05/11/2022

Publicações em Novembro 5

 



(Nota: Seguindo a recomendação de São Josemaria Escrivá procurarei viver o Evangelho como um personagem mais. Para tal seguirei fielmente os textos pronto a fazer as considerações que me ocorrerem.)

 

Dentro do Evangelho – Lc I

 

Toda a minha vida tem sido a de um autêntico marginal, dedicando-me a roubar quanto me aparece a jeito.

A princípio, teria talvez escassos dezoito anos, juntava-me a outros rapazes da minha idade, marginais como eu, e assim levava-mos uma vida de sobressaltos sempre a fugir das autoridades e, muitas vezes, alguns dos que assaltávamos reagiam e as coisas corriam mal, para o nosso lado, já se vê.

Um dia as coisas mudaram bastante porque veio ter connosco um sujeito bastante mais velho que nós e que nos reuniu num bando passando a agir sob as suas ordens e instruções. O homem era de facto um autêntico facínora que não hesitava em empregar violência para atingir os seus fins. Chamava-se Barrabás!

Dizia ele que, como Zelote que era, o seu principal alvo era provocar o ocupante romano de modo a mantê-lo ocupado em acções de polícia desviando-o de outras acções mais aparatosas com que tentavam manter a férrea disciplina que impunham ao povo.

Dividiu-nos em grupos de três e quatro e a cada grupo dava instruções sobre o que fazer e onde. O meu grupo – eu e mais três – tinha sido “destacado” para a via que descia de Jericó para Jerusalém que, segundo ele, tinha numerosos viandantes a maioria dos quais eram gente que comerciava, logo, trazendo consigo ou bens ou o dinheiro produto da sua venda. E, realmente, a nossa actividade produzia bons resultados e Barrabás estava muito satisfeito connosco pois arrecadava a maior parte dos “proventos” da nossa actividade.

Hoje, porém, as coisas não correram muito bem, ou antes, correram muito mal.

Do nosso esconderijo avistámos um homem sozinho que descia pelo caminho. O jumento que conduzia estava ajoujado de mercadoria. Todo o seu aspecto e a forma como trajava indicavam que seria um homem de posses. Não se avistando mais ninguém por perto resolvemos assaltá-lo e, foi aqui, que tudo se complicou. O homem era bastante robusto e ofereceu uma resistência feroz e determinada a não se deixar roubar.

Um dos meus companheiros recebeu vários golpes que o deixaram praticamente inanimado e outro recebeu um profundo corte provocado pela adaga que o homem esgrimia com destreza. Não estive com contemplações e com um bastão de ferro agredi o sujeito prostrando-o no chão poeirento. Depois… movido pela raiva dei-lhe pontapés, murros, eu sei lá… arranquei-lhe os vestidos deixando-o em farrapos e pondo o meu companheiro em cima do jumento fugimos para o nosso esconderijo para tentar recuperar dos ferimentos recebidos e deitar contas ao espólio arrecadado.

Os outros dois, amparando-se mutuamente, puseram-se a caminho de Jerusalém para procurar tratamento para as suas feridas, eu fiquei ali escondido remoendo a minha raiva pelo que acontecera. Deixara-me dominar pela ira ao atacar de forma tão desumana o desgraçado que nos caíra nas mãos.

Ora um chefe, um verdadeiro chefe, não pode deixar que os seus sentimentos extravasem colocando-se fora de controlo. É fundamental manter a calma em qualquer situação para se impor aos que têm de ver nele capacidade e aptidão para chefiar e comandar.

Ouvi um ruido de cavalgadura e avistei um homem que se aproximava. Já era o terceiro desde que decorrera o assalto. Antes tinham aparecido um sacerdote e um levita que mal olharam para o desgraçado que jazia na vera do caminho, antes estugaram o passo seguindo viajem.  Porém, este, deteve-se e debruçou-se sobre a vítima, voltando-o de costas, retirou o manto e pôs-lho debaixo da cabeça. Depois dirigiu-se à sua montada e dos alforges retirou um pequeno odre com vinho e uma recipiente com azeite. Com grande cuidado e destreza foi destapando as numerosas feridas e contusões deitando-lhes azeite e vinho  e cobrindo-as com pequenos pedaços de pano que rasgava de um lençol.

O pobre ferido começou a falar e embora eu não pudesse ouvir o que diziam percebi que mostrava gratidão e reconhecimento.

Depois, e a muito custo, conseguiu coloca-lo sobre a sua cavalgadura e afastaram-se por outro caminho.

Tenho de confessar que estava atónito com o que acabara de presenciar. É que, esquecia-me de dizer, o socorrista era um samaritano que, como toda agente sabe, não suportam os judeus. Fiquei longo tempo ali, sentado pensando em tudo aquilo que tanto me impressionara, sobretudo na solicitude e compaixão demonstradas pelo samaritano para com a vítima e não pude deixar de me avaliar a mim mesmo se, acaso, procederia de igual forma. O meu coração empedernido por anos de violências e desacatos, abusos e esbulhos parece que me estalava no peito e, num impulso irresistível dei um salto para fora do esconderijo e abalei numa corrida desenfreada em direcção Jerusalém.

 

Mas tive de parar a minha correria: um aglomerado de gente atravancava o caminho. Escutavam um homem que falava com uma voz tão clara e segura que me percebi logo ser alguém excepcional. Parecia estar a acabar um longo discurso e ouvi estas palavras finais: «Quero misericórdia e não sacrifício. Porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores».

Fiquei por ali pensando no que acabara de ouvir e, dentro de mim algo se transformou como se, sem eu compreender bem o que me acontecia, estivesse a ver toda a minha vida num relance, uma vida feita de assaltos, roubos, violências de toda a ordem e percebi, sim, entendi, que tinha de mudar radicalmente.

Retomei a corrida e cheguei ofegante, mal podendo respirar, à escadaria do Templo e, pela primeira vez na minha vida, entrei. Não sabia o que fazer ou o que dizer, mas, a verdade, é que caí de joelhos e pus a cabeça no chão. Então, como se fosse outro que não eu, ouvi-me dizer: ‘Senhor, tem misericórdia de mim que sou um desgraçado, um malfeitor, um miserável!’

Quando saí parecia-me que mal punha os pés no chão de tal forma me sentia outro, mais leve, muito mais leve e voltei pelo mesmo caminho, decidido a encontrar a minha vítima para lhe restituir o que lhe roubara.

….

 

Reflectindo

 

A inveja pode ser saudável?

Bom... a inveja é um defeito detestável e muito frequente. Reduz a capacidade de apreciar nos outros o que têm de bom, seja qualidades ou outra coisa, para se dedicar ao desejo estrénue de possuir igual.

À pergunta de início respondo que sim, a inveja pode ser boa quando se deseja ter, possuir ou imitar as qualidades ou virtudes que outros têm. Claro que tal implica uma capacidade de reconhecer o que nos falta e seguir o exemplo daqueles em quem tal existe. Daqui que, inveja e humildade sejam tão opostas e difíceis de compaginar.

A humildade é uma virtude complexa porque não se pode definir com exactidão já que tendo inúmeros "graus" ou "patamares" difere de pessoa para pessoa sem obedecer a um padrão.

Um exemplo será a cordialidade. Uma pessoa cordial, isto é, agradável no trato, na convivência, é naturalmente humilde já que não tenta superiorizar-se ou impor os seus pontos de vista a propósito do que for, mas demonstra uma abertura sincera e espontânea aos pontos de vista dos outros. Tal não significa que "ab initio" concorde ou anua mas, antes que não se esquiva a ouvir e procurar entender e, neste particular, perguntar para esclarecer o que não entende é - "tout court" - ser humilde. Ser humilde também não é abdicar das próprias convicções mas estar aberto a emendar ou corrigir o que, eventualmente não esteja correcto. Ser humilde não é fugir a um assunto que sabemos o nosso interlocutor não gosta, não domina ou tem ideias erróneas. Pelo contrário mesmo sabendo que talvez seja "uma perda de tempo" discorrer sobre o assunto sem a pretensão de impor o nosso saber mas com o desejo de ajudar o outro a ter uma visão mais correcta.

Este particular acontece muitas vezes nas conversas sobre temas sobre Religião, Fé... Quem por qualquer motivo não tem formação nestes assuntos encontra grande dificuldade em compreender e aceitar as "verdades", em primeiro lugar porque ninguém acredita no que não conhece e, se não conhece, mas, mesmo assim discute e espende é porque, quase sempre, foi construindo teorias e conceitos para se sentir confortável. É muito difícil manter a serenidade e compostura quando insistem nas suas "teorias" completamente descabidas e sem qualquer base.

Quem não possui conhecimentos sólidos, coerentes e, sobretudo assentes em doutrina sã e correcta deve evitar este género de discussão porque pode fazer mais mal que bem. É aqui que se manifesta a humildade pessoal: Reconhecer que não se está "à altura" nem se é a pessoa indicada para tratar do tema e, ao mesmo tempo, reconhecer que a outa pessoa não terá tido as mesmas oportunidades que nós para adquirir essa formação. Deve ter-se sempre presente que a pessoa pode estar de "está de boa-fé" sendo honesta nos argumentos e opiniões e que, a grande verdade é: Ninguém pode dar o que não tem...

 

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