05/09/2014

Jesus Cristo e a Igreja (54 perguntas) - 32

Que influência teve São João Baptista em Jesus?

A figura de São João Baptista ocupa um lugar importante no Novo Testamento e, concretamente, nos evangelhos. Foi comentada na tradição cristã mais antiga, e entranhou-se profundamente na piedade popular, que celebra a festa do seu nascimento com especial solenidade desde tempos muito antigos. Nos últimos anos, tem atraído a
atenção de estudiosos do Novo Testamento e das origens do cristianismo, que procuram descobrir que coisas se podem conhecer acerca da relação entre João Baptista e Jesus de Nazaré, do ponto de vista da crítica histórica.
Dois tipos de fontes falam de João Baptista, umas cristãs e outras profanas. As cristãs são os quatro evangelhos canónicos e o evangelho gnóstico de Tomé. A fonte profana mais relevante é Flávio Josefo, que dedicou uma longa separata do seu livro Antiguidades Judaicas (18, 116-119) a glosar omartírio do Baptista às mãos de Herodes na fortaleza de Maqueronte (Pereia). Para avaliar as eventuais influências, pode ser uma ajuda olhar para o que se sabe acerca da vida, da conduta e da mensagem de ambos.

Nos últimos anos tem atraído a atenção dos estudiosos, que procuram descobrir que coisas se podem conhecer acerca da relação entre João Baptista e Jesus de Nazaré, do ponto de vista da crítica histórica.

1. Nascimento e morte de João Baptista seguramente coincidiu no tempo com Jesus, nasceu algum tempo antes e começou a sua vida pública também antes.
Era de origem sacerdotal (Lc 1), embora nunca tenha exercido as suas funções, e supõe-se que mostrou oposição ao comportamento do sacerdócio oficial, quer pela sua conduta e quer pela sua permanência longe do Templo. Passou algum tempo no deserto da Judeia (Lc 1, 80), mas não parece que tenha tido uma relação com o grupo de Qumran, uma vez que não se mostra tão radical no cumprimento das normas legais (halakhot). Morreu condenado por Herodes Antipas (Flávio Josefo, Ant. Jud. 18, 118). Jesus, por seu lado, passou a sua primeira infância na Galileia e foi baptizado por ele no Jordão. Soube da morte do Baptista e sempre louvou a sua figura, a sua mensagem e a sua missão profética.

2. Comportamento. Da sua vida e conduta, Josefo assinala que era “boa pessoa” e que muitos “acorriam a ele e se entusiasmavam ao ouvi-lo“. Os evangelistas são mais explícitos e mencionam o lugar onde ele desenvolveu a sua vida pública (a Judeia e a margem do Jordão); a sua conduta austera no vestir e no comer; a sua liderança perante os seus discípulos e a sua função de percursor, ao revelar Jesus de Nazaré como verdadeiro Messias. Jesus, pelo contrário, não
se distinguiu dos seus concidadãos, no que é externo: não se limitou a pregar num lugar determinado; participou em refeições de família; vestia com naturalidade e, embora condenando a interpretação literal
da lei que faziam os fariseus, cumpriu todas as normas legais e frequentou o templo com assiduidade.

Entre João e Jesus houve muitos pontos de contacto, mas todos os dados conhecidos até ao presente põem em evidência que Jesus de Nazaré superou o esquema vetero-testamentário do Baptista e apresentou o horizonte infinito da salvação.

João Baptista, segundo Flávio Josefo, “exortava os judeus a praticar a virtude, a justiça uns com os outros e a piedade com Deus, e depois a receber o baptismo”. Os evangelhos acrescentam que a sua mensagem era de penitência, escatológica e messiânica: exortava à conversão e ensinava que o juízo de Deus está iminente: virá quem é “mais forte que eu” que baptizará no Espírito Santo e no fogo. O Seu baptismo era para Flávio Josefo “um banho do corpo” e sinal da limpeza da alma pela justiça. Para os evangelistas era “um baptismo de conversão para o perdão dos pecados” (Mc 1, 5). Jesus não rejeita a mensagem do Baptista, antes parte dela (Mc 1, 15) para anunciar o reino e a salvação universal, e identifica-se com o Messias que João anunciava, abrindo o horizonte escatológico.
Sobretudo faz do seu baptismo fonte de salvação (Mc 16, 16) e porta para participar dos dons, outorgados aos discípulos.
Resumindo, entre João e Jesus houve muitos pontos de contacto, mas todos os dados conhecidos até ao presente, põem em evidência que Jesus de Nazaré superou o esquema vetero-testamentario do Baptista (conversão, atitude ética, esperança messiânica), e apresentou o horizonte infinito da salvação (reino de Deus, redenção universal, revelação definitiva).

© www.opusdei.org - Textos elaborados por uma equipa de professores de Teologia da Universidade de Navarra, dirigida por Francisco Varo.


Temas para meditar 227


O Salvador e a Cruz 


O Senhor salvou-nos com a Cruz; com a Sua morte voltou a dar-nos a esperança, o direito à vida. Não podemos honrar Cristo se não O reconhecemos como nosso Salvador, se não O honramos no Mistério da Cruz. (…)
O Senhor fez da dor um meio de redenção; redimiu-nos com a Sua dor, sempre que nós não recusemos unir a nossa dor à Sua e fazer desta com a Sua um meio de redenção.

(PAULO VI, Aloc.,1967.11.24)

Leva-me pela tua mão, Senhor

Há uma quantidade muito considerável de cristãos que seriam apóstolos... se não tivessem medo. São os mesmos que depois se queixam, porque o Senhor (dizem eles!) os abandona... Que fazem eles com Deus? (Sulco, 103)

Também a nós nos chama e nos pergunta como a Tiago e João: Potestis bibere calicem quem ego bibiturus sum?; estais dispostos a beber o cálice (este cálice da completa entrega ao cumprimento da vontade do Pai) que eu vou beber? "Possumus"!. Sim, estamos dispostos! – é a resposta de João e Tiago... Vós e eu, estamos dispostos seriamente a cumprir, em tudo, a vontade do nosso Pai, Deus? Demos ao Senhor o nosso coração inteiro ou continuamos apegados a nós mesmos, aos nossos interesses, à nossa comodidade, ao nosso amor-próprio? Há em nós alguma coisa que não corresponda à nossa condição de cristãos e que nos impeça de nos purificarmos? Hoje apresenta-se-nos a ocasião de rectificar.


É necessário que nos convençamos de que Jesus nos dirige pessoalmente estas perguntas. É Ele que as faz, não eu. Eu não me atreveria a fazê-las a mim próprio. Eu vou continuando a minha oração em voz alta e vós, cada um de vós, por dentro, está confessando ao Senhor: Senhor, que pouco valho! Que cobarde tenho sido tantas vezes! Quantos erros! Nesta ocasião e naquela... nisto e naquilo... E podemos exclamar também: ainda bem, Senhor, que me tens sustentado com a tua mão, porque eu sinto-me capaz de todas as infâmias... Não me largues, não me deixes; trata-me sempre como um menino. Que eu seja forte, valente, íntegro. Mas ajuda-me, como a uma criatura inexperiente. Leva-me pela tua mão, Senhor, e faz com que tua Mãe esteja também a meu lado e me proteja. E assim, possumus!, poderemos, seremos capazes de ter-Te por modelo! (Cristo que passa, 15)

Evang., Coment. Leit. Espiritual (Cong. Dout. da Fé Instr. Ardens felicitates)

Tempo comum XXII Semana

Evangelho: Lc 5, 33-39

«33 Eles disseram-Lhe: «Os discípulos de João e os dos fariseus jejuam muitas vezes e fazem orações, e os Teus comem e bebem». 34 Jesus respondeu-lhes: «Porventura podeis fazer jejuar os amigos do esposo, enquanto o esposo está com eles? 35 Mas virão dias em que lhes será tirado o esposo; então, nesses dias, jejuarão». 36 Também lhes disse esta comparação: «Ninguém deita um retalho de pano novo em vestido velho; doutro modo o novo rompe o velho e o retalho do novo não condiz com o velho. 37 Também ninguém deita vinho novo em odres velhos; doutro modo o vinho novo fará rebentar os odres, e derramar-se-á o vinho, e perder-se-ão os odres. 38 Mas o vinho novo deve deitar-se em odres novos. 39 Ninguém depois de ter bebido vinho velho quer do novo, porque diz: O velho é melhor!».

Comentário:

A santa Igreja renova-se constantemente segundo o evoluir dos tempos.
Evolução significa progresso, ajustamento e, nunca, alteração do fundamental.
Alguns, muitos dos quais nem sequer a frequentam, quereriam mudanças radicais nesses mesmos fundamentos.
Tal não pode acontecer – nunca acontecerá! – porque a Cabeça da Igreja Que é Jesus Cristo, não muda, é O mesmo hoje, ontem e sempre!

(ama, comentário sobre Lc 5, 33-39 2013.09.06)


Leitura espiritual


Documentos do Magistério
Congregação para a doutrina da Fé
INSTRUÇÃO Ardens felicitates
SOBRE AS ORAÇÕES PARA ALCANÇAR DE DEUS A CURA

Introdução

O anseio de felicidade, profundamente radicado no coração humano, esteve sempre associado ao desejo de se libertar da doença e de compreender o seu sentido, quando se experimenta. Trata-se de um fenómeno humano que, interessando de uma maneira ou de outra a todas as pessoas, encontra na Igreja particular ressonância. Esta, de facto, vê a doença como meio de união com Cristo e de purificação espiritual e, para os que lidam com a pessoa doente, como uma ocasião de praticar a caridade. Não é só isso porém; como os demais sofrimentos humanos, a doença constitui um momento privilegiado de oração, seja para pedir a graça de a receber com espírito de fé e de aceitação da vontade de Deus, seja também para implorar a cura.

A oração que implora o restabelecimento da saúde é, pois, uma experiência presente em todas as épocas da Igreja e naturalmente nos dias de hoje. Mas o que constitui um fenómeno sob certos aspectos novo é o multiplicação de reuniões de oração, por vezes associadas a celebrações litúrgicas, com o fim de alcançar de Deus a cura. Em certos casos, que não são poucos, apregoa-se a existência de curas alcançadas, criando assim a expectativa que o fenómeno se repita noutras reuniões do género. Em tal contexto, faz-se por vezes apelo a um suposto carisma de cura.

Essas reuniões de oração feitas para alcançar curas põem também o problema do seu justo discernimento sob o ponto de vista litúrgico, nomeadamente por parte da autoridade eclesiástica, a quem compete vigiar e dar as directivas oportunas em ordem ao correcto desenrolar das celebrações litúrgicas.

Achou-se, portanto, conveniente publicar uma Instrução, de acordo com o can. 34 do Código de Direito Canónico, que servisse sobretudo de ajuda aos Ordinários do lugar para melhor poderem orientar os fiéis neste campo, favorecendo o que nele haja de bom e corrigindo o que deva ser evitado. Era porém necessário que as disposições disciplinares tivessem como ponto de referência um fundado enquadramento doutrinal que garantisse a sua justa aplicação e esclarecesse a razão normativa. Para tal fim, fez-se preceder a parte disciplinar com uma parte doutrinal sobre as graças de cura e as orações para alcançá-las.

I. ASPECTOS DOUTRINAIS

1. Doença e cura: seu significado e valor na economia da salvação

«O homem é destinado à alegria, mas todos os dias experimenta variadíssimas formas de sofrimento e de dor». (1) Por isso, o Senhor, nas suas promessas de redenção, anuncia a alegria do coração ligada à libertação dos sofrimentos (cfr. Is 30,29; 35,19; Bar 4,29). Ele é, de facto, «aquele que liberta de todos os males» (Sab 16,8). Entre os sofrimentos, os provocados pela doença são uma realidade constantemente presente na história humana, tornando-se, ao mesmo tempo, objecto do profundo desejo do homem de se libertar de todo o mal.

No Antigo Testamento, «Israel tem a experiência de que a doença está misteriosamente ligada ao pecado e ao mal». (2) Entre os castigos com que Deus ameaça o povo pela sua infidelidade, as doenças ocupam espaço de relevo (cfr. Dt 28,21-22.27-29.35). O doente que pede a Deus a cura reconhece que é justamente castigado pelos seus pecados (cfr. Sal 37; 40; 106,17-21).

A doença porém atinge também os justos e o homem interroga- se sobre o porquê. No livro de Job, essa interrogação está presente em muitas das suas páginas. «Se é verdade que o sofrimento tem um sentido de castigo, quando ligado à culpa, já não é verdade que todo o sofrimento seja consequência da culpa e tenha um carácter de punição. A figura do justo Job é uma especial prova disso no Antigo Testamento. (...) Se o Senhor permite que Job seja provado com o sofrimento, fá-lo para demostrar a sua justiça. O sofrimento tem carácter de prova». (3)

A doença, embora possa ter uma conotação positiva, como demonstração da fidelidade do justo e meio de reparar a justiça violada pelo pecado, e também como forma de levar o pecador a arrepender-se, enveredando pelo caminho da conversão, continua todavia a ser um mal. Por isso, o profeta anuncia os tempos futuros em que não haverá mais desgraças nem invalidez, e o decurso da vida nunca mais será interrompido com doenças mortais (cfr. Is 35,5-6; 65,19-20).

É todavia no Novo Testamento que encontra plena resposta a interrogação porque a doença atinge também os justos. Na actividade pública de Jesus, as suas relações com os doentes não são casuais, mas constantes. Cura a muitos deles de forma prodigiosa, tanto que essas curas milagrosas tornam-se uma característica da sua actividade: «Jesus percorria todas as cidades e aldeias, ensinando nas suas sinagogas, pregando o Evangelho do reino e curando todas as doenças e enfermidades» (Mt 9,35; cfr. 4,23). As curas são sinais da sua missão messiânica (cfr. Lc 7,20-23). Manifestam a vitória do reino de Deus sobre todas as espécies de mal e tornam-se símbolo do saneamento integral do homem, corpo e alma. Servem, de facto, para mostrar que Jesus tem o poder de perdoar os pecados (cfr. Mc 2,1- 12); são sinais dos bens salvíficos, como a cura do paralítico de Betsaida (cfr. Jo 5,2-9.19-21) e do cego de nascença (cfr. Jo 9).

Também a primeira evangelização, segundo as indicações do Novo Testamento, era acompanhada de numerosas curas prodigiosas que corroboravam o poder do anúncio evangélico. Aliás, tinha sido essa a promessa de Jesus ressuscitado, e as primeiras comunidades cristãs viam nelas que a promessa se cumpria entre eles: «Eis os milagres que acompanharão os que acreditarem: (...) quando impuserem as mãos sobre os doentes, ficarão curados» (Mc 16,17-18). A pregação de Filipe na Samaria foi acompanhada de curas milagrosas: «Filipe desceu a uma cidade da Samaria e começou a pregar o Messias àquela gente. As multidões aderiam unanimemente às palavras de Filipe, ao ouvi-las e ao ver os milagres que fazia. De muitos possessos saíam espíritos impuros, soltando enormes gritos, e numerosos paralíticos e coxos foram curados» (Actos 8,5-7). São Paulo apresenta o seu anúncio do Evangelho como sendo caracterizado por sinais e prodígios realizados com o poder do Espírito: «não ousaria falar senão do que Cristo realizou por meu intermédio, para levar os gentios à obediência da fé, pela palavra e pela acção, pelo poder dos sinais e prodígios, pelo poder do Espírito» (Rom 15,18-19; cfr. 1 Tes 1,5; 1 Cor 2,4-5). Não é nada arbitrário supor que muitos desses sinais e prodígios, manifestação do poder divino que acompanhava a pregação, fossem curas prodigiosas. Eram prodígios que não estavam ligados exclusivamente à pessoa do Apóstolo, mas que se manifestavam também através dos fiéis: «Aquele que vos dá o Espírito e realiza milagres entre vós procede assim por cumprirdes as obras da Lei ou porque ouvistes a mensagem da fé?» (Gal 3,5).

A vitória messiânica sobre a doença, aliás como sobre outros sofrimentos humanos, não se realiza apenas eliminando-a com curas prodigiosas, mas também com o sofrimento voluntário e inocente de Cristo na sua paixão, e dando a cada homem a possibilidade de se associar à mesma. De facto, «o próprio Cristo, embora fosse sem pecado, sofreu na sua paixão penas e tormentos de toda a espécie e fez seus os sofrimentos de todos os homens: cumpria assim quanto d'Ele havia escrito o profeta Isaías (cfr. Is 53,4-5)». (4) Mais, «Na cruz de Cristo não só se realizou a Redenção através do sofrimento, mas também o próprio sofrimento humano foi redimido. (...) Realizando a Redenção mediante o sofrimento, Cristo elevou ao mesmo tempo o sofrimento humano ao nível de Redenção. Por isso, todos os homens, com o seu sofrimento, se podem tornar também participantes do sofrimento redentor de Cristo». (5)

A Igreja acolhe os doentes, não apenas como objecto da sua solicitude amorosa, mas também reconhecendo neles a chamada «a viver a sua vocação humana e cristã e a participar no crescimento do Reino de Deus com novas modalidades e mesmo mais preciosas. As palavras do apóstolo Paulo hão-de tornar-se programa e, ainda mais, a luz que faz brilhar aos seus olhos o significado de graça da sua própria situação: "Completo na minha carne o que falta à paixão de Cristo, em benefício do seu corpo que é a Igreja" (Col 1,24). Precisamente ao fazer tal descoberta, o apóstolo encontrou a alegria: "Por isso, alegro- me com os sofrimentos que suporto por vossa causa" (Col 1,24)». (6) Trata-se da alegria pascal, que é fruto do Espírito Santo. Como São Paulo, também «muitos doentes podem tornar-se veículo da "alegria do Espírito Santo em muitas tribulações" (1 Tes 1,6) e ser testemunhas da ressurreição de Jesus». (7)

2. O desejo da cura e a oração para alcançá-la

Salva a aceitação da vontade de Deus, o desejo que o doente sente de ser curado é bom e profundamente humano, sobretudo quando se traduz em oração confiante dirigida a Deus. O Ben-Sirá exorta a fazê-lo: «Filho, não desanimes na doença, mas reza ao Senhor e Ele curar-te-á» (Sir 38,9). Vários salmos são uma espécie de súplica de cura (cfr. Sal 6; 37; 40; 87).

Durante a actividade pública de Jesus, muitos doentes dirigem-se a Ele, ou directamente ou através de seus amigos e parentes, implorando a recuperação da saúde. O Senhor acolhe esses pedidos, não se encontrando nos Evangelhos o mínimo aceno de reprovação dos mesmos. A única queixa do Senhor refere-se à eventual falta de fé: «Se posso? Tudo é possível a quem acredita» (Mc 9,23; cfr. Mc 6,5-6; Jo 4,48).

Não só é louvável a oração de todo o fiel que pede a cura, sua ou alheia, mas a própria Igreja na sua liturgia pede ao Senhor pela saúde dos enfermos. Antes de mais, tem um sacramento «destinado de modo especial a confortar os que sofrem com a doença: a Unção dos enfermos». (8) «Nele, por meio da unção e da oração dos presbíteros, a Igreja recomenda os doentes ao Senhor padecente e glorificado para que os alivie e salve». (9) Pouco antes, na bênção da óleo, a Igreja reza: «derramai a vossa santa bênção para que [o óleo] sirva a quantos forem com ele ungidos de auxílio do corpo, da alma e do espírito, para alívio de todas as dores, fraquezas e doenças»; (10) e, a seguir, nos dois primeiros formulários da oração após a Unção, pede-se mesmo a cura do enfermo. (11) A cura, uma vez que o sacramento é penhor e promessa do reino futuro, é também anúncio da ressurreição, quando «não haverá mais morte nem luto, nem gemidos nem dor, porque o mundo antigo desapareceu» (Ap 21,4). Por sua vez, o Missale Romanum contém uma Missa pro infirmis, onde, além de graças espirituais, se pede a saúde dos doentes. (12)

No De benedictionibus do Rituale Romanum existe um Ordo benedictionis infirmorum que contém diversos textos eucológicos para implorar a cura: no segundo formulário das Preces,(13) nas quatro Orationes benedictionis pro adultis, (14) nas duas Orationes benedictionis pro pueris, (15) na oração do Ritus brevior. (16)

É óbvio que o recurso à oração não exclui, antes encoraja, o emprego dos meios naturais úteis a conservar e a recuperar a saúde e, por outro lado, estimula os filhos da Igreja a cuidar dos doentes e a aliviá-los no corpo e no espírito, procurando vencer a doença. Com efeito, «reentra no próprio plano de Deus e da sua Providência que o homem lute com todas as forças contra a doença em todas as suas formas e se esforce, de todas as maneiras, por manter-se em saúde». (17)

(cont)
(Revisão da versão portuguesa por ama)
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Notas:
(1) JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Christifideles laici, n. 53, AAS 81 (1989), p. 498.
(2) Catecismo da Igreja Católica, n. 1502.
(3) JOÃO PAULO II, Carta Apostólica Salvifici doloris, n. 11, AAS, 76 (1984), p. 12.
(4) Rituale Romanum, Ex Decreto Sacrosancti Oecumenici Concilii Vaticani II instauratum, Auctoritate Pauli PP. VI promulgatum, Ordo Unctionis Infirmorum eorumque Pastoralis Curae, Editio typica, Typis Polyglottis Vaticanis, MCMLXXII, n. 2.
(5) JOÃO PAULO II, Carta Apostólica Salvifici doloris, n. 19, AAS, 76 (1984), p. 225.
(6) JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Christifideles laici, n. 53, AAS 81(1989), p. 499.
(7) Ibid., n. 53.
(8) Catecismo da Igreja Católica, n. 1511.
(9) Cfr. Rituale Romanum, Ordo Unctionis Infirmorum eorumque Pastoralis Curae, n. 5.
(10) Ibid., n. 75.
(11) Cfr. Ibid., n. 77.
(12) Missale Romanum, Ex Decreto Sacrosancti Oecumenici Concilii Vaticani II instauratum, Auctoritate Pauli PP. VI promulgatum, Editio typica altera, Typis Polyglottis Vaticanis, MCMLXXV, pp. 838- 839.
(13) Cfr. Rituale Romanum, Ex Decreto Sacrosancti Oecumenici Concilii Vaticani II instauratum, Auctoritate Ioannis Pauli II promulgatum, De Benedictionibus, Editio typica, Typis Polyglottis Vaticanis, MCMLXXXIV, n. 305.
(14) Cfr. Ibid., nn. 306-309.
(15) Cfr. Ibid., nn. 315-316.
(16) Cfr. Ibid., n. 319.
(17) Rituale Romanum, Ordo Unctionis Infirmorum eorumque Pastoralis Curae, n. 3.