Evangelho:
Lc 5, 33-39
«33 Eles disseram-Lhe:
«Os discípulos de João e os dos fariseus jejuam muitas vezes e fazem orações, e
os Teus comem e bebem». 34 Jesus respondeu-lhes: «Porventura podeis
fazer jejuar os amigos do esposo, enquanto o esposo está com eles? 35
Mas virão dias em que lhes será tirado o esposo; então, nesses dias, jejuarão».
36 Também lhes disse esta comparação: «Ninguém deita um retalho de
pano novo em vestido velho; doutro modo o novo rompe o velho e o retalho do
novo não condiz com o velho. 37 Também ninguém deita vinho novo em
odres velhos; doutro modo o vinho novo fará rebentar os odres, e derramar-se-á
o vinho, e perder-se-ão os odres. 38 Mas o vinho novo deve deitar-se
em odres novos. 39 Ninguém depois de ter bebido vinho velho quer do
novo, porque diz: O velho é melhor!».
Comentário:
A
santa Igreja renova-se constantemente segundo o evoluir dos tempos.
Evolução
significa progresso, ajustamento e, nunca, alteração do fundamental.
Alguns,
muitos dos quais nem sequer a frequentam, quereriam mudanças radicais nesses
mesmos fundamentos.
Tal
não pode acontecer – nunca acontecerá! – porque a Cabeça da Igreja Que é Jesus
Cristo, não muda, é O mesmo hoje, ontem e sempre!
(ama, comentário sobre Lc 5, 33-39
2013.09.06)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
Congregação para a doutrina da Fé
INSTRUÇÃO Ardens felicitates
SOBRE AS ORAÇÕES PARA ALCANÇAR DE DEUS A CURA
Introdução
O
anseio de felicidade, profundamente radicado no coração humano, esteve sempre
associado ao desejo de se libertar da doença e de compreender o seu sentido,
quando se experimenta. Trata-se de um fenómeno humano que, interessando de uma
maneira ou de outra a todas as pessoas, encontra na Igreja particular
ressonância. Esta, de facto, vê a doença como meio de união com Cristo e de
purificação espiritual e, para os que lidam com a pessoa doente, como uma ocasião
de praticar a caridade. Não é só isso porém; como os demais sofrimentos
humanos, a doença constitui um momento privilegiado de oração, seja para pedir
a graça de a receber com espírito de fé e de aceitação da vontade de Deus, seja
também para implorar a cura.
A
oração que implora o restabelecimento da saúde é, pois, uma experiência
presente em todas as épocas da Igreja e naturalmente nos dias de hoje. Mas o
que constitui um fenómeno sob certos aspectos novo é o multiplicação de
reuniões de oração, por vezes associadas a celebrações litúrgicas, com o fim de
alcançar de Deus a cura. Em certos casos, que não são poucos, apregoa-se a
existência de curas alcançadas, criando assim a expectativa que o fenómeno se
repita noutras reuniões do género. Em tal contexto, faz-se por vezes apelo a um
suposto carisma de cura.
Essas
reuniões de oração feitas para alcançar curas põem também o problema do seu
justo discernimento sob o ponto de vista litúrgico, nomeadamente por parte da
autoridade eclesiástica, a quem compete vigiar e dar as directivas oportunas em
ordem ao correcto desenrolar das celebrações litúrgicas.
Achou-se,
portanto, conveniente publicar uma Instrução, de acordo com o can. 34 do Código
de Direito Canónico, que servisse sobretudo de ajuda aos Ordinários do lugar
para melhor poderem orientar os fiéis neste campo, favorecendo o que nele haja
de bom e corrigindo o que deva ser evitado. Era porém necessário que as
disposições disciplinares tivessem como ponto de referência um fundado enquadramento
doutrinal que garantisse a sua justa aplicação e esclarecesse a razão
normativa. Para tal fim, fez-se preceder a parte disciplinar com uma parte
doutrinal sobre as graças de cura e as orações para alcançá-las.
I. ASPECTOS DOUTRINAIS
1. Doença e cura: seu
significado e valor na economia da salvação
«O
homem é destinado à alegria, mas todos os dias experimenta variadíssimas formas
de sofrimento e de dor». (1) Por isso, o Senhor, nas suas promessas de
redenção, anuncia a alegria do coração ligada à libertação dos sofrimentos
(cfr. Is 30,29; 35,19; Bar 4,29). Ele é, de facto, «aquele que liberta de todos
os males» (Sab 16,8). Entre os sofrimentos, os provocados pela doença são uma
realidade constantemente presente na história humana, tornando-se, ao mesmo tempo,
objecto do profundo desejo do homem de se libertar de todo o mal.
No
Antigo Testamento, «Israel tem a experiência de que a doença está
misteriosamente ligada ao pecado e ao mal». (2) Entre os castigos com que Deus
ameaça o povo pela sua infidelidade, as doenças ocupam espaço de relevo (cfr.
Dt 28,21-22.27-29.35). O doente que pede a Deus a cura reconhece que é
justamente castigado pelos seus pecados (cfr. Sal 37; 40; 106,17-21).
A
doença porém atinge também os justos e o homem interroga- se sobre o porquê. No
livro de Job, essa interrogação está presente em muitas das suas páginas. «Se é
verdade que o sofrimento tem um sentido de castigo, quando ligado à culpa, já
não é verdade que todo o sofrimento seja consequência da culpa e tenha um
carácter de punição. A figura do justo Job é uma especial prova disso no Antigo
Testamento. (...) Se o Senhor permite que Job seja provado com o sofrimento,
fá-lo para demostrar a sua justiça. O sofrimento tem carácter de prova». (3)
A
doença, embora possa ter uma conotação positiva, como demonstração da
fidelidade do justo e meio de reparar a justiça violada pelo pecado, e também
como forma de levar o pecador a arrepender-se, enveredando pelo caminho da
conversão, continua todavia a ser um mal. Por isso, o profeta anuncia os tempos
futuros em que não haverá mais desgraças nem invalidez, e o decurso da vida
nunca mais será interrompido com doenças mortais (cfr. Is 35,5-6; 65,19-20).
É
todavia no Novo Testamento que encontra plena resposta a interrogação porque a
doença atinge também os justos. Na actividade pública de Jesus, as suas
relações com os doentes não são casuais, mas constantes. Cura a muitos deles de
forma prodigiosa, tanto que essas curas milagrosas tornam-se uma característica
da sua actividade: «Jesus percorria todas as cidades e aldeias, ensinando nas
suas sinagogas, pregando o Evangelho do reino e curando todas as doenças e
enfermidades» (Mt 9,35; cfr. 4,23). As curas são sinais da sua missão
messiânica (cfr. Lc 7,20-23). Manifestam a vitória do reino de Deus sobre todas
as espécies de mal e tornam-se símbolo do saneamento integral do homem, corpo e
alma. Servem, de facto, para mostrar que Jesus tem o poder de perdoar os
pecados (cfr. Mc 2,1- 12); são sinais dos bens salvíficos, como a cura do
paralítico de Betsaida (cfr. Jo 5,2-9.19-21) e do cego de nascença (cfr. Jo 9).
Também
a primeira evangelização, segundo as indicações do Novo Testamento, era
acompanhada de numerosas curas prodigiosas que corroboravam o poder do anúncio
evangélico. Aliás, tinha sido essa a promessa de Jesus ressuscitado, e as
primeiras comunidades cristãs viam nelas que a promessa se cumpria entre eles:
«Eis os milagres que acompanharão os que acreditarem: (...) quando impuserem as
mãos sobre os doentes, ficarão curados» (Mc 16,17-18). A pregação de Filipe na
Samaria foi acompanhada de curas milagrosas: «Filipe desceu a uma cidade da
Samaria e começou a pregar o Messias àquela gente. As multidões aderiam
unanimemente às palavras de Filipe, ao ouvi-las e ao ver os milagres que fazia.
De muitos possessos saíam espíritos impuros, soltando enormes gritos, e
numerosos paralíticos e coxos foram curados» (Actos 8,5-7). São Paulo apresenta
o seu anúncio do Evangelho como sendo caracterizado por sinais e prodígios
realizados com o poder do Espírito: «não ousaria falar senão do que Cristo
realizou por meu intermédio, para levar os gentios à obediência da fé, pela
palavra e pela acção, pelo poder dos sinais e prodígios, pelo poder do
Espírito» (Rom 15,18-19; cfr. 1 Tes 1,5; 1 Cor 2,4-5). Não é nada arbitrário
supor que muitos desses sinais e prodígios, manifestação do poder divino que
acompanhava a pregação, fossem curas prodigiosas. Eram prodígios que não
estavam ligados exclusivamente à pessoa do Apóstolo, mas que se manifestavam
também através dos fiéis: «Aquele que vos dá o Espírito e realiza milagres entre
vós procede assim por cumprirdes as obras da Lei ou porque ouvistes a mensagem
da fé?» (Gal 3,5).
A
vitória messiânica sobre a doença, aliás como sobre outros sofrimentos humanos,
não se realiza apenas eliminando-a com curas prodigiosas, mas também com o
sofrimento voluntário e inocente de Cristo na sua paixão, e dando a cada homem
a possibilidade de se associar à mesma. De facto, «o próprio Cristo, embora
fosse sem pecado, sofreu na sua paixão penas e tormentos de toda a espécie e
fez seus os sofrimentos de todos os homens: cumpria assim quanto d'Ele havia
escrito o profeta Isaías (cfr. Is 53,4-5)». (4) Mais, «Na cruz de Cristo não só
se realizou a Redenção através do sofrimento, mas também o próprio sofrimento
humano foi redimido. (...) Realizando a Redenção mediante o sofrimento, Cristo
elevou ao mesmo tempo o sofrimento humano ao nível de Redenção. Por isso, todos
os homens, com o seu sofrimento, se podem tornar também participantes do
sofrimento redentor de Cristo». (5)
A
Igreja acolhe os doentes, não apenas como objecto da sua solicitude amorosa,
mas também reconhecendo neles a chamada «a viver a sua vocação humana e cristã
e a participar no crescimento do Reino de Deus com novas modalidades e mesmo
mais preciosas. As palavras do apóstolo Paulo hão-de tornar-se programa e,
ainda mais, a luz que faz brilhar aos seus olhos o significado de graça da sua
própria situação: "Completo na minha carne o que falta à paixão de Cristo,
em benefício do seu corpo que é a Igreja" (Col 1,24). Precisamente ao
fazer tal descoberta, o apóstolo encontrou a alegria: "Por isso, alegro-
me com os sofrimentos que suporto por vossa causa" (Col 1,24)». (6)
Trata-se da alegria pascal, que é fruto do Espírito Santo. Como São Paulo,
também «muitos doentes podem tornar-se veículo da "alegria do Espírito
Santo em muitas tribulações" (1 Tes 1,6) e ser testemunhas da ressurreição
de Jesus». (7)
2. O desejo da cura e a
oração para alcançá-la
Salva
a aceitação da vontade de Deus, o desejo que o doente sente de ser curado é bom
e profundamente humano, sobretudo quando se traduz em oração confiante dirigida
a Deus. O Ben-Sirá exorta a fazê-lo: «Filho, não desanimes na doença, mas reza
ao Senhor e Ele curar-te-á» (Sir 38,9). Vários salmos são uma espécie de
súplica de cura (cfr. Sal 6; 37; 40; 87).
Durante
a actividade pública de Jesus, muitos doentes dirigem-se a Ele, ou directamente
ou através de seus amigos e parentes, implorando a recuperação da saúde. O
Senhor acolhe esses pedidos, não se encontrando nos Evangelhos o mínimo aceno de
reprovação dos mesmos. A única queixa do Senhor refere-se à eventual falta de
fé: «Se posso? Tudo é possível a quem acredita» (Mc 9,23; cfr. Mc 6,5-6; Jo
4,48).
Não
só é louvável a oração de todo o fiel que pede a cura, sua ou alheia, mas a
própria Igreja na sua liturgia pede ao Senhor pela saúde dos enfermos. Antes de
mais, tem um sacramento «destinado de modo especial a confortar os que sofrem
com a doença: a Unção dos enfermos». (8) «Nele, por meio da unção e da oração
dos presbíteros, a Igreja recomenda os doentes ao Senhor padecente e glorificado
para que os alivie e salve». (9) Pouco antes, na bênção da óleo, a Igreja reza:
«derramai a vossa santa bênção para que [o óleo] sirva a quantos forem com ele
ungidos de auxílio do corpo, da alma e do espírito, para alívio de todas as
dores, fraquezas e doenças»; (10) e, a seguir, nos dois primeiros formulários
da oração após a Unção, pede-se mesmo a cura do enfermo. (11) A cura, uma vez
que o sacramento é penhor e promessa do reino futuro, é também anúncio da
ressurreição, quando «não haverá mais morte nem luto, nem gemidos nem dor,
porque o mundo antigo desapareceu» (Ap 21,4). Por sua vez, o Missale Romanum
contém uma Missa pro infirmis, onde, além de graças espirituais, se pede a
saúde dos doentes. (12)
No
De benedictionibus do Rituale Romanum existe um Ordo benedictionis infirmorum
que contém diversos textos eucológicos para implorar a cura: no segundo
formulário das Preces,(13) nas quatro Orationes benedictionis pro adultis, (14)
nas duas Orationes benedictionis pro pueris, (15) na oração do Ritus brevior. (16)
É
óbvio que o recurso à oração não exclui, antes encoraja, o emprego dos meios
naturais úteis a conservar e a recuperar a saúde e, por outro lado, estimula os
filhos da Igreja a cuidar dos doentes e a aliviá-los no corpo e no espírito,
procurando vencer a doença. Com efeito, «reentra no próprio plano de Deus e da
sua Providência que o homem lute com todas as forças contra a doença em todas
as suas formas e se esforce, de todas as maneiras, por manter-se em saúde». (17)
(cont)
(Revisão
da versão portuguesa por ama)
________________________________________
Notas:
(1)
JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Christifideles laici, n. 53, AAS 81 (1989),
p. 498.
(2)
Catecismo da Igreja Católica, n. 1502.
(3)
JOÃO PAULO II, Carta Apostólica Salvifici doloris, n. 11, AAS, 76 (1984), p.
12.
(4)
Rituale Romanum, Ex Decreto Sacrosancti Oecumenici Concilii Vaticani II
instauratum, Auctoritate Pauli PP. VI promulgatum, Ordo Unctionis Infirmorum
eorumque Pastoralis Curae, Editio typica, Typis Polyglottis Vaticanis,
MCMLXXII, n. 2.
(5)
JOÃO PAULO II, Carta Apostólica Salvifici doloris, n. 19, AAS, 76 (1984), p.
225.
(6)
JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Christifideles laici, n. 53, AAS 81(1989),
p. 499.
(7)
Ibid., n. 53.
(8)
Catecismo da Igreja Católica, n. 1511.
(9)
Cfr. Rituale Romanum, Ordo Unctionis Infirmorum eorumque Pastoralis Curae, n.
5.
(10)
Ibid., n. 75.
(11)
Cfr. Ibid., n. 77.
(12)
Missale Romanum, Ex Decreto Sacrosancti Oecumenici Concilii Vaticani II instauratum,
Auctoritate Pauli PP. VI promulgatum, Editio typica altera, Typis Polyglottis
Vaticanis, MCMLXXV, pp. 838- 839.
(13)
Cfr. Rituale Romanum, Ex Decreto Sacrosancti Oecumenici Concilii Vaticani II
instauratum, Auctoritate Ioannis Pauli II promulgatum, De Benedictionibus,
Editio typica, Typis Polyglottis Vaticanis, MCMLXXXIV, n. 305.
(14)
Cfr. Ibid., nn. 306-309.
(15)
Cfr. Ibid., nn. 315-316.
(16)
Cfr. Ibid., n. 319.
(17)
Rituale Romanum, Ordo Unctionis Infirmorum eorumque Pastoralis Curae, n. 3.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.