Domingo
(Coisas
muito simples, curtas, objectivas)
Propósito: Viver a família.
Senhor, que a
minha família seja um espelho da Tua Família em Nazareth, que cada um,
absolutamente, contribua para a união de todos pondo de lado diferenças,
azedumes, queixas que afastam e escurecem o ambiente. Que os lares de cada um
sejam luminosos e alegres.
Lembrar-me: Cultivar a Fé.
São Tomé,
prostrado a Teus pés, disse-te: Meu Senhor e meu Deus!
Não tenho pena
nem inveja de não ter estado presente. Tu mesmo disseste: Bem-aventurados os
que crêem sem terem visto.
E eu creio,
Senhor.
Creio firmemente
que Tu és o Cristo Redentor que me salvou para a vida eterna, o meu Deus e
Senhor a quem quero amar com todas as minhas forças e, a quem ofereço a minha
vida. Sou bem pouca coisa, não sei sequer para que me queres mas, se me
crias-te é porque tens planos para mim. Quero cumpri-los com todo o meu
coração.
Pequeno exame: Cumpri o propósito que me propus
ontem?
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Padroeiros do blog: SÃO PAULO; SÃO TOMÁS DE AQUINO; SÃO FILIPE DE NÉRI; SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ
04/05/2014
Pequena agenda do cristão
Tratado dos vícios e pecados 79
Art.
2 — Se um pecado pode ser pena de outro.
(I
Sent., dist. XLVI, a. 2, ad 4; II, dist. XXXVI, a. 3; De Malo, q. 1, a. 4, ad 1
sqq. ; Ad Rom., cap. I, lect. VII).
O segundo discute-se assim. — Parece
que um pecado não pode ser pena de outro.
1. — Pois, as penas são infligidas
para reduzirem o homem ao bem da virtude, como está claro no Filósofo. Ora,
pelo pecado ele não é levado a esse bem, mas, ao oposto. Logo, um pecado não
pode ser pena de outro.
2. Demais. — As penas justas provêm de
Deus, como claramente o diz Agostinho. Ora, o pecado não provém de Deus e é
injusto. Logo, um pecado não pode ser a pena de outro.
3. Demais. — É da essência da pena
contrariar a vontade. Ora, o pecado procede da vontade, como do sobredito
resulta (q. 74, a. 1, 2). Logo, um pecado não pode ser a pena de outro.
Mas, em contrário, diz Gregório, que
certos pecados são a pena do pecado.
Podemos considerar o pecado
à dupla luz: essencial e acidentalmente. — Ora, essencialmente de nenhum modo
um pecado pode ser pena de outro. Pois, considerado na sua essência, o pecado
procede da vontade, implicando por isso a culpa. Ora, é da essência da pena ser
contrária à vontade, como já vimos na Primeira Parte (q. 48, a. 5). Donde é
manifesto, que um pecado, considerado na sua essência, não pode ser pena de
outro.
Pode-o porém, e de três modos, considerados
acidentalmente. — Primeiro, em relação à causa removente do obstáculo. Pois, as
paixões, a tentação do diabo e causas semelhantes inclinam ao pecado; e essas
causas são eliminadas pelo auxílio da graça divina, de que o pecado priva. Donde,
como a própria privação da graça é uma pena, segundo já provamos (q. 79, a. 3),
resulta que, acidentalmente, também o pecado consecutivo a essa privação é
denominado pena. E nesse sentido o Apóstolo diz (Rm 1, 24): Pelo que os
entregou Deus aos desejos dos seus corações, que são as paixões da alma; pois,
abandonados do auxílio da graça divina, os homens são vencidos pelas paixões. E
deste modo dizemos, que um é pecado sempre pena do pecado precedente. — De
outra maneira, em relação à substância do acto, causa da opressão; seja um acto
interior, como claramente o demonstram a ira e a inveja; seja exterior, como
com clareza o mostram os oprimidos de veemente fadiga e dano, ao praticarem o acto
pecaminoso, conforme a Escritura (Sb 5, 7): Nós nos cansamos no caminho da iniquidade.
— De um terceiro modo, relativamente ao efeito, considerando-se então um pecado
como pena, em relação ao efeito consequente. — Mas, destes dois últimos modos
um pecado é pena, não só do pecado precedente, mas também de si mesmo.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— O mesmo ser punido por Deus, quando permite que caiamos em certos pecados,
encaminha-se para o bem da virtude. E às vezes mesmo para o bem dos pecadores,
fazendo-os levantarem-se mais humildes e cautos, depois do pecado. Porém sempre
para a emenda dos outros que, vendo alguns precipitarem-se de pecado em pecado,
concebem maior temor de pecar. Quanto aos outros dois modos, é manifesto que a
pena se ordena à emenda; pois, é natural que os homens se afastem do pecado por
sofrerem detrimento e pena pecando.
RESPOSTA À SEGUNDA. — A objecção colhe
no atinente ao pecado, essencialmente considerado.
E o mesmo se deve RESPONDER À TERCEIRA
OBJECÇÃO.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
Frequenta o convívio do Espírito Santo
Frequenta o convívio do Espírito Santo – o Grande Desconhecido –
que é Quem te há-de santificar. Não esqueças de que és templo de Deus. – O
Paráclito está no centro da tua alma: ouve-O e segue docilmente as Suas inspirações.
(Caminho, 57)
A força e o poder de Deus iluminam a face da Terra. O Espírito
Santo continua a assistir à Igreja de Cristo, para que ela seja – sempre e em
tudo – sinal erguido diante das nações, anunciando à Humanidade a benevolência
e o amor de Deus. Por maiores que sejam as nossas limitações, nós, homens,
podemos olhar com confiança para os Céus e sentir-nos cheios de alegria: Deus
ama-nos e liberta-nos dos nossos pecados. A presença e a acção do Espírito
Santo na Igreja são o penhor e a antecipação da felicidade eterna, dessa
alegria e dessa paz que Deus nos prepara. (...).
Mas esta nossa fé no Espírito Santo deve ser plena e completa. Não
é uma crença vaga na sua presença no mundo; é uma aceitação agradecida dos
sinais e realidades a que quis vincular a sua força de um modo especial. Quando
vier o Espírito de Verdade – anunciou Jesus – Ele Me glorificará, porque
receberá do que é meu e vo-lo anunciará. O Espírito Santo é o Espírito enviado
por Cristo, para operar em nós a santificação que Ele nos mereceu para nós na
Terra.
É por isso que não pode haver fé no Espírito Santo, se não houver
fé em Cristo, na doutrina de Cristo, nos sacramentos de Cristo, na Igreja de
Cristo. Não é coerente com a fé cristã, não crê verdadeiramente no Espírito Santo,
quem não ama a Igreja, quem não tem confiança nela, quem se compraz apenas em
mostrar as deficiências e limitações dos que a representam, quem a julga por
fora e é incapaz de se sentir seu filho. (Cristo que passa, 128 – 130)
As sete palavras de Cristo na Cruz 4
Capítulo
1:
Explicação literal da Primeira Palavra: «Pai,
perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.» 3
Chama-Lhe “Pai”, não Deus
ou Senhor, porque quis que Ele exercesse a benignidade do Pai e não a
severidade de um Juiz, e, como quis Ele evitar a cólera de Deus, que sabia
provocada pelos enormes crimes, usa o terno nome de Pai. A palavra Pai parece
conter em si mesma este pedido: Eu, Teu Filho, em meio de todos os meus tormentos,
os perdoei. Faz Tu o mesmo, Pai Meu, estende Teu perdão a eles. Conquanto não o
mereçam, perdoa-lhes por Mim, Teu Filho. Lembra-te também de que és seu Pai,
pois os criaste, fazendo-os à Tua imagem e semelhança. Mostra-lhes, portanto,
um amor de Pai, pois, conquanto sejam maus, são porém filhos Teus.
“Perdoa”. Esta palavra
contém a petição principal que o Filho de Deus, como advogado de seus inimigos,
faz a Seu Pai. A palavra “perdoa” pode referir-se tanto ao castigo devido ao
crime como ao crime mesmo. Se está referida ao castigo devido ao crime, foi
então a oração escutada: pois, já que este pecado dos judeus demandava que seus
perpetradores sentissem instantânea e merecidamente a ira de Deus, sendo
consumidos por fogo do céu ou afogados num segundo dilúvio, ou exterminados
pela fome e pela espada, ainda assim a aplicação deste castigo foi posposta por
quarenta anos, período durante o qual, se o povo judeu tivesse feito
penitência, teria sido salvo e sua cidade, preservada, mas, dado que não
fizeram penitência, Deus mandou contra eles o exército romano, que, durante o
reino de Vespasiano, destruiu suas metrópoles e, parte de fome durante o sítio,
parte pela espada durante o saque da cidade, matou grande multidão de seus
habitantes, enquanto os sobreviventes eram vendidos como escravos e dispersos
pelo mundo.
são
roberto belarmino
(Tradução:
Permanência, revisão ama).
Temas para meditar 95
Acções de graças
Que coisa melhor podemos trazer no coração, pronunciar com a boca, escrever com a pena, que estas palavras 'graças a Deus'? Não há coisa que se possa dizer com maior brevidade, nem ouvir com maior alegria, nem sentir com maior elevação, nem fazer com maior utilidade.
(santo agostinho, Epístola 72)
Evangelho diário, comentário e leitura espiritual (Para a liberdade)
Evangelho:
Lc 24, 13-35
13 No mesmo dia, caminhavam dois deles
para uma aldeia, chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios. 14
Iam falando sobre tudo o que se tinha passado. 15 Sucedeu que,
quando eles iam conversando e discorrendo entre si, aproximou-Se deles o
próprio Jesus e caminhou com eles.16 Os seus olhos, porém, estavam
como que fechados, de modo que não O reconheceram. 17 Ele
disse-lhes: «Que palavras são essas que trocais entre vós pelo caminho?». Eles
pararam cheios de tristeza.18 Um deles, chamado Cléofas, respondeu:
«Serás tu o único forasteiro em Jerusalém que não sabe o que ali se passou
nestes dias?». 19 Ele disse-lhes: «Que foi?». Responderam: «Sobre
Jesus Nazareno, que foi um profeta, poderoso em obras e em palavras diante de
Deus e de todo o povo; 20 e de que maneira os príncipes dos
sacerdotes e os nossos chefes O entregaram para ser condenado à morte, e O
crucificaram. 21 Ora nós esperávamos que Ele fosse o que havia de
libertar Israel; depois de tudo isto, é já hoje o terceiro dia, depois que
estas coisas sucederam. 22 É verdade que algumas mulheres, das que
estavam entre nós, nos sobressaltaram porque, ao amanhecer, foram ao sepulcro 23
e, não tendo encontrado o Seu corpo, voltaram dizendo que tinham tido a
aparição de anjos que disseram que Ele está vivo. 24 Alguns dos
nossos foram ao sepulcro e acharam que era assim como as mulheres tinham dito;
mas a Ele não O encontraram». 25 Então Jesus disse-lhes: «Ó estultos
e lentos do coração para crer tudo o que anunciaram os profetas! 26
Porventura não era necessário que o Cristo sofresse tais coisas, para entrar na
Sua glória?». 27 Em seguida, começando por Moisés e discorrendo por
todos os profetas, explicava-lhes o que d'Ele se encontrava dito em todas as
Escrituras. 28 Aproximaram-se da aldeia para onde caminhavam. Jesus
fez menção de ir para mais longe. 29 Mas os outros insistiram com
Ele, dizendo: «Fica connosco, porque faz-se tarde e o dia já declina». Entrou
para ficar com eles. 30 Estando com eles à mesa, tomou o pão,
abençoou-o, partiu-o, e lho deu. 31 Abriram-se os seus olhos e
reconheceram-n'O; mas Ele desapareceu da vista deles. 32 Disseram
então um para o outro: «Não é verdade que nós sentíamos abrasar-se-nos o
coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?». 33
Levantando-se no mesmo instante, voltaram para Jerusalém. Encontraram juntos os
onze e os que estavam com eles, 34 que diziam: «Na verdade o Senhor
ressuscitou e apareceu a Simão». 35 E eles contaram também o que
lhes tinha acontecido no caminho, e como O tinham reconhecido ao partir o pão.
Comentário:
A tristeza impede ver Jesus porque, de
certa forma mantém o coração como que preso dos sentimentos e, para ver o
Senhor, o coração tem de estar livre, disponível.
Jesus só Se deixa ver pelos que estão
dispostos a aceitá-lo, a recebê-lo sem reservas porque também Ele vem com essas
mesmas disposições.
(ama,
comentário sobre Lc 24, 13-35, 2013.03.03)
Para a liberdade
"Paradoxalmente,
a liberdade atinge a sua plenitude quando escolhe servir", diz-se neste
artigo sobre a liberdade na vida do cristão, uma liberdade que amadurece no
amor a Deus.
Não
há nada melhor do que saber que somos, por Amor, escravos de Deus. Porque nesse
momento perdemos a situação de escravos para nos tornarmos, amigos, filhos. E
aqui surge a diferença: enfrentamos as ocupações honestas do mundo com a mesma
paixão, com o mesmo empenho que os outros, mas com paz no íntimo da alma; com
alegria e serenidade, mesmo nas contradições: pois não depositamos a nossa
confiança naquilo que é passageiro, mas no que permanece para sempre, não somos
filhos da escrava, mas da mulher livre (Gal 4, 31) 1.
Paradoxalmente,
a liberdade atinge a sua plenitude quando escolhe servir. Pelo contrário, a
pretensão de uma liberdade absoluta, independente de Deus e dos outros, sem
nada que a limite, desemboca num eu prostrado diante do dinheiro, do poder, do
êxito ou de outros ídolos, mais ou menos brilhantes, mas caducos e sem valor.
«A
liberdade de um ser humano é a liberdade de um ser limitado e, portanto, ela
própria é limitada. Só a podemos possuir como liberdade partilhada, na comunhão
das liberdades: a liberdade só pode desenvolver-se se vivemos, como devemos,
uns com os outros e uns para os outros» 2.
Necessitamos
dos outros, não só pelo que deles recebemos, mas também porque estamos feitos
para dar. Não há crescimento pessoal independente das necessidades daqueles que
nos rodeiam; o marido realiza-se servindo a sua mulher e os seus filhos, e o
mesmo ocorre com a esposa; o advogado exerce a sua profissão para servir o
cliente e o bem comum dos cidadãos; o doente põe-se nas mãos do médico e este
tem que se acomodar ao doente...; qual é o maior, o que está à mesa, ou o que
serve? Não é o que está sentado à mesa? Pois Eu estou no meio de vós como um
que serve 3.
O
serviço que Cristo pede aos seus discípulos não consiste só em dar algo, mas em
dar-se a si próprio, em pôr a liberdade radicalmente em jogo. Como escreveu o
Papa Bento XVI na sua primeira carta encíclica: «A íntima participação pessoal
nas necessidades e sofrimentos do outro converte-se, assim, num dar-me a mim
mesmo; para que o dom não humilhe o outro, não somente devo dar-lhe algo meu,
mas a mim mesmo; hei-de ser parte do dom como pessoa» 4.
Dar-me
a mim mesmo por completo, entregar-me de todo, é simplesmente entregar a minha
liberdade: entregá-la por amor. Entregando a liberdade por amor tornamo-nos
mais capazes de amar e de entrega e, portanto, mais livres; este é o jogo da
doação pessoal: dar sem perder; mais ainda: ganhar dando.
Quando
a liberdade se deposita inteiramente em Deus, sem outras garantias que não seja
procurar e fazer a Sua vontade, o ganho é a identificação com Cristo e a
liberdade recupera-se a um nível mais profundo: como íntima liberdade filial
que nenhuma circunstância nem nenhum poder podem submeter. Por Ele renunciei a
todas as coisas e as considero como esterco, para ganhar a Cristo e ser
encontrado n’Ele 5.
Procurar Cristo
«A
cada homem é confiada a tarefa de ser artífice da sua própria vida» 6
Cada um pode fazer da sua vida uma obra-prima de amor; com acertos, erros,
debilidades: não tem importância. O importante é não perder de vista o farol, o
sentido, Aquele em quem o coração se alegra 7, o único que pode
encher a capacidade de amar, para quem queremos orientar radicalmente a
liberdade.
As
escolhas particulares – empreender e desenvolver uma profissão, estabelecer um
horário, adquirir qualquer compromisso, grande ou pequeno – apontam, em última
análise, para um bem querido em si mesmo, não em função de outro. Esse bem que
amamos de maneira absoluta caracteriza-nos mais do que qualquer outra
coisa.
Este
fim dá sentido último às pequenas ações de cada dia, guia o comportamento
concreto, é o critério que indica, na dúvida, o que convém ou não convém
fazer.
Ou
seja, como diz São Tomás comentando Santo Agostinho, só há dois bens que podem
apresentar-se ao homem como absolutos e, portanto, guiar o resto das ações: a
glória de Deus ou a própria estima. «Como no amor a Deus, o próprio Deus é o
fim último para onde se ordenam todas as coisas que se amam retamente, assim no
amor da própria excelência se encontra outro fim último para onde se ordenam
também todas as coisas; pois o que procura abundar nas riquezas, na ciência, em
honrarias, ou quaisquer outros bens, por tudo isso procura a sua própria
excelência» 8.
Só
Deus pode dar autêntica unidade de sentido aos nossos desejos e afazeres:
«fizestes-nos para Ti e o nosso coração está inquieto enquanto não descansar em
Ti» 9 Esta frase de Santo Agostinho mostra a origem e o fim da
liberdade criada, que é ao mesmo tempo dom e tarefa. Deus deu-nos a liberdade
para atingir a plenitude; e a plenitude é o resultado de escolher o Amor de
Deus, procurando a Sua vontade nas grandes decisões e nas pequenas coisas de
cada dia.
Um
dos lugares onde o Evangelho mostra a orientação da existência como fruto das
escolhas pessoais é no episódio do jovem rico. A inquietação do coração desse
homem impulsiona-o a procurar o caminho da autêntica felicidade.
Não
querendo conformar-se com menos, dirige-se a quem tem as respostas definitivas,
a Jesus: Bom Mestre, que devo fazer para obter a vida eterna? 10 A
resposta do Senhor não é menos radical do que a pergunta. Primeiro indica quais
são os caminhos incompatíveis com o que procura: não cometerás adultério, não
roubarás, não dirás falso testemunho... 11
Depois
indica-lhe a direção que leva à paz e à alegria verdadeiras: Se queres ser
perfeito, vende tudo quanto tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu;
depois vem e segue-Me 12.
Essas
palavras relativizam a importância de tudo o que até então centrava o interesse
do jovem. A sua liberdade tropeça com uma alternativa não prevista, uma chamada
a alargar o horizonte da sua vida.
Não
é que vivesse mal; pelo contrário, tinha um prestígio social e moral que
seguramente proporcionava satisfação aos seus pais e educadores. Mas isso
parecia-lhe insuficiente, aspirava a mais..., e, por isso, se dirigiu ao
Mestre. No entanto, perante o novo panorama que Jesus lhe abre, cala-se; sabe
que o Bom Mestre tem razão, mais ainda depois de escutar as misteriosas palavras
que revelam de algum modo a Sua divindade: Por que me chamas bom? Ninguém é bom
senão só Deus.
Apesar
de tudo, não é suficientemente livre para se pôr à disposição do Senhor. A
prudência humana, o temor a perder algo valioso e, talvez, o desejo de
segurança, levam-no a conformar-se com o que já tem, com a vã esperança de que,
sem aspirar a tanto como o que Jesus lhe propõe, sem arriscar a sua posição, a
sua fama, o seu dinheiro e, finalmente, o seu próprio eu, talvez possa estar
bem.
Quando
se procura fazer o bem com pouco amor, dificilmente se encontra o caminho. Com
palavras de São João da Cruz, «quem a Deus procura querendo continuar com os
seus gostos, procura-O de noite e, de noite, não o encontrará» 13;
então a razão complica-se em razões sem razão 14 e o bem deixa de se
fazer ou atrasa-se.
Se
o amor é muito débil, a luta torna-se torpe, enredada pelo emaranhado de muitas
pequenas ataduras, indecisa; quando as razões de amor não são suficientes para
fazer o que Deus quer, procuram-se outras falsas razões para não o fazer.
O
coração do jovem não ficou satisfeito: Uma resposta a meias não satisfaz
ninguém, nenhum coração humano se conforma com medianias; por isso retirou-se
triste 15
Voltar para Cristo
Perseverar
no amor não consiste numa luta tensa por não falhar nunca. Habitualmente nenhum
veleiro chega ao porto de destino em linha reta, mas procura aproveitar os
ventos que encontra e corrige constantemente os desvios que os instrumentos de
navegação detetam.
O
importante é saber onde se quer chegar e permanecer vigilantes. É necessário
voltar a entregar a liberdade muitas vezes, sobretudo se verificamos que
começámos a servir outros senhores 16.
Para
não nos perdermos, devemos examinar a atuação concreta à luz da vocação; esta é
como o farol divino que orienta a liberdade. É indispensável por isso estar
dispostos a recomeçar, a reencontrar – nas novas situações da nossa vida – a
luz, o impulso da primeira conversão. E esta é a razão pela qual nos temos que
preparar com um exame profundo, pedindo ajuda ao Senhor, para que possamos
conhecê-l’O melhor e nos conheçamos melhor a nós próprios. Não há outro
caminho, se temos de nos converter de novo 17.
A
falta de alegria é um desses indicadores que permitem descobrir quando a vontade
está a perder a orientação para Deus. Com a luz do Espírito Santo poderemos ver
onde está posto o coração, para retificar o que seja necessário.
A
parábola do filho pródigo é o guia autêntico no itinerário para a conversão. O
ponto de partida é o momento em que o filho se apercebe da sua indigência
material e sobretudo espiritual – a falta de alegria – pois toma consciência de
ter abusado da sua liberdade filial.
Começa
então a examinar a sua situação com objetividade. Olha para dentro de si, in se
autem reversus 18, sem medo a reconhecer a dura verdade dos factos.
O panorama é de fome, solidão, tristeza, falta de carinho... Como cheguei a
esta situação? perguntar-se-ia. Poderia ter atirado a culpa à má fortuna ou ao
período de carestia que a região atravessava. No entanto, atreve-se a assumir
as suas decisões anteriores sem se esquivar da responsabilidade.
Foi
ele próprio, livremente, quem trocou a fidelidade ao seu pai pela ilusão de uma
felicidade irreal. Foi amadurecendo nele a ideia de que os bens que lhe cabiam,
neste caso a herança paterna, teriam a capacidade de saciar as suas ânsias de
bem-estar, de realização pessoal. A sua vontade tinha-se ido fechando no seu
pequeno tesouro: as suas ambições, a sua diversão, o seu tempo, a sua
sensualidade, a sua preguiça.
Foi
a viva perceção da sua penúria que o fez reagir e aperceber-se do pouco que
valia por si só, das cruéis servidões a que se tinha visto sujeito sem o seu
pai: quantos jornaleiros lá em casa do meu pai têm pão em abundância e eu aqui
morro de fome! 19
A
casa do Pai: a Igreja Santa de Deus, esta porçãozinha da Igreja que é a Obra...
Perdeu o medo a chamar as coisas pelo seu nome, e o contacto com a verdade
sobre si próprio encaminha-o para a liberdade: a verdade vos fará livres 20
Perante a realidade das coisas toma corpo a nostalgia do amor do Pai; é a
viagem de regresso a casa.
Deve
regressar-se ao lar muitas vezes na vida porque é o lugar do reencontro
connosco mesmos, onde redescobrimos o que somos: filhos de Deus. A casa é
também a consciência, sacrário íntimo da pessoa. E o filho pródigo, que com
tanta determinação tinha exigido os seus direitos, à vista da verdade nua e
crua sobre si mesmo, renuncia agora a todo o direito. Levantar-me-ei, irei ter
com meu pai, e dir-lhe-ei: “pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou
digno de ser chamado teu filho; trata-me como a uno dos teus jornaleiros”.
Levantou-se e foi ter com o pai 21.
No
regresso já principia a alegria da conversão. O arrependimento abriu a porta à
esperança e, na decisão de regressar, a liberdade recuperou a sua disposição
para o amor. Mas além disso, o encontro com o pai supera as melhores
expectativas.
O
pobre coração humano, humilhado pelas suas faltas, ver-se-á inundado pela
infinita misericórdia do Amor: quando ele ainda estava longe, o pai viu-o,
ficou movido de compaixão e, correndo, lançou-se-lhe aos braços e beijou-o 22
A
liberdade amadurece no amor a Deus; a liberdade filial não se contabiliza num
balanço de acertos e de erros; os erros convertem-se em acertos, em ocasiões de
amar mais, quando sabemos retificar e pedir perdão, com plena confiança na
misericórdia de Deus.
Aprendamos
a recomeçar pela mão do nosso Pai: Terão observado no vosso exame – a mim
acontece-me o mesmo: desculpem que faça referências a mim próprio, mas enquanto
falo convosco vou pensando com Nosso Senhor nas necessidades da minha alma –
que sofrem repetidamente pequenos reveses, que às vezes parecem descomunais,
porque revelam uma evidente falta de amor, de entrega, de espírito de
sacrifício, de delicadeza. Fomentem as ânsias de reparação, com uma contrição
sincera, mas não percam a paz. 23.
Não
percam a paz: este comovedor pedido paterno vai unido a uma chamada à
contrição, que é o mais importante do exame de consciência. São Josemaria abria
a sua alma para nos dar o alimento da sua experiência de convívio com Deus.
Agora
a sua experiência é a bem-aventurança, e a sua participação na paternidade de
Deus é mais intensa. Recorramos à sua intercessão para alcançar uma contrição
serena e filial; para que nos ensine a fazer um exame contrito, que não tire a
paz mas que a dê. Cada acto de contrição é um recomeçar. Que paz dá saber que,
enquanto há vida, não há fracassos definitivos!
Viver em Cristo
São
João descreve no Apocalipse uma multidão incontável diante do trono e diante do
Cordeiro, vestidos de branco e com palmas nas mãos 24. A palma é
símbolo da alegria e do triunfo, da alegria de honrar a Deus e da vitória dos
que Lhe dão glória para sempre. Poderíamos dizer, seguindo esta imagem, que a
palma da liberdade está na sua orientação para Deus até chegar ao triunfo
definitivo da santidade alcançada.
Como
conseguiremos tão preciosa conquista? O Concílio Vaticano II ensina que «a
liberdade do homem, ferida pelo pecado, não pode conseguir esta orientação para
Deus com plena eficácia se não for com a ajuda da graça» 25.
Por
isso Deus enviou o seu Filho, que veio em nossa ajuda para nos fazer participantes
da Sua vitória na Cruz e para que recebamos o dom do Espírito Santo. A nossa
liberdade foi liberta no Calvário: «para sermos livres Cristo libertou-nos.
N’Ele participamos da verdade que nos faz livres. O Espírito Santo foi-nos dado
e, como ensina o Apóstolo, onde está o Espírito, aí está a liberdade. Já a
partir de agora nos gloriamos da liberdade dos filhos de Deus» 26.
Deus
tinha prometido ao Seu Povo um princípio novo de vida, uma lei escrita no
coração que não só indicasse a direção, mas que desse também forças para
caminhar pela senda do amor a Deus: dar-vos-ei um coração novo e porei no vosso
interior um espírito novo. Arrancarei da vossa carne o coração de pedra e
dar-vos-ei um coração de carne. Porei o Meu espírito no vosso interior e farei
com que caminheis de acordo com os Meus preceitos e guardareis e cumprireis as
Minhas normas 27
Esta
promessa fez-se realidade com o envio do Espírito Santo, porque o amor de Deus
foi derramado em nossos corações por meio do Espírito Santo que nos foi dado 28.
Só sobre este princípio novo poderemos construir uma vida liberta da escravidão
do egoísmo, uma vida de filhos livres. Porque os que são guiados pelo Espírito
de Deus, esses são filhos de Deus 29
Que
a vontade se apoie sobre a rocha sobrenatural da filiação divina, e não sobre a
areia das próprias forças. Então podem vencer-se as próprias limitações,
superando os obstáculos a partir da humildade, com a força de Deus.
A
vontade, sobrenaturalmente boa, vive assim endeusada, procurando fazer em tudo
a Vontade de Deus. Como? Mediante o esquecimento de si, com a fortaleza de
Cristo. Portanto – diz São Paulo – de boa vontade me gloriarei nas minhas
fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo. Por isso, alegro-me nas
minhas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, nas
angústias por Cristo, porque quando sou fraco, então é que sou forte 30.
O
sentido da filiação divina é um fundamento realista para a liberdade; ensina a
recomeçar a partir da verdade da própria pequenez, que é ao mesmo tempo
grandeza de ser filho amadíssimo de Deus; é fonte de serenidade e de otimismo
para a luta.
O
filho de Deus sente-se apoiado pela omnipotência de um Pai que o ama com os
seus defeitos, ao mesmo tempo que o ajuda a lutar contra eles e o impulsiona
para a liberdade.
c. ruiz
2013/09/10
Nota: Revisão da versão portuguesa por
ama
___________________________________________
Notas:
1
Amigos de Deus, n. 35.
2
Bento XVI, Homilia, 8-XII-2005.
3
Lc 22, 27.
4
Bento XVI, Litt. enc. Deus caritas est, n. 34.
5
Fil 3, 8.
6
João Paulo II, Carta aos artistas, 4-IV-1999, n. 2.
7
Cfr. Sal 3332, 21.
8
São Tomás de Aquino, De Malo, q. 8, a. 2, c.
9
Santo Agostinho, Confissões 1, 1, 1.
10
Lc 18, 18.
11
Lc 18, 20.
12
Mt 19, 21.
13
São João da Cruz, Cântico espiritual, 3, 3.
14
Amigos de Deus, n. 37.
15
Mt 19, 22.
16
Cfr. Lc 16, 13.
17
Cristo que passa, n. 58.
18
Lc 15, 17.
19
Ibid., 15, 17.
20
Jo 8, 32
21
Lc 15, 18-20.
22
Ibid., 15, 20.
23
Amigos de Deus, n. 13.
24
Cfr. Ap 7, 9-10.
25
Concílio Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, n. 17.
26
Catecismo da Igreja Católica, n. 1741; Ga 5, 1; cfr. Jn 8, 32; cfr. 2 Co 3, 17;
cfr. Rm 8, 21.
27
Ez 36, 26-27.
28
Ro 5, 5.
29
Ibid., 8, 14.
30
2 Co 12, 9-10.
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