Sexta-Feira
PEQUENA AGENDA DO CRISTÃO
PLANO DE VIDA: (Coisas muito simples, curtas, objectivas)
Propósito: Pequena mortificação
Pequeno exame: Cumpri o propósito que me propus ontem?
LEITURA ESPIRITUAL
Evangelho
Cura de um hidrópico
1
Tendo entrado, a um sábado, em casa de um dos principais fariseus para comer
uma refeição, todos o observavam. 2 Achava-se ali, diante dele, um
hidrópico. 3 Jesus, dirigindo a palavra aos doutores da Lei e fariseus,
disse-lhes: «É permitido ou não curar ao sábado?» 4 Mas eles ficaram calados. Tomando-o,
então, pela mão, curou-o e mandou-o embora. 5 Depois, disse-lhes: «Qual de vós,
se o seu filho ou o seu boi cair a um poço, 6 não o irá logo retirar em dia de
sábado?» E a isto não puderam replicar.
O último lugar
7 Observando como os convidados
escolhiam os primeiros lugares, disse-lhes esta parábola: 8 «Quando fores
convidado para um banquete, não ocupes o primeiro lugar; não suceda que tenha
sido convidado alguém mais digno do que tu, 9 venha o que vos convidou, a ti e
ao outro, e te diga: ‘Cede o teu lugar a este.’ Ficarias envergonhado e
passarias a ocupar o último lugar. 10 Mas, quando fores convidado, senta-te no
último lugar; e assim, quando vier o que te convidou, há-de dizer-te: ‘Amigo,
vem mais para cima.’ Então, isto será uma honra para ti, aos olhos de todos os
que estiverem contigo à mesa. 11 Porque todo aquele que se exalta será
humilhado, e o que se humilha será exaltado.»
Caridade
12 Disse, depois, a quem o tinha
convidado: «Quando deres um almoço ou um jantar, não convides os teus amigos,
nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem os teus vizinhos ricos; não vão
eles também convidar-te, por sua vez, e assim retribuir-te. 13 Quando deres um
banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. 14 E serás
feliz por eles não terem com que te retribuir; ser-te-á retribuído na
ressurreição dos justos.»
Parábola da grande ceia
15 Ouvindo isto, um dos convidados
disse-lhe: «Feliz o que comer no banquete do Reino de Deus!» 16 Ele
respondeu-lhe: «Certo homem ia dar um grande banquete e fez muitos convites. 17
À hora do banquete, mandou o seu servo dizer aos convidados: ‘Vinde, já está
tudo pronto.’ 18 Mas todos, unanimemente, começaram a esquivar-se. O primeiro
disse: ‘Comprei um terreno e preciso de ir vê-lo; peço-te que me dispenses.’ 19
Outro disse: ‘Comprei cinco juntas de bois e tenho de ir experimentá-las;
peço-te que me dispenses.’ 20 E outro disse: ‘Casei-me e, por isso, não posso
ir.’ 21 O servo regressou e comunicou isto ao seu senhor. Então, o dono da
casa, irritado, disse ao servo: ‘Sai imediatamente às praças e às ruas da
cidade e traz para aqui os pobres, os estropiados, os cegos e os coxos.’ 22 O
servo voltou e disse-lhe: ‘Senhor, está feito o que determinaste, e ainda há
lugar.’ 23 E o senhor disse ao servo: ‘Sai pelos caminhos e azinhagas e
obriga-os a entrar, para que a minha casa fique cheia.’ 24 Pois digo-vos que
nenhum daqueles que foram convidados provará do meu banquete.»
Necessidade da abnegação
25
Seguiam com ele grandes multidões; e Jesus, voltando-se para elas, disse-lhes:
26 «Se alguém vem ter comigo e não me tem mais amor que ao seu pai, à sua mãe,
à sua esposa, aos seus filhos, aos seus irmãos, às suas irmãs e até à própria
vida, não pode ser meu discípulo. 27 Quem não tomar a sua cruz para me seguir
não pode ser meu discípulo. 28 Quem dentre vós, querendo construir uma torre,
não se senta primeiro para calcular a despesa e ver se tem com que a concluir?
29 Não suceda que, depois de assentar os alicerces, não a podendo acabar, todos
os que virem comecem a troçar dele, 30 dizendo: ‘Este homem começou a construir
e não pôde acabar.’ 31 Ou qual é o rei que parte para a guerra contra outro rei
e não se senta primeiro para examinar se lhe é possível com dez mil homens opor-se
àquele que vem contra ele com vinte mil? 32 Se não pode, estando o outro ainda
longe, manda-lhe embaixadores a pedir a paz. 33 Assim, qualquer de vós, que não
renunciar a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo.» 34 «Coisa boa é o
sal; mas, se perder o seu sabor, com que há-de ele temperar-se? 35 Não serve
nem para a terra, nem para a estrumeira: deita-se fora. Quem tem ouvidos para
ouvir, oiça!»
Comentário
São Lucas começa este capítulo 14 do
Evangelho que escreveu descrevendo o local onde Jesus Se encontrava. Como se
constata, a controvérsia quase constante levantada por muitos Fariseus, não só
não é comum a todos como o Senhor não recusa um convite feito por um deles, um
dos principais, como consta. Talvez por isso mesmo, pela posição e categoria do
anfitrião os outros se terão abstido de qualquer comentário, mas, Jesus não
perde a oportunidade de os esclarecer que não deverá ser essa razão, mas sim,
aquela com que os deixou sem resposta credível e lógica.
De facto, parece extraordinário que os
Doutores da Lei e os Escribas não encontrem outro motivo para “atacar” Jesus a
não ser com a “questão do Sábado”. Quanto Jesus fez e disse em numerosas
ocasiões – incluindo os milagres propriamente ditos – não merecem um reparo,
uma contestação! O grande, o magno problema que os opõe a Jesus Cristo é o
Sábado! Ou seja, das disposições contidas na Lei de Deus parece que só o que se
refere o Sábado tem realmente importância. Como argumentar com tais espíritos
tacanhos e preconceituosos?
Evidentemente que, o normal, é convidar
para um banquete os amigos e parentes. Jesus Cristo não se opõe a tal mas
lembra que se Deus Nosso Senhor procedesse de igual forma quantos ficariam
excluídos desse banquete. E tal não pode suceder porque todos os homens são
filhos de Deus e todos são convidados a participar no ágape divino. Assim
connosco o procedimento deverá ter em conta tal máxima: todos somos irmãos em
Cristo e, portanto, parte integrante da mesma família. Convidar para o banquete
é uma figura, uma imagem de que o Senhor Se serve para que não esqueçamos estas
verdades e sem ferir susceptibilidades e alterar as normais relações entre
todos não esquecer aqueles que têm pouco ou mesmo muito pouco e, sobretudo, os
que vivem como que isolados ou párias da sociedade só porque pertencem a outra
“escala” social que não a nossa.
Levanta-se uma questão a respeito deste
trecho do Evangelho: “Quem não ama Deus não ama o próximo, ou, se se ama o
próximo tem de se amar a Deus?”. Parece óbvio que o amor é um só: o amor de
Deus pelos homens! De facto Deus não só criou o homem por amor mas criou-o para
amar. Sendo verdade que Deus ama todos os homens e que estes são o reflexo, a
própria imagem de Deus, não será possível haver como que uma “divisão” do amor
entre o amor a Deus e o amor ao próximo. Assim, aquele que ama o próximo, ama
de facto a Deus embora, por qualquer razão, possa não O conhecer. Por isso é
tão importante o apostolado, que mais não é que um serviço para que todos
conheçam Deus.
O desejo de protagonismo ou
evidência é, muitas vezes, causa de vergonha pessoal. Não se trata de
apoucamento ou passar despercebido, mas ser-se aquilo que se é
independentemente da categoria social ou grau de cultura. Nós, homens, somos
todos iguais aos olhos de Deus ou, melhor, o que nos diferencia é o nosso amor
e a nossa vontade de Lhe agradar. Porque é que eu – homem de enorme cultura –
tenho “mais direito” a um lugar de destaque que outro de escassos
conhecimentos? Talvez que, o que falta ao outro e nos sobeja a nós, não deva
ser medido nem levado em conta, mas sim o uso que fazemos do que julgamos ter
e, nunca, em caso algum estabelecer comparação porque pode muito bem suceder
que esse outro tenha virtudes que nós não possuímos e nos fazem muita falta.
Como sempre, Jesus Cristo aproveita os
episódios da vida corrente para doutrinar os que O ouvem. Trata-se de uma
doutrina que é facilmente compreensível porque, na verdade, ela versa sobre o
comportamento correcto e adequado a ter nas diferentes ocasiões e circunstâncias.
Pode ver-se que o comportamento humano terá de ser contido e discreto, com uma
total ausência desejos de proeminência ou destaque, como que atribuindo-se a si
mesmo uma categoria ou um estatuto que ele próprio define. Claro que, no fim e
ao cabo, tudo tem a ver com o orgulho pessoal e a falta de modéstia. E, é bem
verdade, que estes comportamentos sendo desagradáveis para os outros não podem
granjear nem simpatia nem amizades.
As palavras lapidares com
que termina este trecho do Evangelho, são suficientemente fortes para dispensar
qualquer comentário. Muitos glosaram este tema (como Luís de Camões, por
exemplo) porque ele está presente nas nossas vidas. O desejo de proeminência e
importância pessoal levam, quase sempre, a atitudes senão ridículas, pelo menos
reprováveis. Haverá sempre um momento em virão a nu as nossas obras e, essas,
sim, serão motivo de admiração ou descrédito.
Este trecho de São Lucas aplica-se como
“uma luva” ao insigne Santo português São Nuno de Santa Maria. Um homem que
teve, na sua longa vida, cargos importantes, fortuna considerável, honrarias de
toda a ordem e que deixa tudo para se entregar ao serviço dos outros, dos mais
pobres, marginalizados e ignorados pela sociedade. O Condestável honrado e
glorioso afasta-se do mundo e transforma-se num simples monge sem qualquer
regalia – diz a tradição que seria o porteiro do Convento do Carmo que ele
próprio fundara. Terá, seguramente, recebido o prémio que, neste Evangelho,
Jesus promete.
Poderá alguém pensar que é, talvez, um
pouco excessivo o que o Senhor nos diz neste trecho. Sentar à nossa mesa os
estropiados e coxos, os marginalizados da vida? Se tomarmos as palavras de Jesus
à letra é assim mesmo: excessivo! Porém, pode haver uma interpretação diferente
e que, seguramente, seria aquela que Jesus queria que ficasse gravada: o que se
faz – de bem aos outros – que tem como objectivo obter troca, benefício,
mais-valia – não tem valor absolutamente nenhum. O bem deve fazer-se porque é
nossa obrigação tratar a todos por igual seja qual for a sua condição. Sentar à
nossa mesa significa, pois, ter a preocupação de ter no nosso pensamento, no
nosso coração, os outros que encontramos nos caminhos da vida e a quem podemos
ajudar, ser úteis ou, de qualquer forma, aliviar dos males que os afligem.
Ser convidado
para a mesa do Senhor não é fruto de qualquer merecimento nosso. Deve-se apenas
á infinita bondade e misericórdia de Deus que quer reunir todos os seus filhos
no grande banquete do Reino. Como deixar de fazer tudo quanto pudermos para
participar?
Há um detalhe neste trecho de São Lucas
que não pode deixar de chamar a atenção. Refiro que, para o banquete, o Senhor
chama primeiro aqueles que considera Seus amigos mais chegados. Tendo estes
recusado o convite por razões “sem razão”, foi como se o Senhor tivesse
verificado que, afinal, não eram nem Seus amigos e nem dignos do convite. As
ordens que, em sequência, dá aos seus servos é que “obriguem” quantos
encontrarem pelos caminhos – fossem quem fossem – a comparecer no Seu banquete.
As palavras têm uma “força” própria, mas, neste caso, compreendemos que o
“obrigar” seria antes o “convencer” aqueles que aleatoriamente fossem encontrados
a aceitar um convite inesperado. Não pode haver dúvidas quando – na altura
própria - o Sacerdote celebrante diz: “Felizes os convidados para a mesa do
Senhor!”
Jesus enumera as condições necessárias aos que O querem seguir. Mas, podem resumir-se numa apenas: Jesus Cristo está em primeiro lugar, em tudo, mas, sobretudo no amor. Todos os outros amores, por honestos, belos, sinceros, naturais que possam ser, têm de subordinar-se ao amor por Cristo. Não há outra opção. Mas, atenção, o Senhor não faz comparações declara incompatibilidade com esses outros amores, bem ao contrário, eles tornam-nos mais dignos e capazes de poder amar mais e melhor, o Nosso Senhor Jesus Cristo. Para seguir Jesus Cristo é fundamental amá-Lo primeiro e, para O amar há que conhecê-Lo intimamente. Não se conhece intimamente ninguém se não houver uma comunicação profunda, honesta, completa. Onde, pois, conhecer Cristo? No Evangelho, evidentemente! E, então, e só então, se deve optar por segui-Lo, isto é, prepararmos tudo para uma entrega sem limites nem condições, para que – como conta no Evangelho que comentamos - não cheguemos a um ponto em que nos consideremos incapazes de continuar porque não nos preparámos convenientemente.
Está absolutamente definido:
para Deus, o mais importante é o AMOR. Foi e é, o Amor, que moveu e continua
movendo, Deus, como Criador, como Pai, como Dono e Senhor de quanto existe. Ama
o homem por aquilo que ele é: uma criatura fruto do Seu amor. Não se pode amar
o que não se conhece e, Deus, conhece-nos intimamente com todos os nossos
defeitos e fraquezas e, também, as nossas virtudes e boas acções. Mesmo quando
nos afastamos Dele continua a amar-nos porque o Seu amor por nós não é
condicionado pelo nosso amor por Ele. Ser discípulo de Cristo implica, pois,
que o nosso amor seja total, absoluto, sem condições. Mas, mais: implica também
perseverança e desprendimento. Perseverança no amor aconteça o que acontecer,
desprendimento das coisas por boas – até excelentes – que possam parecer
porque, na verdade, nada são comparadas com o amor a Deus.
(AMA, 1999)
SÃO JOSÉ
O
amor entre São José e a Virgem
Dom
Javier Echevarría dá um testemunho muito valioso da forma como São Josemaria
contemplou as relações entre Maria e José, ao recolher as suas palavras perante
a Virgem de Guadalupe: Uma família composta por um homem jovem, justo,
trabalhador e forte; e uma mulher, quase uma menina, que, com o seu noivado
cheio de amor puro, encontra nas suas vidas o fruto do amor de Deus pelos
homens. Ela passa pela humildade de não dizer nada: que lição para todos nós,
que estamos sempre prontos para cantar nossas façanhas! Ele move-se com a
delicadeza de um homem justo - seria muito difícil o momento em que descobrisse
que a sua esposa, uma santa, tinha boas esperanças! -, e como não quer manchar
a fama daquela criatura, ele cala-se, enquanto pensa em como consertar as
coisas até que chegue a luz de Deus, que sem dúvida pediria desde o primeiro
momento, e acomoda-se sem hesitar aos desígnios do Céu.
(SAN
JOSEMARÍA, Notas sobre sua oração
pessoal diante da Virgem de Guadalupe, 21 de maio de 1970, citado em J.
ECHEVARRÍA, Carta, 1 de dezembro de
1996 (AGP, biblioteca, P17, vol. 4, pp. 230-231).
REFLEXÃO
A
morte e ressurreição de Jesus mostram que não existe nada que Deus não possa
transformar, não existe túmulo algum de onde não possa surgir vida, nenhuma
escuridão que não possa ser iluminada, nenhuma miséria que não possa ser
invertida, nenhum desespero que não se possa transformar em esperança. Devemos
reconhecer, na morte e ressurreição de Jesus, que não existe nada que nos possa
separar «do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso» (Rm 8,39).
Lucas convida-o, prezado leitor, a reencontrar o seu próprio destino no drama
da vida de Jesus. Não lhe fornece qualquer explicação para o seu sofrimento,
mas, ao observar a tragédia que o Evangelho lhe apresenta, pretende purificar
as suas emoções, transformar a sua tristeza, expulsar o seu desespero e dar-lhe
força e coragem para viver uma vida nova.
(Anselm
Grun, A incompreensível existência de Deus, Paulinas, p. 34).
SÃO JOSEMARIA – textos
Como
queres que te ouçam?
Corres
o grande perigo de te conformares com viver (ou pensar que deves viver...) como
um "bom rapaz", que se hospeda numa casa arrumada, sem problemas, e
que não conhece senão a felicidade. Isso é uma caricatura do lar de Nazaré.
Cristo, justamente porque trazia a felicidade e a ordem ao mundo, saiu a
propagar esses tesouros entre os homens e mulheres de todos os tempos. (Sulco,
952)
Parecem-me
muito lógicas as tuas ânsias de que a humanidade inteira conheça a Cristo. Mas
começa pela responsabilidade de salvar as almas dos que convivem contigo, de
santificar cada um dos teus companheiros de trabalho ou de estudo... Esta é a
principal missão de que o Senhor te encarregou. (Sulco, 953)
Comporta-te
como se de ti, exclusivamente de ti, dependesse o ambiente do lugar onde
trabalhas: ambiente de laboriosidade, de alegria, de presença de Deus e de
visão sobrenatural. Não entendo a tua debilidade. Se tropeças com um grupo de
colegas um pouco difícil (que talvez tenha chegado a ser difícil por desleixo
teu...), esqueces-te deles, pões-te de parte, e pensas que são um peso morto,
um lastro que se opõe aos teus ideais apostólicos; que nunca te entenderão... Como
queres que te ouçam, se (dando por descontado que os ames e sirvas com a tua
oração e a tua mortificação) não falas com eles?... Quantas surpresas apanharás
no dia em que te decidas a criar amizade com um, com outro e com outro! Além
disso, se não mudas, poderão exclamar com razão, apontando-te a dedo: «Hominem non habeo!», não tenho quem me
ajude! (Sulco,
954)