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Tempo de Páscoa
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Evangelho:
Jo 15, 9-11
9 Como o Pai Me amou,
assim Eu vos amei. Permanecei no Meu amor. 10 Se observardes os Meus preceitos,
permanecereis no Meu amor, como Eu observei os preceitos de Meu Pai e permaneço
no Seu amor. 11 Disse-vos estas coisas, para que a Minha alegria esteja em vós
e para que a vossa alegria seja completa. As relações entre Deus e os homens
podem resumir-se numa palavra: amor!
Comentário:
Para amar a Deus é preciso conhece-lo e, conhecendo-o, não é possível não O
amar.
A medida do nosso amor a Deus depende de quanto O conhecemos. Deus, que nos
conhece intimamente ama-nos sem limite, por isso mesmo temos de O conhecer
pondo todas as nossas capacidades neste objectivo, assim, conhecendo-o mais e
melhor O poderemos amar.
(ama,
comentário sobre Jo 15, 9-11, 2013.05.02)
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Temas |
Meditações sobre a
Ressurreição
4. RESGATANDO SÃO TOMÉ
Coração
valente
São
Tomé é uma figura que costuma ser apresentada como símbolo do cepticismo: Já há
até uma frase feita: “Ver para crer, como Tomé”. E, no entanto, Tomé é um dos
personagens mais comoventes do Evangelho. Vamos procurar compreender, nesta
meditação, que, em boa parte, Tomé é um injustiçado. Como é que era mesmo Tomé
na realidade? Que nos diz dele o Evangelho?
Para
começar o “resgate” de Tomé (que resgata os bons exemplos que nos dá), é
preciso dizer que, dele, sabemos uma coisa certa, e é que foi um dos idealistas
que, deixando todas as coisas, seguiram Jesus. Portanto, confiava em Jesus,
acreditava nele – senão, não teria largado tudo e apostado nele –; além disso,
tinha-lhe amor, pois ninguém se entrega nas mãos de uma pessoa que lhe é
indiferente; e era generoso.
Logicamente
era humano, e, portanto, tinha fraquezas como aliás todos os Apóstolos, como
todos nós. Mas, antes da Paixão de Jesus, o Evangelho mais nos mostra nele
fortaleza que fraqueza. Refiro-me àqueles momentos críticos – pouco antes da
Paixão – em que Jesus já era perseguido de morte em Jerusalém e teve de
retirar-se para além do Jordão, juntamente com os Apóstolos, porque ainda não
tinha chegado a sua hora. O que lá aconteceu é tocante…
Naquele
lugar retirado, Jesus recebeu o recado de Marta e Maria, pedindo-lhe que fosse de
novo a Jerusalém (a Betânia, pertíssimo de Jerusalém), porque seu irmão Lázaro
estava muito doente: Senhor, aquele que amas está enfermo. Jesus, no entanto,
deixou-se ficar ali ainda dois dias. Mas, de repente, disse: Voltemos para a
Judeia. Isso assustou os discípulos: Mestre – disseram-lhe – há pouco os judeus
queriam apedrejar-te, e voltas para lá? Jesus não ligou, e disse-lhes
abertamente que Lázaro já tinha morrido, mas – acrescentou – vamos lá. Todos
ficaram gelados, pensando que aquilo era pôr-se na boca do lobo…
Todos
menos um! Tomé! Só ele, cheio de coragem, foi capaz de dizer aos seus
condiscípulos: Vamos também nós, e morramos com ele! Estava disposto a morrer
com Jesus, por Jesus. Como vemos, no coração de Tomé não há nada de cobardia,
nem de dúvidas, nem de vacilações.
Coração
sincero
E
ainda há um outro traço do carácter de Tomé que o Evangelho põe em relevo. Tomé
era um homem que era sincero e gostava da objectividade. Não era daquele tipo
de homens que são “objectivos” só para pôr dificuldades, tirar o corpo e dizer
que não dá (“sou realista”, dizem, e, na realidade, são pessimistas ou
comodistas). Ele gostava da objectividade para entender melhor as coisas e,
assim, poder agir melhor e resolver melhor os assuntos. Isso não diminuía nem um
pouco a fé que tinha em Jesus. Tomé unia a fé ao realismo, um binómio excelente
em si mesmo…, mas que pode desequilibrar-se, e então se torna perigoso (como
logo veremos). É algo que fica bem claro na Última Ceia.
Naquela
noite da Quinta-feira Santa, Jesus estava despedindo-se dos seus discípulos, e
consolava-os com infinita ternura dizendo-lhes: Não se perturbe o vosso
coração. Na casa de meu Pai há muitas moradas …; vou preparar-vos um lugar.
Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e tomar-vos-ei comigo… E vós
conheceis o caminho para onde eu vou. Neste ponto interveio Tomé, com a sua
franqueza um pouco brusca, mas cheia de confiança em Jesus: Disse-lhe Tomé:
Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos saber o caminho? Jesus não
levou a mal essa pergunta nem a achou indelicada. Ao contrário, aproveitou-a
para dizer umas palavras que ficarão para sempre gravadas no coração do
cristão: Jesus respondeu-lhe: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém
vai ao Pai senão por mim”.
Mas
houve um outro momento crucial, em que esse realismo franco de Tomé… espanou.
Foi após os acontecimentos perturbadores da Paixão, quando Jesus já havia
ressuscitado (e daí vem a “má fama” de Tomé).
Lembremos
o que aconteceu. Na tarde do domingo de Páscoa, em que Jesus apareceu aos
Apóstolos no Cenáculo, Tomé – diz o Evangelho – não estava com eles. Ou seja,
não viu Jesus. Provavelmente, chegou bem mais tarde, naquela noite, ou então só
voltou à casa no dia seguinte. Podemos imaginar que chegou ao Cenáculo triste, com
olheiras de pouco dormir e o ricto amargo na boca de muito sofrer. Pois bem,
mal acabava de subir a escada até o segundo andar – a sala de cima –, quando os
outros que lá estavam se lhe atiraram em cima, agitadíssimos, dizendo: Vimos o
Senhor!
Pobre
Tomé! Aquela enxurrada de entusiasmo, totalmente inesperada, caiu-lhe como um
golpe de malho na cabeça. Deixou-o atordoado. Eu o imagino de olhos
arregalados, assustado com a estranha euforia dos outros, balbuciando: “Estão
loucos! Vocês perderam o juízo?” E o bom Tomé, o sofrido Tomé, o franco Tomé,
de repente embirrou. A sua tendência para o realismo e a objectividade saiu dos
eixos, extrapolou em casmurrice e desequilibrou-se: Mas ele replicou-lhes: Se
não vir nas suas mãos o sinal dos pregos, e não puser o meu dedo no lugar dos
pregos, e não introduzir a minha mão no Seu lado, não acreditarei! Emburrou, e
não havia modo de fazê-lo sair atitude fechada.
O
amor que faz duvidar
Vemos
nessa atitude só um defeito? Será que não poderíamos pensar que era tão grande
o carinho de Tomé por Jesus, que não aguentava pensar sequer na possibilidade
de que houvesse um engano? Não tinha coragem para deixar que a sua esperança
subisse a mil por hora como um foguete, na crença de que Jesus vivia, para
depois cair vertiginosamente e espatifar-se no chão, na decepção. E se tudo não
passasse de histeria dos amigos? Não esqueçamos que, às vezes, a alegria dá
medo. Temos tanto receio de embarcar numa alegria grande que depois possa
decepcionar-nos! Por isso, quando desejamos muito, muito mesmo, uma coisa que
nos promete enorme alegria, temos a tendência instintiva de começar a pensar
nas coisas “ruins” que poderão acontecer: vai surgir um imprevisto, vai falhar
na última hora, vou chegar atrasado, não vai dar certo…
Isso
pode explicar a reacção negativa de Tomé. No entanto, é preciso reconhecer que
houve mesmo uma falha. De facto, Jesus teve de corrigi-lo… E, do erro dele,
nosso Senhor quis que nós aprendêssemos. Ele sempre tira o bem de tudo, mesmo
do mal.
Em
que consistiu seu erro? Naquela hora decisiva, faltaram-lhe a fé e a esperança
sobrenaturais. Tomé quis ser tão realista, tão terra-a-terra – para se garantir
–, que só ficou vendo o que tinha debaixo dos pés e na ponta do nariz. Isto é o
que acontece com todos os que se chamam a si mesmos “realistas”, gente de “pé
no chão”, “experientes” e “conhecedores da vida”…, e se esquecem de que a coisa
mais “realista” que há no mundo é a presença viva de Deus, o seu poder e a sua
acção amorosa… e muitas vezes inesperada e desconcertante.
Um
realismo que se torna pessimismo
É
interessante observar que todos os pessimistas se chamam a si mesmos realistas
e desprezam os “sonhadores” (assim chamam aos que vivem da fé), como se fossem
ingénuos ou tolos. Felizmente, nós cremos no Deus da esperança, e por isso
somos necessariamente optimistas.
Cristo
quer, sem dúvida, que vivamos uma vida realista, mas contando com o “factor”
mais real de todos, que é Ele e a força assombrosa do Seu amor e da fidelidade
às Suas promessas. Assim expressa, de maneira maravilhosa, a Carta aos Hebreus:
A fé é o fundamento das coisas que se esperam, é uma certeza a respeito do que
não se vê. Foi ela que fez a glória dos nossos antepassados. A falta desta fé
no amor e nas promessas de Deus traz consigo a falta da esperança que a fé
deveria gerar. Este foi o motivo da repreensão afectuosa que Jesus deu a Tomé.
E deu-a com razão, pois Tomé não soube pôr toda a sua fé nas promessas
anteriores de Cristo – voltarei a vós…., ao terceiro dia o Filho do homem
ressuscitará… – e não deu crédito ao testemunho dos outros Apóstolos que, por
ser unânime, merecia confiança.
Mas
a repreensão de Jesus, como todas as Suas palavras e actos, é uma grande luz
para a nossa alma. Vejamos o que diz o Evangelho:
Oito
dias depois (da aparição aos Apóstolos no dia da Páscoa), estavam os seus
discípulos outra vez no mesmo lugar e Tomé com eles. Estando trancadas as
portas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco”…
Podemos imaginar a cara de espanto do nosso Tomé… O seu coração deve ter ficado
acelerado, quase que a estourar-lhe o peito, quando Jesus se dirigiu
pessoalmente a ele. Depois, Jesus disse a Tomé: “Introduz aqui o teu dedo, e vê
as minhas mãos. Põe a tua mão no meu lado, e não sejas incrédulo, mas homem de
fé! E, apanhando a mão de Tomé, fez como estava dizendo.
A
reacção de Tomé, caindo em lágrimas aos pés de Jesus, foi esplêndida:
Respondeu-lhe Tomé: “Meu Senhor e meu Deus!” Ele, que tinha duvidado, acabou
fazendo o maior acto de fé até então pronunciado por qualquer dos Apóstolos: um
acto de fé absolutamente explícita, luminosa, na divindade de Cristo: Meu Deus!
E Jesus encerrou a questão, pensando em nós, em todos os que haveríamos de ser
os seus discípulos, no decorrer dos séculos: Creste porque me viste. Felizes
aqueles que creem sem terem visto!
O
lado luminoso da lição de Tomé
É
como se, com as palavras que dirigiu a Tomé, Cristo nos perguntasse: “Tu crês
mesmo em mim?” “Tu, por creres em mim, sabes esperar nas coisas que não se vêm,
que só se preveem com a fé, sabes esperar nas coisas que Deus quer, mas que os
“realistas” chamam “impossíveis?” Vale a pena lembrar o que escreve São Paulo:
Porque pela esperança é que fomos salvos. Ora, ver o objecto da esperança já
não é esperança; porque o que alguém vê, como é que ainda o espera?
Deus
– por assim dizer – “desafia-nos” a viver de esperança, a saber esperar do Seu
amor coisas grandes que não vemos, coisas que nos parecem impossíveis, mas que
Ele nos quer dar. Mesmo diante das maiores dificuldades, todos podemos dizer
com São João: Nós conhecemos o amor de Deus, e acreditamos nele.
O
“realismo” cristão está feito de fé, de audácia e de magnanimidade. O nosso
realismo é a esperança. Aí está o segredo do optimismo do cristão. É preciso
que, aquecidos pela fé, pelo amor e pela esperança, saibamos apontar alto,
apontar para coisas grandes, para ambições santas, e confiar plenamente em
Deus. A mulher de fé, o homem de fé, confia sobretudo em dois pilares
fortíssimos sobre os quais se apoia a esperança cristã: a obediência a Deus
(fazer o que sabemos que Deus nos pede), e a oração (pedir com a fé com que um
filho pede a um pai de cujo amor não duvida). Apoiada na obediência e na
oração, a nossa esperança ficará, como diz o “Livro da Sabedoria”, cheia de
imortalidade.
Há
alguns exemplos, no Evangelho, que ilustram tudo isto muito bem. Hoje vamos
focalizar apenas um deles, que é especialmente claro e tocante.
Generosidade
e esperança
Todos
nos lembramos, provavelmente, da passagem do Evangelho que narra a primeira
multiplicação dos pães. E talvez tenhamos presente a figura encantadora daquele
menino – de que fala São João no capítulo sexto do seu Evangelho –, que
colaborou com o milagre.
Mais
de cinco mil pessoas estavam certa vez num lugar afastado, ouvindo Jesus.
Passou o tempo e sentiram fome. Percebendo isso, o Senhor disse aos Apóstolos
que lhes dessem de comer. Mas como poderiam fazê-lo? Não havia nem pão nem
dinheiro para comprá-lo. De repente, André apareceu trazendo pela mão um
garoto, que estava, ao mesmo tempo, feliz e meio encabulado: “Eu posso dar –
assim deve ter falado o menino a André – cinco pães de cevada e dois peixes”.
Ao vê-lo, Jesus sorriu, pegou os pães e os peixinhos, e deu a entender a todos
que tudo estava resolvido. Mandou sentar na relva toda a gente, pediu aos
Apóstolos que repartissem os cinco pães e os dois peixes e … comeram todos
à-vontade e ainda sobraram doze cestos! Um milagre apoiado num “impossível”, numa
oferenda pequena, mas cheia de amor, de generosidade…
Não
é clara a mensagem? Cristo – com esse milagre – diz-nos: “Não desanime se acha
que não tem meios para resolver os problemas, para sair de uma situação de
pecado, para ajudar um filho ou um amigo, se acha que não tem capacidade para
aliviar as necessidades de tantas pessoas que carecem de tudo e sofrem; ou para
fazer apostolado; ou que não tem forças para adquirir determinadas virtudes.
Tenha confiança em mim, e faça da sua parte o que puder, ainda que seja
pouquinho…; mas que seja tudo o que pode mesmo, como o menino que deu tudo o
que tinha. O resto – acrescenta Jesus – é comigo.
Concluindo
esta meditação, não vemos que o maior e melhor realismo do mundo é ter fé e
confiança em Deus? As pessoas que agem “como se Deus não existisse, ou não
visse, ou não amasse” caem na e mais trágica falsificação da realidade. As
pessoas que ainda não perceberam que a oração é infinitamente mais forte que a
energia atómica e que o poder quase ilimitado do dinheiro estão fora da
realidade. As pessoas que não percebem que a maior garantia de que receberão os
dons de Deus é obedecer a Deus – obedecendo ao seu Evangelho e à sua santa
Igreja – estão fora da objectividade. Não nos deixemos dominar nunca – ainda
que a nossa vida atravesse momentos muito difíceis – por uma visão acanhada e
míope. Peçamos a Tomé que nos ajude a ser os “realistas da esperança”, que com
certeza ele nos acudirá. Tem experiência…