19/10/2016

Ser cada um outro Cristo

Custou-te muito ir afastando e esquecendo as tuas preocupaçõezitas, os teus sonhos pessoais, pobres e poucos, mas enraizados. Agora, pelo contrário, estás bem seguro de que o teu entusiasmo e a tua ocupação são os teus irmãos, e só eles, porque aprendeste a descobrir Jesus Cristo no próximo. (Sulco, 765)

Se não queremos desperdiçar o tempo inutilmente – nem sequer com falsas desculpas das dificuldades exteriores do ambiente, que nunca faltaram desde o princípio do cristianismo – devemos ter muito presente que, de um modo normal, Jesus Cristo vinculou à vida interior a eficácia da nossa acção para arrastar os que nos rodeiam. Cristo pôs a santidade como condição para a eficácia da acção apostólica; corrijo-me, o esforço da nossa fidelidade, porque na terra nunca seremos santos. Parece inacreditável, mas Deus e os homens precisam que, da nossa parte, haja uma fidelidade sem condições, sem eufemismos, que chegue até às últimas consequências, sem mediocridade ou concessões, em plenitude de vocação cristã assumida e praticada com delicadeza.

Talvez entre vocês algum esteja a pensar que me refiro exclusivamente a um sector de pessoas selectas. Não se deixem enganar tão facilmente, movidos pela cobardia ou pelo comodismo. Pelo contrário, que cada um sinta a urgência divina de ser outro Cristo, ipse Christus, o próprio Cristo; em poucas palavras, a urgência de que a nossa conduta seja coerente com as normas da fé, pois a nossa santidade – a que temos de aspirar – não é uma santidade de segunda categoria, que não existe. (Amigos de Deus, 5–6)


Evangelho e comentário


Tempo Comum

Evangelho: Lc 12, 39-48

39 Sabei que, se o pai de família soubesse a hora em que viria o ladrão, vigiaria sem dúvida e não deixaria arrombar a sua casa. 40 Vós, pois, estai preparados porque, na hora que menos pensais, virá o Filho do Homem». 41 Pedro disse-lhe: «Senhor, dizes esta parábola só para nós ou para todos?». 42 O Senhor respondeu: «Quem é o administrador fiel e prudente que o senhor estabelecerá sobre as pessoas da sua casa, para dar a cada um, a seu tempo, a ração alimentar? 43 Bem-aventurado aquele servo a quem o senhor, quando vier, achar procedendo assim. 44 Na verdade vos digo que o constituirá administrador de tudo quanto possui. 45 Porém, se aquele servo disser no seu coração: O meu senhor tarda em vir, e começar a espancar os criados e as criadas, a comer, a beber e a embriagar-se, 46 chegará o senhor desse servo, no dia em que ele não o espera, e na hora em que ele não sabe; castigá-lo-á severamente e pô-lo-á à parte com os infiéis. 47 Aquele servo, que conheceu a vontade do seu senhor e nada preparou, e não procedeu conforme a sua vontade, levará muitos açoites. 48 Quanto àquele que, não a conhecendo, fez coisas dignas de castigo, levará poucos açoites. Porque a todo aquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e aquele a quem muito confiaram, mais contas lhe pedirão.

Comentário:

Novamente o aviso solene:
«a todo aquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e aquele a quem muito confiaram, mais contas lhe pedirão» que nos deve levar a pensar muito a sério como estamos dando conta do “nosso recado”, isto é:

Como administramos o que nos é confiado;
Se não nos apropriamos do que é dos outros;
Se somos justos na distribuição do que recebemos;
Se trabalhamos o melhor que podemos e sabemos fazendo render o que nos foi confiado sejam bens físicos, intelectuais, aptidões físicas de toda a ordem.

As contas são simples de fazer, não as manipulemos na vã tentativa de enganar Aquele a Quem temos de as prestar.

(ama, comentário sobre Lc 12, 39-48, 17.08.2010)







Leitura espiritual

Leitura Espiritual


Amigos de Deus



São Josemaria Escrivá

151
        
Os paus pintados de vermelho

Ficaram bem gravados na minha cabeça de menino aqueles sinais que, nas montanhas da minha terra, colocavam nas bermas dos caminhos.
Chamaram-me a atenção uns paus altos, geralmente pintados de vermelho.
Explicaram-me então que, quando a neve cai e cobre os caminhos, sementeiras e pastos, bosques, rochedos e barrancos, essas estacas saltam à vista como pontos de referência seguros.
E assim toda a gente sabe sempre por onde vai o caminho.

Na vida interior acontece uma coisa parecida.
Há primaveras e verões, mas também chegam os invernos, dias sem sol e noites órfãs de lua.
Não podemos permitir que a intimidade com Jesus Cristo dependa do nosso estado de espírito ou das mudanças do nosso carácter.
Essas atitudes são sinal de egoísmo, de comodismo e, evidentemente, não se coadunam com o amor.

Por isso, nos momentos de nevão e de borrasca, algumas práticas de piedade sólidas, nada sentimentais, bem arreigadas e ajustadas às circunstâncias próprias de cada um, serão como os tais paus pintados de vermelho, que continuam a marcar-nos o rumo, até que o Senhor decida que brilhe de novo o sol, se derreta o gelo e o coração volte a vibrar, inflamado com um fogo que, na realidade, nunca esteve apagado - foi apenas um rescaldo oculto pela cinza de uma temporada de provação, de menos empenho ou de reduzido sacrifício.

152
         
Não oculto que, ao longo destes anos, houve quem viesse ter comigo e me dissesse, compungido pela dor: Padre, não sei o que se passa comigo, sinto--me cansado e frio; a minha piedade, que dantes era tão segura e simples, parece-me uma comédia...
Pois aos que passam por essa situação e a todos vós respondo: uma comédia?
Magnífico!
O Senhor está a brincar connosco como um pai com os filhos.

Lê-se na Escritura: Iudens in orbe terrarum, que Ele brinca em toda a superfície da terra.
Mas Deus não nos abandona, porque imediatamente acrescenta: deliciæ meæ esse cum filiis hominum, a minha delícia é estar com os filhos dos homens.
O Senhor brinca connosco.
E quando nos parecer que estamos a representar uma comédia, por nos sentirmos gelados e apáticos, quando estivermos aborrecidos e sem vontade de fazer nada, quando nos custar cumprir o nosso dever e alcançar as metas espirituais que nos tínhamos proposto, é altura de pensar que Deus brinca connosco e espera então que saibamos representar a nossa comédia com galhardia.

Não me importo de vos contar que, em algumas ocasiões, o Senhor me concedeu muitas graças, mas que geralmente vou a contrapelo.
Prossigo o meu plano de vida, não porque me agrade, mas porque devo fazê-lo por Amor.
Mas, Padre, pode-se representar uma comédia diante de Deus?
Não será uma hipocrisia?
Não te inquietes, pois chegou para ti o momento de entrares numa comédia humana que tem um espectador divino.
Persevera, pois o Pai, o Filho e o Espírito Santo assistem a essa tua comédia.
Faz tudo por amor de Deus, para lhe agradar, mesmo que te custe.

Que bonito é ser jogral de Deus!
Como é belo representar essa comédia por Amor, com sacrifício, sem nenhuma satisfação pessoal, para agradar ao nosso Pai Deus, que brinca connosco!
Põe-te diante do Senhor e diz-lhe confiadamente: não me apetece nada fazer isto, mas oferecê-lo-ei por Ti.
E ocupa-te a sério desse trabalho, ainda que penses que é uma comédia.
Abençoada comédia!
Garanto-te que não se trata de hipocrisia, porque os hipócritas, para os seus fingimentos, necessitam de público.
Pelo contrário, os espectadores desta nossa comédia, deixa-me repetir-to, são o Pai, o Filho e o Espírito Santo; a Virgem Santíssima, S. José e todos os Anjos e Santos do Céu.
Na nossa vida interior não há outro espectáculo senão esse: é Cristo que passa quasi in occulto, ocultamente.

153
        
Iubilate Deo.
Exsultate Deo adiutori nostro.
Louvai a Deus.
Exultai de alegria no Senhor, nossa única ajuda.
Jesus, quem não compreende isto, não conhece nada de amores, nem de pecados, nem mesmo de misérias!
Eu sou um pobre homem e entendo de pecados, de amores e de misérias.
Sabeis o que é elevar-se até ao coração de Deus?
Compreendeis o que é uma alma pôr-se diante do Senhor, abrir-lhe o coração e contar-lhe as suas queixas?
Eu queixo-me, por exemplo, quando leva para junto d'Ele gente nova, que ainda o poderia servir e amar muitos anos na terra, porque não consigo compreender isso.
Mas são gemidos de confiança, pois sei que, se me afastasse dos braços de Deus, logo a seguir tropeçaria.
Por isso, acrescento imediatamente, devagar, enquanto aceito os desígnios do Céu: faça-se, cumpra-se, seja louvada e eternamente glorificada a justíssima e amabilíssima Vontade de Deus sobre todas as coisas. Amen. Amen.

Este é o modo de proceder que nos ensina o Evangelho, a habilidade mais santa e a fonte de eficácia no apostolado; este é o manancial do nosso amor e da nossa paz de filhos de Deus, a via pela qual podemos transmitir aos homens carinho e serenidade.
Só assim conseguiremos acabar os nossos dias no Amor, tendo santificado o nosso trabalho, procurando aí a felicidade escondida das coisas de Deus.
Conduzir-nos-emos com a santa desvergonha das crianças e rejeitaremos a vergonha - a hipocrisia - dos adultos, que receiam voltar para o Pai, depois do fracasso de uma queda.

Termino com a saudação do Senhor que se lê hoje no Santo Evangelho: pax vobis!
A paz seja convosco...
E encheram-se de alegria os discípulos, ao ver o Senhor, esse Senhor que nos acompanha até ao Pai.

154
        
Aqui estamos, consummati in unum, em unidade de petição e de intenções, dispostos a começar este tempo de conversa com o Senhor com renovado desejo de sermos instrumentos eficazes nas suas mãos.
Diante de Jesus Sacramentado - como gosto de fazer um acto de fé explícita na presença real do Senhor na Eucaristia! - fomentai nos vossos corações o desejo de transmitir, pela vossa oração, um impulso fortíssimo que chegue a todos os lugares da terra, até ao último recanto do planeta, onde houver alguém gastando a sua existência ao serviço de Deus e das almas.
Com efeito, graças à inefável realidade da Comunhão dos Santos, somos solidários - cooperadores, diz S. João - na tarefa de difundir a verdade e a paz do Senhor.

É lógico que pensemos no nosso modo de imitar o Mestre; que nos detenhamos a reflectir sobre isso, para aprendermos directamente da vida do Senhor algumas das virtudes que devem resplandecer na nossa conduta, se aspiramos deveras a estender o reinado de Cristo.

155
         
A prudência, virtude necessária

Na passagem do Evangelho de S. Mateus da missa de hoje, lemos: tunc abeuntes pharisæi, consilium inierunt ut caperent eum in sermone, reuniram-se os fariseus a fim de combinarem entre si como poderiam apanhar Jesus nas suas palavras.
Não esqueçais que este sistema, próprio dos hipócritas, continua a ser táctica corrente no nosso tempo.
Julgo que a erva má dos fariseus nunca se extinguirá do mundo; tem gozado sempre de uma prodigiosa fecundidade.
Talvez o Senhor permita que ela cresça para nos tornar prudentes, a nós, seus filhos, porque a virtude da prudência é imprescindível para quem quer que tenha de dar critério, de fortalecer, de corrigir, de animar, de alentar os outros.
Aliás, qualquer cristão deve actuar em relação aos que o rodeiam precisamente assim, como apóstolo, aproveitando as circunstâncias do seu trabalho quotidiano.

Levanto neste momento o coração a Deus e peço, por mediação da Virgem Santíssima - que está na Igreja, mas sobre a Igreja: entre Cristo e a Igreja, para proteger, reinar e ser Mãe dos homens, como o é de Jesus, Senhor Nosso-; peço que conceda a prudência a todos nós, mas especialmente àqueles que, metidos na torrente circulatória da sociedade, desejam trabalhar por Deus.
Realmente, convém-nos aprender a ser prudentes.

156
         
Continua o episódio evangélico: e enviaram discípulos seus (dos fariseus) juntamente com alguns herodianos, que lhe disseram: Mestre.... vede com que intenção retorcida lhe chamam Mestre; fingem-se admiradores e amigos, dão-lhe um tratamento reservado à autoridade de quem se espera receber ensinamentos.
Magister, scimus quia verax es, sabemos que és verdadeiro...
Que astúcia tão infame!
Já vistes maior duplicidade?
Andai por este mundo com cuidado.
Não sejais desconfiados; mas deveis sentir sobre os vossos ombros - recordando a imagem do Bom Pastor que aparece nas catacumbas - o peso dessa ovelha, que não é uma alma apenas, mas a Igreja inteira, a Humanidade inteira.

Ao mesmo tempo que aceitais com brio esta responsabilidade, haveis de ser audazes e haveis de ser prudentes para defender e proclamar os direitos de Deus.
E então, pela integridade do vosso comportamento, muitos vos considerarão e vos chamarão mestres, sem vós o pretenderdes, pois não procuramos a glória terrena.
Mas não estranheis se, entre tantos que se aproximam de vós, se infiltrarem alguns que só pretendem adular-vos.
Gravai nas vossas almas o que me tendes ouvido repetidas vezes: nem as calúnias, nem as murmurações, nem os respeitos humanos, nem o que dirão, nem muito menos os louvores hipócritas nos hão-de impedir jamais de cumprir o nosso dever.

(cont)


Líderes anglicanos contra el matrimonio gay



Líderes anglicanos de África, Asia y Sudamérica, firmes en un documento contra el matrimonio gay

Sofrimento, presente de Deus? - 5

Sofrimento, presente de Deus?

…/5

Tenho encontrado muitas pessoas esmagadas pela dor e interiormente felizes. Uma das frases que me ajudam a compreender o sentido da dor é de Santa Teresinha:

Cheguei a um ponto em que o sofrimento me dá alegria”.

A alegria de participar ativamente da paixão de Jesus.
É o amor que leva a dar toda a vida pelo outro.
É o amor do Pai que envia seu Filho Jesus.
É o amor do Espírito Santo que consagra Jesus na sua missão e o amor de Jesus que dá toda a sua vida para nossa libertação e salvação.
A força do amor é sempre maior do que qualquer sofrimento e, no amor, o sofrimento se faz alegria e vida.

O amor por Jesus gera os mártires da Igreja em todos os tempos e em todos os lugares do mundo.

O sofrimento é possível entender na dimensão do amor: “Não há maior amor do que dar a vida por aquele que se ama”.

O servo sofredor de Javé, o Cordeiro manso levado ao matadouro apresentado por Isaías torna-se realidade na pessoa do Verbo encarnado que, por amor, não volta atrás, mas oferece o seu rosto para que lhe arranquem a barba.
Quando o peso das minhas “cruzinhas” se faz pesado aos meus frágeis ombros, o que mais gosto é de contemplar o crucifixo e saber que Ele, o Cristo, por amor morreu por mim. É nesse momento que a dor se faz leve e fonte de uma alegria imensa e incompreensível.

O sofrimento não me é desconhecido. Nele encontro a minha alegria, porque na cruz se encontra Jesus e Ele é amor. E que importa sofrer quando se ama?” [i]

(cont)

(Revisão da versão portuguesa por ama)

James Stevens  COMUNIDADE SHALOM  13 DE OUTUBRO DE 2016
Ross Gordon Henry




[i] (Santa Teresa de los Andes)

CHOVE LÁ FORA!

Chove lá fora!

Por momentos apetecia-me sair para a rua e deixar que a água da chuva me encharcasse por completo, sentir a água da chuva na cara, no cabelo, em todo o meu corpo.
Quase como uma lavagem revigorante em toda a minha pele!

Depois penso: E por dentro de ti, pelo teu interior? Como poderás tu lavar o teu interior? Como poderás tu revigorar o teu íntimo, o teu ser?

Ouço então uma voz que me diz ao coração: Eu sou a fonte da água viva!

«Se conhecesses o dom que Deus tem para dar e quem é que te diz: 'dá-me de beber', tu é que lhe pedirias, e Ele havia de dar-te água viva!» Jo 4, 10

Ah, Senhor, deixa que me lave na Tua água!
Inunda, Senhor, todo o meu ser, com a água viva que Tu és!
Lava o meu coração!
Lava os meus pensamentos!
Lava o meu sentir e o meu agir!
Lava o meu falar, o meu ouvir, o meu olhar!
Lava-me de mim, Senhor, para que me possa “vestir” de Ti em tudo e para todos!

Chove lá fora!
Mas ainda melhor, chove dentro de mim!

Obrigado, Senhor!


Monte Real, 12 de Outubro de 2016

joaquim mexia alves

Pequena agenda do cristão


Quarta-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:

Simplicidade e modéstia.


Senhor, ajuda-me a ser simples, a despir-me da minha “importância”, a ser contido no meu comportamento e nos meus desejos, deixando-me de quimeras e sonhos de grandeza e proeminência.


Lembrar-me:
Do meu Anjo da Guarda.


Senhor, ajuda-me a lembrar-me do meu Anjo da Guarda, que eu não despreze companhia tão excelente. Ele está sempre a meu lado, vela por mim, alegra-se com as minhas alegrias e entristece-se com as minhas faltas.

Anjo da minha Guarda, perdoa-me a falta de correspondência ao teu interesse e protecção, a tua disponibilidade permanente. Perdoa-me ser tão mesquinho na retribuição de tantos favores recebidos.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?