Via Sacra
Que nesta Quaresma eu me encontre
verdadeiramente com Jesus.
Que a
meditação da Sua Paixão e Morte inculquem no meu coração firmes propósitos de
melhorar a minha vida em todos os aspectos, mas, principalmente, na devoção
verdadeira, no amor entranhado, na luta constante, no repúdio por tudo aquilo
que me possa afastar do caminho da salvação Eterna.
Que estas cenas que procurarei viver
intensamente, movam a minha vontade de forma irrevogável, em me afastar de
todas as ocasiões de pecado.
I ESTAÇÃO
JESUS É CONDENADO À MORTE
Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela
Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Há longo tempo que os príncipes dos
sacerdotes e muitos dos membros do Sinédrio, procuravam a Tua morte. Não podiam
tolerar a Tua actividade em Israel. As multidões que Te seguiam, ávidas das
Tuas palavras de misericórdia e salvação, fugiam cada vez mais à sua
influência, despótica. Serviram-se, da perfídia e traição de um que tinhas por
amigo, para o conseguir. Sabiam perfeitamente que não poderiam atacar-te às
claras. Várias vezes Te propuseram questões dúbias, tentando apanhar-te em
contradição, mas sempre tinham ficado envergonhados e humilhados.
Ficaste sozinho e abandonado de todos
os Teus amigos.
Eu, também não intervenho, não quero
envolver-me.
Tantas vezes, estive naquele Sinédrio!
«Não, não O conheço», (Cfr
Mc 14, 67-71) terei dito eu também quando, por conveniência ou
respeito humano, me recusei conhecer-te.
A minha alma atormentada por esta
realidade, confrange-se de dor, e choro contrito as minhas culpas.
Vou seguir-te, Senhor, no Teu caminho
para o Calvário.
Tentarei, com as minhas lágrimas, com
as minhas penas, com os meus sacrifícios e mortificações, tornar mais leves os
suplícios das Estações que ainda faltam da agonia que agora começa.
Quero afirmar bem alto, sem rebuços,
sem medos: ‘Este é o meu Senhor, o meu Salvador, o meu Deus. Por Ele dou a vida
se for preciso, a Ele entrego a minha vontade de ser filho fiel e cumpridor dos
meus deveres.’
PN, AVM, GLP.
Senhor: Tem piedade de nós.
II ESTAÇÃO
JESUS TOMA A CRUZ
Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela
Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Sobre os Teus ombros em chaga, descansa
agora o madeiro infamante.
Pesado para qualquer homem é para Ti,
meu pobre Jesus, no estado em que Te encontras, esmagador.
Enfraquecido pelas torturas, a que
durante horas foste submetido, feridas por todo o corpo gotejando sangue, mal
podes com o Teu próprio peso, quanto mais com essa pesadíssima Cruz que Te põem
aos ombros.
Mas Tu, Senhor, não gemes, não Te
queixas, não Te esquivas.
Simplesmente, aceitas essa Cruz, pois
foi para isso que vieste ao mundo.
É uma Cruz terrível, essa; juntam-se
nela todos os pecados de todos os homens de todos os tempos, dos que Te
rodeiam, ululantes, troçando do Teu sofrimento; dos que Te olham, insensíveis a
uma tragédia que pretendem não lhes dizer respeito; dos que com medo de
participar no Teu suplício, se escondem e desviam; e, também, daqueles que,
chorando contritamente a triste agonia do seu Mestre e Senhor, tentam a todo o
custo transpor a barreira dos soldados e acercar-se de Ti para Te consolar,
ajudar se possível.
Eu, Senhor, pertenço a todos estes
grupos, com os meus pecados, a minha indiferença e também com os meus
arrependimentos, dor e remorso.
Ajuda-me Senhor, a ficar sempre no grupo dos que tentam ajudar-te a suportar o peso da Tua Cruz, a pertencer aos que desejam participar dos sofrimentos do seu Senhor. Que, desta forma, possa aliviar um pouco o peso terrível desse madeiro, pedindo perdão pelos pecados de todos os homens que constantemente aumentam o seu peso, desagravando o Teu Santíssimo Nome.
Deixo-te aqui Senhor, nesta Segunda
Estação da Tua Via Dolorosa. Vou ter presente,
no meu coração, o Teu Santo Nome, pedindo o Teu Perdão, adorando a Tua
Divindade e agradecendo comovido, o sacrifício enorme que resolveste levar a
cabo por mim, pela humanidade inteira.
PN, AVM, GLP.
Senhor: Tem piedade de nós.
III ESTAÇÃO
JESUS CAI PELA PRIMEIRA VEZ
Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
É demais para as Tuas
forças, o peso dessa Cruz que Te esmaga.
Tu, o meu Senhor e o Meu Deus, que
caminhaste sobre as águas, que Te elevaste ao Céu transfigurado, não podes mais
e cais por terra! Como pode tal
coisa estar a acontecer?! Como é possível que ninguém
se mova e Te ajude, Senhor meu, a levantares-te?!
Na curta caminhada que fizeste, cada
passo foi um tormento doloroso em extremo e quase se não acredita que foste
capaz.
Tantos pecados que fui e vou cometendo,
vão aumentando o peso desse madeiro, a ponto de já o não suportares e caíres
esgotado. E Tu, Senhor, apesar de tudo, perdoas-me e o Teu perdão permite
aliviar um pouco o peso sobre os Teus ombros; consegues levantar-te e,
vacilando, seguir no Teu fantástico caminho para a Glória.
Percebo o Teu exemplo, Mestre adorado,
também eu devo levantar-me; não importa o peso dos pecados que me atiram a
terra, tenho de levantar-me e seguir em frente, levando a minha Cruz.
Porem, fraco como sou, nada conseguirei
sem a Tua ajuda.
Perdoa-me Senhor, pedir-te ajuda quando
estás aí, por terra, esmagado por essa Cruz tremenda, mas, eu sei que é isso
mesmo que Tu esperas ansiosamente: que eu Te peça ajuda, conforto, ânimo,
determinação para seguir em frente, arrependendo-me dos meus pecados.
Com a alegria que Te dará este meu
comportamento, a Tua Cruz torna-se mais leve e não sofrerás tanto. Faço o
propósito de ter presente esta Tua queda que os meus pecados provocaram. Espero
e peço que, esta lembrança, me ajude a evitá-los. Ajuda-me Senhor, a conseguir
esta disposição bem viva na minha alma, para Tua satisfação e minha salvação
eterna.
PN, AVM, GLP.
Senhor: Tem piedade de nós.
IV ESTAÇÃO
JESUS ENCONTRA SUA MÃE SANTÍSSIMA
Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela
Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Ali, na curva do Caminho Doloroso, Tua
Santa Mãe, espera por Ti.
Com o coração desfeito pela dor, a face
branca como a cal, o olhar triste de morte.
O Teu olhar, repassado de amor e pena,
fixa o belo rosto da querida Senhora.
Amor por aquela pobre criatura que a
dor esmaga. Pena pelo sofrimento que nela está patente.
Se ao menos pudesses poupá-la, a
Ela!...
O saber que uma espada haveria de
atravessar o seu peito, não faz diminuir o seu sofrimento atroz. És, Senhor, o
seu Filho!
Então o Teu olhar transmite também
gratidão profunda; manifestando assim, com esse olhar que só as mães sabem ler,
o Teu agradecimento pela sua presença. O estar ela ali, dá-Te alento,
conforta-Te e, por momentos, esqueces as Tuas dores, as Tuas chagas, até o peso
da Cruz.
No meu caminho, a cada passo, a minha
Mãe do Céu, espera por mim, para me ver passar, gemendo sob o peso dos meus
pecados, lutando com a minha pequena cruz. A sua presença conforta-me,
arrependo-me das minhas faltas e agarro-me à cruz com mais força, com mais
determinação. A minha cruz de todos os dias há-de ser levada com amor e até
alegria, se o teu olhar se cruzar com o meu, dando-me força, alento,
perseverança.
Mãe Santíssima, pudesse eu aliviar um pouco a Cruz do teu extremoso Filho em vez de a carregar mais e mais com as minhas faltas. Recordare Virgo Mater Dei, dum steteris in conspectu Domini ut loquaris pro me bona. Senhora minha, intercede por mim junto do Teu Amado Filho, limando as agudezas das minhas faltas, realçando, as pequeníssimas branduras das minhas boas obras.
PN, AVM,
GLP.
Senhor: Tem
piedade de nós.
V ESTAÇÃO
SIMÃO DE CIRENE AJUDA JESUS A LEVAR A CRUZ
Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela
Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Onde estava eu, Senhor, onde estava eu quando procuravam
alguém para Te ajudar a levar a Cruz?
Deveria estar ali, na primeira fila, à espera de
ser chamado.
Mas não, estava muito atrás, disfarçado no meio da
turba.
Não quis envolver-me no Teu suplício, tive medo de
fazer-me notado.
Porque Tu, Senhor, escolhes quem, quando e como
queres.
O Cireneu vinha de um campo, passava, portanto.
Estivera a trabalhar e, agora, de regresso a casa, vê aquele ajuntamento e
acerca-se curioso para ver o que se passa. E é logo "apanhado" por
Ti: ‘Tu, Simão, vem e ajuda-me a carregar esta Cruz!’
Obedecendo, sem o saberem, a este convite Teu, os
soldados descobrem o Cireneu e compelem-no a cumprir a tarefa que lhe estava
destinada desde sempre.
Simão ainda não o sabe, mas Jesus dá-lhe a maior
honra que poderia dar a qualquer homem: Ajudar o Senhor a carregar a Cruz da
salvação da humanidade.
Tinha de ser um desconhecido... porque, os outros,
os amigos, os discípulos, até os parentes... não estava ali nenhum.
Eu, que não sou Simão nem estou nunca no momento
preciso, na ocasião necessária, disponível para o que Deus quiser de mim; eu
que estou apressado, ocupadíssimo com as minhas coisas, às voltas e
reviravoltas com a minha cruz, não tenho tempo para ajudar o meu Senhor.
E Ele precisa que O ajudem. Está cansado, ferido,
triste e a Cruz cada vez pesa mais.
Deixa-me pedir-te ajuda para me transformar em
Simão de Cirene, disponível e solícito, desprendido de mim mesmo, atento às
inspirações que constantemente insinuas na minha alma.
PN, AVM, GLP.
Senhor: Tem piedade de nós.
VI ESTAÇÃO
A VERÓNICA LIMPA A FACE DE JESUS
Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
O rosto adorado do Divino Mestre é a máscara do
sofrimento; vincado pelo esforço, contraído pelas dores, cheio de sangue,
lívido dos escarros e pisado dos bofetões. É o rosto de um homem martirizado em
extremo.
Com a coragem e compaixão das pessoas simples, que
não medem o perigo, ou inconveniência dos seus gestos, quando se trata de
ajudar os que sofrem, a Verónica vence a multidão, afasta os soldados e limpa
aquele rosto. É um pequeno alívio para o Senhor, mas Jesus premeia este gesto
de coragem e desassombro deixando a Sua divina face impressa no pano.
Atónita, a mulher, mostra a todos o que o Senhor
fez. Muitos, naquele momento, se terão comovido, outros, caindo em si, pedem
perdão, alguns haverá que têm inveja da Verónica, pois antevêem que será
lembrada para todo o sempre.
A minha coragem perante a adversidade do ambiente,
manifesta-se assim? Sou capaz de me afirmar Filho de Deus quando essa afirmação
pode ser incómoda? Estou pronto a defender o meu Senhor e meu Deus, a Sua
Igreja e os Seus ministros em quaisquer circunstâncias? Fico-me calado sem
querer "meter-me nisso"? Tenho medo que trocem de mim? Tenho receio
de ser ridículo?
Senhor, ajuda-me a ter a coragem da Verónica, a
fazer aquilo que posso e devo fazer em cada momento. Seja eu merecedor, meu Jesus,
das dádivas com que constantemente premeias os meus pequeníssimos e mal feitos
actos de generosidade e compaixão. Possa eu ser capaz, Senhor, de estar sempre
e em cada momento e em qualquer lugar, à Tua espera para, perante todos,
afirmar corajosamente: Este é o Senhor meu Deus a Quem adoro, a Quem amo e de
Quem espero a salvação eterna.
PN, AVM, GLP.
Senhor: Tem
piedade de nós.
VII ESTAÇÃO
JESUS CAI PELA SEGUNDA VEZ
Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela Vossa
Santa Cruz remistes o mundo.
Os joelhos em chaga, marcam uma vez mais com sangue
as pedras da calçada do martírio. Se não fosse necessário subires até ao
Calvário, morrerias ali mesmo. De dor, de exaustão. Mas é preciso que tudo se
cumpra e Tu, levantas-te outra vez.
Eu fico pasmado com a Tua determinação de quereres, custe o que custar, ir até ao fim. Percebo que pretendes demonstrar-me que não é irremediável cair, gravíssimo é não me levantar.
Necessito de coragem, força, ânimo e determinação para seguir em frente, levantando-me sempre que cair. Se eu me esforçar verdadeiramente, se da minha parte houver esse firme propósito, então Tu Senhor, nunca me faltarás com o auxílio necessário e bastante para o conseguir, pois Tu bem sabes que, sozinho, nada posso.
Esta a mensagem que os Teus olhos doridos me comunicam, enquanto estás por terra.
Sabes bem que contribui para esta Tua queda, com as
minhas faltas, as minhas omissões, as minhas cedências à concupiscência.
Mesmo assim, Tu perdoas-me e esperas que também eu
me levante, que, envergonhadíssimo e contrito, peça perdão, faça o propósito de
não tornar a pecar e siga em frente.
Podes levantar-te agora, Senhor.
Estou disposto a seguir o Teu exemplo.
Sei que hei-de cair muitas vezes, mas tenho a firme disposição de me levantar sempre, para que o caminho não deixe de ser andado, em frente, como deve ser, para Teu contentamento e alegria e para salvação da minha alma.
PN, AVM, GLP.
Senhor: Tem
piedade de nós.
VIII ESTAÇÃO
JESUS CONSOLA AS FILHAS DE JERUSALÉM
Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
«Não choreis por mim» (Lc 23, 28) diz o Divino Mestre.
Tu não precisas, não procuras as nossas lágrimas
pelo Teu sofrimento.
O que desejas, procuras ansiosamente, é o nosso
arrependimento, a nossa dor pelos pecados, pelos meus e os de todos os homens.
São esses pecados que Te trazem, Senhor, por esse caminho de dor e paixão.
Cada passo que dás é um manancial de graças e misericórdia para todos nós.
Mas, a mim, apesar de tudo, custa-me muito ver-Te, assim, sem chorar eu também. Este choro é uma manifestação de pesar, de contrição pelo mal que faço e pelo bem que deixo de fazer.
Como posso ver o meu Senhor, tropeçando, esmagado sob o peso do madeiro, subindo a íngreme ladeira do Calvário da Sua Paixão?
E, imaginando esta cena, não me comover até às
lágrimas, não me estalar o coração de dor contrita.
Fico abismado como puderam os homens, como posso eu, ser objecto de tão tremendo meio de salvação.
Como pude comportar-me de tal modo que o meu Senhor
tivesse de chegar a tais extremos para me salvar?
A Tua misericórdia, não tem limites?
Sou eu assim tão importante para Ti que Te sujeites
a tal sacrifício?
Antes me dedicarei de todo o coração, a tentar aliviar o peso da Tua Cruz, a atapetar o duro caminho do Gólgota com as minhas boas obras.
Ajuda-me, Senhor, a merecer a Tua Paixão, aceita os meus propósitos de emenda e ajuda-me a cumpri-los escrupulosamente.
PN, AVM, GLP.
Senhor: Tem
piedade de nós.
IX ESTAÇÃO
JESUS CAI PELA TERCEIRA VEZ
Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Mais uma vez as Tuas forças cederam e Tu, o Rei dos Reis, cais por terra.
Estás tão débil, tão esgotado que os soldados temem
que não consigas chegar ao local da Crucifixão. E ajudam-Te a levantar. Não por
compaixão ou piedade mas porque têm pressa de acabar com tudo antes do
entardecer.
E Tu, num esforço tremendo, levantas-Te outra vez.
Pouco falta agora.
Em breve tudo se consumará.
Estes últimos metros que Te separam ainda do local
do supremo sacrifício, parecem desmedidos.
Cada passo é um espasmo de dor; mas Tu, sempre sem
um queixume, segues o Teu Caminho.
Também eu caí outra vez... e outra ainda. Não três vezes, como Tu, meu Deus, mas muitas vezes.
Ah Senhor!
Eu não quero cair mais nenhuma vez, mas
conhecendo-me fraco e pusilânime, peço o Teu auxílio para me levantar sempre,
custe o que custar.
A minha cruz também é pesada, mas com o peso das
minhas próprias faltas, dos meus pecados, das minhas desistências, do meu
orgulho, dos meus excessos, da minha concupiscência.
A Tua Cruz pesa muitíssimo mais e, no entanto, não há nela nada que seja Teu, todo, mas todo o seu peso esmagador, é o resultado dos pecados de toda a humanidade.
Quiseste que Te visse cair sob o seu peso, para me ensinares que posso levar a minha cruz, não obstante as quedas frequentes, as dificuldades e o esforço que implica.
No fim, estarás Tu para me tomares a cruz definitivamente e acolheres-me junto de Ti para todo o sempre.
PN, AVM,
GLP.
Senhor: Tem
piedade de nós.
X ESTAÇÃO
JESUS É DESPOJADO DAS VESTES
Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela
Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Oh meu Jesus!
Tu, a sublime pureza, ali, exposto em frente da
multidão!
Não bastava todo o martírio já sofrido, faltava ainda esta ignomínia!
As feridas reabertas com o arrancar dos vestidos, sangram novamente.
O Teu aspecto é pavoroso, como um destroço humano,
Tu, O Homem Perfeito, estás exposto aos olhares impuros dos Teus algozes.
Todo eu tremo com a lembrança dos meus pecados contra a santa pureza, pelas minhas faltas de pudor.
O meu olhar, a minha imaginação, a minha voz,
quantas vezes Te ofenderam gravemente com cenas impuras que contemplei, com
pensamentos pouco castos que consenti, com palavras pouco limpas que
pronunciei.
Quantas vezes, Senhor, me deixei arrastar pela
minha pobre carne e me esqueci que o meu corpo é sagrado.
Só pensar que poderei voltar a ofender-te sendo
impuro ou pouco casto me atormenta a alma.
Com a certeza que, sempre, em qualquer lugar ou
circunstância, Tu, estás presente, me vês, me ouves, hei-de comportar-me de tal
forma que possa sempre adorar-Te com profunda reverência.
A minha carne é fraca, Senhor, a minha concupiscência é forte e actua quando menos espero.
Ajuda-me a estar sempre vigilante.
Quero ser, Senhor, um homem inteiro, livre de
amarras a vícios escondidos ou delírios do pensamento.
Quero ser, um esposo exemplar, respeitador e
respeitado, amando profundamente com lhaneza de carácter são.
Quero ser um Pai completo, em quem os filhos vejam
um exemplo de temperança e moderação.
Quero, enfim, ser um filho Teu, de amores limpos e
sadios, espelho do Amor que me tens.
PN, AVM,
GLP.
Senhor: Tem
piedade de nós.
XI ESTAÇÃO
JESUS É PREGADO NA CRUZ
Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela
Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Finalmente chegou o momento para o qual nasceste em Belém, naquela gruta.
O meu Senhor, é estendido sobre o madeiro que
transportou sobre os ombros em chaga.
As pancadas do martelo soam, cavas e terríveis, no
coração de quantos as ouvem, diariamente, desde há dois mil anos.
Debruçam-se curiosos, alguns dos que, desde a casa
de Pilatos, Te seguiram pela Via Dolorosa.
Esperam em vão um queixume, um gesto de revolta, ou
talvez, uma súbita reacção do homem que ainda há poucos dias, sabiam-no,
imperava aos ventos e às tempestades ou alimentava multidões com uns poucos de
pães e alguns peixes.
O Senhor, abre gentilmente os braços ao madeiro que O espera.
Todo o Seu corpo estremece quando os grossos pregos
Lhe trespassam a carne, mas, da Sua boca, não sai um lamento.
E o meu Senhor ali fica; todo o Seu Corpo
distendido, preso pelos cravos das mãos e dos pés, de braços abertos entre o
Céu e a Terra.
Todos têm de O ver, de todos atrai o olhar. Cfr. Jo 12,32, Et ego, si exaltatus fuero a terra, omnia traham ad meipsum.
Aos Seus pés, Sua Mãe, esmagada pela dor; João o discípulo amado, as amigas de sempre: Marta, Madalena, Maria, olham sem acreditar, por entre as lágrimas, o seu doce Rabi, exangue e morrendo.
Oh Senhor!
Como é possível que tal aconteça?
Quem pôde fazer tal coisa?
Os meus pecados, as minhas faltas levaram-te até aí, a esse lugar onde agora estás, a esse madeiro pregado.
Não mais, Senhor, não mais voltarei a ofender-Te,
não mais Te farei reviver tal imolação.
Com o coração a sangrar de dor e profundamente agradecido aceito o Teu sublime sacrifício, beijo os Teus pés chagados e abraço-me a essa Cruz onde me redimes e me salvas.
PN, AVM, GLP.
Senhor: Tem
piedade de nós.
XII ESTAÇÃO
JESUS MORRE NA CRUZ
Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela
Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
«Hoje estarás comigo no Paraíso!» (Lc 23, 43).
Assim Jesus premeia o arrependido de última hora.
Até ao último momento esperas por nós, pelo nosso arrependimento
para nos dares o prémio da salvação eterna.
Pudesse eu, Senhor, ter sido crucificado conTigo e ser eu o destinatário das Tuas palavras.
Arrependo-me dos meus pecados passados e faço o
firme propósito de não voltar a pecar, para que, em qualquer momento que possas
chamar-me, mereça encontrar-me conTigo, no Paraíso.
Está prestes o fim; o meu Jesus, salva-me definitivamente.
As minhas numerosas faltas passadas e futuras, de que me arrependo sinceramente e de que hei-de arrepender-me sempre, estão perdoadas e resgatadas.
Sou, de pleno direito, um filho de Deus, candidato à vida eterna no seio da Santíssima Trindade, dos Seus Anjos e dos Seus Santos.
Tudo está consumado.
O Senhor entrega o espírito.
Inclina a cabeça e morre.
Sim, tudo está consumado num sacrifício cruento, terrível, doloroso e ensanguentado.
Não ficou gota de sangue no Teu corpo martirizado.
E eu, meu Senhor, olho para essa Cruz donde pendes
morto, e alegro-me na minha tristeza profunda porque fui objecto de tal
sacrifício, de tamanha doação:
O meu Senhor, o meu Jesus, morreu por mim e, na Sua morte, eu alegro-me porque me salvou!
Peço-Te perdão por todos os que não acreditam ou não aceitam esta Tua morte, para os que repudiam o Teu amor.
Também por eles morresTe pois foi toda a humanidade
que esteve presente no Teu sacrifício.
PN, AVM, GLP.
Senhor: Tem
piedade de nós.
XIII ESTAÇÃO
JESUS É DESCIDO DA CRUZ E
Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
O teu rosto é uma máscara de dor e compunção; o teu
Filho, o teu Jesus, jaz nos teus braços, inerte, sujo, lívido... morto!
Tu sabes que Ele morreu porque quis, cumprindo os planos divinos de salvação da humanidade.
«Uma espada te há-de trespassar a tua própria alma...» (Lc 2, 35).
Nunca imaginaras que fosse necessária toda a tragédia do julgamento, a flagelação, a coroa de espinhos, a caminhada incrível de sofrimento e dor.
As lágrimas escorrem da tua face adorada sobre o
rosto lívido do Teu Filho morto e tu sabes que nada podes fazer, nada te
compete fazer. Foste incumbida da sublime missão de O trazer ao mundo,
dando-lhe forma humana no teu seio, Carne da tua carne, Sangue do teu sangue.
Por isso, é também o teu sangue que empapa aquele
monte Calvário.
Virgem das Dores, deixa-me partilhar a tua mágoa e chorar contigo a morte do nosso Jesus.
Tu sabes que Ele morreu por mim, para me salvar,
deixa-me, portanto, ocupar o meu lugar de filho teu, em que, Ele, na Sua
agonia, teve a magnanimidade de me tornar:
«Mulher, eis aí o teu filho Jo XIX, 22
Sou eu, Senhora, um deles, dessa legião imensa de
filhos teus, em que a bondade do Senhor nos converteu.
Deixa-me que contigo amortalhe o meu Jesus, lave as
Suas feridas, componha os Seus cabelos e envolva o Seu Corpo no pano de linho
mais puro.
O meu Senhor tem agora um ar mais digno, mais composto e, tu, minha Mãe, num último olhar, abre os teus braços e acolhe-me também no teu regaço.
PN, AVM, GLP.
Senhor: Tem
piedade de nós.
XIV ESTAÇÃO
JESUS É SEPULTADO
Nós Vos adoramos e bendizemos oh Jesus! Que pela
Vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Aí estás Senhor, descansando finalmente, nesse
sepulcro emprestado.
Nem local para dormir tiveste em vida e também não
tens sitio Teu para repousar o cadáver.
Nada possuíste, até a própria vida deste por nós.
E, no entanto, Rei de Reis, cumulaste-me de
riquezas imensas: a filiação divina, o direito de chamar a Teu Pai, meu Pai, à
Tua Mãe, minha Mãe e, finalmente, um caminho seguro e certo para a salvação
eterna da minha alma. Tu, tão pobre, fizeste-me a mim, imensamente rico.
O caminho que me apontas é o que quero seguir.
Com hesitações, com avanços e recuos, talvez com
desvios, seguramente com incidentes, mas no qual, com a Tua ajuda, hei-de
perseverar e andar até ao fim.
Aí estarás Tu, Ressuscitado Gloriosamente pelo Teu
próprio poder, à minha espera feliz e contente por eu ter sido capaz, ter
ouvido o Teu convite e correspondido com entusiasmo e dedicação.
Fraco, pusilânime e inconstante como sou, não posso, não quero contar só com as minhas forças.
De pouco me servem as intenções, os bons propósitos
e os desejos em que me arde a alma:
Sem a Tua ajuda permanente, Senhor, para que eu não
me perca, me detenha ou afeiçoe a coisas que não são o essencial, tudo não
passará disso: Desejos, intenções e propósitos.
Conto com essa ajuda para levar até ao fim a minha cruz, com alegria e determinação, abraçando-a amorosamente.
Minha Mãe Santíssima, ajuda-me a manter bem gravadas na minha mente estas cenas que acabo de viver da Paixão do teu Amabilíssimo Filho, para que, mantendo a minha alma limpa e o coração puro possa esperar o chamamento do meu Jesus para participar com Ele da Vida Eterna.
PN, AVM, GLP.
Senhor: Tem
piedade de nós.
POSFÁCIO
Chegou ao fim a fantástica e sublime odisseia da
Paixão e Morte de Jesus Cristo, meu Salvador.
Por momentos, aos meus olhos e coração humanos, parecem-me excessivos os desígnios de Deus: tanto sofrimento, tamanha dor!
Porque me esqueço da suma gravidade e horrível falta que é o pecado dos homens.
Que outra reparação seria possível ou completa
senão a levada a cabo pelo próprio Ofendido?
Que és Deus fica abundantemente provado pelo Amor e
Misericórdia infinitas que nesta Paixão se revelam.
Que tenhas querido, com esta Paixão, considerar-me
Teu filho e devolvido a Eternidade é o que eu acredito firmemente.
Ajuda-me Senhor, a ter sempre presentes as cenas que acabo de meditar para que, a sua lembrança bem viva no meu coração me impeça de Te magoar e ofender.
ORATÓRIA
Vultum Tuum
Ajuda-me Senhor, a aceitar a minha morte, como e
quando Tu o desejares.
Que eu me prepare, Senhor, todos os dias que me
concederes viver, para esse momento solene.
Que me encontres disposto e pronto, a qualquer
momento, para corresponder à Tua chamada.
Que possa com supremo júbilo ouvir-te dizer que estarei contigo no Paraíso.
Que seja esse momento o verdadeiro encontro entre
amigos verdadeiros dando corpo àquele grito que sinto subir-me do peito:
Vultum Tuum,
Domine, requiram! (Sl
26)
Filiação
Divina
Teu filho, Senhor meu Deus!
Que admiração me causa esta realidade. Que espanto
me invade a ponto de só a minha Fé a manter viva em mim.
Podendo eu o que posso: Nada!
Sendo eu que sou: Nada!
Tendo eu o que tenho: Nada!
Sabendo eu o que sei: Nada!
Valendo eu o que valho: Nada!
Para que me queres Tu, Senhor?!
Que Te pode importar a minha pessoa?
Oh Senhor Deus, Rei dos Reis, Criador e Senhor de
todas as coisas! Como é grande o Teu Coração de Pai visto que nele caibo eu
também.
Dou-Vos graças meu Senhor e meu Deus por tão grande
favor e peço-te me ajudes a merecê-lo.
In Hora Mortis Meae
Esta cruz tão pesada que por vezes permites carregue
os meus ombros, é, bem o sei, um sinal do Teu amor por mim.
Se é verdade, Senhor, que, por vezes, provas mais
aqueles que amas, então, estou feliz porque, seguramente, me tens junto ao Teu
Coração Amantíssimo.
Não permitas, meu Deus, que me deixe esmagar pelo
seu peso que, eu tenho a certeza, é à minha medida e muito menor que o que
mereceria.
Mas, não Te esqueças, como sou fraco e pusilânime,
como me desvio do caminho e tento libertar-me; sou assim, bem o sabes, e sem a
Tua ajuda não conseguirei.
A mim, meu Senhor, só me interessa cumprir a Tua
Amabilíssima e Justíssima Vontade sobre todas as coisas, estar pronto para Te
ver quando entenderes chamar-me a prestar contas.
Por isso, repito na minha alma o clamor que meu
querido irmão Manuel José nos últimos tempos da sua vida terrena elevava para
Ti: In hora mortis meae voca me, et iube
me venire ad Te.
A Cruz
Os homens são quase sempre os carpinteiros das
suas próprias cruzes.[1]
Esta cruz que tento levar a prumo, desafiando as
minhas fraquezas, a minha fraca vontade, a minha fuga à dor, esta cruz, Senhor,
é a cruz da minha vida que Tu queres que eu leve.
Foi talhada por mim, só por mim: as minhas faltas,
os meus desejos de ter e possuir, a minha vontade fraca, os devaneios, a falta
de unidade de vida, tudo isso e muito mais fui juntando alheadamente e, o
resultado...é este.
E agora!
Sim... e agora!
Como conseguirei levá-la?
Como conseguirei levá-la a prumo, bem erguida ao
alto?
Como hei-de fazer para não me queixar, não me
rebelar contra esta cruz que me pesa...pesa?
Senhora das Dores, olha para este teu filho que,
gemendo e chorando neste vale de lágrimas, vai arrastando penosamente a sua
pequena cruz, e diz ao teu Divino Filho, que eu..., sou pobre e fraco, pequeno
e débil, e que preciso de ajuda.
Com essa ajuda divina que, tenho a certeza, me será
concedida, não pelos meus méritos mas pela largueza da Sua misericórdia,
poderei então levar esta cruz sem medo ou repugnância e oferecer-Lhe o esforço
da luta que para tal, sem descanso, travarei.
Omnia in Bonum
Será assim, Senhor,
queres-me mais, desejas mais de mim e por isso permites todas estas coisas que
me têm acontecido: a perda de emprego, as dificuldades económicas, a perda da
honra e do bom-nome, a injustiça, a doença grave e as suas dores e limitações
e, também, as minhas fraquezas, a minha sensualidade, o meu mau humor e todas
as debilidades de que me envergonho tanto?
Será assim, Senhor?
Então: Omnia in bonum!
Ajuda-me a aceitar, a
fazer boa cara, a ganhar coragem e sair para a frente.
Mais um
“peso”
Há
quatro anos juntou-se ao peso da minha Cruz a dor da ausência da Fernandinha
que entendeste chamar para o pé de Ti.
Ofereço,
Senhor, esta dor constante e por vezes insuportável.
Foi
e é assim a Tua amabilíssima Vontade e, eu, submerso nesta confusão de
sentimentos peço-Te ajuda para aceitar e bem dizer esta oportunidade que me
concedes para remir os meus pecados e alcançar mérito para, quando for da
Tua Vontade me juntar a ela no gozo da contemplação da Tua Face por toda a
eternidade.
Amém. 18.03.2019 – 02.04.2021
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