06/04/2023

Quinta e Sexta Feira Santas - Vigilia 3


 

1 Logo de manhã, os sumos sacerdotes reuniram-se em conselho com os anciãos e os doutores da Lei e todo o Sinédrio; e, tendo manietado Jesus, levaram-no e entregaram-no a Pilatos. 2 Perguntou-lhe Pilatos: «És Tu o rei dos Judeus?» Jesus respondeu-lhe: «Tu o dizes.» 3 Os sumos sacerdotes acusavam-no de muitas coisas. 4 Pilatos interrogou-o de novo, dizendo: «Não respondes nada? Vê de quantas coisas és acusado!» 5 Mas Jesus nada mais respondeu, de modo que Pilatos estava estupefacto. 6 Ora, em cada festa, Pilatos costumava soltar-lhes um preso que eles pedissem. 7 Havia um, chamado Barrabás, preso com os insurrectos que tinham cometido um assassínio durante a revolta. 8 A multidão chegou e começou a pedir-lhe o que ele costumava conceder. 9 Pilatos, respondendo, disse: «Quereis que vos solte o rei dos judeus?» 10 Porque sabia que era por inveja que os sumos sacerdotes o tinham entregado. 11 Os sumos sacerdotes, porém, instigaram a multidão a pedir que lhes soltasse, de preferência, Barrabás. 12 Tomando novamente a palavra, Pilatos disse-lhes: «Então que quereis que faça daquele a quem chamais rei dos judeus?» 13 Eles gritaram novamente: «Crucifica-o!» 14 Pilatos insistiu: «Que fez Ele de mal?» Mas eles gritaram ainda mais: «Crucifica-o!» 15 Pilatos, desejando agradar à multidão, soltou-lhes Barrabás; e, depois de mandar flagelar Jesus, entregou-o para ser crucificado. 16 Os soldados levaram-no para dentro do pátio, isto é, para o pretório, e convocaram toda a coorte. 17 Revestiram-no de um manto de púrpura e puseram-lhe uma coroa de espinhos, que tinham entretecido. 18 Depois, começaram a saudá-lo: «Salve! Ó rei dos judeus!» 19 Batiam-lhe na cabeça com uma cana, cuspiam sobre Ele e, dobrando os joelhos, prostravam-se diante dele. 20 Depois de o terem escarnecido, tiraram-lhe o manto de púrpura e revestiram-no das suas vestes. Levaram-no, então, para o crucificar. 21 Para lhe levar a cruz, requisitaram um homem que passava por ali ao regressar dos campos, um tal Simão de Cirene, pai de Alexandre e de Rufo. 22 E conduziram-no ao lugar do Gólgota, que quer dizer ‘lugar do Crânio’. 23 Queriam dar-lhe vinho misturado com mirra, mas Ele não quis beber. 24 Depois, crucificaram-no e repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à sorte, para ver o que cabia a cada um. 25 Eram umas nove horas da manhã, quando o crucificaram. 26 Na inscrição com a condenação, lia-se: «O rei dos judeus.» 27 Com Ele crucificaram dois ladrões, um à sua direita e o outro à sua esquerda. 28 Deste modo, cumpriu-se a passagem da Escritura que diz: Foi contado entre os malfeitores. 29 Os que passavam injuriavam-no e, abanando a cabeça, diziam: «Olha o que destrói o templo e o reconstrói em três dias! 30 Salva-te a ti mesmo, descendo da cruz!» 31 Da mesma forma, os sumos sacerdotes e os doutores da Lei troçavam dele entre si: «Salvou os outros mas não pode salvar-se a si mesmo! 32 O Messias, o Rei de Israel! Desça agora da cruz para nós vermos e acreditarmos!» Até os que estavam crucificados com Ele o injuriavam. 33 Ao chegar o meio-dia, fez-se trevas por toda a terra, até às três da tarde. 34 E às três da tarde, Jesus exclamou em alta voz: «Eloí, Eloí, lemá sabachtáni?», que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? 35 Ao ouvi-lo, alguns que estavam ali disseram: «Está a chamar por Elias!» 36 Um deles correu a embeber uma esponja em vinagre, pô-la numa cana e deu-lhe de beber, dizendo: «Esperemos, a ver se Elias vem tirá-lo dali.» 37 Mas Jesus, com um grito forte, expirou. 38 E o véu do templo rasgou-se em dois, de alto a baixo. 39 O centurião que estava em frente dele, ao vê-lo expirar daquela maneira, disse: «Verdadeiramente este homem era Filho de Deus!» 40 Também ali estavam algumas mulheres a contemplar de longe; entre elas, Maria de Magdala, Maria, mãe de Tiago Menor e de José, e Salomé, 41 que o seguiam e serviam quando Ele estava na Galileia; e muitas outras que tinham subido com Ele a Jerusalém. 42 Ao cair da tarde, visto ser a Preparação, isto é, véspera do sábado, 43 José de Arimateia, respeitável membro do Conselho que também esperava o Reino de Deus, foi corajosamente procurar Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. 44 Pilatos espantou-se por Ele já estar morto e, mandando chamar o centurião, perguntou-lhe se já tinha morrido há muito. 45 Informado pelo centurião, Pilatos ordenou que o corpo fosse entregue a José. 46 Este, depois de comprar um lençol, desceu o corpo da cruz e envolveu-o nele. Em seguida, depositou-o num sepulcro cavado na rocha e rolou uma pedra sobre a entrada do sepulcro. 47 Maria de Magdala e Maria, mãe de José, observavam onde o depositaram.

 

Comentários:

 

Este relato da Paixão de Cristo, que São Marcos faz, segue, de alguma forma, os Sinópticos. Nalguns detalhes difere um pouco e omite outros como, por exemplo, o diálogo entre Jesus Cristo e o ladrão crucificado à sua esquerda. Detenho-me, no entanto em numa frase que considero singular: «Pilatos espantou-se por Ele já estar morto». Deve, seguramente, ter colhido esta “informação” do próprio José de Arimateia. Mas, podemos perguntar: a que se deve o espanto de Pilatos? Talvez na sua perturbada consciência  houvesse alguma dúvida acerca da Divindade do Crucificado? Os sonhos que Cláudia – a sua mulher – lhe relatou terão, de alguma forma, levado o seu espírito a interrogações e perplexidades? Ter-se-à informado sobre Jesus e, tomando conhecimento dos Seus milagres, chegado a alguma “conclusão” sobre a verdadeira Natureza do homem que condenara? Poderia, de facto, O Homem que condenara, Ser Alguém com poderes extraordinários: curar enfermos de toda a ordem, multiplicar pães e peixes, andar sobre as águas, ressuscitar mortos? O centurião ter-lhe-à exposto a conclusão a que chegara: «Verdadeiramente este homem era Filho de Deus!»? Mas qual Deus? O Deus dos Israelitas? O Tal Messias? O Rei dos Reis? O que lhe dissera claramente: «Sou Rei!». Quando mandou colocar aquela inscrição na Cruz «O rei dos judeus» te-lo-à feito por “ironia”, “acinte” para com os Chefes do Povo? A verdade, também, é que a propósito, dissera:«Quod scripsit secripsit»! Seria uma “teimosia” ou um prenúncio da verdade? Mas… ele, não sabia o que era a Vedade? A sua pergunta a Jesus Cristo, foi de facto uma declaração de ignorância ou, pelo contrário, uma afirmação de que, no seu entender, a verdade poderia ser diferente para alguns? A própria postura de Herodes – que a partir de então se tornou seu amigo – não revelaria uma convicção que Jesus Cristo poderia Ser O Tal Messias Salvador e Rei dos Judeus? Pilatos era um homem culto e inteligente, embora calculista, e com uma única preocupação: a sua “carreira no aparelho” do Império Romano, mas, este “espanto”, leva-me realmente a pensar… O facto é que Jesus Cristo, pendente da Cruz da Salvação, pediu ao Pai que perdoasse os responsáveis pela Sua Crucifixão poruqe «não sabem o que fazem» e, eu, não posso mais que concluir que, nestes, O meu Salvador, incluia Poncio Pilatos. Assim, terei “mais uma razão” para não fazer juízos nem me atrever em considerações sobre a culpabilidade do Pretor Romano. Consta na história que, caído em desgraça junto do Imperador Romano,  terá cometido suicidío pelos anos 38/39 DC. e, também constam os inúmeros atropelos contra os judeus, nomedamente assassínios em masa dos Samaritanos. Mas, a verdade, também, estes actos não “destoam”  em muito dos praticados por outros responsáveis de governo do povos naquela épocacomo, nas posteriores. Realmente, é muito comum que o  poder – quanto mais absoluto pior – pode corromper a consciência ao ponto de levar quem possui a cometer actos de inimaginável crueldade e desrespeito pela vida dos que governa. Pilatos foi “pior” que Hitler; ou Estaline; ou… ?

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