08/09/2015

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Publicações em Set 08

São Josemaria – Textos

Ano da Misericórdia, Francisco (Papa) - Carta de Outubro 2015

AMA - Comentários ao Evangelho Mt 1 1-16, São Josemaria - Leitura espiritual (Cristo que passa)

Apostolado, Espírito Santo, Paulo VI

Bento XVI - Pensamentos espirituais

Suma Teológica - Tratado da Vida de Cristo - Quest 34 - Art 1,São Tomás de Aquino


Agenda Terça-Feira

O trabalho é a vocação original do homem

O trabalho é a vocação original do homem; é uma bênção de Deus; e enganam-se lamentavelmente aqueles que o consideram um castigo. O Senhor, o melhor dos pais, colocou o primeiro homem no Paraíso – "ut operaretur", para trabalhar. (Sulco, 482)

Desde o começo da sua criação que o homem teve de trabalhar. Não sou eu quem o inventa. Basta abrir as primeiras páginas da Sagrada Bíblia para aí se ler que Deus formou Adão com o barro da terra e criou para ele e para a sua descendência este mundo tão formoso, ut operaretur et custodiret illum, com o fim de o trabalhar e de o conservar, e isto antes mesmo de o pecado entrar na humanidade e, como consequência dessa ofensa, a morte, as penas e as misérias.
Temos, pois, de nos convencer de que o trabalho é uma realidade magnífica, que se nos impõe como lei inexorável a que todos estamos submetidos, de uma ou de outra forma, apesar de alguns pretenderem eximir-se a ela. Aprendei-o bem: esta obrigação não surgiu como uma sequela do pecado original, nem se reduz a uma descoberta dos tempos modernos. Trata-se de um meio necessário que Deus nos confia na terra, alongando os nossos dias e tornando-nos partícipes do seu poder criador, para que ganhemos o nosso sustento e, simultaneamente, recolhamos frutos para a vida eterna: o homem nasce para trabalhar, como as aves para voar.
Talvez me digais que já se passaram muitos séculos, que muito pouca gente pensa desta maneira, que a maioria provavelmente se afana por motivos bem diversos: uns, por dinheiro; outros, para manter a família; outros, na mira de conseguir uma certa posição social, para desenvolver as suas capacidades, para satisfazer as suas paixões desordenadas, para contribuir para o progresso social. E todos, em geral, encaram as suas ocupações como uma necessidade de que não podem evadir-se.
Perante esta visão plana, egoísta, rasteira, tu e eu temos de recordar a nós mesmos e de recordar aos outros que somos filhos de Deus, a quem o nosso Pai dirigiu um convite idêntico ao daqueles personagens da parábola evangélica: filho, vai trabalhar na minha vinha. Posso assegurar-vos que aprenderemos a terminar as nossas tarefas com a maior perfeição humana e sobrenatural de que somos capazes, se nos empenharmos em considerar assim diariamente as nossas obrigações pessoais como ordem divina. (Amigos de Deus, n. 57)


Ano da Misericórdia - CARTA DO PAPA FRANCISCO

CARTA DO PAPA FRANCISCO
COM A QUAL SE CONCEDE A INDULGÊNCIA POR OCASIÃO DO JUBILEU EXTRAORDINÁRIO DA MISERICÓRDIA

Ao Venerado Irmão
D. Rino Fisichella
Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização

A proximidade do Jubileu Extraordinário da Misericórdia permite-me focar alguns pontos sobre os quais considero importante intervir para consentir que a celebração do Ano Santo seja para todos os crentes um verdadeiro momento de encontro com a misericórdia de Deus. Com efeito,  desejo que o Jubileu seja uma experiência viva da proximidade do Pai, como se quiséssemos sentir pessoalmente a sua ternura, para que a fé de cada crente se revigore e assim o testemunho se torne cada vez mais eficaz.

O meu pensamento dirige-se, em primeiro lugar, a todos os fiéis que em cada Diocese, ou como peregrinos em Roma, viverem a graça do Jubileu. Espero que a indulgência jubilar chegue a cada um como uma experiência genuína da misericórdia de Deus, a qual vai ao encontro de todos com o rosto do Pai que acolhe e perdoa, esquecendo completamente o pecado cometido. Para viver e obter a indulgência os fiéis são chamados a realizar uma breve peregrinação rumo à Porta Santa, aberta em cada Catedral ou nas igrejas estabelecidas pelo Bispo diocesano, e nas quatro Basílicas Papais em Roma, como sinal do profundo desejo de verdadeira conversão. Estabeleço igualmente que se possa obter a indulgência nos Santuários onde se abrir a Porta da Misericórdia e nas igrejas que tradicionalmente são identificadas como Jubilares. É importante que este momento esteja unido, em primeiro lugar, ao Sacramento da Reconciliação e à celebração da santa Eucaristia com uma reflexão sobre a misericórdia. Será necessário acompanhar estas celebrações com a profissão de fé e com a oração por mim e pelas intenções que trago no coração para o bem da Igreja e do mundo inteiro.

Penso também em quantos, por diversos motivos, estiverem impossibilitados de ir até à Porta Santa, sobretudo os doentes e as pessoas idosas e sós, que muitas vezes se encontram em condições de não poder sair de casa. Para eles será de grande ajuda viver a enfermidade e o sofrimento como experiência de proximidade ao Senhor que no mistério da sua paixão, morte e ressurreição indica a via mestra para dar sentido à dor e à solidão. Viver com fé e esperança jubilosa este momento de provação, recebendo a comunhão ou participando na santa Missa e na oração comunitária, inclusive através dos vários meios de comunicação, será para eles o modo de obter a indulgência jubilar. O meu pensamento dirige-se também aos encarcerados, que experimentam a limitação da sua liberdade. O Jubileu constituiu sempre a oportunidade de uma grande amnistia, destinada a envolver muitas pessoas que, mesmo merecedoras de punição, todavia tomaram consciência da injustiça perpetrada e desejam sinceramente inserir-se de novo na sociedade, oferecendo o seu contributo honesto. A todos eles chegue concretamente a misericórdia do Pai que quer estar próximo de quem mais necessita do seu perdão. Nas capelas dos cárceres poderão obter a indulgência, e todas as vezes que passarem pela porta da sua cela, dirigindo o pensamento e a oração ao Pai, que este gesto signifique para eles a passagem pela Porta Santa, porque a misericórdia de Deus, capaz de mudar os corações, consegue também  transformar as grades em experiência de liberdade.

Eu pedi que a Igreja redescubra neste tempo jubilar a riqueza contida nas obras de misericórdia corporais e espirituais. De facto, a experiência da misericórdia torna-se visível no testemunho de sinais concretos como o próprio Jesus nos ensinou. Todas as vezes que um fiel viver uma ou mais destas obras pessoalmente obterá sem dúvida a indulgência jubilar. Daqui o compromisso a viver de misericórdia para alcançar a graça do perdão completo e exaustivo pela força do amor do Pai que não exclui ninguém. Portanto, tratar-se-á de uma indulgência jubilar plena, fruto do próprio evento que é celebrado e vivido com fé, esperança e caridade.

Enfim, a indulgência jubilar pode ser obtida também para quantos faleceram. A eles estamos unidos pelo testemunho de fé e caridade que nos deixaram. Assim como os recordamos na celebração eucarística, também podemos, no grande mistério da comunhão dos Santos, rezar por eles, para que o rosto misericordioso do Pai os liberte de qualquer resíduo de culpa e possa abraçá-los na beatitude sem fim.

Um dos graves problemas do nosso tempo é certamente a alterada relação com a vida. Uma mentalidade muito difundida já fez perder a necessária sensibilidade pessoal e social pelo acolhimento de uma nova vida. O drama do aborto é vivido por alguns com uma consciência superficial, quase sem se dar conta do gravíssimo mal que um gesto  semelhante comporta. Muitos outros, ao contrário, mesmo vivendo este momento como uma derrota, julgam que não têm outro caminho a percorrer. Penso, de maneira particular, em todas as mulheres que recorreram ao aborto. Conheço bem os condicionamentos que as levaram a tomar esta decisão. Sei que é um drama existencial e moral. Encontrei muitas mulheres que traziam no seu coração a cicatriz causada por esta escolha sofrida e dolorosa. O que aconteceu é profundamente injusto; contudo, só a sua verdadeira compreensão pode impedir que se perca a esperança. O perdão de Deus não pode ser negado a quem quer que esteja arrependido, sobretudo quando com coração sincero se aproxima do Sacramento da Confissão para obter a reconciliação com o Pai. Também por este motivo, não obstante qualquer disposição em contrário, decidi conceder a todos os sacerdotes para o Ano Jubilar a faculdade de absolver do pecado de aborto quantos o cometeram e, arrependidos de coração, pedirem que lhes seja perdoado. Os sacerdotes se preparem para esta grande tarefa sabendo conjugar palavras de acolhimento genuíno com uma reflexão que ajude a compreender o pecado cometido, e indicar um percurso de conversão autêntica para conseguir entender o verdadeiro e generoso perdão do Pai, que tudo renova com a sua presença.

Uma última consideração é dirigida aos fiéis que por diversos motivos sentem o desejo de frequentar as igrejas oficiadas pelos sacerdotes da Fraternidade São Pio X. Este Ano Jubilar da Misericórdia não exclui ninguém. De diversas partes, alguns irmãos Bispos referiram-me acerca da sua boa fé e prática sacramental, porém unida à dificuldade de viver uma condição pastoralmente árdua. Confio que no futuro próximo se possam encontrar soluções para recuperar a plena comunhão com os sacerdotes e os superiores da Fraternidade. Entretanto, movido pela exigência de corresponder ao bem destes fiéis, estabeleço por minha própria vontade que quantos, durante o Ano Santo da Misericórdia, se aproximarem para celebrar o Sacramento da Reconciliação junto dos sacerdotes da Fraternidade São Pio X, recebam validamente e licitamente a absolvição dos seus pecados.

Confiando na intercessão da Mãe da Misericórdia, recomendo à sua protecção a preparação deste Jubileu Extraordinário.

Vaticano, 1 de Setembro de 2015

Franciscus


© Copyright - Libreria Editrice Vaticana

Tratado da vida de Cristo 33

Questão 34: Da perfeição do filho concebido

Em seguida devemos tratar da concepção do filho concebido.

E nesta questão discutem-se quatro artigos:

Art. 1 — Se Cristo foi santificado no primeiro instante da sua concepção.
Art. 2 — Se Cristo, como homem, teve o uso do livre-arbítrio no primeiro instante da sua concepção.
Art. 3 — Se Cristo, no primeiro instante da sua concepção, podia merecer.
Art. 4 — Se Cristo, no primeiro instante da sua concepção, gozou plenamente da visão beatífica.

Art. 1 — Se Cristo foi santificado no primeiro instante da sua concepção.

 O primeiro discute-se assim. — Parece que Cristo não foi santificado no primeiro instante da sua concepção.

1. — Pois, diz o Apóstolo: primeiro não o que é espiritual, senão o que é animal; depois o que é espiritual. Ora, a santificação da graça pertence ao espiritual. Logo, Cristo não recebeu a graça da santificação imediatamente, desde o princípio da sua concepção, mas depois de um certo espaço de tempo.

2. Demais. — Nós santificamo-nos do pecado, conforme aquilo do Apóstolo: E tais haveis sido alguns, isto é, pecadores, mas haveis sido justificados. Ora em Cristo nunca houve pecado. Logo, não devia ser santificado pela graça.

3. Demais. — Assim como todas as coisas foram feitas pelo Verbo de Deus, assim pelo Verbo encarnado todos os homens foram santificados, que são santificados, como diz o Apóstolo: O que santifica e os que são santificados todos veem de um mesmo princípio. Ora, o Verbo de Deus, por quem foram feitas todas as coisas, não foi feito, como diz Agostinho. Logo, Cristo, por quem todos são santificados, não foi santificado.

Mas, em contrário, o Evangelho: O santo, que há-de nascer de ti, será chamado Filho de Deus. E noutro lugar: A quem o Pai santificou e enviou ao mundo.

Como dissemos, a abundância da graça santificante da alma de Cristo derivou da própria união com c Verbo, segundo o Evangelho: Nós vimos a sua glória, como de Filho unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade. Pois, como já demonstramos, no primeiro instante da sua concepção o corpo de Cristo foi animado e assumido pelo Verbo de Deus. Donde e consequentemente, Cristo teve a plenitude da graça que lhe santificou o corpo e a alma no primeiro instante da sua concepção.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. - A ordem expressa pelo Apóstolo respeita aqueles que progridem até chegar ao estado espiritual. Ora, no mistério da Encarnação consideramos, antes, o descenso da divina plenitude à natureza humana, que um progresso da natureza humana, suposta preexistente, até Deus. Por isso, o homem Cristo teve, desde o princípio, o estado espiritual do homem.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Ser santificado é tornar-se uma coisa santa. Ora, uma coisa vem a ser, não somente partindo de um estado contrário, mas também de um termo contrário simplesmente negativo ou privativo; assim, o branco vem do preto e também do não branco. Ora, nós, de pecadores, tornamo-nos santos; e assim, a nossa santificação tem no pecado a sua causa. Ora, Cristo, enquanto homem, foi santificado, pois, nem sempre teve a santidade da graça; mas não se tornou santo, de pecador que antes fosse, porque nunca teve pecado. Santificou-se, portanto, de não santo que era, enquanto homem; não privativamente, como se antes, tendo sido homem, não tivesse sido santo; mas negativamente, isto é, porque enquanto não foi homem não teve a santidade humana. Donde, foi simultaneamente feito homem e homem santo. Por isso disse o Anjo: O santo que há-de nascer de ti. Expondo o que, diz Gregório: Afirma-se que Jesus nascerá santo, para distinguir a sua da nossa santidade; pois, nós, se nos tornamos santos, não nascemos santos, por estarmos sujeitos à condição de uma natureza corruptível. Mas só aquele verdadeiramente nasceu santo, que foi concebido sem o congresso sexual.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O Pai produz a criação das coisas pelo Filho de um modo, e toda a Trindade de outro, a santificação dos homens, pelo homem Cristo. Pois, o Verbo de Deus tem uma operação da mesma virtude que a de Deus Pai; e assim, o Pai não opera pelo Filho, como por um instrumento movido, que move. Mas, a humanidade de Cristo, é como o instrumento da divindade no sentido explicado antes. Donde, a humanidade de Cristo é santificante e santificada.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



Pequena agenda do cristão


TeRÇa-Feira


(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me:
Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?



Temas para meditar - 499

Apostolado



Dois são os elementos que Cristo prometeu e outorgou, ainda que diversamente, para continuar a Sua obra (...): o apostolado e o Espírito.

Formam o corpo, por assim dizer, material da Igreja.

O apostolado actua externa e objectivamente, confere-Lhe as suas estruturas visíveis e sociais; enquanto o Espírito Santo actua internamente, dentro de cada uma das pessoas, como também sobre a comunidade inteira, animando, vivificando, santificando.


(paulo VI, Discurso de abertura do Concílio Vaticano II, nr. 3)

Bento XVI – Pensamentos espirituais 68

Deus é exigente



Não vos contenteis com uma religiosidade externa.

Deus não Se contenta com um povo que O venera com os lábios.

Ele quer o coração e, em troca, dá-nos a sua graça, desde que não nos afastemos ou separemos d'Ele.


Discurso aos bispos da Áustria em visita ad limina, (5.Nov.05)

(in “Bento XVI, Pensamentos Espirituais”, Lucerna 2006)

Evangelho, comentário, L. Espiritual


Tempo comum XXIII Semana

Natividade da Virgem Santa Maria

Evangelho: Mt 1, 1-16

1 Genealogia de Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão. 2 Abraão gerou Isaac, Isaac gerou Jacob, Jacob gerou Judá e seus irmãos. 3 Judá gerou, de Tamar, Farés e Zara, Farés gerou Esron, Esron gerou Aram. 4 Aram gerou Aminadab, Aminadab gerou Naasson, Naasson gerou Salmon. 5 Salmon gerou Booz de Raab, Booz gerou Obed de Rut, Obed gerou Jessé. Jessé gerou o rei David. 6 David gerou Salomão daquela que foi mulher de Urias. 7 Salomão gerou Roboão, Roboão gerou Abias, Abias gerou Asa. 8 Asa gerou Josafat, Josafat gerou Jorão, Jorão gerou Ozias. 9 Ozias gerou Joatão, Joatão gerou Acaz, Acaz gerou Ezequias. 10 Ezequias gerou Manassés, Manassés gerou Amon, Amon gerou Josias. 11 Josias gerou Jeconias e seus irmãos, na época da deportação para Babilónia. 12 E, depois da deportação para Babilónia, Jeconias gerou Salatiel, Salatiel gerou Zorobabel. 13 Zorobabel gerou Abiud, Abiud gerou Eliacim, Eliacim gerou Azor. 14 Azor gerou Sadoc, Sadoc gerou Aquim, Aquim gerou Eliud. 15 Eliud gerou Eleazar, Eleazar gerou Matan, Matan gerou Jacob, 16 e Jacob gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado Cristo. 17 Assim, são catorze todas as gerações desde Abraão até David; e catorze gerações desde David até à deportação para Babilónia, e também catorze as gerações desde a deportação para Babilónia até Cristo.

Comentário:

Graças ao evangelista ficamos a saber a genealogia de Cristo.
O povo judeu mantinha com estremo rigor os registos  genealógicos porque na esperança da vinda do Messias anunciado, cada família esperava que pudesse surgir no seu seio.


Jesus Cristo, uma pessoa concreta que surge num tempo determinado é o "eixo" sobre o qual gira a mudança definitiva da humanidade.


(ama, comentário sobre Mt 1 11-17, 2014.12.17)



Leitura espiritual




CRISTO QUE PASSA


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Jesus Cristo, fundamento da vida cristã

Quis recordar, embora brevemente, alguns dos aspectos do viver actual de Cristo - Iesus Christus heri et hodie; ipse et in saecula; Jesus Cristo é sempre o mesmo, ontem e hoje, e por toda a eternidade - porque aí está o fundamento de toda a vida cristã.
Se olharmos ao nosso redor e considerarmos o decurso da história da Humanidade, observaremos progressos, avanços: a Ciência deu ao homem uma consciência maior do seu poder; a Técnica domina a Natureza melhor do que em épocas passadas; e permite à Humanidade sonhar com um nível mais alto de cultura, de vida material, de unidade.

Talvez alguns se sintam levados a matizar este quadro, recordando que os homens padecem agora injustiças e guerras maiores ainda do que as passadas.
E não lhes falta razão.
Mas, por cima dessas considerações, prefiro recordar que, no domínio religioso, o homem continua a ser homem e Deus continua a ser Deus.
Neste campo, o cume do progresso já se deu; é Cristo, alfa e ómega, princípio e fim.

No terreno espiritual não há nenhuma nova época a que chegar.
Já tudo se deu em Cristo, que morreu e ressuscitou, e vive, e permanece para sempre.
Mas é preciso unirmo-nos a Ele pela fé, deixando que a sua vida se manifeste em nós, de maneira que se possa dizer que cada cristão é, não já alter Christus, mas ipse Christus, o próprio Cristo.

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Instaurare omnia in Christo, é o lema que S. Paulo dá aos cristãos de Éfeso: dar forma a tudo segundo o espírito de Jesus; colocar Cristo na entranha de todas as coisas: Si exaltatus fuero a terra, omnia traham ad meipsum: quando Eu for levantado sobre a terra, tudo atrairei a mim.
Cristo, com a sua Encarnação, com a sua vida de trabalho em Nazaré, com a sua pregação e os seus milagres por terras da Judeia e da Galileia, com a sua morte na Cruz, com a sua Ressurreição, é o centro da Criação, Primogénito e Senhor de toda a criatura.

A nossa missão de cristãos é proclamar essa Realeza de Cristo; anunciá-la com a nossa palavra e com as nossas obras.
O Senhor quer os seus em todas as encruzilhadas da Terra.
A alguns, chama-os ao deserto, desentendidos das inquietações da sociedade humana, para recordarem aos outros homens, com o seu testemunho, que Deus existe.
Encomenda a outros o ministério sacerdotal.
À grande maioria, o Senhor quere-a no mundo, no meio das ocupações terrenas.
Estes cristãos, portanto, devem levar Cristo a todos os ambientes em que se desenvolve o trabalho humano: à fábrica, ao laboratório, ao trabalho do campo, à oficina do artesão, às ruas das grandes cidades e às veredas da montanha.

Gosto de recordar a este propósito o episódio da conversa de Cristo com os discípulos de Emaús.
Jesus caminha junto daqueles dois homens que perderam quase toda a esperança, de modo que a vida começa a parecer-lhes sem sentido. Compreende a sua dor, penetra nos seus corações, comunica-lhes algo da vida que Nele habita.
Quando, ao chegar àquela aldeia, Jesus faz menção de seguir para diante, os dois discípulos retêm-No e quase O forçam a ficar com eles.
Reconhecem-No depois ao partir o pão: - O Senhor, exclamam, esteve connosco! Então disseram um para o outro: Não é verdade que sentíamos abrasar-se-nos o coração dentro de nós enquanto nos falava no caminho e nos explicava as Escrituras?
Cada cristão deve tornar Cristo presente entre os homens; deve viver de tal maneira que todos com quem contacte sintam o bonus odor Christi, o bom odor de Cristo, deve actuar de forma que, através das acções do discípulo, se possa descobrir o rosto do Mestre.

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O cristão sabe que está enxertado em Cristo pelo Baptismo; habilitado a lutar por Cristo pela Confirmação; chamado a actuar no mundo pela participação que tem na função real, profética e sacerdotal de Cristo; feito uma só coisa com Cristo pela Eucaristia, Sacramento da unidade e do amor.
Por isso, tal como Cristo, há-de viver voltado para os outros homens, olhando com amor para todos e cada um dos que o rodeiam, para a Humanidade inteira.

A fé leva-nos a reconhecer Cristo como Deus, a vê-Lo como nosso Salvador, a identificarmo-nos com Ele, actuando como Ele actuou.
O Ressuscitado, depois de arrancar das suas dúvidas o Apóstolo Tomé, mostrando-lhe as chagas, exclama: Bem-aventurados os que, sem me verem, acreditaram.
Aqui - comenta S. Gregório Magno - fala-se de nós de um modo particular, porque nós possuímos espiritualmente Aquele a Quem corporalmente não vimos.
Fala-se de nós, mas com a condição de que as nossas acções se conformem à nossa fé.
Não crê verdadeiramente senão quem, no seu actuar, põe em prática o que crê.
Por isso, a propósito daqueles que da fé não possuem mais do que as palavras, diz S. Paulo: professam conhecer Deus mas negam-no com as obras.

Não é possível separar em Cristo o ser de Deus-Homem e a sua função de Redentor.
 O Verbo fez-se carne e veio à Terra ut omnes homines salvi fiant, para salvar todos os homens. Com todas as nossas misérias e limitações pessoais, nós somos outros Cristos, o próprio Cristo, e somos também chamados a servir todos os homens.

É necessário que ressoe uma e outra vez aquele mandamento que continuará a ser novo através dos séculos: Caríssimos - escreve S. João - não vos escrevo um mandamento novo, mas um mandamento antigo, que recebestes desde o princípio.
Este mandamento antigo é a palavra divina que ouvistes.
E, no entanto, falo-vos de um mandamento novo, que é verdadeiro n'Ele mesmo e em vós porque as trevas já passaram e já resplandece a verdadeira luz.
Quem diz que está na luz e aborrece o seu irmão, ainda está nas trevas.
Quem ama o seu irmão permanece na luz e nele não há ocasião de queda.

Nosso Senhor veio trazer a paz, a boa nova, a vida a todos os homens.
Não só aos ricos, nem só aos pobres; não só aos sábios, nem só à gente simples; a todos; aos irmãos, pois somos irmãos, já que somos filhos de um mesmo Pai, Deus.
Não há, portanto, mais do que uma raça: a raça dos filhos de Deus. Não há mais que uma cor: a cor dos filhos de Deus.
E não há senão uma língua: a que nos fala ao coração e à inteligência, sem ruído de palavras, mas dando-nos a conhecer Deus e fazendo que nos amemos uns aos outros.

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Contemplação da vida de Cristo

É esse amor de Cristo que cada um de nós deve se esforçar por realizar na sua vida.
Mas para ser ipse Christus é preciso mirar-se Nele. Não basta ter-se uma ideia geral do espírito que Jesus viveu; é preciso aprender com Ele pormenores e atitudes.
É preciso contemplar a sua vida, sobretudo para daí tirar força, luz, serenidade, paz.

Quando se ama alguém, deseja-se conhecer toda a sua vida, o seu carácter, para nos identificarmos com essa pessoa.
Por isso temos de meditar na vida de Jesus, desde o Seu nascimento num presépio até à Sua morte e à Sua Ressurreição.
Nos primeiros anos do meu labor sacerdotal costumava oferecer exemplares do Evangelho ou livros onde se narra a vida de Jesus, porque é necessário que a conheçamos bem, que a tenhamos inteira na mente e no coração, de modo que, em qualquer momento, sem necessidade de nenhum livro, cerrando os olhos, possamos contemplá-la como um filme; de forma que, nas mais diversas situações da nossa vida, acudam à memória as palavras e os actos do Senhor.

Sentir-nos-emos assim metidos na sua vida.
Na verdade, não se trata apenas de pensar em Jesus e de imaginar aqueles episódios; temos de meter-nos em cheio neles, como actores; temos de seguir Cristo tão de perto como Santa Maria, sua Mãe; como os primeiros Doze; como as santas mulheres; como aquelas multidões que se apertavam ao Seu redor.
Se fizermos assim, se não criarmos obstáculos, as palavras de Cristo penetrarão até ao fundo da nossa alma e transformar-nos-ão. Porque a palavra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante que uma espada de dois gumes; introduz-se até à divisão da alma e do espírito, até às junturas e medulas; e discerne os pensamentos e intenções do coração.

Se queremos levar os outros homens ao Senhor, é necessário abrir o Evangelho e contemplar o amor de Cristo.
Podíamos fixar as cenas-cume da Paixão, porque, como Ele mesmo disse, ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos. Mas também podemos considerar o resto da sua vida, o seu modo habitual de tratar com quem se cruzava com Ele.

Cristo, perfeito Deus e perfeito Homem, procedeu de um modo humano e divino para fazer chegar aos homens a Sua doutrina de salvação e para lhes manifestar o amor de Deus.
Deus condescende com o homem, assume a nossa natureza sem reservas, excepto no pecado.

Dá-me uma grande alegria considerar que Cristo quis ser plenamente homem, com carne como a nossa.
Emociona-me contemplar a maravilha de um Deus que ama com coração de homem.

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Entre tantas cenas narradas pelos Evangelistas, detenhamo-nos a considerar algumas, começando pelos relatos do convívio de Jesus com os Doze.
O Apóstolo João, que verte no seu Evangelho a experiência de uma vida inteira, narra a primeira conversa com o encanto daquilo que nunca mais se pode esquecer: - Mestre, onde moras?
Disse-lhe Jesus: Vinde e vede. Foram, pois, e viram onde morava e ficaram com Ele aquele dia.

Diálogo divino e humano, que transformou a vida de João e de André, de Pedro, de Tiago e de tantos outros; que preparou os seus corações para escutarem a palavra imperiosa que Jesus lhes dirigiu junto ao mar da Galileia: Caminhando Jesus junto ao mar da Galileia, viu dois irmãos, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão, lançando as redes ao mar, porque eram pescadores.
E disse-lhes: Segui-Me, e Eu farei de vós pescadores de homens. Deixando as redes, imediatamente O seguiram.

Nos três anos seguintes Jesus convive com os seus discípulos, conhece-os, responde às suas perguntas, resolve as suas dúvidas.
Sim, é o Rabi, o Mestre que fala com autoridade, o Messias enviado por Deus; mas, ao mesmo tempo, é acessível, próximo.
Um dia Jesus retira-se para orar.
Os discípulos estavam perto, olhando talvez para Ele e tentando adivinhar as suas palavras.
Quando regressa, um deles roga-Lhe: - Domine, doce nos orare, sicut docuit et Ioannes discipulos suos; ensina-nos a orar, como João ensinou aos seus discípulos.
E Jesus responde-lhes: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o Teu nome...

Também com autoridade de Deus e com carinho humano recebe o Senhor os Apóstolos, quando, assombrados pelos frutos da sua primeira missão, Lhe comentavam as primícias do seu apostolado: Vinde, retiremo-nos a um lugar deserto e repousai um pouco.

Uma cena muito similar se repete quase no final da vida de Jesus na Terra, pouco antes da Ascensão: Ao surgir a manhã, apresentou-Se Jesus na praia, mas os discípulos não sabiam que era Ele.
Disse-lhes então Jesus: Rapazes, tendes alguma coisa de comer? Aquele que tinha perguntado como homem, fala depois como Deus: Lançai a rede à direita do barco e encontrareis.
Lançaram-na, pois, e mal a podiam arrastar., devido à grande quantidade de peixe.
Então o discípulo predilecto de Jesus disse a Pedro: É o Senhor.

E Deus espera-os na margem: Logo que saltaram para terra viram ali umas brasas com peixe em cima, e pão.
Disse-lhes Jesus: Trazei dos peixes que apanhastes agora. Simão Pedro subiu à barca e puxou a rede para terra, cheia de cento e cinquenta e três grandes peixe; e, sendo tantos, não se rompeu a rede. Disse-lhes, Jesus: Vinde comer.
E nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-Lhe: Quem és Tu?, sabendo que era o Senhor.
Então Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com o peixe.

Esta delicadeza e carinho, manifesta-os Jesus, não só com um pequeno grupo de discípulos, mas com todos: com as santas mulheres, com representantes do Sinédrio, com Nicodemus e com publicamos, como Zaqueu, com doentes e com sãos, com doutores da Lei e com pagãos, com pessoas, individualmente, e com multidões inteiras.

Narram-nos os Evangelhos que Jesus não tinha onde reclinar a cabeça, mas contam-nos também que tinha amigos queridos e de confiança, ansiosos por recebê-Lo em sua casa.
E falam-nos da sua compaixão pelos enfermos, da sua mágoa pelos que ignoram e erram, da sua indignação perante a hipocrisia.
Jesus chora pela morte de Lázaro, ira-se com os mercadores que profanam o Templo, deixa que se enterneça o seu coração com a dor da viúva de Naim.

(cont)