Tempo Comum III Semana
Conversão
de São Paulo
Evangelho: Mc 1 14-20
14 Escolheu doze para que andassem com Ele e para os
enviar a pregar, 15 com poder de expulsar os demónios: 16
Simão, a quem pôs o nome de Pedro; 17 Tiago, filho de Zebedeu, e
João, irmão de Tiago, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer “filhos
do trovão”; 18 e André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago,
filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o Cananeu, 19 e Judas Iscariotes, que
foi quem O entregou. 20 Depois, foi para casa e de novo acorreu
tanta gente, que nem sequer podiam tomar alimento
Comentário:
Quem escolhe e quem é
escolhido, este é, desde sempre, um dos dilemas do homem.
A missão de cada um,
aquilo que se espera que faça, que valor tem?
Se entendermos missão
como vocação será mais evidente que o homem não é um ser isolado e que as suas
acções têm sempre uma consequência.
Se dentro do que se
espera... construtivas, se separadas do contexto ou fruto de decisão egoísta,
destinadas ao falhanço e sem aproveitamento.
Ser escolhido será uma
honra tanto maior quanto o for a resposta pessoal à escolha e, se se entender
que escolha significa selecção, fica-se com uma ideia clara da honra que
reveste e da responsabilidade que implica.
De facto, podemos
pensar que somos ‘seleccionados’ por Deus para fazer parte da Sua ‘equipa’
destinada a levar de vencida os desafios do mundo e assegurar a conquista do
maior troféu que imaginar se possa: a vida eterna no seio de Deus, com a
Santíssima Virgem, os Santos e os Anjos!
(ama, comentário sobre Mc 1, 14-20,
Esposende, 1012.01.22)
Leitura espiritual
São Josemaria Escrivá
Temas actuais do
cristianismo [i]
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Poderia
dizer se, ou até que ponto, tem o Opus Dei em Espanha uma orientação económica
ou política? Em caso afirmativo, poderia defini-la?
O
Opus Dei não tem nenhuma orientação económica ou política, nem em Espanha nem
em nenhum outro sítio. É certo que, movidos pela doutrina de Cristo, os seus
sócios defendem sempre a liberdade pessoal, o direito que todos os homens têm a
viver e a TRABALHAR, a ser protegidos durante a doença e na velhice, a
constituir um lar e a trazer filhos ao mundo, a educar esses filhos de acordo
com o talento de cada um e a receber um tratamento digno de homens e de cidadãos.
Mas
a Obra não lhes propõe nenhum caminho concreto no campo económico, político ou
cultural. Cada um dos seus membros tem plena liberdade para pensar e actuar
nessas matérias como melhor lhe parecer. Em tudo aquilo que é temporal, os
sócios da Obra são libérrimos: cabem no Opus Dei pessoas de todas as tendências
políticas, culturais, sociais e económicas que a consciência cristã possa
admitir.
Eu
nunca falo de política. A minha missão como sacerdote é exclusivamente
espiritual. Além disso, mesmo que alguma vez exprimisse uma opinião em assuntos
temporais, os sócios da Obra não teriam nenhuma obrigação de a seguir.
Nunca
os directores da Obra podem impor um critério político ou profissional aos
outros membros. Se algum vez um sócio do Opus Dei tentasse fazê-lo, ou
servir-se dos outros sócios para fins humanos, seria expulso sem contemplações
porque os outros se revoltariam legitimamente.
Nunca
perguntei, nem perguntarei, a nenhum sócio da Obra de que partido é ou que
doutrina política defende, porque isso me parece um atentado à sua legítima
liberdade. E o mesmo fazem os directores da Obra em todo o mundo.
Sei
contudo que entre os sócios da Obra - em Espanha como em qualquer outro país -
há de facto grande variedade de opiniões, e nada tenho a dizer em contrário.
Respeito-as todas, como respeitarei qualquer opção temporal tomada por um homem
que se esforça por actuar segundo a sua consciência.
Esse
pluralismo não constitui um problema para a Obra. Pelo contrário, é uma
manifestação de bom espírito, que patenteia a legítima liberdade de cada um.
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É
um mito, uma meia-verdade ou uma realidade que o Opus Dei se converteu, em
Espanha, num potentado político e económico, através das posições que os seus
membros ocupam no mundo da política e da economia?
É
simplesmente um erro. A maioria dos membros da Obra são pessoas de condição
social mediana ou mesmo modesta: operários, empregados de escritório,
trabalhadores do campo, empregadas domésticas, professores, etc. Há também
alguns - muito menos - que exercem a sua profissão no mundo da política e da
economia. Tanto uns como outros actuam a título exclusivamente pessoal, com
plena autonomia, e respondem pessoalmente pelas suas actuações.
Os
fins do Opus Dei são exclusivamente espirituais. A todos os seus sócios,
exerçam ou não uma especial influência social, só lhes pede que lutem por viver
uma vida plenamente cristã: não lhes dá nenhuma orientação sobre o modo de
realizar o seu TRABALHO; não tenta coordenar as suas actividades; não se serve
dos cargos que possam ocupar.
A
Obra poderia comparar-se a um clube desportivo ou a uma associação de fins
beneficentes, no sentido de que nada tem a ver com as actividades políticas ou
económicas que os seus sócios possam exercer.
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Se,
como pretendem os seus sócios, o Opus Dei é simplesmente uma associação
religiosa, em que cada indivíduo é livre de seguir as suas opiniões, como
explica a convicção, muito espalhada, de que o Opus Dei é uma organização
monolítica, com posições bem definidas em assuntos temporais?
Não
me parece que esta opinião esteja realmente muito difundida. Bastantes dos
órgãos mais qualificados da imprensa internacional reconheceram já o pluralismo
dos sócios da Obra.
Houve
de facto algumas pessoas que defenderam a opinião errónea a que se refere. É
possível que alguns, por diversos motivos, tenham difundido tal ideia, mesmo
sabendo que não corresponde à realidade. Penso que, em muitos outros casos,
isso se pode atribuir à falta de conhecimento, ocasionado talvez por
deficiência de informação: não estando bem informadas, não é de estranhar que
as pessoas que não têm suficiente interesse por entrarem em contacto pessoal
com o Opus Dei e por se informarem bem, atribuam à Obra, como tal, as opiniões
de alguns sócios.
O
que é certo é que ninguém medianamente informado sobre os assuntos espanhóis
pode desconhecer a realidade do pluralismo existente entre os sócios da Obra.
Você mesmo poderia citar com certeza muitos exemplos.
Outro
factor pode ser o preconceito subconsciente de pessoas que têm mentalidade de
partido único, no campo político ou no espiritual. Para quem tem esta
mentalidade e pretende que todos opinem do mesmo modo que ele, é difícil
acreditar que haja quem seja capaz de respeitar a liberdade dos outros.
Atribuem assim à Obra o carácter monolítico que têm os seus próprios grupos.
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Pensa-se
geralmente que o Opus Dei, como organização, maneja uma considerável força
económica. Uma vez que o Opus Dei dirige de facto actividades de tipo
educativo, beneficente, etc., poderia explicar-nos como administra o Opus Dei
essas actividades, isto é, como obtém os meios económicos, como os coordena e
distribui?
Efectivamente,
em todos os países onde trabalha, o Opus Dei dirige actividades sociais,
educativas e beneficentes. Não é este, porém, o principal trabalho da Obra;
aquilo que o Opus Dei pretende é que haja muitos homens e mulheres que procurem
ser bons cristãos e, portanto, testemunhas de Cristo no meio das suas ocupações
habituais. Os centros a que se refere têm precisamente esta finalidade. Por
isso a eficácia de todo o nosso trabalho fundamenta-se na graça de Deus e numa
vida de oração, trabalho e sacrifício. Mas não há dúvida que qualquer
actividade educativa, social ou de beneficência tem de servir-se de meios
económicos.
Cada
centro se financia do mesmo modo que qualquer outro da sua espécie. As
residências de estudantes, por exemplo, contam com as mensalidades que pagam os
residentes; os colégios, com as propinas dos alunos; as escolas agrícolas, com
a venda dos seus produtos, etc. É evidente, contudo, que estas receitas quase
nunca são suficientes para cobrir todas as despesas de um centro, e menos ainda
tendo em conta que todas as iniciativas do Opus Dei são pensadas com um critério
apostólico e que a maioria delas se dirige a pessoas de escassos recursos
económicos, que, muitas vezes, pagam pela formação que se lhes proporciona
quantias meramente simbólicas.
Para
tornar possíveis essas actividades conta-se também com o contributo dos sócios
da Obra, que a elas destinam parte do dinheiro que ganham com o seu trabalho
profissional, mas sobretudo com a ajuda de muitas pessoas que, embora sem
pertencerem ao Opus Dei, estão dispostas a colaborar em tarefas de
transcendência social e educativa. Os que trabalham em cada centro procuram fomentar
em cada uma das pessoas o zelo apostólico, a preocupação social, o sentido
comunitário que os levam a colaborar activamente na realização desses
empreendimentos. Como se trata de trabalhos feitos com seriedade profissional,
que correspondem a necessidades reais da sociedade, na maioria dos casos a
resposta tem sido generosa. A Universidade de Navarra, por exemplo, tem uma
Associação de Amigos com cerca de 12.000 membros.
O
financiamento de cada centro é autónomo. Cada um funciona com independência e
procura encontrar os fundos necessários entre pessoas interessadas naquele
actividade concreta.
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Aceitaria
a afirmação de que o Opus Dei "controla" de facto determinados
bancos, empresas, jornais, etc.? Se assim é, que significa "controle"
neste caso?
Há
alguns sócios do Opus Dei - bastante menos do que alguma vez se terá dito - que
exercem o seu trabalho profissional na direcção de empresas de diverso tipo.
Uns dirigem empresas familiares que herdaram dos seus pais. Outros estão à
frente de sociedades que fundaram, sós ou unidos a outras pessoas da mesma
profissão. Outros, pelo contrário, foram nomeados gerentes de alguma empresa
pelos respectivos donos, que confiaram na sua capacidade e conhecimentos. Podem
ter alcançado os cargos que ocupam por qualquer dos caminhos honestos que uma
pessoa costuma percorrer para chegar a uma posição desse tipo. Quer dizer: isto
nada tem a ver com o facto de pertencerem à Obra.
Os
directores de empresa que fazem parte do Opus Dei procuram, como todos os sócios,
viver o espírito evangélico no exercício da sua profissão. Isto exige-lhes, em
primeiro lugar, que vivam escrupulosamente a justiça e a honestidade.
Procurarão, portanto, fazer o seu trabalho honradamente: pagar um salário justo
aos seus empregados, respeitar os direitos dos accionistas ou proprietários e
da sociedade, e cumprir todas as leis do país. Evitarão qualquer espécie de
partidarismos ou favoritismos em relação a outras pessoas, sejam elas ou não
sócios do Opus Dei. Entendo que o favoritismo seria contrário, não já à busca
de plenitude de vida cristã - que é o motivo por que se ingressa na Obra, mas
às exigências mais elementares da moral evangélica.
Já
se falou atrás da liberdade absoluta de que gozam todos os sócios da Obra no
seu trabalho profissional. Isto quer dizer que os sócios da Obra que dirigem
empresas de qualquer tipo fazem-no de acordo com o seu critério pessoal, sem
receber nenhuma orientação dos directores sobre o modo de realizar o seu
trabalho. Tanto a política económica e financeira que seguem na gestão da
empresa, como a orientação ideológica, no caso de uma empresa ligada à opinião
pública, é da sua exclusiva responsabilidade.
Toda
a apresentação do Opus Dei como uma central de directrizes e orientações
temporais ou económicas carece de fundamento.
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Como
está organizado o Opus Dei [*] em Espanha? Como está estruturado o seu governo
e como funciona? Intervém V. Rev.ª pessoalmente nas actividades do Opus Dei em
Espanha?
O
trabalho de direcção no Opus Dei é sempre colegial, nunca pessoal. Detestamos a
tirania, que é contrária à dignidade humana. Em cada país a direcção do nosso
trabalho é da competência de uma comissão, composta na sua maior parte por
leigos de diversas profissões, e presidida pelo Conselheiro do Opus Dei no
país. Em Espanha o Conselheiro é o Rev.º P.e Dr. Florencio Sánchez Bella.
Como
o Opus Dei é uma organização sobrenatural e espiritual, o seu governo limita-se
a dirigir e a orientar o trabalho apostólico, com exclusão de qualquer tipo de
finalidade temporal. A direcção da Obra, não só respeita a liberdade dos seus
membros, como lhes faz tomar viva consciência dela. Para conseguir a perfeição
cristã na profissão ou no ofício que cada um exerce, os membros da Obra
necessitam de estar formados de modo que saibam administrar a sua liberdade:
com presença de Deus, com piedade sincera, com doutrina. Esta é a missão
fundamental dos directores da nossa Obra: tornar acessível a todos os sócios o
conhecimento e a prática da fé cristã, para que a tornem realidade na sua vida,
cada um com plena autonomia. Sem dúvida que é necessária, pelo que se refere ao
terreno estritamente apostólico, uma certa coordenação mas ainda aqui a
coordenação se limita ao mínimo indispensável para facilitar a criação de
centros educativos, sociais ou de beneficência, que realizam um eficaz serviço
cristão.
Os
mesmos princípios que acabo de expor se aplicam ao governo central da Obra. Eu
não governo sozinho. As decisões são tomadas no Conselho Geral do Opus Dei, que
tem a sua sede em Roma e é composto actualmente por pessoas de catorze países.
O Conselho Geral limita-se por seu lado a dirigir, em linhas fundamentais, o
apostolado da Obra em todo o mundo, deixando uma amplíssima margem de
iniciativa aos Directores de cada país. Na Secção Feminina existe um regime
análogo. Do seu Conselho Central fazem parte associadas de doze nacionalidades.
[*]
Cfr. a nota do n.º 35
(cont)
[i]
Entrevista
realizada por Tad Szulc, correspondente do New York Times, em 7 de Outubro de
1966.