Tempo comum X Semana
Santo António de Lisboa
Evangelho:
Mt 5, 13-19
13 «Vós sois o sal da terra. Porém, se o sal perder
a sua força, com que será ele salgado? Para nada mais serve senão para ser
lançado fora e ser calcado pelos homens. 14 Vós sois a luz do mundo.
Não pode esconder-se uma cidade situada sobre um monte; 15 nem se
acende uma candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas no candelabro, a fim
de que dê luz a todos os que estão em casa. 16 Assim brilhe a vossa
luz diante dos homens para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso
Pai que está nos céus. 17 «Não julgueis que vim abolir a Lei ou os
Profetas; não vim para os abolir, mas sim para cumprir. 18 Porque em
verdade vos digo: antes passarão o céu e a terra, que passe uma só letra ou um
só traço da Lei, sem que tudo seja cumprido. 19 Aquele, pois, que
violar um destes mandamentos mesmo dos mais pequenos, e ensinar assim aos
homens, será considerado o mais pequeno no Reino dos Céus. Mas o que os guardar
e ensinar, esse será considerado grande no Reino dos Céus.
Comentário:
O sal da terra! Que missão! Que encargo!
Que posso eu, pobre de mim, com as minhas misérias e fraquezas temperar neste
grande banquete da vida humana?
Por mim, sozinho, absolutamente nada mas, contigo, Senhor, serei um condimento
raro e de enorme eficácia.
Que assim seja não para minha satisfação mas para o bem das almas e a Tua
glória.
(ama,
comentário sobre Mt 5, 13-19, 2014.06.13)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
SEGUNDA PARTE
COMO SER CRISTÃOS
xi a devoção à santíssima virgem
Ao chegar a este momento do nosso
trabalho, temos de deter a nossa atenção no papel que por disposição divina
corresponde à Virgem Santíssima em toda a vida pessoal cristã do homem, do
santo.
Sendo Ela a «obra de Deus» por
excelência, a criatura mais unida entitativa, vital e afectivamente a Deus Pai,
Filho e Espírito Santo, vamos reflectir, ainda que seja brevemente, sobre o seu
ser e sobre a sua vida para descobrir um exemplo vivo que Deus nela nos dá para
toda a vida pessoal cristã e, sobretudo, para termos em conta que a devoção que
lhe manifestemos como mãe de Deus, Filha de Deus, Esposa de Deus, pode ter na
nossa própria conversão cristã, na nossa realidade existencial em ser filhos de
Deus em Cristo Jesus.
Não sem um significado especial para
todos os crentes, Deus quis que a Santíssima Virgem estivesse presente na
própria origem da obra da Encarnação fizesse valer a sua palavra no começo da
vida pública de Jesus Cristo, se mantivesse firme ao pé da Cruz, sustivesse os
Apóstolos unidos na espera da Ressurreição e da vinda do Espírito Santo.
A citação é longa. Recolho-a porque
centra a perspectiva destas páginas finais:
«Cremos que ninguém como Maria saberá introduzir-nos na dimensão divina e
humana deste mistério (da Redenção).
Ninguém como
Maria foi introduzido nele pelo próprio Deus.
Nisto consiste
o carácter excepcional da graça da
maternidade divina.
Não só na
história do género humano a dignidade desta Maternidade é única e irrepetível
mas também única pela sua profundidade e pelo seu raio de acção é a
participação de Maria, imagem da própria Maternidade, no desígnio divino da
salvação do homem através do mistério da redenção.
(…)
O eterno amor do Pai, manifestado na
história da humanidade mediante o Filho que o Pai deu «para que quem acredite
nele não morra mas que tenha a vida eterna» ,
este amor aproxima-se de cada um de nós por meio desta Mãe e adquire de tal
modo sinais mais compreensíveis e acessíveis a cada homem.
Por
conseguinte, Maria deve encontrar-se em todas as vias da vida quotidiana da
Igreja.
Mediante a sua
presença materna a Igreja assegura-se de que vive verdadeiramente a vida do seu
Mestre e Senhor, que vive o mistério da Redenção em toda a sua profundidade e
plenitude vivificante» .
Estas considerações de João Paulo II são
na realidade o desenvolvimento de umas palavras do Concílio Vaticano II que
expressam o sentir unânime da Igreja em torno à missão de Maria:
«A Santíssima Virgem (…) coberta com a sombra do Espírito Santo… deu à luz
o Filho a quem Deus constituiu primogénito entre muitos irmãos .
Isto é, os
fiéis em cuja geração e educação coopera com amor materno» .
A missão de Maria com cada cristão
resume-se nestas palavras:
«Geração e
educação com amor materno», reflexo da missão que Deus Pai lhe encomendou com
Deus Filho.
Como participa Santa Maria na «geração»
de um filho de Deus em Jesus Cristo?
»Com o seu amor materno cuida dos irmãos
do seu Filho que todavia peregrinam e se encontram em perigos e ansiedade até
que sejam conduzidos à pátria Bem-Aventurada» .
«A Santíssima Virgem predestinada desde
toda a eternidade como Mãe de Deus juntamente com a encarnação do Verbo, por
deposição da divina Providência, foi na terra Mãe excelsa do Divino Redentor
(…).
Concebendo
Cristo, engendrando-o.
Alimentando-o,
apresentando-o ao Pai no Templo, padecendo com o seu Filho quando morria na
Cruz, cooperou de forma inteiramente ímpar na obra do Salvador com a obediência,
a fé, a esperança e a ardente caridade com o fim de restaurar a vida
sobrenatural nas almas. Por isso é nossa Mãe em ordem da graça» .
Toda a vida da Santíssima Virgem
transmite os planos de Deus sobre as suas criaturas.
Feita Mãe e
imaculada ajuda à «geração» de Cristo em cada cristão.
Como?
O cuidado maternal da Santíssima Virgem
não se fica somente num plano afectivo de intercessão e de preocupação pela
sorte da vida pessoal cristã de cada filho de Deus.
Na cena da visita da Santíssima Virgem a
sua prima santa Isabel podemos descobrir um sentido mais vital e entitativo da
missão maternal de Maria: à chegada de Maria grávida de Deus Filho, Deus Pai
quis que o Espírito Santo encha a alma de Isabel e de João Maria «comunica» a
Graça.
Deus envia
Maria para «comunicar» a Graça e na Graça, alimentar a Fé, a Esperança e a
Caridade dos que a recebem.
O Espírito Santo anseia que todos o
homem seja verdadeiramente filho de Deus e quer valer-se da Santíssima Virgem para
que a Graça que ele deposita na alma tome forma, vá fazendo o possível para que
o cristão descubra Cristo que a vida de Cristo cresça em cada cristão.
O Espírito
Santo está como que à espera da palavra de Maria para começar e desenvolver a
sua acção na alma do crente, de forma semelhante a como esperou a palavra da
Virgem, para que a Palavra se engendrasse nela.
São Bernardo fala do «aqueduto» e
certamente é assim.
Todavia a
imagem não esgota a participação da Santíssima Virgem na acção do Espírito
Santo.
Maria não se
limita a transportar a Graça.
Maria prepara
a alma do cristão para descobrir o Espírito Santo dentro dele, como Isabel e João o descobriram.
Podemos dizer simplesmente que Maria,
como Mãe de Cristo, nos manifesta o Espírito Santo que se vale da sua presença
para que Cristo nasça em nós e nos configuremos com o Senhor: Deus Filho
gerou-se nela por acção do Espírito Santo, acção que o Espírito Santo começou
no amor de Maria a Deus Pai, na disposição de Maria à vontade de Deus Pai.
De forma semelhante, o amor a Maria, a
Mãe de Deus, prepara a alma do cristão para que o Espírito Santo já recebido no
Baptismo e nos demais sacramentos, faça germinar a semente da Graça e se origine
em cada cristão o despertar de Cristo e o viver de cada cristão com Cristo, em
Cristo, por Cristo.
Poderíamos chamar a esta acção de Maria
a «força criadora» do amor materno.
Toda a nossa
vida cristã se fundamenta na Graça, «certa participação na natureza divina».
Encontramo-nos
«enxertados em Cristo».
Maria «sendo
Mãe de Deus» com o seu amor fez crescer Cristo nas suas entranhas, ao mesmo
tempo que o engendrava no seu coração.
O cristão ao
viver a devoção a Maria recebe esse amor materno de Maria e «o calor» desse
amor materno vivifica no seu espírito o «enxerto em Cristo».
«Com o seu amor materno cuida dos irmãos
do seu Filho que todavia peregrinam e se encontra em perigos e ansiedade até
que sejam conduzidos à pátria Bem-Aventurada» .
Esta é a «maternidade espiritual» que a Virgem vive em cada crente.
***
Se a Virgem é «geradora» sendo Mãe, a
Mãe de Deus é «educadora» sendo Virgem Imaculada.
Como?
«E é igualmente virgem (refere-se à Igreja)
que guarda pura e integramente a fé prometida ao Esposo e à imitação da Mãe do
seu Senhor, por virtude do Espírito Santo, conserva virginalmente uma fé
íntegra, uma esperança sólida e uma caridade sincera» .
Santa Maria, na plenitude da sua
virgindade imaculada manifesta-nos uma vida de Fé, de Esperança, de Caridade.
«Como ser «virgem
casta» se não for pela integridade da fé, da esperança?» exclama Santo
Agostinho .
«Bem-aventurada
tu que acreditaste» exulta Santa Isabel.
A Santíssima
Virgem é, ao pé da Cruz, a imagem da Esperança na Palavra de Deus.
A sua resposta
na Anunciação é a manifestação aberta da caridade, do amor a Deus ao devolver a
Deus toda a confiança que o homem rejeitou no Paraíso.
«Faça-se em mim segundo a Tua palavra» ,
é a expressão mais pela de Fé, de Esperança, de Caridade de uma criatura ao seu
Criador.
Ressaltando a fé eucarística da Virgem,
João Paulo II assinala:
«A Maria foi-lhe pedido para acreditar que quem concebeu ‘por obra do Espírito
Santo’ era o ‘Filho de Deus’.
Em
continuidade com a fé da Virgem, no Mistério eucarístico pede-se-nos para
acreditar que o mesmo Jesus, Filho de Deus e Filho de Maria, torna-se presente
com todo o seu humano-divino nas espécies do pão e do vinho» .
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)