Tempo comum XXIII Semana
Evangelho: Mt 22 1-14
1 Jesus, tomando a palavra, voltou a falar-lhes em parábolas ,2
dizendo: «O Reino dos Céus é semelhante a um rei, que preparou o banquete de
bodas para seu filho. 3 Mandou os seus servos chamar os convidados
para as bodas, mas eles não quiseram ir. 4 Enviou de novo outros
servos, dizendo: “Dizei aos convidados: Eis que preparei o meu banquete, os
meus touros e animais cevados já estão mortos, e tudo está pronto; vinde às
núpcias”. 5 Mas eles desprezaram o convite e foram-se, um para a sua
casa de campo e outro para o seu negócio. 6 Outros lançaram mão dos
servos que ele enviara, ultrajaram-nos e mataram-nos. 7 «O rei,
tendo ouvido isto, irou-se e, enviando os seus exércitos, exterminou aqueles
homicidas, e incendiou-lhes a cidade. 8 Então disse aos servos: “As
bodas, com efeito, estão preparadas, mas os convidados não eram dignos. 9
Ide, pois, às encruzilhadas dos caminhos e a quantos encontrardes convidai-os
para as núpcias”. 10 Tendo saído os seus servos pelos caminhos, reuniram
todos os que encontraram, maus e bons; e a sala das bodas ficou cheia de
convidados. 11 «Entrando depois o rei para ver os que estavam à
mesa, viu lá um homem que não estava vestido com o traje nupcial. 12
E disse-lhe: “Amigo, como entraste aqui, não tendo o traje nupcial?”. Ele,
porém, emudeceu. 13 Então o rei disse aos seus servos: “Atai-o de
pés e mãos e lançai-o nas trevas lá de fora, aí haverá choro e ranger de
dentes. 14 Porque são muitos os chamados mas poucos os escolhidos”».
Comentário:
A frase com que São
Mateus termina este seu texto, dá-nos que pensar! Que queria Jesus dizer com
tal?
De facto, muitos recebem
a vocação para seguir Cristo mais de perto e, muitos, correspondem tentando
santificar a sua vida que outra coisa não é que fazer, em tudo, a Justíssima e
Amabilíssima Vontade de Deus.
Mas, desses, só uma
ínfima parte é escolhida para O seguir de muito mais perto, colocando-se ao Seu
serviço, entregando-lhe toda a sua vida.
Estes ‘escolhidos’ são
as pedras onde Cristo assenta a Sua Igreja, os guias do Seu rebanho, os que têm
o poder de «atar e desatar» os vínculos que unem os homens ao Criador, e,
sobretudo, os que na Santa Missa perpetuam a Sua presença real e substancial em
Corpo, Alma e Divindade ao consagrarem o pão e o vinho tal como Ele, pela
primeira vez na Última Ceia, o fez.
(ama,
comentário sobre Mt 22, 1-14, 2012.08.23)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
CARTA ENCÍCLICA
OCTOBRI MENSE
DE SUA SANTIDADE
PAPA LEÃO XIII
A TODOS OS NOSSOS VENERÁVEIS
IRMÃOS, OS PATRIARCAS,
PRIMAZES, ARCEBISPOS
E BISPOS DO ORBE CATÓLICO,
EM GRAÇA E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE O ROSÁRIO DE NOSSA SENHORA
Veneráveis
Irmãos,
Saúde
e Bênção Apostólica.
Convite
ao Rosário
1.
Ao aproximar-se o mês de Outubro, já agora consagrado à beatíssima Virgem, é
para Nós coisa sumamente grata relembrar as solícitas recomendações que, nos
anos precedentes, vos dirigimos, ó Veneráveis Irmãos, a fim de que em toda parte
os fiéis, impelidos pelo vosso zelo autorizado, se volvessem, com reavivada
piedade, para a grande Mãe de Deus, para a poderosa auxiliadora do povo cristão,
a ela recorrendo suplicantes, durante o mês inteiro, com o rito do santo
Rosário: Rosário que a Igreja habitualmente usou e divulgou, sobretudo nos
tempos mais tempestuosos, e sempre com o desejado êxito.
2.
Temos a peito manifestar-vos, também este ano, o mesmo desejo, e renovar-vos a
mesma exortação. Impele-nos a isto urgentemente, e a isso nos estimula, o Nosso
amor à Igreja, cujas angústias, antes que se aligeirarem, crescem cada dia mais
em número e em aspereza.
Males
que afligem a Igreja
3.
De todos são conhecidos os males que Nós deploramos: a luta desapiedada contra
os sagrados e intangíveis dogmas, que a Igreja guarda e transmite, a zombaria
da integridade da virtude cristã, que a Igreja defende, a trama de calúnias de
mil modos urdidas, o ódio fomentado contra a sagrada ordem dos bispos, e
principalmente contra o Romano Pontífice, os ataques dirigidos, com a mais
impudente audácia e a criminosa impiedade, contra a própria divindade de Cristo,
no intuito de extirpar pelas raízes e de destruir a obra divina da Redenção,
que força alguma poderá jamais destruir nem cancelar.
4.
Estes ataques não são, certamente, uma novidade para a Igreja militante.
Porquanto, depois do aviso dado por Cristo aos Apóstolos, ela sabe que, para
instruir os homens no caminho da verdade e guiá-los à salvação eterna, deve
todo dia descer a campo e travar combate. E, na realidade, nos séculos sempre
lutou intrepidamente até ao martírio, considerando como sua precípua alegria e
glória o poder unir o seu sangue ao do seu Fundador: no qual está depositada a
segura esperança da prometida vitória.
5.
Por outra parte, entretanto, não podemos ocultar-vos o profundo senso de
tristeza que penetra os melhores, ante esta contínua tensão de batalha. De facto,
é motivo de imensa tristeza ver o grande número dos que, pela perversidade dos
erros e por esta insolente atitude contra Deus, são arrastados para longe e
impelidos para o abismo, o grande número dos que, pondo num mesmo plano todas
as formas de religião, pode-se dizer que já estão na iminência de abandonar a
fé divina, o número notável dos que são cristãos só de nome, e não cumprem os
deveres da sua fé.
E
ainda mais nos aflige e nos atormenta o ânimo, o considerarmos que a causa
principal de tais ruinosos e deploráveis males está na exclusão completa da
Igreja das ordenações sociais, enquanto de propósito se hostiliza a sua salutar
influência. E nisto é de reconhecer um grande e merecido castigo de Deus, o
qual cega miseravelmente as nações que se afastam d’Ele.
A
necessidade da oração
6.
Este estado de coisas mostra, com evidência sempre maior, o quanto é necessário
que os católicos orem e supliquem a Deus com fervor e perseverança "sem
nunca cessar" (1Tim 5, 17), e não somente em particular, porém ainda mais
em público. Reunidos nos sagrados templos, conjurem Deus a dignar-Se, na sua
infinita bondade, livrar a sua Igreja "dos homens insolentes e
malvados" (2 Tim 3, 2), e a reconduzir os povos ao caminho da salvação e
da razão, na luz e no amor de Cristo.
7.
Espectáculo incrível e maravilhoso! Enquanto o mundo percorre o seu caminho
tormentoso, fiado nas suas riquezas, na sua força, nas suas armas e no seu
engenho, a Igreja, com passo veloz e seguro, atravessa os séculos, depositando
a sua confiança somente em Deus, a quem, de dia e de noite, ergue o olhar e
estende as mãos súplices. Porque, embora na sua prudência não desdenhe os
socorros humanos que, pela bondade divina, os tempos lhe oferecem, todavia não
é nestes meios que deposita a sua principal esperança, mas sim na oração, colectiva
e insistente, elevada ao seu Deus. Nesta fonte ela alimenta e fortifica a sua
vida, porque, elevando-se, mediante a oração assídua, acima das vicissitudes
humanas, e mantendo-se constantemente unida a Deus, é-lhe dado viver, plácida e
tranquila, da própria vida de Cristo. E nisto é fiel imagem de Cristo, a quem o
horror dos tormentos, sofridos pelo nosso bem, nada diminuiu nem tirou da
beatíssima luz e da felicidade que lhe são próprias.
Exemplos
de oração na Sagrada Escritura
8.
Este grande ensinamento do cristianismo sempre foi escrupulosamente praticado
pelos cristãos dignos deste nome. Quando à Igreja ou a quem lhe regia os
supremos destinos estava iminente algum perigo, mercê da perfídia e da
violência de homens perversos, então com maior insistência e frequência
elevavam os cristãos as suas preces a Deus.
9.
De tal costume achamos luminoso exemplo nos fiéis da Igreja nascente, exemplo
digno de ser proposto à imitação de todos os pósteros. Pedro, Vigário de
Cristo, Pontífice supremo de toda a Igreja, por ordem do ímpio Herodes fora
lançado no cárcere, e destinado a morte certa. Ninguém estava em condições de
lhe levar auxílio para o subtrair àquele perigo. Mas não faltava esse auxílio
único que a oração devota sabe obter de Deus. Como nos testemunha a Sagrada
Escritura, a Igreja elevava a Deus fervorosíssimas preces por ele: "Mas a
Igreja fazia a Deus contínuas preces por ele" (At 12, 5). E tanto mais
ardente se tornava o empenho da sua oração, quanto mais grave era a angústia
que eles experimentavam por aquela desventura. Todos sabem que essas preces
foram atendidas. Antes, todos os anos o povo cristão celebra sempre com
agradecida alegria a lembrança da miraculosa libertação de S. Pedro.
10.
Outro exemplo, ainda mais luminoso, antes divino, dá-no-lo o próprio Cristo,
que se propusera encaminhar e formar na perfeição a sua Igreja não só com os
novos preceitos, mas também com a sua vida. Durante e curso de toda a sua vida
dedicara-Se mui frequente e longamente à oração.
Mas,
nas suas horas supremas, quando, no horto de Getsémani, a sua alma foi invadida
por uma angústia imensa e oprimida por uma tristeza mortal, Ele não somente
orava, porém "orava mais intensamente" (Lc 22, 43). E Ele fez isto
não para Si mesmo, pois, como Deus, nada podia temer e de nada precisava, mas
fê-lo para nossa vantagem, e para vantagem da sua Igreja, cujas orações futuras
e futuras lágrimas desde então Ele generosamente fazia suas, tornando fecundas
umas e outras com a sua graça.
Maria
mediadora de todas as graças
11.
Mas, depois que, por virtude do mistério da Cruz, foi realizar a salvação do género
humano, e depois que, com o triunfo de Cristo, a Igreja foi plenamente
constituída dispensadora da sua salvação, desde então a Providência preparou e
estabeleceu para este novo povo uma ordem nova.
12.
As disposições da divina Sabedoria devem ser olhadas com profunda veneração. O
Filho eterno de Deus, querendo assumir a natureza humana para redimi-la e
nobilitá-la, e portanto para contrair um místico consórcio com o género humano,
não deu cumprimento a este seu desígnio senão depois de obter o livre
consentimento daquela que fora designada para sua Mãe, e que, em certo sentido,
representava todo o género humano, segundo a célebre e veracíssima sentença do
Aquinate: "Por meio da Anunciação aguardava-se o consentimento da Virgem,
em nome e em representação de toda a natureza humana" (S. Tomás, 3, q. 30,
a. 1).
Por
consequência, pode com toda verdade e rigor afirmar-se que, por divina
disposição, nada nos pode ser comunicado, do imenso tesouro da graça de Cristo
- sabe-se que "a glória e a verdade vieram de Jesus Cristo" (Jo 1,
17), - senão por meio de Maria. De modo que, assim como ninguém pode chegar-se
ao Pai Supremo senão por meio do Filho, assim também, ordinariamente, ninguém
pode chegar-se a Cristo senão por meio de sua Mãe.
13.
Quanta sabedoria e misericórdia resplandece nesta disposição da Divina
Providência! Que compreensão da debilidade e fragilidade humana! De facto, nós
cremos na infinita bondade de Cristo, e por ela lhe rendemos louvor, mas também
cremos na sua infinita justiça, e desta temos temor. Sentimos uma profunda
gratidão pelo amor do Salvador, que por nós deu generosamente o seu Sangue e a
sua vida, mas, ao mesmo tempo, tememo-lo no seu carácter de juiz inexorável.
Apreensivos pela consciência dos nossos pecados, precisamos, por isto, de um
intercessor e de um patrono que, de um lado, goze em alto grau do favor divino,
e, de outro, seja de ânimo tão benévolo que a ninguém recuse o seu patrocínio,
nem mesmo os mais desesperados, e ao mesmo tempo infunda confiança na divina
clemência àqueles que, abatidos, jazem no desconforto.
Mãe
de Deus e Mãe dos homens
14.
Pois bem: essa eminentíssima criatura é justamente Maria: certamente Ela é
poderosa, porque é Mãe de Deus onipotente, porém - o que é mais consolador - é
amorosa, de uma extrema benevolência, de uma indulgência sem limites. Tal no-la
deu o próprio Deus, que, havendo-a escolhido para Mãe de seu Unigénito, lhe infundiu,
por isso mesmo, sentimentos requintadamente maternos, capazes somente de
bondade e de perdão. Tal no-la mostrou Jesus, quer quando consentiu em ser
sujeito e obedecer a Maria, como um filho a sua mãe, quer quando, do alto da
Cruz, confiou às suas amorosas solicitudes todo o género humano, na pessoa do
discípulo João. Tal, enfim, se mostrou ela própria quando, acolhendo
generosamente a pesada herança que lhe deixava seu Filho moribundo, desde
aquele momento começou a cumprir, para com todos, os seus deveres de Mãe.
O
recurso a Maria na tradição cristã
15.
Este plano de terna misericórdia executado por Deus em Maria e ractificado por
Cristo com a sua última vontade, foi desde o início compreendido com imensa
alegria pelos santos Apóstolos e pelos primeiros fiéis, foi compreendido e
ensinado pelos venerandos Padres da Igreja, foi concordemente compreendido, em
todos os tempos, pelo povo cristão. E mesmo quando a tradição e a literatura se
calassem, esta verdade seria igualmente atestada com grandíssima eloquência
pela voz que irrompe do coração de cada cristão.
Sem
uma fé divina não se explicaria o imperioso impulso que nos impele e docemente
nos arrasta para Maria, o vivo desejo, ou, melhor, a necessidade que sentimos
de procurar refúgio na protecção e no auxílio daquela a quem podemos confiar
plenamente os nossos projectos e as nossas acções, a nossa inocência e o nosso
pensamento, os nossos tormentos e as nossas alegrias, as nossas preces e os
nossos votos, em suma todas as nossas coisas, a doce esperança e a confiança,
por nós nutridas, de que aquilo que seria menos aceite por Deus, porque
apresentado por nós, indignos pecadores, poderá tornar-se-lhe agradabilíssimo
se o confiarmos a sua Mãe Santíssima.
Quanto
mais a alma se alegra com a verdade e suavidade destes pensamentos, outro tanto
se entristece por causa daqueles que, privados da fé divina, não honram Maria:
antes, não a consideram nem mesmo como Mãe. E ainda mais se contrista o Nosso
coração por causa daqueles que, embora participantes da santa fé, ousam acusar
os bons de excessivo e exagerado culto para com Maria, ofendendo com isto
grandemente a piedade filial.
16.
Portanto, no meio da tempestade de males que tão duramente atormentam a Igreja,
todos os devotos filhos desta mesma Igreja veem claramente que urgente dever
têm de orar insistentemente a Deus onipotente, e, sobretudo, de que modo devem
aplicar-se a isso para que as suas preces tenham máxima eficácia. Seguindo o
exemplo de nossos piedosíssimos pais e antepassados, recorramos a Maria, nossa
santa Rainha, e, concordemente, supliquemos a Maria, Mãe de Jesus Cristo e Mãe
nossa: "Mostra-te nossa Mãe, e por meio de ti acolha nossas preces Aquele
que, nascido para nós, quis ser teu Filho" (Da sagrada liturgia).
(cont)
(Revisão
da versão portuguesa por ama)