11/01/2021

Leitura espiritual Fev 02

 


Novo Testamento [i]


Evangelho


Mc VI, 14-33

 

Morte de João Baptista

14 O rei Herodes ouviu falar de Jesus, pois o seu nome se tornara célebre; e dizia-se: «Este é João Baptista, que ressuscitou de entre os mortos e, por isso, manifesta-se nele o poder de fazer milagres»; 15 outros diziam: «É Elias»; outros afirmavam: «É um profeta como um dos outros profetas.» 16 Mas Herodes, ouvindo isto, dizia: «É João, a quem eu degolei, que ressuscitou.» 17 Na verdade, tinha sido Herodes quem mandara prender João e pô-lo a ferros na prisão, por causa de Herodíade, mulher de Filipe, seu irmão, que ele desposara. 18 Porque João dizia a Herodes: «Não te é lícito ter contigo a mulher do teu irmão.» 19 Herodíade tinha-lhe rancor e queria dar-lhe a morte, mas não podia, 20 porque Herodes temia João e, sabendo que era homem justo e santo, protegia-o; quando o ouvia, ficava muito perplexo, mas escutava-o com agrado. 21 Mas chegou o dia oportuno, quando Herodes, pelo seu aniversário, ofereceu um banquete aos grandes da corte, aos oficiais e aos principais da Galileia. 22 Tendo entrado e dançado, a filha de Herodíade agradou a Herodes e aos convidados. O rei disse à jovem: «Pede-me o que quiseres e eu to darei.» 23 E acrescentou, jurando: «Dar-te-ei tudo o que me pedires, nem que seja metade do meu reino.» 24 Ela saiu e perguntou à mãe: «Que hei-de pedir?» A mãe respondeu: «A cabeça de João Baptista.» 25 Voltando a entrar apressadamente, fez o seu pedido ao rei, dizendo: «Quero que me dês imediatamente, num prato, a cabeça de João Baptista.» 26 O rei ficou desolado; mas, por causa do juramento e dos convidados, não quis recusar. 27 Sem demora, mandou um guarda com a ordem de trazer a cabeça de João. O guarda foi e decapitou-o na prisão; 28 depois, trouxe a cabeça num prato e entregou-a à jovem, que a deu à mãe. 29 Tendo conhecimento disto, os discípulos de João foram buscar o seu corpo e depositaram-no num sepulcro.

 

Volta dos Apóstolos

30 Os Apóstolos reuniram-se a Jesus e contaram-lhe tudo o que tinham feito e ensinado. 31 Disse-lhes, então: «Vinde, retiremo-nos para um lugar deserto e descansai um pouco.» Porque eram tantos os que iam e vinham, que nem tinham tempo para comer. 32 Foram, pois, no barco, para um lugar isolado, sem mais ninguém. 33 Ao vê-los afastar, muitos perceberam para onde iam; e de todas as cidades acorreram, a pé, àquele lugar, e chegaram primeiro que eles.

Texto:



Exame

  Muitos de nós temos a graça de ter alguém – filho, irmão, parente próximo – nestas condições de Santos autênticos e verdadeiros e, também é verdade, que são numerosos os que nem sequer se lembram disso e da extraordinária possibilidade de terem como intercessores junto de Deus, essas criaturas de alvíssima pureza nunca manchada por qualquer incidência de uma vida que não viveram.

  A vida interior de cada um depende muito desta consciência da santidade como o estádio sublime de convivência com o Criador, e a tomada de consciência deste facto leva muito rapidamente a alma a empenhar-se em merecer igual destino.

  E o que é a melhoria pessoal senão o esforço por alcançar esse fim último para o qual fomos criados?

  Mas nada se faz nem com pressa e, muito menos, atabalhoadamente.

É um processo longo, como já se disse, de uma vida inteira, com avanços e recuos e com inevitáveis momentos de desânimo ao verificarmos que tarda alcançar a meta que nos propusemos.

  É aqui, particularmente, nestes momentos de confronto com as nossas debilidades que os Santos podem prestar-nos um auxílio de extraordinário alcance pelo que, recorrermos a eles com frequência é sábia medida e atitude vantajosa.

  A Igreja chama a esta “relação” Comunhão dos Santos, que é uma verdade de Fé tal como expressamos no Credo. [1]

  Sendo assim, é de facto muito conveniente ter esta realidade bem presente na nossa vida interior quando nos esforçamos por melhorar nalgum ponto e não o conseguimos ou encontramos obstáculos inopinados.

Podemos – e devemos – rezar por todos, mesmo, e principalmente, por aqueles que presumimos estão abandonados ou de quem poucos se lembram.

Em Portugal é costume acrescentar-se no Santo Rosário essa jaculatória tão formosa “levai para o Céu todas as almas principalmente as que mais precisarem” que traduz precisamente essa preocupação que nos foi transmitida por Cristo de que todos se salvem.

  A nossa vida interior melhorará consideravelmente ao termos em atenção esta verdade de Fé da Comunhão dos Santos, porque eles podem muito com a sua intercessão junto de Deus pela ajuda, auxílio e protecção que necessitamos. [2]

 

  Do respeito próprio e pelos outros

  Falando do respeito devido aos outros podemos considerar a pouca importância que muita gente lhe dá.

  Há pessoas que têm por hábito comprar várias publicações, jornais e revistas, numa espécie de atitude compulsiva cuja origem não têm bem clarificada.

Na verdade pretendem ler as mesmas notícias, artigos ou comentários escritos ou relatados por diferentes pessoas, sob diversos ângulos e com enfoques não coincidentes.

  Lá bem no fundo talvez se esconda um inconfessado desejo de se propor abrilhantar um encontro ou uma  reunião com uma sabedoria variada sobre os diversos assuntos, revelando a quem tenha paciência para o escutar, um conhecimento e opinião sobre a actualidade, política e outras, tão diversificada quanto as publicações que leu, criando, assim, uma aura de pessoa criteriosamente informada.

  A futilidade deste personagem é tanto mais gritante quanto o é a sua suposta sabedoria e o seu desprezo pela seriedade que deve presidir a qualquer relação social.

Têm, além disso, um absoluto desrespeito pelos outros.

  (Pode neste parêntesis, aduzir-se a questão do desprendimento fortemente ferido pelos gastos despropositados em jornais, revistas e outras publicações.)

  Na realidade estas pessoas existem porque há sistemas de informação que as alimentam e, aliás, existem por causa delas.

  Interessa vender cada vez mais e, para o conseguir, qualquer estragégia comercial serve.

  Se o que se põe em destaque, na capa de uma revista, por exemplo, coincide ou não com o que vem desenvolvido no interior é um mero detalhe sem importância.

Trata-se de uma flagrante falta de respeito pelos compradores em particular e o público em geral.

  As pessoas, qualquer pessoa, têm um sagrado direito ao seu bom-nome e à preservação da sua intimidade.

 O nome que têm é muito provavelmente usado por outras pessoas, parentes, filhos, pais, netos que não devem ser arrastados para o domínio público porque uma qualquer publicação resolveu expor publicamente uma faceta da intimidade de alguém com o mesmo nome.

Haveria de ter-se respeito por esta gente, por vezes de menor idade, inocentes e alheios à notícia.

  Não é o que frequentemente sucede, infelizmente, e a sociedade em geral confronta-se com uma plêiade de comentadores, analistas e críticos que a deixam muitas vezes sem saber o que pensar sobre o que ouvem ou leem.

  Não se trata aqui de “por no mesmo saco” os profissionais da informação, os jornalistas concretamente, mas sim de referir que a ética da profissão deve ter como ponto de referência o respeito pelos outros.

  Quantas vezes não se tem a noção que há que fazer algo que, por qualquer razão certa, sabemos que tem de ser feito e... nos ficamos por aí, pela intenção.

  O motivo para tal é quase sempre o mesmo: Algo mais importante ou urgente surgiu entretanto.

  Isto é sempre um falso motivo, a realidade é bem outra:

Somos inconstantes nas nossas intenções, deixamos que se interponham esses aparentes motivos para irmos adiando o que temos de fazer.

  A este comportamento chama-se inconstância, exactamente porque não se consegue manter nem os propósitos, nem as intenções e também, claro, os compromissos, mesmo os livremente assumidos.

São, muitas vezes, pessoas muito activas, empenhadas em numerosas iniciativas, em campos díspares, circunstâncias diversas e com gente diferente.

Normalmente isto é só aparência porque, na verdade, não chegam a completar coisa alguma.

  São o que se pode chamar pessoas com uma pretensa iniciativa quando o que lhes falta é de facto “finiciativa”. [3]

 

 

 



[1] Comunhão, porque é por este Sacramento que nos unimos a Cristo, que nos toma participantes de seu Corpo e de seu Sangue para formarmos um só corpo; denomina-se ainda as "coisas santas: ta hagia (pronuncia-se "ta háguia" e significa "coisas santas"); sancta (coisas santas" este é o sentido primeiro da "comunhão dos santos" de que fala o Símbolo dos Apóstolos pão dos anjos, pão do céu, remédio de imortalidade, viático... (Catecismo da Igreja Católica, §1331

[2] Vivei uma particular Comunhão dos Santos: e cada um sentirá, à hora da luta interior, e à hora do trabalho profissional, a alegria e a força de não estar só. (s. josemaria escrivá,  Caminho, 545)

[3] Expressão curiosa empregue por um autor espanhol para significar a atitude dos que mostram muita iniciativa em fazer algo mas que quase nunca finalizam.



[i] Sequencial todos os dias do ano

Pequena agenda do cristão - Segunda-Feira

 

 

SeGUNDa-Feira

Pequena agenda do cristão

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)



Propósito:
Sorrir; ser amável; prestar serviço.

Senhor que eu faça "boa cara" que seja alegre e transmita aos outros, principalmente em minha casa, boa disposição.

Senhor que eu sirva sem reserva de intenção de ser recompensado; servir com naturalidade; prestar pequenos ou grandes serviços a todos mesmo àqueles que nada me são. Servir fazendo o que devo sem olhar à minha pretensa “dignidade” ou “importância” “feridas” em serviço discreto ou desprovido de relevo, dando graças pela oportunidade de ser útil.

Lembrar-me:
Papa, Bispos, Sacerdotes.

Que o Senhor assista e vivifique o Papa, santificando-o na terra e não consinta que seja vencido pelos seus inimigos.

Que os Bispos se mantenham firmes na Fé, apascentando a Igreja na fortaleza do Senhor.

Que os Sacerdotes sejam fiéis à sua vocação e guias seguros do Povo de Deus.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?

Humildade de Jesus: em Belém, em Nazaré, no Calvário...

Humildade de Jesus: em Belém, em Nazaré, no Calvário... Porém, mais humilhação e mais aniquilamento na Hóstia Santíssima; mais que no estábulo, e que em Nazaré, e que na Cruz. Por isso, que obrigação tenho de amar a Missa! (A "nossa" Missa, Jesus...) (Caminho, 533)

Meus filhos, pasmai agradecidos ante este mistério e aprendei: todo o poder, toda a formosura, toda a majestade, toda a harmonia infinita de Deus, com as suas grandes e incomensuráveis riquezas – todo um Deus – ficou escondido na Humanidade de Cristo para nos servir. O Omnipotente apresenta-se decidido a ocultar por algum tempo a sua glória, para facilitar o encontro redentor com as suas criaturas. Escreve o evangelista São João: «ninguém jamais viu Deus; o Filho Unigénito que está no seio do Pai é que o deu a conhecer, comparecendo ante o olhar atónito dos homens: primeiro, como um recém-nascido, em Belém; depois, como um menino igual aos outros; mais tarde, no Templo, como um adolescente, inteligente e vivo; e, por fim, com aquela figura amável e atraente do Mestre que movia os corações das multidões que o acompanhavam entusiasmadas». (Amigos de Deus, 111)

São José CARTA APOSTÓLICA PATRIS CORDE 6

 

CARTA APOSTÓLICA PATRIS CORDE 

DO PAPA FRANCISCO

POR OCASIÃO DO 150º ANIVERSÁRIO DA DECLARAÇÃO DE SÃO JOSÉ COMO PADROEIRO UNIVERSAL DA IGREJA

 

6. Pai trabalhador

 

Um aspeto que carateriza São José – e tem sido evidenciado desde os dias da primeira encíclica social, a Rerum novarum de Leão XIII – é a sua relação com o trabalho. São José era um carpinteiro que trabalhou honestamente para garantir o sustento da sua família. Com ele, Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão fruto do próprio trabalho.

 

Neste nosso tempo em que o trabalho parece ter voltado a constituir uma urgente questão social e o desemprego atinge por vezes níveis impressionantes, mesmo em países onde se experimentou durante várias décadas um certo bem-estar, é necessário tomar renovada consciência do significado do trabalho que dignifica e do qual o nosso Santo é patrono e exemplo.

 

O trabalho torna-se participação na própria obra da salvação, oportunidade para apressar a vinda do Reino, desenvolver as próprias potencialidades e qualidades, colocando-as ao serviço da sociedade e da comunhão; o trabalho torna-se uma oportunidade de realização não só para o próprio trabalhador, mas sobretudo para aquele núcleo originário da sociedade que é a família. Uma família onde falte o trabalho está mais exposta a dificuldades, tensões, fraturas e até mesmo à desesperada e desesperadora tentação da dissolução. Como poderemos falar da dignidade humana sem nos empenharmos para que todos, e cada um, tenham a possibilidade dum digno sustento?

 

A pessoa que trabalha, seja qual for a sua tarefa, colabora com o próprio Deus, torna-se em certa medida criadora do mundo que a rodeia. A crise do nosso tempo, que é económica, social, cultural e espiritual, pode constituir para todos um apelo a redescobrir o valor, a importância e a necessidade do trabalho para dar origem a uma nova «normalidade», em que ninguém seja excluído. O trabalho de São José lembra-nos que o próprio Deus feito homem não desdenhou o trabalho. A perda de trabalho que afeta tantos irmãos e irmãs e tem aumentado nos últimos meses devido à pandemia de Covid-19, deve ser um apelo a revermos as nossas prioridades. Peçamos a São José Operário que encontremos vias onde nos possamos comprometer até se dizer: nenhum jovem, nenhuma pessoa, nenhuma família sem trabalho!

 

Francisco

 

© Copyright - Libreria Editrice Vaticana

LEITURA ESPIRITUAL Janeiro 11

 


Evangelho

 

Mt XXIV 1 - 22

 

Profecia da ruína de Jerusalém

 

1 Tendo saído do templo, Jesus ia-se embora, quando os seus discípulos se aproximaram dele para lhe mostrar as construções do templo. 2 Mas Ele disse-lhes: «Vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra sobre pedra: tudo será destruído.» 3 Estando Jesus sentado no Monte das Oliveiras, os discípulos aproximaram-se e perguntaram-lhe em particular: «Diz-nos quando acontecerá tudo isto e qual o sinal da tua vinda e do fim do mundo.» 4 Jesus respondeu-lhes: «Tomai cuidado para que ninguém vos desencaminhe. 5 Porque virão muitos em meu nome, dizendo: ‘Sou eu o Messias.’ E hão-de enganar muita gente. 6 Ouvireis falar de guerras e de rumores de guerras, mas não vos assusteis. Isso tem de acontecer, mas ainda não será o fim. 7 Há-de erguer-se povo contra povo e reino contra reino, e haverá fomes, pestes e terramotos em vários sítios. 8 Tudo isto será apenas o princípio das dores.» 9 «Então, irão entregar-vos à tortura e à morte e, por causa do meu nome, todos os povos irão odiar-vos. 10 Nessa altura, muitos sucumbirão e hão-de trair-se e odiar-se uns aos outros. 11 Surgirão muitos falsos profetas, que hão-de enganar a muitos. 12 E, porque se multiplicará a iniquidade, vai resfriar o amor de muitos; 13 mas aquele que se mantiver firme até ao fim será salvo. 14 Este Evangelho do Reino será proclamado em todo o mundo, para se dar testemunho diante de todos os povos. E então virá o fim.»

Destruição de Jerusalém

15 «Por isso, quando virdes a abominação da desolação, de que falou o profeta Daniel, instalada no lugar santo, - o que lê, entenda – 16 então, os que se encontrarem na Judeia fujam para os montes; 17 aquele que estiver no terraço não desça para tirar as coisas de sua casa; 18 e o que se encontrar no campo não volte atrás para buscar a capa. 19 Ai das que estiverem grávidas e das que andarem amamentando nesses dias! 20 Rezai para que a vossa fuga não se verifique no Inverno ou em dia de sábado, 21 pois nessa altura a aflição será tão grande como nunca se viu desde o princípio do mundo até ao presente, nem jamais se verá. 22 E, se não fossem abreviados esses dias, criatura alguma se poderia salvar; mas, por causa dos eleitos, esses dias serão reduzidos.»



Bom Humor

 

  Alfred Montapert escreveu: ‘O bom humor espalha mais felicidade que todas as riquezas do mundo. Vem do hábito de olhar para as coisas com esperança e de esperar o melhor e não o pior.’ [1]

  Realmente, o bom humor é uma virtude excelente que torna o convívio ou as relações com aquele que a possui, muito agradável.

Em qualquer tempo, mas sobretudo no que decorre, é bastante difícil não ser constantemente assediado com assuntos, factos ou incidências que nos provocam apreensão, dúvida, sentimentos contraditórios, e, se em sociedade, discussões e confrontos que, por vezes, desgastam desnecessariamente a pessoa e podem, de alguma forma, corromper essas mesmas relações.

  Normalmente, o bom humor está associado à serenidade porque também é uma virtude estável do indivíduo não sujeita a influências alheias, do meio ambiente, etc.

Mas não tem nada a ver com a inconsciência ou a ligeireza de carácter que levam a encarar o que se lhe depara com a displicência própria dos néscios.

Pelo contrário, é uma virtude que dá ao que a possui, um enfoque optimista das coisas, procurando sempre o “lado bom”, tirando partido das situações que se apresentam como menos boas para lhes descobrir um bem que não parece evidente.

  Sim, tem também muito a ver com a esperança já que, esta, é fundamental para evitar o derrotismo, a consideração da inevitabilidade do que se apresenta.

Na luta interior, então, esta virtude é fundamental para que, associando-a à consciência, se possa ter um optimismo razoável quanto aos resultados do esforço por melhoria.

A pessoa bem-humorada faz amizades com mais facilidade já que, tem um espírito mais aberto e construtivo que, naturalmente, atrai e arrasta.

Amizade

  ‘Para que haja verdadeira amizade é necessário que exista correspondência, é preciso que o afecto e a benevolência sejam mútuos.’ [2]

  Esta afirmação feita por São Tomás define excelentemente os quesitos fundamentais para que exista amizade verdadeira.

  Temos muitas vezes a tendência para chamar amigos a simples conhecidos que, por uma razão ou outra, podemos achar simpáticos ou cuja companhia nos agrada.

Isto é banalizar o significado de amizade que, como já vimos, é bastante mais que simpatia.

  Envolvendo sentimentos profundos, a amizade não se forjará em qualquer ocasião ou contacto, é algo que se constrói com o tempo e à medida que a relação vai adquirindo uma forma estável e o conhecimento do outro se vai aprofundando.

  Há sempre – tem de haver – reciprocidade de sentimentos, interesses, afectos, quando não a relação é unilateral, o que, a amizade, não é.

  Por outro lado só se entende amizade por uma relação construída para o bem, próprio e alheio, porque se trata de dar e receber.

Assim, pode afirmar-se que ‘Só são verdadeiros amigos aqueles que têm algo para dar, e ao mesmo tempo, a humildade suficiente para receber. Por isso é mais própria dos homens virtuosos. O vício partilhado não produz amizade mas sim cumplicidade, que não é o mesmo. Nunca poderá ser legitimado o mal com uma pretensa amizade.’ [3]

  Repare-se bem que se diz que a amizade é mais própria dos homens virtuosos, o que baliza imediatamente o campo em que amizade pode existir.

  Há um ditado muito antigo e conhecido que diz, mais ou menos, ‘se queres perder um amigo pede-lhe dinheiro emprestado’.

  Isto é absolutamente contrário à amizade.

Mesmo que o amigo não empreste o que se lhe pede – e as razões podem ser muitas – porque razão haveria de deixar de ser amigo do que lhe pediu?

  Temos pois, que a fraternidade é uma virtude que estabelece um vínculo talvez mais abrangente que a amizade, porque infere tendências, gostos, preferências iguais ou muito semelhantes com vista a um mesmo fim.

A algumas comunidades é frequente dar-se o nome de ''fraternidade'' exactamente porque perseguem o mesmo fim ou objectivo através das mesmas práticas e convicções.

  A fraternidade é uma virtude indispensável para na vida em sociedade tornar as relações mais fáceis entre todos, porque, como diz São Josemaria Escrivá: ‘Que difícil parece por vezes o trabalho de superar as barreiras, que impedem o convívio entre os homens! E contudo nós, os cristãos somos chamados a realizar esse grande milagre da fraternidade: conseguir, com a graça de Deus, que os homens se tratem cristãmente, levando uns as cargas dos outros, vivendo o mandamento do Amor, que é o vínculo da perfeição e o resumo da lei.’ [4]

  Uma das práticas mais interessantes e benéficas desta virtude é a chamada correcção fraterna.

  Sobretudo entre pessoas próximas seja por parentesco, amizade, partilha de objectivos, etc., esta prática é altamente recomendável na medida em que constitui uma ajuda fundamental e que a pessoa tem direito a esperar.

Quem está “de fora” aprecia melhor os pormenores que passam despercebidos ao próprio e não só pode, como deve, fazer essa correcção que é, sempre, no sentido construtivo de ajudar e, nunca, com a intenção de supor algum julgamento ou reprovação do que se aponta.

Normalmente, esta correcção fraterna será feita a propósito de coisas pequenas que mal se percebem e podemos fazê-la depois de, em consciência, avaliarmos bem da justiça e da bondade do que pretendemos fazer.

Algo mais complexo, grave ou sério, deverá previamente, ser prudentemente visto com alguém com capacidade e qualidade para aconselhar.

Só depois, e se for julgado útil, se deve fazer.

Quando acima se diz que a correcção fraterna é algo a que a pessoa tem o direito de esperar, pretende-se dizer que se tem a mesma correcção fraterna como um verdadeiro bem porque ajuda singularmente a corrigir algo que não nos dávamos conta.

  Para quem a faz, como para quem a recebe, a correcção fraterna produz sempre um verdadeiro benefício; ao primeiro porque pratica um acto de justiça, ao que a recebe porque pode assegurar-se que, o que lha fez, se preocupa consigo e está disponível para lhe prestar a ajuda que necessita.



[1] alfred armand montapert, The Supreme Philosophy of Man: The Laws of Life, 1970.

[2] Cfr. s. tomás de aquino, Suma Teológica, 2-2, q. 23, a. 1.

[3] j. abad, Fidelidad, Palabra, Madrid 1963, nr. 110

[4] s. josemaria escrivá, Cristo que Passa, 157

Reflexão

 

A alegria no sofrimento transforma o nosso sofrimento e disfarça-o diante dos outros, tornando-se, para as pessoas que rodeiam, uma fonte de cura e de salvação.

 

(Gisbert Greshake, Der Preis der Liebe, Bestnnung uber das Leid, Freiburg, 1978, p. 14)

FILOSOFIA E RELIGIÃO

 

CONTROLO DA NATALIDADE

 

A razão mais íntima e mais fundamental da doutrina da Igreja (a respeito do controle da natalidade) assenta, não na areia movediça das opiniões dos homens, mas sim na revelação cristã e, designadamente, na revelação da paternidade divina, Deus é Criador e é Pai, porque é Amor. [1] E o homem que foi criado á imagem e semelhança de Deus, tem a missão, na terra, de defender e avivar, em si mesmo, esta imagem e esta semelhança do Amor incriado - Deus. Ora, amor verdadeiro e fecundo é o amor que expande e multiplica a vida, quer natural (vida física e espiritual), quer sobrenatural (a graça santificante). De outro modo, o amor seria estéril, o que, se a esterilidade é voluntária, equivale a dizer que seria o contrário do amor. Situa-se nesse falso amor, voluntariamente estéril, a conjura  contra o direito de nascer.

 

A. Veloso, BROTÉRIA, Vol. LXXIV, Fasc. 6, 1962, pag. 655



[1] Jo, 4, 8 e 16 Deus charitas est