«A
definição do dogma da Imaculada Conceição refere-se de modo directo unicamente
ao primeiro instante da existência de Maria, a partir do qual ficou livre de
toda a mancha da culpa original. O Magistério pontifício quis assim definir só
a verdade que tinha sido objecto de controvérsias ao longo dos séculos: a
preservação do pecado original, sem se preocupar em definir a santidade permanente
da Virgem Mãe do Senhor».
«Essa
verdade faz parte do senso comum do povo cristão, que defende que Maria, livre
do pecado original, foi preservada também de todo o pecado actual e a santidade
inicial foi-lhe concedida para preencher toda a sua existência».
«A
Igreja reconheceu constantemente que Maria foi santa e livre de todo o pecado
ou imperfeição moral. O Concílio de Trento expressa essa convicção afirmando
que ninguém “pode na sua vida inteira evitar todos os pecados, mesmo os
veniais, se não for por privilégio especial de Deus, como a Igreja ensina sobre
a bem-aventurada Virgem" (DS 1573). Também o cristão transformado e
renovado pela graça tem a possibilidade de pecar. Com efeito, a graça não
preserva de todo o pecado no decurso completo da vida, salvo se, como afirma o
Concílio de Trento, um privilégio especial assegurar essa imunidade do pecado.
E foi isso o que aconteceu em Maria».
«O
Concílio tridentino não quis definir este privilégio, mas declarou que a Igreja
o afirma com vigor: tenet, quer dizer, mantém-no com firmeza. Trata-se de uma
opção que, longe de incluir essa verdade entre as crenças piedosas ou as
opiniões de devoção, confirma o seu carácter de doutrina sólida, bem presente
na fé do povo de Deus. Por outro lado, essa convicção fundamenta-se na graça
que o anjo atribui a Maria no momento da Anunciação. Ao chamá-la "cheia de
graça" — kejaritoméne —, o anjo reconhece n’Ela a mulher dotada de uma perfeição
permanente e de uma plenitude de santidade, sem sombra de culpa nem de imperfeição
moral ou espiritual».
«O
privilégio especial que Deus outorgou à Toda Santa leva-nos a admirar as
maravilhas realizadas pela graça na sua vida. E recorda-nos também que Maria
foi sempre toda do Senhor e que nenhuma imperfeição diminuiu a perfeita harmonia
entre Ela e Deus».
«A
sua vida terrena, portanto, caracterizou-se pelo desenvolvimento constante e
sublime da fé, da esperança e da caridade. Por isso, Maria é para os crentes
sinal luminoso da Misericórdia divina e guia seguro para as elevadas metas da
perfeição evangélica e a santidade».
(Btº. joão paulo II, Catequese mariana, audiência geral, 1996.06.19)
«Quando
ultrapassou a idade da amamentação e fez três anos, os seus bem-aventurados
pais levaram-na ao templo de Deus e consagraram-na como oferenda, de acordo com
a promessa que tinham feito antes do seu nascimento. Conduziram-na com glória e
honra, como era justo; precediam-na muitas virgens e acompanhavam-na com
lâmpadas acesas, como tinha preanunciado um dia o rei profeta [David],
antepassado da Virgem imaculada, dizendo: As suas jovens companheiras
conduziram-na até ao rei, os seus amigos ofereceram-lha (Sal 44 [45] 15).
O profeta tinha dito isto com antecedência, a propósito da apresentação no
templo e das virgens que a precediam e a acompanhavam».
«No
entanto, esta profecia não diz respeito somente àquelas virgens, mas refere-se
também às almas virgens que seguiram os seus passos, almas a que o profeta
chamou "seus amigos". Embora todos sejam inferiores a Ela na amizade
e na semelhança, no entanto, por graça e bondade do seu Filho, o Senhor, as
almas dos santos são chamadas " seus amigos "; por outro lado, o
próprio Senhor e Criador do universo não considerou indigno chamar
"irmãos" àqueles que lhe são gratos e o imitam. Na realidade, todas
as almas dos justos que chegaram a ser "seus amigos" mediante o
exercício da santidade, gozarão da sua ajuda e estarão espiritualmente unidas
ao Senhor seu Filho e serão introduzidas Santo dos Santos celestial».
(Vida de Maria, atribuída a S. máximo
o confessor (século VII))