Tempo comum XV Semana
Evangelho:
Mt 12, 1-8
1 Naquele tempo, num dia de sábado, passava Jesus por umas searas, e
Seus discípulos, tendo fome, começaram a colher espigas e a comê-las. 2
Vendo isto os fariseus, disseram-Lhe: «Olha que os Teus discípulos fazem o que
não é permitido fazer ao sábado». 3 Jesus respondeu-lhes: «Não
lestes o que fez David e os seus companheiros, quando tiveram fome? 4
Como entrou na casa de Deus, e comeu os pães sagrados, dos quais não era lícito
comer, nem a ele, nem aos que com ele iam, mas só aos sacerdotes? 5
Não lestes na Lei que aos sábados os sacerdotes no templo violam o sábado e
ficam sem culpa? 6 Ora Eu digo-vos que aqui está Alguém que é maior
que o templo. 7 Se vós soubésseis o que quer dizer: “Quero
misericórdia e não sacrifício”, jamais condenaríeis inocentes. 8
Porque o Filho do Homem é senhor do próprio sábado».9 Partindo dali,
foi à sinagoga deles,10 onde se encontrava um homem que tinha
atrofiada uma das mãos; e, eles, para terem de que O acusar, perguntaram-Lhe:
«É permitido curar aos sábados?». 11 Ele respondeu-lhes: «Que homem
haverá entre vós que, tendo uma ovelha, se esta cair no dia de sábado a uma
cova, não a agarre, e não a tire de lá? 12 Ora quanto mais vale um
homem do que uma ovelha? Logo, é permitido fazer bem no dia de sábado».
Comentário:
Continua, infelizmente, a
haver muita gente – até entre os cristãos – cuja principal preocupação parece
ser o avaliar os outros e as suas acções tendo em conta os detalhes, pormenores
– os “argueiros” – portando-se como uma espécie de “guardiões” da Lei. O seu
espírito crítico sempre pronto a manifestar-se afoga qualquer boa intenção e,
mesmo, qualquer obra boa.
É uma pena! Se conhecessem
tão bem a Lei como pensam que conhecem teriam bem presente que o que lhes
deveria importar nos outros seria procurar satisfazer as suas necessidades tal
como, se têm fome… dar-lhes de comer.
(ama,
comentário sobre Mt 12, 1-8, 2014.03.16)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
CONGREGAÇÃO
PARA A DOUTRINA DA FÉ
A MENSAGEM DE FÁTIMA
APRESENTAÇÃO
Na passagem do segundo
para o terceiro milénio, o Papa João Paulo II decidiu tornar público o texto da
terceira parte do «segredo de Fátima».
Depois dos acontecimentos
dramáticos e cruéis do século XX, um dos mais tormentosos da história do homem,
com o ponto culminante no cruento atentado ao «doce Cristo na terra», abre-se
assim o véu sobre uma realidade que faz história e a interpreta na sua profundidade
segundo uma dimensão espiritual, a que é refractária a mentalidade actual,
frequentemente eivada de racionalismo.
A história está constelada
de aparições e sinais sobrenaturais, que influenciam o desenrolar dos
acontecimentos humanos e acompanham o caminho do mundo, surpreendendo crentes e
descrentes. Estas manifestações, que não podem contradizer o conteúdo da fé,
devem convergir para o objecto central do anúncio de Cristo: o amor do Pai que
suscita nos homens a conversão e dá a graça para se abandonarem a Ele com
devoção filial. Tal é a mensagem de Fátima, com o seu veemente apelo à
conversão e à penitência, que leva realmente ao coração do Evangelho.
Fátima é, sem dúvida, a
mais profética das aparições modernas. A primeira e a segunda parte do «segredo»,
que são publicadas em seguida para ficar completa a documentação, dizem
respeito antes de mais à pavorosa visão do inferno, à devoção ao Imaculado
Coração de Maria, à segunda guerra mundial, e depois ao prenúncio dos danos
imensos que a Rússia, com a sua defecção da fé cristã e adesão ao totalitarismo
comunista, haveria de causar à humanidade.
Em 1917, ninguém poderia
ter imaginado tudo isto: os três pastorinhos de Fátima veem, ouvem, memorizam,
e Lúcia, a testemunha sobrevivente, quando recebe a ordem do Bispo de Leiria e
a autorização de Nossa Senhora, põe por escrito.
Para a exposição das
primeiras duas partes do «segredo», aliás já publicadas e conhecidas, foi
escolhido o texto escrito pela Irmã Lúcia na terceira memória, de 31 de Agosto
de 1941; na quarta memória, de 8 de Dezembro de 1941, ela acrescentará qualquer
observação.
A terceira parte do
«segredo» foi escrita «por ordem de Sua Ex.cia Rev.ma o Senhor Bispo de Leiria
e da (...) Santíssima Mãe», no dia 3 de Janeiro de 1944.
Existe apenas um
manuscrito, que é reproduzido aqui fotostaticamente. O envelope selado foi
guardado primeiramente pelo Bispo de Leiria. Para se tutelar melhor o
«segredo», no dia 4 de Abril de 1957 o envelope foi entregue ao Arquivo Secreto
do Santo Ofício. Disto mesmo, foi avisada a Irmã Lúcia pelo Bispo de Leiria.
Segundo apontamentos do
Arquivo, no dia 17 de Agosto de 1959 e de acordo com Sua Eminência o Cardeal
Alfredo Ottaviani, o Comissário do Santo Ofício, Padre Pierre Paul Philippe OP,
levou a João XXIII o envelope com a terceira parte do «segredo de Fátima». Sua
Santidade, «depois de alguma hesitação», disse: «Aguardemos. Rezarei.
Far-lhe-ei saber o que decidi». (1)
Na realidade, a decisão do
Papa João XXIII foi enviar de novo o envelope selado para o Santo Ofício e não
revelar a terceira parte do «segredo».
Paulo VI leu o conteúdo
com o Substituto da Secretaria de Estado, Sua Ex.cia Rev.ma D. Ângelo
Dell'Acqua, a 27 de Março de 1965, e mandou novamente o envelope para o Arquivo
do Santo Ofício, com a decisão de não publicar o texto.
João Paulo II, por sua
vez, pediu o envelope com a terceira parte do «segredo», após o atentado de 13
de Maio de 1981. Sua Eminência o Cardeal Franjo Seper, Prefeito da Congregação,
a 18 de Julho de 1981 entregou a Sua Ex.cia Rev.ma D. Eduardo Martínez Somalo,
Substituto da Secretaria de Estado, dois envelopes: um branco, com o texto
original da Irmã Lúcia em língua portuguesa; outro cor-de-laranja, com a
tradução do «segredo» em língua italiana. No dia 11 de Agosto seguinte, o
Senhor D. Martínez Somalo devolveu os dois envelopes ao Arquivo do Santo
Ofício. (2)
Como é sabido, o Papa João
Paulo II pensou imediatamente na consagração do mundo ao Imaculado Coração de
Maria e compôs ele mesmo uma oração para o designado «Acto de Entrega», que
seria celebrado na Basílica de Santa Maria Maior a 7 de Junho de 1981,
solenidade de Pentecostes, dia escolhido para comemorar os 1600 anos do
primeiro Concílio Constantinopolitano e os 1550 anos do Concílio de Éfeso. O
Papa, forçadamente ausente, enviou uma radiomensagem com a sua alocução.
Transcrevemos a parte do texto, onde se refere exactamente o acto de entrega:
«Ó Mãe dos homens e dos
povos, Vós conheceis todos os seus sofrimentos e as suas esperanças, Vós sentis
maternalmente todas as lutas entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas, que
abalam o mundo, acolhei o nosso brado, dirigido no Espírito Santo directamente
ao vosso Coração, e abraçai com o amor da Mãe e da Serva do Senhor aqueles que
mais esperam por este abraço e, ao mesmo tempo, aqueles cuja entrega também Vós
esperais de maneira particular. Tomai sob a vossa protecção materna a família
humana inteira, que, com enlevo afectuoso, nós Vos confiamos, ó Mãe. Que se
aproxime para todos o tempo da paz e da liberdade, o tempo da verdade, da
justiça e da esperança». (3)
Mas, para responder mais
plenamente aos pedidos de Nossa Senhora, o Santo Padre quis, durante o Ano
Santo da Redenção, tornar mais explícito o acto de entrega de 7 de Junho de
1981, repetido em Fátima no dia 13 de Maio de 1982. E, no dia 25 de Março de
1984, quando se recorda o fiat pronunciado por Maria no momento da Anunciação,
na Praça de S. Pedro, em união espiritual com todos os Bispos do mundo
precedentemente «convocados», o Papa entrega ao Imaculado Coração de Maria os
homens e os povos, com expressões que lembram as palavras ardorosas
pronunciadas em 1981:
«E por isso, ó Mãe dos
homens e dos povos, Vós que conheceis todos os seus sofrimentos e as suas
esperanças, Vós que sentis maternalmente todas as lutas entre o bem e o mal,
entre a luz e as trevas, que abalam o mundo contemporâneo, acolhei o nosso
clamor que, movidos pelo Espírito Santo, elevamos directamente ao vosso Coração:
Abraçai, com amor de Mãe e de Serva do Senhor, este nosso mundo humano, que Vos
confiamos e consagramos, cheios de inquietude pela sorte terrena e eterna dos
homens e dos povos.
De modo especial Vos
entregamos e consagramos aqueles homens e aquelas nações que desta entrega e
desta consagração têm particularmente necessidade.
“À vossa protecção nos
acolhemos, Santa Mãe de Deus”! Não desprezeis as súplicas que se elevam de nós
que estamos na provação!».
Depois o Papa continua com
maior veemência e concretização de referências, quase comentando a Mensagem de
Fátima nas suas predições infelizmente cumpridas:
«Encontrando-nos hoje
diante Vós, Mãe de Cristo, diante do vosso Imaculado Coração, desejamos,
juntamente com toda a Igreja, unir-nos à consagração que, por nosso amor, o
vosso Filho fez de Si mesmo ao Pai: “Eu consagro-Me por eles — foram as suas
palavras — para eles serem também consagrados na verdade” (Jo 17, 19). Queremos
unir-nos ao nosso Redentor, nesta consagração pelo mundo e pelos homens, a
qual, no seu Coração divino, tem o poder de alcançar o perdão e de conseguir a reparação.
A força desta consagração permanece
por todos os tempos e abrange todos os homens, os povos e as nações; e supera
todo o mal, que o espírito das trevas é capaz de despertar no coração do homem
e na sua história e que, de facto, despertou nos nossos tempos.
Oh quão profundamente
sentimos a necessidade de consagração pela humanidade e pelo mundo: pelo nosso
mundo contemporâneo, em união com o próprio Cristo! Na realidade, a obra
redentora de Cristo deve ser participada pelo mundo por meio da Igreja.
Manifesta-o o presente Ano
da Redenção: o Jubileu extraordinário de toda a Igreja.
Neste Ano Santo, bendita
sejais acima de todas as criaturas Vós, Serva do Senhor, que obedecestes da
maneira mais plena ao chamamento Divino!
Louvada sejais Vós, que
estais inteiramente unida à consagração redentora do vosso Filho!
Mãe da Igreja! Iluminai o
Povo de Deus nos caminhos da fé, da esperança e da caridade! Iluminai de modo
especial os povos dos quais Vós esperais a nossa consagração e a nossa entrega.
Ajudai-nos a viver na verdade da consagração de Cristo por toda a família
humana do mundo contemporâneo.
Confiando-Vos, ó Mãe, o
mundo, todos os homens e todos os povos, nós Vos confiamos também a própria
consagração do mundo, depositando-a no vosso Coração materno.
Oh Imaculado Coração!
Ajudai-nos a vencer a ameaça do mal, que se enraíza tão facilmente nos corações
dos homens de hoje e que, nos seus efeitos incomensuráveis, pesa já sobre a
vida presente e parece fechar os caminhos do futuro!
Da fome e da guerra,
livrai-nos!
Da guerra nuclear, de uma
autodestruição incalculável, e de toda a espécie de guerra, livrai-nos!
Dos pecados contra a vida
do homem desde os seus primeiros instantes, livrai-nos!
Do ódio e do aviltamento
da dignidade dos filhos de Deus, livrai-nos!
De todo o género de
injustiça na vida social, nacional e internacional, livrai-nos!
Da facilidade em calcar
aos pés os mandamentos de Deus, livrai-nos!
Da tentativa de ofuscar
nos corações humanos a própria verdade de Deus, livrai-nos!
Da perda da consciência do
bem e do mal, livrai-nos!
Dos pecados contra o
Espírito Santo, livrai-nos, livrai-nos!
Acolhei, ó Mãe de Cristo,
este clamor carregado do sofrimento de todos os homens! Carregado do sofrimento
de sociedades inteiras!
Ajudai-nos com a força do
Espírito Santo a vencer todo o pecado: o pecado do homem e o “pecado do mundo”,
enfim o pecado em todas as suas manifestações.
Que se revele uma vez
mais, na história do mundo, a força salvífica infinita da Redenção: a força do
Amor misericordioso! Que ele detenha o mal! Que ele transforme as consciências!
Que se manifeste para todos, no vosso Imaculado Coração, a luz da Esperança!». (4)
A Irmã Lúcia confirmou
pessoalmente que este acto, solene e universal, de consagração correspondia
àquilo que Nossa Senhora queria: «Sim, está feita tal como Nossa Senhora a
pediu, desde o dia 25 de Março de 1984» (carta de 8 de Novembro de 1989). Por
isso, qualquer discussão e ulterior petição não tem fundamento.
Na documentação
apresentada, para além das páginas manuscritas da Irmã Lúcia inserem-se mais
quatro textos: 1) A carta do Santo Padre à Irmã Lúcia, datada de 19 de Abril de
2000; 2) Uma descrição do colóquio que houve com a Irmã Lúcia no dia 27 de
Abril de 2000; 3) A comunicação lida, por encargo do Santo Padre, por Sua Eminência
o Cardeal Ângelo Sodano, Secretário de Estado, em Fátima no dia 13 de Maio
deste ano; 4) O comentário teológico de Sua Eminência o Cardeal Joseph
Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
Uma orientação para a
interpretação da terceira parte do «segredo» tinha sido já oferecida pela Irmã
Lúcia, numa carta dirigida ao Santo Padre a 12 de Maio de 1982, onde dizia:
«A terceira parte do
segredo refere-se às palavras de Nossa Senhora: “Se não, [a Rússia] espalhará
os seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons
serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão
aniquiladas” (13-VII-1917).
A terceira parte do
segredo é uma revelação simbólica, que se refere a este trecho da Mensagem,
condicionada ao facto de aceitarmos ou não o que a Mensagem nos pede: “Se
atenderem a meus pedidos, a Rússia converter-se-á e terão paz; se não,
espalhará os seus erros pelo mundo, etc”.
Porque não temos atendido
a este apelo da Mensagem, verificamos que ela se tem cumprido, a Rússia foi
invadindo o mundo com os seus erros. E se não vemos ainda, como facto
consumado, o final desta profecia, vemos que para aí caminhamos a passos
largos. Se não recuarmos no caminho do pecado, do ódio, da vingança, da
injustiça atropelando os direitos da pessoa humana, da imoralidade e da
violência, etc.
E não digamos que é Deus
que assim nos castiga; mas, sim, que são os homens que para si mesmos se
preparam o castigo. Deus apenas nos adverte e chama ao bom caminho, respeitando
a liberdade que nos deu; por isso os homens são responsáveis». (5)
A decisão tomada pelo
Santo Padre João Paulo II de tornar pública a terceira parte do «segredo» de
Fátima encerra um pedaço de história, marcado por trágicas veleidades humanas
de poder e de iniquidade, mas permeada pelo amor misericordioso de Deus e pela
vigilância cuidadosa da Mãe de Jesus e da Igreja.
Acção de Deus, Senhor da
história, e corresponsabilidade do homem, no exercício dramático e fecundo da
sua liberdade, são os dois alicerces sobre os quais se constrói a história da
humanidade.
Ao aparecer em Fátima,
Nossa Senhora faz-nos apelo a estes valores esquecidos, a este futuro do homem
em Deus, do qual somos parte activa e responsável.
tarcisio bertone,
SDB
Arcebispo
emérito de Vercelli
Secretário
da Congregação para a Doutrina da Fé
(cont.)
_____________________
Notas:
(1)
Lê-se no diário de João XXIII, a 17 de Agosto de 1959: «Audiências: P.
Philippe, Comissário do S.O., que me traz a carta que contém a terceira parte
dos segredos de Fátima. Reservo-me de a ler com o meu Confessor».
(2)
Vale a pena recordar o comentário feito pelo Santo Padre, na Audiência Geral de
14 de Outubro de 1981, sobre «O acontecimento de Maio: grande prova divina»,
em: Insegnamenti di Giovanni Paolo II, IV‑2
(Città del Vaticano 1981), 409-412; cf. L'Osservatore
Romano (ed. portuguesa de 18-X-1981), 484.
(3)
Radiomensagem durante o rito, na Basílica de Santa Maria Maior, «Veneração,
agradecimento, entrega à Virgem Maria Theotokos», em: Insegnamenti di Giovanni
Paolo II, IV-1 Città del Vaticano 1981), 1246; cf. L'Osservatore Romano (ed.
portuguesa de 14-VI-1981), 302.
(4)
Na Jornada Jubilar das Famílias, o Papa entrega a Nossa Senhora os homens e as
nações: Insegnamenti di Giovanni Paolo II, VII-1 (Città del Vaticano 1984),
775-777; cf. L'Osservatore Romano (ed. portuguesa de 1-IV-1984), 157 e 160.