Tempo Comum VI Semana
Evangelho: Mc 1 40-45
40 Foi ter com Ele um leproso que,
suplicando e pondo-se de joelhos, Lhe disse: «Se quiseres podes limpar-me». 41
Jesus, compadecido dele, estendeu a mão e, tocando-o, disse-lhe: «Quero, fica
limpo». 42 Imediatamente desapareceu dele a lepra e ficou limpo. 43
E logo mandou-o embora, dizendo-lhe com tom severo: 44 «Guarda-te de
o dizer a alguém, mas vai, mostra-te ao sacerdote, e oferece pela purificação o
que Moisés ordenou, para que lhes sirva de testemunho». 45 Ele,
porém, retirando-se, começou a contar e a divulgar o sucedido, de modo que
Jesus já não podia entrar abertamente numa cidade, mas ficava fora nos lugares
desertos, e de toda a parte vinham ter com Ele.
Comentário:
É simples e ao mesmo tempo muito difícil – pelo menos
para mim – comentar este trecho do Evangelho de São Marcos sem me envolver numa
emoção pessoal que poderá desfocar a clareza de raciocínio.
Sim… o gesto do Senhor é de tal forma carinhoso e cheio
de ternura que me deixa abismado na grandeza de um Deus e Senhor de todas as
coisas que estende a mão a tocar-me como algo natural e sem qualquer reserva!
Imagino os meus pecados que desfiguram a minha alma e
acredito – firmemente acredito – que Ele me toca e me abraça, aceita o meu pedido
de perdão e me envia em paz completamente limpo!
Admirável Sacramento!
(ama, comentário sobre MC 1,
40 - 50 2015.01.12)
Leitura espiritual
Santíssima Virgem
Vida
de Maria (IV
A VOZ DO MAGISTÉRIO
«O
evangelho de Lucas, ao apresentar Maria como virgem, acrescenta que estava
"desposada com um varão chamado José, da casa de David" (Lc 1, 27).
Estas informações parecem, à primeira vista, contraditórias».
«Há
que notar que o termo grego utilizado nesta passagem não indica a situação de
uma mulher que contraiu matrimónio e, portanto, vive no estado matrimonial, mas
a de noivado. Mas, de forma diferente do que acontece nas culturas modernas, no
costume judaico antigo a instituição do noivado previa um contrato e tinha
normalmente valor definitivo; efectivamente, introduzia os noivos no estado
matrimonial embora o matrimónio se cumprisse plenamente apenas quando o jovem
conduzia a noiva para sua casa».
«No
momento da Anunciação, Maria encontra-se pois, na situação de esposa prometida.
Podemos perguntar-nos porque razão tinha aceite o noivado, dado que tinha feito
o propósito de permanecer virgem para sempre. Lucas tem consciência desta
dificuldade, mas limita-se a registar a situação sem dar explicações. O facto
do evangelista, mesmo pondo em relevo o propósito de virgindade de Maria, a apresente
igualmente como esposa de José, constitui um sinal de que ambas as notícias são
historicamente dignas de crédito».
«Pode
supor-se que entre José e Maria, no momento do compromisso, existisse um
entendimento sobre o projecto de vida virginal. Além disso, o Espírito Santo,
que tinha inspirado a Maria a opção da virgindade com vista ao mistério da
Encarnação e que queria que esta acontecesse num contexto familiar idóneo para
o crescimento do Menino, pôde muito bem suscitar também em José o ideal da
virgindade».
«O
anjo do Senhor, aparecendo-lhe em sonhos, diz-lhe: "José, filho de David,
não temas receber em tua casa Maria tua esposa porque o que n’Ela foi concebido
é obra do Espírito Santo" (Mt 1, 20). Desta forma recebe a confirmação de
estar chamado a viver de modo totalmente especial o caminho do matrimónio.
Através da comunhão virginal com a mulher predestinada para dar Jesus à luz,
Deus chama-o a cooperar na realização do Seu desígnio de salvação».
«O
tipo de matrimónio para o qual o Espírito Santo orienta Maria e José é
compreensível apenas no contexto do plano salvífico e no âmbito de uma elevada
espiritualidade. A realização concreta do mistério da Encarnação exigia um
nascimento virginal que pusesse em evidência a filiação divina e, ao mesmo
tempo, uma família que pudesse assegurar o desenvolvimento normal da
personalidade do Menino».
«José
e Maria, precisamente tendo em vista o seu contributo para o mistério da
Encarnação do Verbo, receberam a graça de viver juntos o carisma da virgindade
e o dom do matrimónio. A comunhão de amor virginal de Maria e José, embora
constituindo um caso especialíssimo, vinculado à realização concreta do
mistério da Encarnação, foi, no entanto, um verdadeiro matrimónio».
«A
dificuldade de se aproximar do mistério sublime da sua comunhão esponsal
induziu alguns, já desde o século II, a atribuir a José uma idade avançada e a
considerá-lo o custódio de Maria, mais do que seu esposo. É caso para supor,
pelo contrário, que não fosse um homem idoso, mas que a sua perfeição interior,
fruto da graça, o levasse a viver com afecto virginal a relação esponsal com
Maria».
«A
cooperação de José no mistério da Encarnação abarca também o exercício do papel
paterno relativamente a Jesus. Esta função é-lhe reconhecida pelo anjo que,
aparecendo-lhe em sonhos, o convida a pôr o nome ao Menino: "Dará à luz um
filho, ao qual porás o nome de Jesus, porque Ele salvará o Seu povo dos seus
pecados" (Mt 1, 21)».
João
Paulo II (séc. XX), Catequese mariana na audiência de 21-VIII-1996.
* * *
A VOZ DOS PADRES DA IGREJA
«A
menina ao crescer, quando já não era necessário amamentá-la, os seus pais
apressaram-se a levá-la ao templo para a oferecer a Deus e cumprir, assim, a
promessa que tinham feito. Os sacerdotes educaram-na no santuário, do mesmo
modo que Samuel tinha sido educado (cfr. 1 Sam 1, 24 ss). Depois, quando se
tornou uma adolescente, reuniram-se em conselho para decidir o que fazer
daquele corpo santo sem ofender o Senhor. Pareceu um absurdo submetê-la às leis
da natureza dando-a como esposa a um varão; pensavam que seria sacrílego que um
homem se convertesse em dono do que tinha sido consagrado ao Senhor.
Efectivamente, era conforme à lei que o varão se convertesse em dono da sua
esposa».
«Por
outro lado, a lei não permitia que uma mulher habitasse o templo junto dos
sacerdotes e se mostrasse no interior do santuário, coisa contrária também à
honestidade e à dignidade da lei. Após discutir esses problemas, tomaram uma
decisão verdadeiramente inspirada: confiá-la, sob a forma de um matrimónio, a
um homem que oferecesse todas as garantias de respeito pela sua virgindade».
«Encontrou-se
em José o homem adequado para aquela situação. Além disso, era da mesma tribo e
família da Virgem. Seguindo o conselho dos sacerdotes, José desposou a donzela,
mas a relação matrimonial ficou excluída daquelas núpcias».
São
Gregório de Nisa (séc. IV), Homilia sobre a Natividade do Senhor (PG 46, 1140
A-B).
* * *
«Sem
dúvida os mistérios divinos são ocultos e, como disse o profeta, não é fácil ao
homem, qualquer que seja, chegar a conhecer os desígnios de Deus (cfr. Is 40,
13). Por isso, o conjunto de acções e ensinamentos de nosso Senhor e Salvador
dão-nos a entender que um desígnio bem pensado fez escolher com preferência,
para Mãe do Senhor, aquela que tinha sido desposada com um varão».
«Mas
porque é que não foi feita mãe antes dos seus esponsais? Pode ser para que não
se possa dizer que tinha concebido adulteramente. E com razão a Escritura
indicou estas duas coisas: Ela era esposa e virgem; virgem, para que aparecesse
limpa de toda a relação com um varão; desposada, para a poupar ao estigma
infamante de uma virgindade perdida, podendo a sua gravidez manifestar a sua
queda. O Senhor quis antes permitir que alguns duvidassem da sua origem do que
da pureza da Sua Mãe; sabia Ele quão delicada é a honra de uma virgem, quão
frágil a fama do pudor; não julgou conveniente estabelecer a verdade da Sua
origem à custa da Sua Mãe. Assim foi preservada a virgindade de Santa Maria,
sem detrimento da sua pureza, sem violar a sua reputação».
Santo
Ambrósio (séc. IV). Tratado sobre o Evangelho de São Lucas, livro II, n. 1.
* * *
A
VOZ DOS SANTOS
"É
regra geral de todas as graças singulares comunicadas a uma criatura racional
que, quando a graça divina escolhe alguém para uma tarefa especial ou algum
estado muito elevado, concede todos os carismas necessários àquela pessoa para
o ministério que há-de desempenhar adornando-a com eles profusamente».
«Isto
realizou-se de um modo excelente na pessoa de São José, que fez as vezes de pai
de nosso Senhor Jesus Cristo e que foi verdadeiro esposo da Rainha do universo
e Senhora dos anjos. José foi escolhido pelo eterno Pai como protector e guarda
fiel dos Seus principais tesouros, isto é, do Seu Filho e de Sua Esposa e
cumpriu a sua tarefa com absoluta fidelidade. Por isso lhe diz o Senhor: Está
bem, servo bom e fiel; entra no gozo do teu Senhor (Mt 25, 21)».
«Se
observarmos a relação que José tem com a Igreja universal, não é este o homem
especialmente escolhido, pelo qual e sob o qual Cristo foi introduzido no mundo
de um modo ordenado e honesto? Portanto, se toda a Igreja está em dívida com a
Virgem Mãe, já que por meio d’Ela recebeu Cristo, de modo semelhante deve a
José, a seguir a Maria, uma especial gratidão e reverência».
«José
vem a ser a jóia que fecha o Antigo Testamento, já que nele a dignidade
patriarcal e profética alcançam o fruto prometido. Além disso, ele é o único
que possuiu corporalmente o que a condescendência divina tinha prometido aos patriarcas
e aos profetas».
«Temos
que supor, sem qualquer dúvida, que aquela familiaridade, respeito e altíssima
dignidade que Cristo tributou a José enquanto vivia na terra, como um filho ao
seu pai, não lha negou no céu; pelo contrário, colmou-a e consumou-a».
São
Bernardino de Siena (séc. XV). Sermão 2, sobre São José, 7. 16. 27-30.
* * *
«Tomei
por advogado e senhor o glorioso São José e encomendei-me muito a ele. Vi
claramente que assim desta necessidade, como de outras maiores de honra e perda
de alma, este pai e senhor meu me conseguiu mais bem do que eu lhe sabia pedir.
Não me recordo, até agora, de lhe ter suplicado coisa que tenha deixado de
fazer. É coisa que espanta, as grandes mercês que me fez Deus por intermédio deste
bem-aventurado Santo, dos perigos de que me livrou, tanto do corpo como da
alma; que a outros santos parece que lhes deu o Senhor graça para socorrer numa
necessidade, a este glorioso Santo tenho experiência que socorre em todas e que
o Senhor quer dar-nos a entender que assim como lhe esteve sujeito na terra —
que como tinha o nome de pai, sendo aio, lhe podia mandar — assim no Céu faz
quanto lhe pede».
«Quereria
eu persuadir a todos para que fossem devotos deste glorioso Santo, pela grande
experiência que tenho dos bens que consegue de Deus. Não conheci pessoa que lhe
seja verdadeiramente devota e faça particulares serviços, que não a veja mais
aproveitada na virtude; porque aproveita em grande medida às almas que a ele se
encomendam. Parece-me, há alguns anos, que cada ano no seu dia lhe peço uma
coisa e sempre a vejo cumprida. Se a petição vai algo torcida, ele orienta-a
para maior bem meu».
«Se
fosse pessoa que tivesse autoridade de escrever, de boa vontade me alargaria a
dizer com muito pormenor as mercês que este glorioso Santo me fez a mim e a
outras pessoas; mas para não fazer mais do que me mandaram, em muitas coisas
serei mais curta do que gostaria, noutras mais longa do que devia; enfim, como
quem em tudo que é bom tem pouca discrição. Só peço por amor de Deus que o tente
quem não me creia e verá por experiência o grande bem que é encomendar-se a
este glorioso Patriarca e ter-lhe devoção. Em especial, pessoas de oração
sempre lhe deviam ser aficionadas; que não sei como se pode pensar na Rainha
dos anjos em tanto tempo que passou com o Menino Jesus, que não deem graças a
São José pelo bem que lhes fez. Quem não encontrar mestre que lhe ensine
oração, tome este glorioso Santo por mestre e não errará no caminho».
Santa
Teresa de Jesus (séc. XVI). Livro da sua vida, cap. 6, nn. 6-8.
***
«Não
estou de acordo com a forma clássica de representar S. José como um homem
velho, apesar da boa intenção de se destacar a perpétua virgindade de Maria. Eu
imagino-o jovem, forte, talvez com alguns anos mais do que a Virgem, mas na plenitude
da vida e das forças humanas.
Para
viver a virtude da castidade não é preciso ser-se velho ou carecer de vigor. A
pureza nasce do amor e a força e a alegria da juventude não constituem
obstáculo para um amor limpo. Jovens eram o coração e o corpo de S. José quando
contraiu matrimónio com Maria, quando soube do mistério da sua Maternidade
Divina, quando viveu junto d'Ela respeitando a integridade que Deus queria
oferecer ao mundo como mais um sinal da sua vinda às criaturas. Quem não for
capaz de compreender um amor assim, conhece muito mal o verdadeiro amor e
desconhece por completo o sentido cristão da castidade».
São
Josemaría Escrivá de Balaguer (séc. XX). Cristo que passa, n. 40.