Capítulo
4: Explicação
textual da segunda palavra: “Amém, Eu te
digo: Hoje estarás comigo no paraíso.”
4
Mas, pode-se objectar, não
era Cristo Nosso Senhor Rei antes de sua morte? Sem dúvida o era, e por isso os
Reis Magos inquiriam insistentemente: “Onde está o Rei dos Judeus, que nasceu?”
10 E o mesmo Cristo disse a Pilatos: “Sim, tu o dizes, sou Rei. Para isso nasci
e vim ao mundo: para dar testemunho da verdade” 11. Mas Ele era Rei neste mundo
tal como um viajante entre estranhos, daí não ser reconhecido como tal senão
por uns tantos, sendo humilhado e mal recebido pela maioria. Assim, na parábola
que vimos de citar, diz-se que iria “a um país distante, a fim de ser investido
da realeza”. Não digo que Ele a adquiriria da parte de outro, mas que a
receberia como sua própria, e retornaria. E o ladrão observou sabiamente:
“quando retornardes com vosso reino”. Nessa passagem, o reino do Cristo não é
sinônimo de poder ou soberania régia, porque o exercera desde o princípio,
conforme estes versículos dos Salmos: “Em Sião, já tenho eu consagrado a meu
rei meu monte santo” 12. “Dominará de mar a mar, desde o Rio até aos confins da
terra” 13. E conforme Isaías: “Porque uma criatura nos nasceu, um filho nos foi
dado. O senhorio habitará por sobre seu ombro” 14. E conforme Jeremias:
“Suscitarei a Davi um Rebento justo: reinará um rei prudente, praticará o
direito e a justiça, na terra” 15. E conforme Zacarias: “Exulta à larga, filha
de Sião; grita de júbilo, filha de Jerusalém! Eis que aqui vem a ti teu rei:
justo ele e vitorioso, humilde e montado em um asno, um burrico, cria de
jumenta” 16. Por isso, na parábola do advento do Reino, Cristo não se referia a
um poder soberano, e tampouco, em sua petição, o bom ladrão: “lembrai-vos de
mim quando retornardes com vosso reino”, mas ambos falavam dessa perfeita dita,
que liberta o homem da servidão e da angústia dos assuntos temporais,
submetendo-os tão-somente a Deus, para quem servir é reinar, e pelo qual fora
posto acima de todas as suas obras. Deste reino, de inefável dita à alma,
Cristo gozou desde o momento de sua concepção, mas a dita do corpo — que era
sua por direito — não a gozou efectivamente até sua Ressurreição. Uma vez que
fora um forasteiro neste vale de lágrimas, estava submetido a fadigas, fome e
sede; as lesões, feridas, e à morte.
são
roberto belarmino
(Tradução:
Permanência, revisão ama).
_________________________________________
Notas:
10.
Mt 2,2.
11.
Jo 18,37.
12.
Sl 2,6.
13.
Sl 72,8.
14.
Is 9,5.
15.
Jr 23,5.
16.
Zc 9,9.
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