Tempo comum XXIII Semana
Natividade
da Virgem Santa Maria
Evangelho:
Mt 1, 1-16
1 Genealogia de Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão. 2
Abraão gerou Isaac, Isaac gerou Jacob, Jacob gerou Judá e seus irmãos. 3
Judá gerou, de Tamar, Farés e Zara, Farés gerou Esron, Esron gerou Aram. 4
Aram gerou Aminadab, Aminadab gerou Naasson, Naasson gerou Salmon. 5
Salmon gerou Booz de Raab, Booz gerou Obed de Rut, Obed gerou Jessé. Jessé
gerou o rei David. 6 David gerou Salomão daquela que foi mulher de
Urias. 7 Salomão gerou Roboão, Roboão gerou Abias, Abias gerou Asa. 8
Asa gerou Josafat, Josafat gerou Jorão, Jorão gerou Ozias. 9 Ozias
gerou Joatão, Joatão gerou Acaz, Acaz gerou Ezequias. 10 Ezequias
gerou Manassés, Manassés gerou Amon, Amon gerou Josias. 11 Josias
gerou Jeconias e seus irmãos, na época da deportação para Babilónia. 12
E, depois da deportação para Babilónia, Jeconias gerou Salatiel, Salatiel gerou
Zorobabel. 13 Zorobabel gerou Abiud, Abiud gerou Eliacim, Eliacim
gerou Azor. 14 Azor gerou Sadoc, Sadoc gerou Aquim, Aquim gerou
Eliud. 15 Eliud gerou Eleazar, Eleazar gerou Matan, Matan gerou
Jacob, 16 e Jacob gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu
Jesus, chamado Cristo. 17 Assim, são catorze todas as gerações desde
Abraão até David; e catorze gerações desde David até à deportação para
Babilónia, e também catorze as gerações desde a deportação para Babilónia até
Cristo.
Comentário:
Graças ao evangelista ficamos a
saber a genealogia de Cristo.
O povo judeu mantinha com estremo rigor os registos genealógicos porque
na esperança da vinda do Messias anunciado, cada família esperava que pudesse
surgir no seu seio.
Jesus Cristo, uma pessoa concreta que surge num tempo determinado é o
"eixo" sobre o qual gira a mudança definitiva da humanidade.
(ama,
comentário sobre Mt 1 11-17, 2014.12.17)
Leitura espiritual
CRISTO QUE
PASSA
104
Jesus Cristo, fundamento da vida cristã
Quis recordar, embora brevemente, alguns
dos aspectos do viver actual de Cristo - Iesus
Christus heri et hodie; ipse et in saecula; Jesus Cristo é sempre o mesmo,
ontem e hoje, e por toda a eternidade - porque aí está o fundamento de toda a
vida cristã.
Se olharmos ao nosso redor e considerarmos
o decurso da história da Humanidade, observaremos progressos, avanços: a
Ciência deu ao homem uma consciência maior do seu poder; a Técnica domina a
Natureza melhor do que em épocas passadas; e permite à Humanidade sonhar com um
nível mais alto de cultura, de vida material, de unidade.
Talvez alguns se sintam levados a matizar
este quadro, recordando que os homens padecem agora injustiças e guerras
maiores ainda do que as passadas.
E não lhes falta razão.
Mas, por cima dessas considerações,
prefiro recordar que, no domínio religioso, o homem continua a ser homem e Deus
continua a ser Deus.
Neste campo, o cume do progresso já se
deu; é Cristo, alfa e ómega, princípio e fim.
No terreno espiritual não há nenhuma nova
época a que chegar.
Já tudo se deu em Cristo, que morreu e
ressuscitou, e vive, e permanece para sempre.
Mas é preciso unirmo-nos a Ele pela fé,
deixando que a sua vida se manifeste em nós, de maneira que se possa dizer que
cada cristão é, não já alter Christus,
mas ipse Christus, o próprio Cristo.
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Instaurare omnia in Christo, é o lema que S. Paulo dá aos
cristãos de Éfeso: dar forma a tudo segundo o espírito de Jesus; colocar Cristo
na entranha de todas as coisas: Si
exaltatus fuero a terra, omnia traham ad meipsum: quando Eu for levantado
sobre a terra, tudo atrairei a mim.
Cristo, com a sua Encarnação, com a sua
vida de trabalho em Nazaré, com a sua pregação e os seus milagres por terras da
Judeia e da Galileia, com a sua morte na Cruz, com a sua Ressurreição, é o centro
da Criação, Primogénito e Senhor de toda a criatura.
A nossa missão de cristãos é proclamar
essa Realeza de Cristo; anunciá-la com a nossa palavra e com as nossas obras.
O Senhor quer os seus em todas as
encruzilhadas da Terra.
A alguns, chama-os ao deserto,
desentendidos das inquietações da sociedade humana, para recordarem aos outros
homens, com o seu testemunho, que Deus existe.
Encomenda a outros o ministério
sacerdotal.
À grande maioria, o Senhor quere-a no
mundo, no meio das ocupações terrenas.
Estes cristãos, portanto, devem levar
Cristo a todos os ambientes em que se desenvolve o trabalho humano: à fábrica,
ao laboratório, ao trabalho do campo, à oficina do artesão, às ruas das grandes
cidades e às veredas da montanha.
Gosto de recordar a este propósito o
episódio da conversa de Cristo com os discípulos de Emaús.
Jesus caminha junto daqueles dois homens
que perderam quase toda a esperança, de modo que a vida começa a parecer-lhes
sem sentido. Compreende a sua dor, penetra nos seus corações, comunica-lhes
algo da vida que Nele habita.
Quando, ao chegar àquela aldeia, Jesus faz
menção de seguir para diante, os dois discípulos retêm-No e quase O forçam a
ficar com eles.
Reconhecem-No depois ao partir o pão: - O
Senhor, exclamam, esteve connosco! Então disseram um para o outro: Não é
verdade que sentíamos abrasar-se-nos o coração dentro de nós enquanto nos
falava no caminho e nos explicava as Escrituras?
Cada cristão deve tornar Cristo presente
entre os homens; deve viver de tal maneira que todos com quem contacte sintam o
bonus odor Christi, o bom odor de
Cristo, deve actuar de forma que, através das acções do discípulo, se possa
descobrir o rosto do Mestre.
106
O cristão sabe que está enxertado em
Cristo pelo Baptismo; habilitado a lutar por Cristo pela Confirmação; chamado a
actuar no mundo pela participação que tem na função real, profética e
sacerdotal de Cristo; feito uma só coisa com Cristo pela Eucaristia, Sacramento
da unidade e do amor.
Por isso, tal como Cristo, há-de viver
voltado para os outros homens, olhando com amor para todos e cada um dos que o
rodeiam, para a Humanidade inteira.
A fé leva-nos a reconhecer Cristo como
Deus, a vê-Lo como nosso Salvador, a identificarmo-nos com Ele, actuando como
Ele actuou.
O Ressuscitado, depois de arrancar das
suas dúvidas o Apóstolo Tomé, mostrando-lhe as chagas, exclama: Bem-aventurados
os que, sem me verem, acreditaram.
Aqui - comenta S. Gregório Magno - fala-se
de nós de um modo particular, porque nós possuímos espiritualmente Aquele a
Quem corporalmente não vimos.
Fala-se de nós, mas com a condição de que
as nossas acções se conformem à nossa fé.
Não crê verdadeiramente senão quem, no seu
actuar, põe em prática o que crê.
Por isso, a propósito daqueles que da fé
não possuem mais do que as palavras, diz S. Paulo: professam conhecer Deus mas
negam-no com as obras.
Não é possível separar em Cristo o ser de
Deus-Homem e a sua função de Redentor.
O
Verbo fez-se carne e veio à Terra ut
omnes homines salvi fiant, para salvar todos os homens. Com todas as nossas
misérias e limitações pessoais, nós somos outros Cristos, o próprio Cristo, e
somos também chamados a servir todos os homens.
É necessário que ressoe uma e outra vez
aquele mandamento que continuará a ser novo através dos séculos: Caríssimos -
escreve S. João - não vos escrevo um mandamento novo, mas um mandamento antigo,
que recebestes desde o princípio.
Este mandamento antigo é a palavra divina
que ouvistes.
E, no entanto, falo-vos de um mandamento
novo, que é verdadeiro n'Ele mesmo e em vós porque as trevas já passaram e já
resplandece a verdadeira luz.
Quem diz que está na luz e aborrece o seu
irmão, ainda está nas trevas.
Quem ama o seu irmão permanece na luz e
nele não há ocasião de queda.
Nosso Senhor veio trazer a paz, a boa
nova, a vida a todos os homens.
Não só aos ricos, nem só aos pobres; não
só aos sábios, nem só à gente simples; a todos; aos irmãos, pois somos irmãos,
já que somos filhos de um mesmo Pai, Deus.
Não há, portanto, mais do que uma raça: a
raça dos filhos de Deus. Não há mais que uma cor: a cor dos filhos de Deus.
E não há senão uma língua: a que nos fala
ao coração e à inteligência, sem ruído de palavras, mas dando-nos a conhecer
Deus e fazendo que nos amemos uns aos outros.
107
Contemplação da vida de Cristo
É esse amor de Cristo que cada um de nós
deve se esforçar por realizar na sua vida.
Mas para ser ipse Christus é preciso mirar-se Nele. Não basta ter-se uma ideia
geral do espírito que Jesus viveu; é preciso aprender com Ele pormenores e
atitudes.
É preciso contemplar a sua vida, sobretudo
para daí tirar força, luz, serenidade, paz.
Quando se ama alguém, deseja-se conhecer
toda a sua vida, o seu carácter, para nos identificarmos com essa pessoa.
Por isso temos de meditar na vida de
Jesus, desde o Seu nascimento num presépio até à Sua morte e à Sua
Ressurreição.
Nos primeiros anos do meu labor sacerdotal
costumava oferecer exemplares do Evangelho ou livros onde se narra a vida de
Jesus, porque é necessário que a conheçamos bem, que a tenhamos inteira na
mente e no coração, de modo que, em qualquer momento, sem necessidade de nenhum
livro, cerrando os olhos, possamos contemplá-la como um filme; de forma que,
nas mais diversas situações da nossa vida, acudam à memória as palavras e os
actos do Senhor.
Sentir-nos-emos assim metidos na sua vida.
Na verdade, não se trata apenas de pensar
em Jesus e de imaginar aqueles episódios; temos de meter-nos em cheio neles,
como actores; temos de seguir Cristo tão de perto como Santa Maria, sua Mãe;
como os primeiros Doze; como as santas mulheres; como aquelas multidões que se
apertavam ao Seu redor.
Se fizermos assim, se não criarmos
obstáculos, as palavras de Cristo penetrarão até ao fundo da nossa alma e
transformar-nos-ão. Porque a palavra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante
que uma espada de dois gumes; introduz-se até à divisão da alma e do espírito,
até às junturas e medulas; e discerne os pensamentos e intenções do coração.
Se queremos levar os outros homens ao
Senhor, é necessário abrir o Evangelho e contemplar o amor de Cristo.
Podíamos fixar as cenas-cume da Paixão,
porque, como Ele mesmo disse, ninguém tem maior amor do que aquele que dá a
vida pelos seus amigos. Mas também podemos considerar o resto da sua vida, o
seu modo habitual de tratar com quem se cruzava com Ele.
Cristo, perfeito Deus e perfeito Homem,
procedeu de um modo humano e divino para fazer chegar aos homens a Sua doutrina
de salvação e para lhes manifestar o amor de Deus.
Deus condescende com o homem, assume a
nossa natureza sem reservas, excepto no pecado.
Dá-me uma grande alegria considerar que
Cristo quis ser plenamente homem, com carne como a nossa.
Emociona-me contemplar a maravilha de um
Deus que ama com coração de homem.
108
Entre tantas cenas narradas pelos
Evangelistas, detenhamo-nos a considerar algumas, começando pelos relatos do
convívio de Jesus com os Doze.
O Apóstolo João, que verte no seu
Evangelho a experiência de uma vida inteira, narra a primeira conversa com o encanto
daquilo que nunca mais se pode esquecer: - Mestre, onde moras?
Disse-lhe Jesus: Vinde e vede. Foram,
pois, e viram onde morava e ficaram com Ele aquele dia.
Diálogo divino e humano, que transformou a
vida de João e de André, de Pedro, de Tiago e de tantos outros; que preparou os
seus corações para escutarem a palavra imperiosa que Jesus lhes dirigiu junto
ao mar da Galileia: Caminhando Jesus junto ao mar da Galileia, viu dois irmãos,
Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão, lançando as redes ao mar, porque eram
pescadores.
E disse-lhes: Segui-Me, e Eu farei de vós
pescadores de homens. Deixando as redes, imediatamente O seguiram.
Nos três anos seguintes Jesus convive com
os seus discípulos, conhece-os, responde às suas perguntas, resolve as suas dúvidas.
Sim, é o Rabi, o Mestre que fala com
autoridade, o Messias enviado por Deus; mas, ao mesmo tempo, é acessível,
próximo.
Um dia Jesus retira-se para orar.
Os discípulos estavam perto, olhando
talvez para Ele e tentando adivinhar as suas palavras.
Quando regressa, um deles roga-Lhe: - Domine, doce nos orare, sicut docuit et
Ioannes discipulos suos; ensina-nos a orar, como João ensinou aos seus
discípulos.
E Jesus responde-lhes: Quando orardes,
dizei: Pai, santificado seja o Teu nome...
Também com autoridade de Deus e com
carinho humano recebe o Senhor os Apóstolos, quando, assombrados pelos frutos
da sua primeira missão, Lhe comentavam as primícias do seu apostolado: Vinde,
retiremo-nos a um lugar deserto e repousai um pouco.
Uma cena muito similar se repete quase no
final da vida de Jesus na Terra, pouco antes da Ascensão: Ao surgir a manhã,
apresentou-Se Jesus na praia, mas os discípulos não sabiam que era Ele.
Disse-lhes então Jesus: Rapazes, tendes
alguma coisa de comer? Aquele que tinha perguntado como homem, fala depois como
Deus: Lançai a rede à direita do barco e encontrareis.
Lançaram-na, pois, e mal a podiam
arrastar., devido à grande quantidade de peixe.
Então o discípulo predilecto de Jesus
disse a Pedro: É o Senhor.
E Deus espera-os na margem: Logo que
saltaram para terra viram ali umas brasas com peixe em cima, e pão.
Disse-lhes Jesus: Trazei dos peixes que
apanhastes agora. Simão Pedro subiu à barca e puxou a rede para terra, cheia de
cento e cinquenta e três grandes peixe; e, sendo tantos, não se rompeu a rede.
Disse-lhes, Jesus: Vinde comer.
E nenhum dos discípulos se atrevia a
perguntar-Lhe: Quem és Tu?, sabendo que era o Senhor.
Então Jesus aproximou-Se, tomou o pão e
deu-lho, fazendo o mesmo com o peixe.
Esta delicadeza e carinho, manifesta-os
Jesus, não só com um pequeno grupo de discípulos, mas com todos: com as santas
mulheres, com representantes do Sinédrio, com Nicodemus e com publicamos, como
Zaqueu, com doentes e com sãos, com doutores da Lei e com pagãos, com pessoas,
individualmente, e com multidões inteiras.
Narram-nos os Evangelhos que Jesus não
tinha onde reclinar a cabeça, mas contam-nos também que tinha amigos queridos e
de confiança, ansiosos por recebê-Lo em sua casa.
E falam-nos da sua compaixão pelos
enfermos, da sua mágoa pelos que ignoram e erram, da sua indignação perante a
hipocrisia.
Jesus chora pela morte de Lázaro, ira-se
com os mercadores que profanam o Templo, deixa que se enterneça o seu coração
com a dor da viúva de Naim.
(cont)