Tempo comum XXVI Semana
Santa Teresa do Menino Jesus – Doutora da
Igreja
Evangelho:
Lc 9, 57-62
57 Indo eles pelo
caminho, veio um homem que Lhe disse: «Seguir-Te-ei para onde quer que fores». 58
Jesus respondeu-lhe: «As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus
ninhos, porém, o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça». 59
A um outro disse: «Segue-Me». Mas ele disse: «Senhor, permite-me que eu vá
primeiro sepultar meu pai». 60 Mas Jesus replicou: «Deixa que os
mortos sepultem os seus mortos; tu vai anunciar o reino de Deus». 61
Um outro disse-Lhe: «Senhor, seguir-Te-ei, mas permite que vá primeiro dizer
adeus aos de minha casa». 62 Jesus respondeu-lhe: «Ninguém que,
depois de ter metido a mão no arado olha para trás, é apto para o reino de
Deus».
Comentário:
Pode, à primeira vista, parecer um
pouco excessivo, talvez radical deixar para depois despedir-se dos progenitores
dando-lhes sepultura…
De facto, Jesus não diz que tal não se
deve descurar mas que, na vida presente, o homem, tem de ter prioridades em
relação à vida eterna.
Tudo cabe, tudo tem o seu lugar e o
seu tempo, mas, atenção, o minuto que passa não voltará jamais, nem a
oportunidade perdida é, confirmadamente, recuperável.
Convém, portanto, ter as coisas claras
e fazer o que se deve quando se proporciona sem demoras ou justificações por
mais justas ou admissíveis que possam apresentar-se porque, nada há mais importante
e inadiável que a própria salvação e, esta, passará sempre pelo seguimento
pronto e incondicional de Jesus Cristo Nosso Senhor e Salvador.
(ama, comentário sobre Lc 9,
57-62,Cascais, 2012.10.03)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
CARTA ENCÍCLICA
COMMUNIUM INTERPRETES DOLORUM
DO SUMO PONTÍFICE PAPA PIO XII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS
PATRIARCAS, PRIMAZES, ARCEBISPOS E BISPOS
E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
PARA PEDIR ORAÇÕES PÚBLICAS PARA
A PAZ ENTRE OS POVOS
1.
Intérpretes das dores comuns, das quais quase todos os povos há longo tempo
estão amargamente oprimidos, nada entendemos descuidar que objetive manter – ou
de algum modo abrandar –, a imensidão das misérias tendo em vista apressar o
fim do terrível conflito. Mas bem sabemos que as reservas humanas são
insuficientes para remediar essas desventuras; bem sabemos que a sagacidade humana,
especialmente quando cegada pelo ódio e pela revanche, dificilmente atinge a
uma justa e equitativa composição e a uma fraterna concórdia. É necessário,
portanto, elevar frequentes orações ao Pai das luzes e da misericórdia (cf. Tg
1, 17; 2 Cor 1,3). Somente ele pode, em tão grave perturbação e agitação de
espírito, tornar ciente a todos que já são muitas as ruínas e desmedido o
acúmulo de desgraças, excessivas as lágrimas, bem como o sangue derramado. De
modo que as exigências divinas e humanas impõem que cesse o mais rápido
possível esse espantoso flagelo.
2.
Por isso, o avizinhar-se do mês de maio, consagrado de modo particular à virgem
Mãe de Deus, como já ocorreu nos anos passados, assim agora desejamos exortar
todos novamente – especialmente as crianças e os inocentes adolescentes – para
que implorem ao divino Redentor, por intercessão de sua Mãe santíssima, que os
povos que se encontram em discórdia, lutas e toda espécie de desgraça possam
libertar-se do luto e de todas as longas angústias. Por serem os pecados por
nós cometidos diante de Deus (cf. Br 6,1) que nos mantêm distantes dele e nos
jogam miseravelmente na ruína, não basta, como de resto é notório a todos vós,
veneráveis irmãos, elevar ao céu assíduas orações; não basta acorrer em grande
número aos altares da Virgem santíssima para depor ofertas, flores e súplicas;
mas é necessário também renovar os costumes em público e privadamente, de modo
a pôr aquelas sólidas bases sobre as quais se apóia o edifício da vida
doméstica e civil, edifício não em desarmonia e ultrapassado, mas homogêneo e
duradouro. Recordem, portanto, todos e traduzam na vida prática as admoestações
dos profetas: "Retornai a mim, diz o Senhor dos exércitos, e eu retornarei
a vós..." (Zc 1,3); e, ao mesmo tempo, reflitam sobre aquelas palavras do
grande bispo de Hipona: "Mude o coração e será mudada também a ação.
Arranque a cobiça e semeie a caridade". (1)"Desejas a paz? Seja justo
e terás a paz, pois a justiça e a paz se abraçam (Sl 84, 11). Se não amas a
justiça, não terás a paz. Afinal, a justiça e a paz se amam e estão entre elas
de tal modo unidas, que se atuas com justiça, encontrarás a paz que abraça a
justiça... Se, portanto, queres chegar à paz, opera de modo justo; foge do mal
e segue o bem. Isso quer dizer amar a justiça, e quando tiveres deixado o mal e
feito o bem, procura a paz e segue-a". (2)
3.
Se todos os fiéis estiverem animados e dispostos, não há dúvida que suas
orações chegarão ao trono do altíssimo e obterão do Senhor aplacado o conforto
e os dons de que tanto, no presente, temos necessidade.
4.
Bem sabeis de quais dons, ajuda e conforto temos necessidade neste angustioso
momento. Em primeiro lugar, porém, há necessidade de pedir a Deus que as mentes
e os corações dos homens sejam iluminados e renovados pelos ensinamentos da
doutrina cristã, dos quais pode vir a salvação privada e pública, para que essa
devastadora luta de povos e de continentes cesse de encrudelecer-se, e os
cidadãos de todas as classes, re-conjugados pelo vínculo da amizade, saindo do
enorme acúmulo de ruínas se unam para reconstruir, sob a insígnia da justiça e
da caridade, o edifício humano. Deve-se, por outro lado, pedir ao Redentor
divino e a sua santíssima Mãe, em espírito de oração e penitência, que seja
verdadeira e sincera a paz que dará um fim a essa guerra funesta e sangrenta.
5.
Não é, no entanto, fácil, em meio a tanto desarranjo de coisas, enquanto a
disposição de muitos ainda permanece agitada de sentimentos de vingança,
alcançar uma paz que seja igualmente moderada pela equidade e pela justiça, que
satisfaça com fraterna caridade as aspirações de todos os povos e elimine os
germes latentes das discórdias e das rivalidades. Consequentemente de modo
especial são esses que têm necessidade das luzes celestes, cabendo-lhes o gravíssimo
encargo de resolver tal problema, de cujo juízo depende a sorte não apenas de
sua nação, mas também de toda a humanidade e das futuras gerações. Por esse
motivo pedimos que todos dirijam a Deus fervorosas e intensas orações e,
particularmente, as crianças durante o mês de maio implorem da Mãe da divina
Sabedoria a assistência sobrenatural àqueles cuja sentença deverá decidir a
causa de todos os povos. Considerem estes, refletindo atentamente diante de
Deus, que tudo o que ultrapassasse os limites da justiça e da eqüidade, certamente,
cedo ou tarde, voltaria com enorme dano para os vencidos e vencedores, pois aí
estaria escondida a semente de novas guerras.
6.
Desejamos também que todos os que responderem de boa vontade a esta nossa
exortação não esqueçam a triste condição daqueles que, ou fugitivos ou exilados
há muito tempo, aguardam com ânsia reencontrar o aconchego do próprio lar, ou
relegados nos campos de concentração esperam, após a guerra, a justa liberdade,
ou, enfim, jazem enfermos nos hospitais. A esses infelizes e a todos os outros,
para os quais o presente conflito foi causa de angústias e dores, queira
conceder a benigna Virgem Mãe de Deus a celeste consolação, e despertar a força
daquela paciência cristã, através da qual também os sofrimentos mais agudos
tornam-se toleráveis e colaboram para o mérito da felicidade eterna.
Será
zelo vosso, veneráveis irmãos, comunicar essa nossa paternal exortação com o
voto aos féis confiados aos vossos cuidados; aos quais - e principalmente a vós
todos e a cada um - concedemos, sob os auspícios dos dons celestes e penhor de
nossa benevolência, a bênção apostólica.
Dado
em Roma, junto a São Pedro, no dia 15 de Abril, Domingo do Bom Pastor, do ano
de 1945, VII do nosso pontificado.
PIO PP. XII
(Revisão da versão portuguesa por ama)
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Notas:
(1)
S. Agostinho, Serm. de Script., 72, 4; PL 38, 468.
(2)
S. Agostinho, In Ps. 84, 12; PL 37,1078. Existe versão em português, publicada
pela Paulus: "Comentário aos Salmos" (vol. II).