07/02/2015

Devemos santificar todas as realidades

A tua tarefa de apóstolo é grande e formosa. Estás no ponto de confluência da graça com a liberdade das almas; e assistes ao momento soleníssimo da vida de alguns homens: o seu encontro com Cristo. (Sulco, 219)


Estamos no Natal. Acodem-nos à memória os diversos factos e circunstâncias que rodearam o nascimento do Filho de Deus e o olhar detém-se na gruta de Belém, no lar de Nazaré. Maria, José, Jesus Menino ocupam de modo muito especial o centro do nosso coração. Que diz, que nos ensina a vida, simples e admirável ao mesmo tempo, dessa Sagrada Família?

Entre as muitas considerações que poderíamos fazer, agora quero escolher sobretudo uma., Como refere a Escritura, o nascimento de Jesus significa o início da plenitude dos tempos, o momento escolhido por Deus para manifestar plenamente o seu amor aos homens, entregando-nos o seu próprio Filho. Essa vontade divina realiza-se no meio das circunstâncias mais normais e correntes: uma mulher que dá à luz, uma família, uma casa. A omnipotência divina, o esplendor de Deus passam através das coisas humanas, unem-se às coisas humanas. Desde esse momento, nós, os cristãos, sabemos que, com a graça do Senhor, podemos e devemos santificar todas as realidades sãs da nossa vida. Não há situação terrena, por mais pequena e vulgar que pareça, que não possa ser a ocasião de um encontro com Cristo e uma etapa da nossa caminhada para o Reino dos Céus.


Por isso, não é de estranhar que a Igreja se alegre, que rejubile, contemplando a modesta morada de Jesus, Maria e José. (Cristo que passa, 22)

Tratado do verbo encarnado 114

Questão 16: Do conveniente a Cristo no seu ser e no seu dever

Art. 11 — Se Cristo, enquanto homem, é Deus.

O undécimo discute-se assim. — Parece que Cristo, enquanto homem, é Deus.

1. — Pois, Cristo é Deus pela graça da união. Ora, Cristo, enquanto homem, tem a graça da união. Logo, Cristo, enquanto homem, é Deus.

2. Demais. — Perdoar os pecados é próprio de Deus, segundo a Escritura: Eu sou, eu mesmo sou o que apago as tuas iniquidades por amor de mim. Ora, Cristo, enquanto homem, perdoa os pecados, conforme o diz o Evangelho: Pois, para que saibais que o Filho do homem tem poder sobre a terra de perdoar pecados, etc. Logo, Cristo, enquanto homem, é Deus.

3. Demais. — Cristo não é homem, em geral, mas este determinado homem. Ora, Cristo, enquanto este determinado homem, é Deus, pois, este determinado homem designa um suposto eterno que, por natureza, é Deus. Logo, Cristo, enquanto homem, é Deus.

Mas, em contrário. — O conveniente a Cristo, enquanto homem, convém a qualquer homem. Se, logo, Cristo, enquanto homem, fosse Deus, resultaria que todo homem seria Deus, o que evidentemente é falso.

A palavra homem, tomada em sentido restrictivo, pode entender-se de dois modos. — Primeiro, na sua natureza. E então, não é verdade que Cristo, enquanto homem, seja Deus, porque a natureza humana é distinta da divina, por uma diferença de natureza. — Noutro sentido, pode ser entendida em razão do suposto. E então, sendo o suposto da natureza humana, em Cristo, a pessoa do Filho de Deus, a que convém por natureza ser Deus, é verdade que Cristo, enquanto homem, é Deus. Como porém o termo, tomado em sentido restritivo, mais propriamente significa a natureza, que o suposto, como se disse, por isso, a proposição — Cristo, enquanto homem, é Deus — deve antes ser negada que afirmada.


DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Não é pela mesma razão que um ser se move para um termo e constitui esse termo, pois, um ser move -se em razão da matéria ou do sujeito, e é actual, em razão da forma. Semelhantemente, não convém a Cristo, à mesma luz, ordenar-se a ser Deus pela graça da união, e ser Deus. Mas, aquilo lhe convém, segundo a natureza humana, e isto, segundo a divina. Donde, é verdadeira a proposição — Cristo, enquanto homem, tem a graça da união, mas não esta — Cristo, enquanto homem, é Deus.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O Filho do homem tem na terra o poder de perdoar os pecados, não em virtude da natureza humana, mas, da natureza divina. Dessa natureza divina promana o poder de perdoar os pecados por autoridade própria, ao passo que a natureza humana exerce a função de instrumento e de ministro. Donde, expondo esse assunto, o dizer Crisóstomo: O Evangelho disse assinaladamente — na terra, de perdoar os pecados — para mostrar que à natureza humana uniu, por uma união indivisível, o poder da divindade. Pois, embora feito homem continuou sendo o Verbo de Deus.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Quando se diz — este homem — o pronome demonstrativo liga a palavra homem – ao suposto. Por isso, a proposição — Cristo, enquanto este homem, é Deus, é mais verdadeira que a outra — Cristo enquanto homem é Deus.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Temas para meditar - 358



 Civilização


Nunca é correcto fazer o mal. Esta sentença por si só é o fundamento da nossa civilização, aquela que deveria, de facto, distinguir todas as civilizações.



(james schall, sj in infovitae, trad ama)

Evangelho, coment. L esp. (Temas actuais do cristianismo)

Tempo Comum IV Semana

Cinco Chagas do Senhor

Evangelho: Jo 19 28-37 ou 20 24-29

28 Em seguida, sabendo Jesus que tudo estava consumado, para se cumprir a Escritura, disse: «Tenho sede». 29 Havia ali um vaso cheio de vinagre. Então, os soldados, ensopando no vinagre uma esponja e atando-a a uma cana de hissopo, chegaram-Lha à boca. 30 Jesus, tendo tomado o vinagre, disse: «Tudo está consumado!». Depois, inclinando a cabeça, entregou o espírito. 31 Os judeus, visto que era o dia da Preparação, para que os corpos não ficassem na cruz no sábado, porque aquele dia de sábado era de grande solenidade, pediram a Pilatos que lhes fossem quebradas as pernas e fossem retirados. 32 Foram, pois, os soldados e quebraram as pernas ao primeiro e ao outro com quem Ele havia sido crucificado. 33 Mas, quando chegaram a Jesus, vendo que já estava morto, não Lhe quebraram as pernas, 34 mas um dos soldados trespassou-Lhe o lado com uma lança e imediatamente saiu sangue e água. 35 Quem foi testemunha deste facto o atesta, e o seu testemunho é digno de fé e ele sabe que diz a verdade, para que também vós acrediteis. 36 Porque estas coisas sucederam para que se cumprisse a Escritura: “Não Lhe quebrarão osso algum”. 37 E também diz outro passo da Escritura: “Hão-de olhar para Aquele a quem trespassaram”.

Comentário

Parece um acto gratuito de pura maldade o praticado pelo soldado que trespassou o peito do Senhor.
De facto, constataram, todos, que estava já morto, por isso não Lhe quebraram as pernas.
Mas, a Escritura tem de cumprir-se e, o soldado, é um mero executor, embora sem o saber, da mesma Escritura.

O Coração amantíssimo de jesus, estava já ferido de morte pelos inúmeros atropelos, sevícias e violências a que tinha sido sujeito.
Esse Coração que amara até ao fim a humanidade que O suspende da Cruz, já se entregara todo, nada mais lhe restava.
Mas, esse Coração que sangra de um golpe de lança, ficará, para sempre como a imagem da fonte da água viva que jorrará para sempre para benefício dos homens.

(ama, comentário sobre Jo 19, 31-37, 2014.02.07)


Leitura espiritual



São Josemaria Escrivá

Temas actuais do cristianismo [i]

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Os que seguiram Jesus Cristo comigo, pobre pecador, são: uma percentagem de sacerdotes que exerciam antes uma profissão ou tinham uma ocupação laical; um grande número de sacerdotes seculares de muitas dioceses do mundo - que confirmam assim a obediência e amor aos seus Bispos respectivos, e a eficácia do seu trabalho diocesano, com os braços sempre abertos em cruz para que todas as almas caibam nos seus corações, e que estão como eu, em plena rua, no mundo, e o amam; e a grande multidão, formada por homens e mulheres de diversas nações, de diversas línguas, de diversas raças, que vivem do seu trabalho profissional, casados na sua maior parte, solteiros muitos outros, que participam com os seus concidadãos na grave tarefa de tornar mais humana e mais justa a sociedade temporal, na nobre lide das ocupações diárias, com responsabilidade pessoal - repito -, alcançando e sofrendo, ombro a ombro com os outros homens, êxitos e fracassos, procurando cumprir os seus deveres e exercer os seus direitos sociais e cívicos. E tudo isto, com naturalidade, como qualquer cristão consciente, sem mentalidade de selectos, fundidos na massa dos seus colegas, enquanto procuram detectar a luz divina que reverbera nas realidades mais vulgares.

Também as obras promovidas pelo Opus Dei, como associação, têm essas características eminentemente seculares: não são obras eclesiásticas. Não gozam de nenhuma representação oficial da Hierarquia da Igreja. São obras de promoção humana, cultural, social, realizadas por cidadãos que procuram iluminá-las com a luz do Evangelho e aquecê-las com o amor de Cristo. Ficareis esclarecidos com um dado: o Opus Dei não tem nem terá jamais, por exemplo, a missão de dirigir Seminários diocesanos, onde os Bispos, instituídos pelo Espírito Santo [Ac 20, 28], preparam os seus futuros sacerdotes.

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O Opus Dei fomenta, pelo contrário, centros de formação operária e de formação agrícola, de ensino básico, secundário e universitário, e tantas outras e tão variadas actividades em todo o mundo, porque os seus anseios apostólicos - escrevi há muitos anos - são um mar sem limites.

Mas, por que me hei-de alongar nesta matéria, se a vossa própria presença é mais eloquente do que um prolongado discurso? Vós, Amigos da Universidade de Navarra, sois parte de um povo que sabe estar comprometido no progresso da sociedade a que pertence. O vosso alento cordial, a vossa oração, o vosso sacrifício e a vossa contribuição material não seguem os caminhos de um confessionalismo católico; ao prestardes a vossa cooperação, sois o perfeito testemunho de uma recta consciência civil, preocupada pelo bem comum temporal; testemunhais que uma Universidade pode nascer das energias do povo e ser sustentada pelo povo.

Quero agradecer uma vez mais nesta ocasião, a colaboração que prestam à nossa Universidade a minha nobilíssima cidade de Pamplona, a grande e forte região navarra; os Amigos procedentes de toda a geografia espanhola e - com particular emoção o digo - os não espanhóis e até os não católicos e não cristãos que compreenderam, e assim o demonstram com factos, a intenção e o espírito deste empreendimento.

A todos eles se deve que esta Universidade seja um foco, cada vez mais vivo, de liberdade cívica, de preparação intelectual, de emulação profissional, e um estímulo para o ensino universitário. O vosso generoso sacrifício serve de base a um trabalho universal que procura o incremento das ciências humanas, a promoção social, a pedagogia da fé.

O que acabo de dizer foi visto com clareza pelo povo navarro, que também reconhece na sua Universidade um factor de promoção económica para a região e, especialmente, de promoção social, que permitiu a tantos dos seus filhos o acesso às profissões intelectuais que, de outro modo, seria difícil e, em certos casos, impossível. A compreensão do papel que a Universidade havia de ter na sua vida motivou certamente o apoio que Navarra lhe dispensou desde o começo; apoio que, sem dúvida, será cada vez mais amplo e entusiasta.

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Continuo a manter a esperança - porque corresponde a um critério justo e à realidade vigente em tantos países - de que chegará o momento em que o Estado espanhol contribuirá, por seu lado, para aliviar os encargos de um empreendimento que não tem em vista nenhum proveito privado e que, pelo contrário, totalmente consagrado ao serviço da sociedade, procura trabalhar com eficácia para a prosperidade presente e futura da nação.

E agora, meus filhos e minhas filhas, permiti que me detenha noutro aspecto - particularmente querido - da vida comum. Refiro-me ao amor humano, ao amor casto entre um homem e uma mulher, ao noivado, ao matrimónio. Devo dizer uma vez mais que esse amor humano santo não é algo de permitido, de tolerado, à margem das verdadeiras actividades do espírito, como poderiam insinuar os falsos espiritualismos a que antes aludia. Há quarenta anos que venho pregando exactamente o contrário, através da palavra e da escrita, e os que não compreendiam já o vão entendendo.

O amor que conduz ao matrimónio e à família pode ser também um caminho divino, vocacional, maravilhoso, meio para uma completa dedicação ao nosso Deus. Realizai as coisas com perfeição, tenho-vos recordado, ponde amor nas pequenas actividades da jornada, descobri - insisto - esse quê divino que se oculta nos pormenores: toda esta doutrina encontra um lugar especial no espaço vital em que o amor humano se enquadra.

Já o sabeis muito bem, professores, alunos e todos os que dedicais o vosso trabalho à Universidade de Navarra: pus os vossos amores sob a protecção de Santa Maria, Mãe do Amor Formoso. E aí tendes a ermida que construímos com devoção no campus universitário, para recolher as vossas orações e a oblação desse amor maravilhoso e limpo que Ela abençoa.

Não sabíeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que recebestes de Deus, e que não vos pertenceis? [I Cor 6, 19]. Quantas vezes, diante da imagem da Virgem Santa, da Mãe do Amor Formoso, respondereis com uma alegre afirmação à pergunta do Apóstolo: sabemos, sim, e queremos vivê-lo com a tua ajuda poderosa, ó Virgem Mãe de Deus!

A oração contemplativa surgirá em vós sempre que meditardes nesta realidade impressionante: uma coisa tão material como o meu corpo foi escolhida pelo Espírito Santo para estabelecer a Sua morada...; já não me pertenço...; o meu corpo e a minha alma - o meu ser inteiro - são de Deus... E essa oração será rica em resultados práticos, derivados da grande consequência que o próprio Apóstolo apresenta: glorificai a Deus no vosso corpo [I Cor 6, 20].

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Por outro lado, não podeis desconhecer que só entre os que compreendem e valorizam em toda a sua profundidade o que acabamos de considerar acerca do amor humano, pode surgir aquela outra compreensão inefável de que Jesus falou [Cfr Mt 19, 11], que é um puro dom de Deus e que conduz a entregar o corpo e a alma a Nosso Senhor, a oferecer-Lhe o coração indiviso, sem a mediação do amor terreno.

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Tenho de terminar, meus filhos. Disse-vos ao começar que a minha palavra gostaria de vos anunciar alguma coisa da grandeza e da misericórdia de Deus. Julgo tê-lo cumprido, ao falar-vos de viver santamente a vida corrente: porque uma vida santa no meio da realidade secular - sem ruído, com simplicidade, com veracidade - não será porventura hoje a mais consoladora manifestação das magnalia Dei [Edes 18, 5], dessas portentosas misericórdias que Deus sempre realizou, e não deixa de realizar para salvar o mundo?

Peço-vos agora com o salmista que vos unais à minha oração e ao meu louvor: magnificate Dominum mecum, et extollamus nomen eius simul [Ps. XXXIII, 4]; louvai comigo o Senhor e exaltemos todos juntos o Seu nome. Ou seja, meus filhos: vivamos de Fé.

Tomemos o escudo da Fé, o elmo da salvação e a espada do espírito que é a Palavra de Deus. Assim nos anima o Apóstolo S. Paulo na Epístola aos de Éfeso [Ef 6, 11 e ss] que há momentos se proclamava liturgicamente.

Fé, virtude de que os cristãos tanto necessitamos, especialmente neste ano da Fé promulgado pelo nosso amadíssimo Santo Padre o Papa Paulo VI, pois, faltando a Fé, falta o próprio fundamento da santificação da vida corrente.

Fé viva nestes momentos, porque nos aproximamos do mysterium fidei [I Tim 3, 9], da Sagrada Eucaristia; porque vamos participar nesta Páscoa do Senhor, que resume e realiza as misericórdias de Deus para com os homens.

Fé, meus filhos, para confessar que, dentro de instantes, sobre esta ara, se vai renovar a obra da nossa Redenção [Secreta do IX Domingo depois de Pentecostes]. Fé, para saborear o Credo e sentir, em torno deste altar e nesta Assembleia, a presença de Cristo que faz de nós cor unum et anima una [Act 4, 32], um só coração e uma só alma; e nos converte em família, em Igreja una, santa, católica, apostólica e romana, que para nós é o mesmo que universal.

Fé, finalmente, filhas e filhos queridíssimos, para demonstrarmos ao mundo que tudo isto não são cerimónias e palavras, mas uma realidade divina, ao apresentarmos aos homens o testemunho de uma vida corrente santificada, em Nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo e de Santa Maria.









[i] Homilia pronunciada no campus da Universidade de Navarra, em 8 de Outubro de 1967.