25/12/2018

Piedosos como meninos


– Jesus, considerando agora mesmo as minhas misérias, digo-te: Deixa-te enganar pelo teu filho, como esses pais bons, carinhosos, que põem nas mãos do seu menino a dádiva que dele querem receber..., porque sabem muito bem que as crianças nada têm. E que alvoroço o do pai e o do filho, ainda que ambos estejam no segredo! (Forja, 195)

A vida de oração e de penitência e a consideração da nossa filiação divina transformam-nos em cristãos profundamente piedosos, como meninos pequenos diante de Deus. A piedade é a virtude dos filhos e, para que o filho possa entregar-se nos braços do seu pai, há-de ser e sentir-se pequeno, necessitado. Tenho meditado com frequência na vida de infância espiritual, que não se contrapõe à fortaleza, porque requer uma vontade rija, uma maturidade bem temperada, um carácter firme e aberto.

Piedosos, portanto, como meninos; mas não ignorantes, porque cada um há-de esforçar-se, na medida das suas possibilidades, pelo estudo sério e científico da fé. E o que é isto, senão teologia? Piedade de meninos, sim, mas doutrina segura de teólogos.

O afã por adquirir esta ciência teológica – a boa e firme doutrina cristã – deve-se, em primeiro lugar, ao desejo de conhecer e amar a Deus. Simultaneamente é consequência da preocupação geral da alma fiel por alcançar a mais profunda compreensão deste mundo, que é uma realização do Criador. Com periódica monotonia, há pessoas que procuram ressuscitar uma suposta incompatibilidade entre a fé e a ciência, entre a inteligência humana e a Revelação divina. Tal incompatibilidade só pode surgir, e só na aparência, quando não se entendem os termos reais do problema.

Se o mundo saiu das mãos de Deus, se Ele criou o homem à sua imagem e semelhança e lhe deu uma chispa da sua luz, o trabalho da inteligência deve ser – embora seja um trabalho duro – desentranhar o sentido divino que naturalmente já têm todas as coisas. E, com a luz da fé, compreendemos também o seu sentido sobrenatural, que resulta da nossa elevação à ordem da graça. Não podemos admitir o medo da ciência, visto que qualquer trabalho, se é verdadeiramente científico, tende para a verdade. E Cristo disse: Ego sum veritas. Eu sou a verdade. (Cristo que passa, 10)


Leitura espiritual


O HOMEM BOM




BENIGNIDADE




Livre das sombras do egoísmo, o homem bom possui uma qualidade cativante, que é uma das suas mais expressivas características: é benigno com todos.
A benignidade é, antes de mais nada, um especial modo de ver os outros.
Para expressá-lo de maneira simples, poderíamos dizer que é benigno aquele que enxerga o próximo “com bons olhos”, e isto significa que possui uma inclinação habitual para fixar a sua atenção no “lado bom” das pessoas.
Dentro do seu coração, está convencido de que não há nenhuma criatura que não tenha valor.
Percebe amorosamente que em cada ser humano, de um modo ou de outro, encontram-se as sementes, o latejar do bem.
Pois todo o homem, por mais deficiente que seja, conserva – mesmo por entre as mais densas sombras do pecado – a “imagem de Deus”, uma “imagem” que pode e deve ser amada.
“Dentro do avarento mais egoísta – dizia Paul Claudel –, no interior da pior prostituta e do mais indecente bêbado há uma alma imortal, santamente ocupada em respirar e que, não podendo fazê-lo de dia, ao menos no repouso do sono pratica a sua adoração noturna”.
No interior do mais degradado pecador – poderíamos acrescentar – há um santo à espera de que o despertem.
E só poderá acordá-lo o amor, o respeito e a confiança de um coração bom.

Francisco Faus [i]


[i] Francisco Faus é licenciado em Direito pela Universidade de Barcelona e Doutor em Direito Canónico pela Universidade de São Tomás de Aquino de Roma. Ordenado sacerdote em 1955, reside em São Paulo, onde exerce uma intensa atividade de atenção espiritual entre estudantes universitários e profissionais. Autor de diversas obras literárias, algumas delas premiadas, já publicou na coleção Temas Cristãos, entre outros, os títulos O valor das dificuldades, O homem bom, Lágrimas de Cristo, lágrimas dos homens, Maria, a mãe de Jesus, A voz da consciência e A paz na família.


Evangelho e comentário


TEMPO DE NATAL


Natal do Senhor

Evangelho: Lc 2, 1-14

1 Por aqueles dias, saiu um édito da parte de César Augusto para ser recenseada toda a terra. 2 Este recenseamento foi o primeiro que se fez, sendo Quirino governador da Síria. 3 Todos iam recensear-se, cada qual à sua própria cidade. 4 Também José, deixando a cidade de Nazaré, na Galileia, subiu até à Judeia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da casa e linhagem de David, 5 a fim de se recensear com Maria, sua esposa, que se encontrava grávida. 6 E, quando eles ali se encontravam, completaram-se os dias de ela dar à luz 7 e teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria. 8 Na mesma região encontravam-se uns pastores que pernoitavam nos campos, guardando os seus rebanhos durante a noite. 9 Um anjo do Senhor apareceu-lhes, e a glória do Senhor refulgiu em volta deles; e tiveram muito medo. 10 O anjo disse-lhes: «Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: 11 Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor. 12 Isto vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura.» 13 De repente, juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste, louvando a Deus e dizendo: 14 «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do seu agrado.»

Comentário:

Estava próxima a hora de nasceres, Senhor, e "como não havia lugar na hospedaria..." Tua Mãe santíssima, decerto preocupada, mas sere­namente confiante, levou-Te ainda no seu seio para uma gruta que servia de estábulo.
E aí nascesTe Senhor.
O meu Deus, o meu Senhor, o meu Salvador!
"Como não havia lugar na hospedaria..."
Porque não haveria lugar?
Por a cidade estar cheia de forasteiros que ali iam recensear-se?
Por não aparentarem, aquela jovem mulher e o seu marido, posses ou posição social?
Sim, com um simples burrico por transporte, uma pequena trouxa de magros pertences, não o seriam por certo.
Talvez fosse por estas duas principais razões, talvez. É um facto que a cidade estaria cheia de gente.
Mas então, Maria e José foram tão imprudentes que não esperaram uns dias até que Tu nascesses para então fazerem a viagem!?
Não procuraram assegurar estadia em casa de algum parente ou co­nhecido!
Não, não terão feito nada disto. Provavelmente porque não podiam, as comunicações eram difíceis e, depois, porque se tratava de duas cria­turas de extrema simplicidade. Não era seu hábito programar a vida, medir os passos, organizar em detalhe as coisas futuras.
Com uma confiança ilimitada na providência de Deus, sabiam perfeita­mente que haverias de nascer quando e onde quisesses, Senhor, e que haverias de prover todas as necessidades que ocorressem.
Mas não havia, de facto, lugar na hospedaria?
Não seria possível descobrir um pequeno recanto, uma água-furtada, um esconso onde a jovem mãe pudesse, com recato e algum conforto, dar à luz o seu Filho !?
Quantas vezes, Senhor, eu não tive lugar para Ti?
Quantas vezes!
Sempre cheio de coisas, de preocupações, ambições, desejos, deva­neios, ouvi eu, entendi eu que eras Tu ali, à porta do meu coração, pedindo um bocadinho, um pequeno espaço, para poderes nascer!
Quantas vezes quiseste nascer dentro de mim e, eu, pobre de mim, não deixei, não quis!
Ah! Senhor, eu sei que não sou digno, mas uma simples palavra Tua e este pobre coração cheio de mazelas e pecados, ficará radioso de bran­cura e Tu poderás, ainda que por momentos, nascer dentro dele.
Bate, Senhor, com força à minha porta, eu abrir-Te-ei e deixar-Te-ei entrar e aqui farás o teu Presépio.
Não desejo outra coisa, Senhor, senão sentir-Te dentro de mim, irra­diando a Tua Paz e o teu calor de amor.
Oh! Minha mãe, Maria Santíssima, descansa aqui um pouco, deixa-me por momentos o teu Filho que eu O embalarei com o meu amor, a minha dedicação inteira, a minha devoção profunda.
Podes tu, José meu pai e senhor, confiar-me o teu excelente Filho adoptivo, eu tomarei boa conta dele, embora fique estático e estarre­cido por tamanha ventura e tão grande honra.
A minha alma anseia que assim seja.

(AMA, comentário sobre Lc 2, 1-14, 26.10.2018)




Temas para reflectir e meditar


Natal


Nasce Jesus, o nosso Salvador!

Ocorrem-nos lembranças da nossa meninice em que o Natal era um tempo de festa da família e, sobretudo, para as crianças da família.

Veem-nos aos olhos lágrimas de saudade, sem dúvida, e, ao mesmo tempo de acção de graças por esses Natais que marcaram a nossa juventude.

E… agora? Porque não é assim?

Possivelmente porque temos muito que fazer, e andamos apressados com uma quantidade de coisas que pretendemos inadiáveis.

Pois penso que o que verdadeiramente é inadiável é esse encontro por breve que seja, um telefonema um pouco mais detido e carinhoso, uma demonstração de amor, interesse e carinho.

Ainda vamos a tempo!
Façamo-lo sem demora em nome desse Menino que nos visita.
Afinal… é o dia do Seu Aniversário. Parece justo dar-lhe um presente!


AMA, reflexão no Natal, 2018

Pequena agenda do cristão


TeRÇa-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)




Propósito:

Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me:
Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?