tu, Simão, vem e ajuda-me a carregar esta Cruz!’

Obedecendo, sem o saberem, a este convite Teu, os soldados descobrem o Cireneu e compelem-no a cumprir a tarefa que lhe estava destinada desde sempre.

Simão ainda não o sabe, mas Jesus dá-lhe a maior honra que poderia dar a qualquer homem: Ajudar o Senhor a carregar a Cruz da salvação da humanidade.

Tinha de ser um desconhecido... porque, os outros, os amigos, os discípulos, até os parentes... não estava ali nenhum.

Eu, que não sou Simão nem estou nunca no momento preciso, na ocasião necessária, disponível para o que Deus quiser de mim; eu que estou apressado, ocupadíssimo com as minhas coisas, às voltas e reviravoltas com a minha cruz, não tenho tempo para ajudar o meu Senhor.

E Ele precisa que O ajudem. Está cansado, ferido, triste e a Cruz cada vez pesa mais.

Deixa-me pedir-te ajuda para me transformar em Simão de Cirene, disponível e solícito, desprendido de mim mesmo, atento às inspirações que constantemente insinuas na minha alma.

 

PN, AVM, GLP.

Senhor: Tem piedade de nós.

 

VI ESTAÇÃO

A VERÓNICA LIMPA A FACE DE JESUS

 

Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.


O rosto adorado do Divino Mestre é a máscara do sofrimento; vincado pelo esforço, contraído pelas dores, cheio de sangue, lívido dos escarros e pisado dos bofetões. É o rosto de um homem martirizado em extremo.

Com a coragem e compaixão das pessoas simples, que não medem o perigo, ou inconveniência dos seus gestos, quando se trata de ajudar os que sofrem, a Verónica vence a multidão, afasta os soldados e limpa aquele rosto. É um pequeno alívio para o Senhor, mas Jesus premeia este gesto de coragem e desassombro deixando a Sua divina face impressa no pano.

Atónita, a mulher, mostra a todos o que o Senhor fez. Muitos, naquele momento, se terão comovido, outros, caindo em si, pedem perdão, alguns haverá que têm inveja da Verónica, pois antevêem que será lembrada para todo o sempre.

A minha coragem perante a adversidade do ambiente, manifesta-se assim? Sou capaz de me afirmar Filho de Deus quando essa afirmação pode ser incómoda? Estou pronto a defender o meu Senhor e meu Deus, a Sua Igreja e os Seus ministros em quaisquer circunstâncias? Fico-me calado sem querer "meter-me nisso"? Tenho medo que trocem de mim? Tenho receio de ser ridículo?

Senhor, ajuda-me a ter a coragem da Verónica, a fazer aquilo que posso e devo fazer em cada momento. Seja eu merecedor, meu Jesus, das dádivas com que constantemente premeias os meus pequeníssimos e mal feitos actos de generosidade e compaixão. Possa eu ser capaz, Senhor, de estar sempre e em cada momento e em qualquer lugar, à Tua espera para, perante todos, afirmar corajosamente: Este é o Senhor meu Deus a Quem adoro, a Quem amo e de Quem espero a salvação eterna.

PN, AVM, GLP.

Senhor: Tem piedade de nós.

 

VII ESTAÇÃO

 

JESUS CAI PELA SEGUNDA VEZ

 

Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.


Os joelhos em chaga, marcam uma vez mais com sangue as pedras da calçada do martírio. Se não fosse necessário subires até ao Calvário, morrerias ali mesmo. De dor, de exaustão. Mas é preciso que tudo se cumpra e Tu, levantas-te outra vez.

Eu fico pasmado com a Tua determinação de quereres, custe o que custar, ir até ao fim. Percebo que pretendes demonstrar-me que não é irremediável cair, gravíssimo é não me levantar.

Necessito de coragem, força, ânimo e determinação para seguir em frente, levantando-me sempre que cair. Se eu me esforçar verdadeiramente, se da minha parte houver esse firme propósito, então Tu Senhor, nunca me faltarás com o auxílio necessário e bastante para o conseguir, pois Tu bem sabes que, sozinho, nada posso.

Esta a mensagem que os Teus olhos doridos me comunicam, enquanto estás por terra.

Sabes bem que contribui para esta Tua queda, com as minhas faltas, as minhas omissões, as minhas cedências à concupiscência.

Mesmo assim, Tu perdoas-me e esperas que também eu me levante, que, envergonhadíssimo e contrito, peça perdão, faça o propósito de não tornar a pecar e siga em frente.

Podes levantar-te agora, Senhor.

Estou disposto a seguir o Teu exemplo.

Sei que hei-de cair muitas vezes, mas tenho a firme disposição de me levantar sempre, para que o caminho não deixe de ser andado, em frente, como deve ser, para Teu contentamento e alegria e para salvação da minha alma.

PN, AVM, GLP.

Senhor: Tem piedade de nós.

VIII ESTAÇÃO

JESUS CONSOLA AS FILHAS DE JERUSALÉM

Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.

 

«Não choreis por mim» (Lc 23, 28) diz o Divino Mestre.

Tu não precisas, não procuras as nossas lágrimas pelo Teu sofrimento.

O que desejas, procuras ansiosamente, é o nosso arrependimento, a nossa dor pelos pecados, pelos meus e os de todos os homens.

São esses pecados que Te trazem, Senhor, por esse caminho de dor e paixão.

Cada passo que dás é um manancial de graças e misericórdia para todos nós.

Mas, a mim, apesar de tudo, custa-me muito ver-Te, assim, sem chorar eu também. Este choro é uma manifestação de pesar, de contrição pelo mal que faço e pelo bem que deixo de fazer.

Como posso ver o meu Senhor, tropeçando, esmagado sob o peso do madeiro, subindo a íngreme ladeira do Calvário da Sua Paixão?

E, imaginando esta cena, não me comover até às lágrimas, não me estalar o coração de dor contrita.

Fico abismado como puderam os homens, como posso eu, ser objecto de tão tremendo meio de salvação.

Como pude comportar-me de tal modo que o meu Senhor tivesse de chegar a tais extremos para me salvar?

A Tua misericórdia, não tem limites?

Sou eu assim tão importante para Ti que Te sujeites a tal sacrifício?

Antes me dedicarei de todo o coração, a tentar aliviar o peso da Tua Cruz, a atapetar o duro caminho do Gólgota com as minhas boas obras.

Ajuda-me, Senhor, a merecer a Tua Paixão, aceita os meus propósitos de emenda e ajuda-me a cumpri-los escrupulosamente.

PN, AVM, GLP.

Senhor: Tem piedade de nós.

IX ESTAÇÃO

JESUS CAI PELA TERCEIRA VEZ

Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Mais uma vez as Tuas forças cederam e Tu, o Rei dos Reis, cais por terra.

Estás tão débil, tão esgotado que os soldados temem que não consigas chegar ao local da Crucifixão. E ajudam-Te a levantar. Não por compaixão ou piedade mas porque têm pressa de acabar com tudo antes do entardecer.

E Tu, num esforço tremendo, levantas-Te outra vez.

Pouco falta agora.

Em breve tudo se consumará.

Estes últimos metros que Te separam ainda do local do supremo sacrifício, parecem desmedidos.

Cada passo é um espasmo de dor; mas Tu, sempre sem um queixume, segues o Teu Caminho.

Também eu caí outra vez... e outra ainda. Não três vezes, como Tu, meu Deus, mas muitas vezes.

Ah Senhor!

Eu não quero cair mais nenhuma vez, mas conhecendo-me fraco e pusilânime, peço o Teu auxílio para me levantar sempre, custe o que custar.

A minha cruz também é pesada, mas com o peso das minhas próprias faltas, dos meus pecados, das minhas desistências, do meu orgulho, dos meus excessos, da minha concupiscência.

A Tua Cruz pesa muitíssimo mais e, no entanto, não há nela nada que seja Teu, todo, mas todo o seu peso esmagador, é o resultado dos pecados de toda a humanidade.

Quiseste que Te visse cair sob o seu peso, para me ensinares que posso levar a minha cruz, não obstante as quedas frequentes, as dificuldades e o esforço que implica.

No fim, estarás Tu para me tomares a cruz definitivamente e acolheres-me junto de Ti para todo o sempre.

 

PN, AVM, GLP.

Senhor: Tem piedade de nós.

X ESTAÇÃO

JESUS É DESPOJADO DAS VESTES

 

Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.

 

Oh meu Jesus!

Tu, a sublime pureza, ali, exposto em frente da multidão!

Não bastava todo o martírio já sofrido, faltava ainda esta ignomínia!

As feridas reabertas com o arrancar dos vestidos, sangram novamente.

O Teu aspecto é pavoroso, como um destroço humano, Tu, O Homem Perfeito, estás exposto aos olhares impuros dos Teus algozes.

Todo eu tremo com a lembrança dos meus pecados contra a santa pureza, pelas minhas faltas de pudor.

O meu olhar, a minha imaginação, a minha voz, quantas vezes Te ofenderam gravemente com cenas impuras que contemplei, com pensamentos pouco castos que consenti, com palavras pouco limpas que pronunciei.

Quantas vezes, Senhor, me deixei arrastar pela minha pobre carne e me esqueci que o meu corpo é sagrado.

Só pensar que poderei voltar a ofender-te sendo impuro ou pouco casto me atormenta a alma.

Com a certeza que, sempre, em qualquer lugar ou circunstância, Tu, estás presente, me vês, me ouves, hei-de comportar-me de tal forma que possa sempre adorar-Te com profunda reverência.

A minha carne é fraca, Senhor, a minha concupiscência é forte e actua quando menos espero.

Ajuda-me a estar sempre vigilante.

Quero ser, Senhor, um homem inteiro, livre de amarras a vícios escondidos ou delírios do pensamento.

Quero ser, um esposo exemplar, respeitador e respeitado, amando profundamente com lhaneza de carácter são.

Quero ser um Pai completo, em quem os filhos vejam um exemplo de temperança e moderação.

Quero, enfim, ser um filho Teu, de amores limpos e sadios, espelho do Amor que me tens.


PN, AVM, GLP.

Senhor: Tem piedade de nós.

XI ESTAÇÃO

JESUS É PREGADO NA CRUZ


Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Finalmente chegou o momento para o qual nasceste em Belém, naquela gruta.

O meu Senhor, é estendido sobre o madeiro que transportou sobre os ombros em chaga.

As pancadas do martelo soam, cavas e terríveis, no coração de quantos as ouvem, diariamente, desde há dois mil anos.

Debruçam-se curiosos, alguns dos que, desde a casa de Pilatos, Te seguiram pela Via Dolorosa.

Esperam em vão um queixume, um gesto de revolta, ou talvez, uma súbita reacção do homem que ainda há poucos dias, sabiam-no, imperava aos ventos e às tempestades ou alimentava multidões com uns poucos de pães e alguns peixes.

O Senhor, abre gentilmente os braços ao madeiro que O espera.

Todo o Seu corpo estremece quando os grossos pregos Lhe trespassam a carne, mas, da Sua boca, não sai um lamento.

E o meu Senhor ali fica; todo o Seu Corpo distendido, preso pelos cravos das mãos e dos pés, de braços abertos entre o Céu e a Terra.

Todos têm de O ver, de todos atrai o olhar. Cfr. Jo 12,32, Et ego, si exaltatus fuero a terra, omnia traham ad meipsum.

Aos Seus pés, Sua Mãe, esmagada pela dor; João o discípulo amado, as amigas de sempre: Marta, Madalena, Maria, olham sem acreditar, por entre as lágrimas, o seu doce Rabi, exangue e morrendo.

Oh Senhor!

Como é possível que tal aconteça?

Quem pôde fazer tal coisa?

Os meus pecados, as minhas faltas levaram-te até aí, a esse lugar onde agora estás, a esse madeiro pregado.

Não mais, Senhor, não mais voltarei a ofender-Te, não mais Te farei reviver tal imolação.

Com o coração a sangrar de dor e profundamente agradecido aceito o Teu sublime sacrifício, beijo os Teus pés chagados e abraço-me a essa Cruz onde me redimes e me salvas.

PN, AVM, GLP.

Senhor: Tem piedade de nós.


XII ESTAÇÃO

JESUS MORRE NA CRUZ

 

Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.

 

«Hoje estarás comigo no Paraíso(Lc 23, 43).

Assim Jesus premeia o arrependido de última hora.

 

Até ao último momento esperas por nós, pelo nosso arrependimento para nos dares o prémio da salvação eterna.

Pudesse eu, Senhor, ter sido crucificado conTigo e ser eu o destinatário das Tuas palavras.

Arrependo-me dos meus pecados passados e faço o firme propósito de não voltar a pecar, para que, em qualquer momento que possas chamar-me, mereça encontrar-me conTigo, no Paraíso.

Está prestes o fim; o meu Jesus, salva-me definitivamente.

As minhas numerosas faltas passadas e futuras, de que me arrependo sinceramente e de que hei-de arrepender-me sempre, estão perdoadas e resgatadas.

Sou, de pleno direito, um filho de Deus, candidato à vida eterna no seio da Santíssima Trindade, dos Seus Anjos e dos Seus Santos.

Tudo está consumado.

O Senhor entrega o espírito.

Inclina a cabeça e morre.

Sim, tudo está consumado num sacrifício cruento, terrível, doloroso e ensanguentado.

Não ficou gota de sangue no Teu corpo martirizado.

E eu, meu Senhor, olho para essa Cruz donde pendes morto, e alegro-me na minha tristeza profunda porque fui objecto de tal sacrifício, de tamanha doação:

O meu Senhor, o meu Jesus, morreu por mim e, na Sua morte, eu alegro-me porque me salvou!

Peço-Te perdão por todos os que não acreditam ou não aceitam esta Tua morte, para os que repudiam o Teu amor.

Também por eles morresTe pois foi toda a humanidade que esteve presente no Teu sacrifício.

PN, AVM, GLP.

Senhor: Tem piedade de nós.

XIII ESTAÇÃO

JESUS É DESCIDO DA CRUZ E ENTREGUE A SUA MÃE

Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.

 

O teu rosto é uma máscara de dor e compunção; o teu Filho, o teu Jesus, jaz nos teus braços, inerte, sujo, lívido... morto!

Tu sabes que Ele morreu porque quis, cumprindo os planos divinos de salvação da humanidade.

«Uma espada te há-de trespassar a tua própria alma...» (Lc 2, 35).

Nunca imaginaras que fosse necessária toda a tragédia do julgamento, a flagelação, a coroa de espinhos, a caminhada incrível de sofrimento e dor.

As lágrimas escorrem da tua face adorada sobre o rosto lívido do Teu Filho morto e tu sabes que nada podes fazer, nada te compete fazer. Foste incumbida da sublime missão de O trazer ao mundo, dando-lhe forma humana no teu seio, Carne da tua carne, Sangue do teu sangue.

Por isso, é também o teu sangue que empapa aquele monte Calvário.

Virgem das Dores, deixa-me partilhar a tua mágoa e chorar contigo a morte do nosso Jesus.

Tu sabes que Ele morreu por mim, para me salvar, deixa-me, portanto, ocupar o meu lugar de filho teu, em que, Ele, na Sua agonia, teve a magnanimidade de me tornar:

 «Mulher, eis aí o teu filho Jo XIX, 22

Sou eu, Senhora, um deles, dessa legião imensa de filhos teus, em que a bondade do Senhor nos converteu.

Deixa-me que contigo amortalhe o meu Jesus, lave as Suas feridas, componha os Seus cabelos e envolva o Seu Corpo no pano de linho mais puro.

O meu Senhor tem agora um ar mais digno, mais composto e, tu, minha Mãe, num último olhar, abre os teus braços e acolhe-me também no teu regaço.

PN, AVM, GLP.

Senhor: Tem piedade de nós.

 

XIV ESTAÇÃO

JESUS É SEPULTADO


Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.


Aí estás Senhor, descansando finalmente, nesse sepulcro emprestado.

Nem local para dormir tiveste em vida e também não tens sitio Teu para repousar o cadáver.

Nada possuíste, até a própria vida deste por nós.

E, no entanto, Rei de Reis, cumulaste-me de riquezas imensas: a filiação divina, o direito de chamar a Teu Pai, meu Pai, à Tua Mãe, minha Mãe e, finalmente, um caminho seguro e certo para a salvação eterna da minha alma. Tu, tão pobre, fizeste-me a mim, imensamente rico.

O caminho que me apontas é o que quero seguir.

Com hesitações, com avanços e recuos, talvez com desvios, seguramente com incidentes, mas no qual, com a Tua ajuda, hei-de perseverar e andar até ao fim.

Aí estarás Tu, Ressuscitado Gloriosamente pelo Teu próprio poder, à minha espera feliz e contente por eu ter sido capaz, ter ouvido o Teu convite e correspondido com entusiasmo e dedicação.

Fraco, pusilânime e inconstante como sou, não posso, não quero contar só com as minhas forças.

De pouco me servem as intenções, os bons propósitos e os desejos em que me arde a alma:

Sem a Tua ajuda permanente, Senhor, para que eu não me perca, me detenha ou afeiçoe a coisas que não são o essencial, tudo não passará disso: Desejos, intenções e propósitos.

Conto com essa ajuda para levar até ao fim a minha cruz, com alegria e determinação, abraçando-a amorosamente.

Minha Mãe Santíssima, ajuda-me a manter bem gravadas na minha mente estas cenas que acabo de viver da Paixão do teu Amabilíssimo Filho, para que, mantendo a minha alma limpa e o coração puro possa esperar o chamamento do meu Jesus para participar com Ele da Vida Eterna.

PN, AVM, GLP.

Senhor: Tem piedade de nós.

 

POSFÁCIO

 

Chegou ao fim a fantástica e sublime odisseia da Paixão e Morte de Jesus Cristo, meu Salvador.

Por momentos, aos meus olhos e coração humanos, parecem-me excessivos os desígnios de Deus: tanto sofrimento, tamanha dor!

Porque me esqueço da suma gravidade e horrível falta que é o pecado dos homens.

Que outra reparação seria possível ou completa senão a levada a cabo pelo próprio Ofendido?

Que és Deus fica abundantemente provado pelo Amor e Misericórdia infinitas que nesta Paixão se revelam.

Que tenhas querido, com esta Paixão, considerar-me Teu filho e devolvido a Eternidade é o que eu acredito firmemente.

Ajuda-me Senhor, a ter sempre presentes as cenas que acabo de meditar para que, a sua lembrança bem viva no meu coração me impeça de Te magoar e ofender.

ORATÓRIA

 

Vultum Tuum

 

Ajuda-me Senhor, a aceitar a minha morte, como e quando Tu o desejares.

Que eu me prepare, Senhor, todos os dias que me concederes viver, para esse momento solene.

Que me encontres disposto e pronto, a qualquer momento, para corresponder à Tua chamada.

Que possa com supremo júbilo ouvir-te dizer que estarei contigo no Paraíso.

Que seja esse momento o verdadeiro encontro entre amigos verdadeiros dando corpo àquele grito que sinto subir-me do peito:

 

Vultum Tuum, Domine, requiram! (Sl

 26)

Filiação Divina

 

Teu filho, Senhor meu Deus!

Que admiração me causa esta realidade. Que espanto me invade a ponto de só a minha Fé a manter viva em mim.

Podendo eu o que posso: Nada!

Sendo eu que sou: Nada!

Tendo eu o que tenho: Nada!

Sabendo eu o que sei: Nada!

Valendo eu o que valho: Nada!

 

Para que me queres Tu, Senhor?!

Que Te pode importar a minha pessoa?

 

Oh Senhor Deus, Rei dos Reis, Criador e Senhor de todas as coisas! Como é grande o Teu Coração de Pai visto que nele caibo eu também.

Dou-Vos graças meu Senhor e meu Deus por tão grande favor e peço-te me ajudes a merecê-lo.

 

In Hora Mortis Meae

 

Esta cruz tão pesada que por vezes permites carregue os meus ombros, é, bem o sei, um sinal do Teu amor por mim.

Se é verdade, Senhor, que, por vezes, provas mais aqueles que amas, então, estou feliz porque, seguramente, me tens junto ao Teu Coração Amantíssimo.

Não permitas, meu Deus, que me deixe esmagar pelo seu peso que, eu tenho a certeza, é à minha medida e muito menor que o que mereceria.

Mas, não Te esqueças, como sou fraco e pusilânime, como me desvio do caminho e tento libertar-me; sou assim, bem o sabes, e sem a Tua ajuda não conseguirei.

A mim, meu Senhor, só me interessa cumprir a Tua Amabilíssima e Justíssima Vontade sobre todas as coisas, estar pronto para Te ver quando entenderes chamar-me a prestar contas.

Por isso, repito na minha alma o clamor que meu querido irmão Manuel José nos últimos tempos da sua vida terrena elevava para Ti: In hora mortis meae voca me, et iube me venire ad Te.

 

A Cruz

 

Os homens são quase sempre os carpinteiros das suas próprias cruzes.[1]

 

Esta cruz que tento levar a prumo, desafiando as minhas fraquezas, a minha fraca vontade, a minha fuga à dor, esta cruz, Senhor, é a cruz da minha vida que Tu queres que eu leve.

Foi talhada por mim, só por mim: as minhas faltas, os meus desejos de ter e possuir, a minha vontade fraca, os devaneios, a falta de unidade de vida, tudo isso e muito mais fui juntando alheadamente e, o resultado...é este.

E agora!

Sim... e agora!

Como conseguirei levá-la?

Como conseguirei levá-la a prumo, bem erguida ao alto?

Como hei-de fazer para não me queixar, não me rebelar contra esta cruz que me pesa...pesa?

 

Senhora das Dores, olha para este teu filho que, gemendo e chorando neste vale de lágrimas, vai arrastando penosamente a sua pequena cruz, e diz ao teu Divino Filho, que eu..., sou pobre e fraco, pequeno e débil, e que preciso de ajuda.

Com essa ajuda divina que, tenho a certeza, me será concedida, não pelos meus méritos mas pela largueza da Sua misericórdia, poderei então levar esta cruz sem medo ou repugnância e oferecer-Lhe o esforço da luta que para tal, sem descanso, travarei.

 

Omnia in Bonum

  

Será assim, Senhor, queres-me mais, desejas mais de mim e por isso permites todas estas coisas que me têm acontecido: a perda de emprego, as dificuldades económicas, a perda da honra e do bom-nome, a injustiça, a doença grave e as suas dores e limitações e, também, as minhas fraquezas, a minha sensualidade, o meu mau humor e todas as debilidades de que me envergonho tanto?

 

Será assim, Senhor?

 

Então: Omnia in bonum!

 

Ajuda-me a aceitar, a fazer boa cara, a ganhar coragem e sair para a frente.

 

Mais um “peso”

 

Há quatro anos juntou-se ao peso da minha Cruz a dor da ausência da Fernandinha que entendeste chamar para o pé de Ti.

 

Ofereço, Senhor, esta dor constante e por vezes insuportável.

 

Foi e é assim a Tua amabilíssima Vontade e, eu, submerso nesta confusão de sentimentos peço-Te ajuda para aceitar e bem dizer esta oportunidade que me concedes para remir os meus pecados e alcançar mérito para, quando for da Tua Vontade me juntar a ela no gozo da contemplação da Tua Face por toda a eternidade.

Amém.  18.03.2019 – 02.04.2021