Não abandones a tua leitura espiritual.
A leitura tem feito muitos santos.
(S. josemaria, Caminho 116)
Está aconselhada a leitura espiritual diária de mais ou menos 15 minutos. Além da leitura do novo testamento, (seguiu-se o esquema usado por P. M. Martinez em “NOVO TESTAMENTO” Editorial A. O. - Braga) devem usar-se textos devidamente aprovados. Não deve ser leitura apressada, para “cumprir horário”, mas com vagar, meditando, para que o que lemos seja alimento para a nossa alma.
Para ver, clicar SFF.
Para ver, clicar SFF.
Evangelho: Lc 24, 13-35
13 No mesmo dia, caminhavam dois deles
para uma aldeia, chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios. 14
Iam falando sobre tudo o que se tinha passado. 15 Sucedeu que,
quando eles iam conversando e discorrendo entre si, aproximou-Se deles o
próprio Jesus e caminhou com eles. 16 Os seus olhos, porém, estavam
como que fechados, de modo que não O reconheceram. 17 Ele
disse-lhes: «Que palavras são essas que trocais entre vós pelo caminho?». Eles
pararam cheios de tristeza. 18 Um deles, chamado Cléofas, respondeu:
«Serás tu o único forasteiro em Jerusalém que não sabe o que ali se passou
nestes dias?». 19 Ele disse-lhes: «Que foi?». Responderam: «Sobre
Jesus Nazareno, que foi um profeta, poderoso em obras e em palavras diante de
Deus e de todo o povo; 20 e de que maneira os príncipes dos
sacerdotes e os nossos chefes O entregaram para ser condenado à morte, e O crucificaram.
21 Ora nós esperávamos que Ele fosse o que havia de libertar Israel;
depois de tudo isto, é já hoje o terceiro dia, depois que estas coisas
sucederam. 22 É verdade que algumas mulheres, das que estavam entre
nós, nos sobressaltaram porque, ao amanhecer, foram ao sepulcro 23
e, não tendo encontrado o Seu corpo, voltaram dizendo que tinham tido a
aparição de anjos que disseram que Ele está vivo. 24 Alguns dos
nossos foram ao sepulcro e acharam que era assim como as mulheres tinham dito;
mas a Ele não O encontraram». 25 Então Jesus disse-lhes: «Ó estultos
e lentos do coração para crer tudo o que anunciaram os profetas! 26
Porventura não era necessário que o Cristo sofresse tais coisas, para entrar na
Sua glória?». 27 Em seguida, começando por Moisés e discorrendo por
todos os profetas, explicava-lhes o que d'Ele se encontrava dito em todas as
Escrituras. 28 Aproximaram-se da aldeia para onde caminhavam. Jesus
fez menção de ir para mais longe. 29 Mas os outros insistiram com
Ele, dizendo: «Fica connosco, porque faz-se tarde e o dia já declina». Entrou
para ficar com eles. 30 Estando com eles à mesa, tomou o pão,
abençoou-o, partiu-o, e lho deu. 31 Abriram-se os seus olhos e
reconheceram-n'O; mas Ele desapareceu da vista deles. 32 Disseram
então um para o outro: «Não é verdade que nós sentíamos abrasar-se-nos o
coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?». 33
Levantando-se no mesmo instante, voltaram para Jerusalém. Encontraram juntos os
onze e os que estavam com eles, 34 que diziam: «Na verdade o Senhor
ressuscitou e apareceu a Simão». 35 E eles contaram também o que
lhes tinha acontecido no caminho, e como O tinham reconhecido ao partir o pão.
CARTA
ENCÍCLICA
MYSTICI CORPORIS
DO
SUMO PONTÍFICE
PAPA
PIO XII
AOS
VENERÁVEIS IRMÃOS PATRIARCAS, PRIMAZES,
ARCEBISPOS
E BISPOS E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM
PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
O
CORPO MÍSTICO DE JESUS CRISTO E NOSSA UNIÃO NELE COM CRISTO
PRIMEIRA
PARTE
A
IGREJA CORPO, "MÍSTICO" DE CRISTO
…/3
2. A Igreja é o corpo
"de Cristo"
b) Cristo é a
"cabeça" deste corpo
44.
Agora aos motivos expostos para demonstrar que Cristo Senhor nosso deve
dizer-se cabeça do seu corpo social, acrescentemos outros três entre si
intimamente conexos.
45.
Começamos pela mútua relação que existe entre a cabeça e o corpo, pelo facto de
serem da mesma natureza. Neste ponto note-se que a nossa natureza, bem que
inferior à angélica, a vence por bondade de Deus: "De facto Cristo, como
diz o Doutor de Aquino, é cabeça dos Anjos; pois que preside aos Anjos também
segundo a humanidade... e enquanto homem ilumina os Anjos e influi sobre eles.
Mas quanto à conformidade de natureza Cristo não é cabeça dos Anjos, porque não
assumiu os Anjos, mas, segundo o Apóstolo, a descendência de Abraão".
[1] E
não só assumiu Cristo a nossa natureza, mas fez-se nosso consanguíneo num corpo
passível e mortal. Ora se o Verbo "se aniquilou a si mesmo tomando a forma
de servo" (Fl 2,7) fê-lo também para tornar os seus irmãos
segundo a carne consortes da natureza divina (cf. 2Pd 1,4) tanto no
exílio terreno pela graça santificante, como na pátria celeste pela eterna
bem-aventurança. De facto se o Unigénito do Eterno Pai quis ser falho do homem,
foi para que nós nos conformássemos à imagem do Filho de Deus (cf: Rm
8,29) e nos renovássemos segundo a imagem daquele que nos criou (cf.
Cl 3,10). Por conseguinte todos os que se gloriam do nome de cristãos,
não só olhem para o divino Salvador como para um altíssimo e perfeitíssimo
exemplar de todas as virtudes, mas evitando cuidadosamente o pecado e
praticando diligentemente a virtude, procurem reproduzir nos seus costumes a
sua doutrina e vida, de modo que, quando o Senhor aparecer, sejam semelhantes a
ele na glória, vendo-o tal qual é (cf. 1Jo 3,2).
46.
Cristo aeseja que cada um de seus membros se lhe assemelhe; mas deseja
igualmente que se lhe assemelhe todo o corpo da Igreja. O que sucede quando
ela, seguindo as pistas de seu fundador, ensina, governa, e imola o divino
sacrifício; quando abraça os conselhos evangélicos, e reproduz em si mesma a
pobreza, a obediência e a virgindade do Redentor; quando, nos muitos e variados
institutos que como joias a adornam, nos faz de certo modo ver Cristo, ora no
monte contemplando, ora pregando às turbas, ora curando os doentes e feridos e
convertendo os pecadores, ora, enfim, fazendo bem a todos. Não é, pois, para
admirar se ela, enquanto vive nesta terra, se vê também, como Cristo, exposta a
perseguições, vexames e sofrimentos.
47.
Depois Cristo é cabeça da Igreja, porque avantajando-se na plenitude e
perfeição dos dons sobrenaturais, desta plenitude aure o seu corpo místico. Com
efeito, notam muitos Padres, assim como no corpo humano a cabeça possui todos
os cinco sentidos, ao passo que o resto do corpo unicamente possui o tacto, da
mesma forma, todas as virtudes, dons e carismas que há na sociedade cristã,
resplandecem de modo singularíssimo na cabeça, Cristo. "Aprouve que nele
habitasse toda a plenitude" (Cl 1,19); a ele exornam todos os
dons que acompanham a união hipostática; porquanto nele habita o Espírito Santo
com tal plenitude de graças, que não se pode conceber maior. A ele foi dado
poder sobre a carne (cf. Jo 17,2); nele se encerram "todos os
riquíssimos tesouros de sabedoria e ciência" (Cl 2,3). A
própria ciência de visão é nele de tal ordem que supera absolutamente em
compreensão e clareza a ciência correspondente de todos os bem-aventurados.
Enfim, ele é tão cheio de graça e verdade, que todos nós recebemos da sua
inexaurível plenitude (cf. Jo 1,14-16).
48.
Essas palavras do discípulo, a quem Jesus amava com singular caridade,
levam-nos a expor a última razão que de modo particular demonstra ser Cristo
Senhor Nosso cabeça do seu corpo místico. E é que assim como da cabeça partem
os nervos, que, difundindo-se por todos os membros do corpo, lhes comunicam
sensibilidade e movimento, assim também o divino Salvador infunde na sua Igreja
força e vigor, com que os fiéis conhecem mais claramente e mais avidamente
apetecem as coisas de Deus. Dele provém ao corpo da Igreja toda a luz que
ilumina divinamente os féis, e toda a graça com que se fazem santos como ele é
santo.
49.
Cristo ilumina toda a sua Igreja: prova-o um sem número de passos da Sagrada
Escritura e dos santos Padres. "A Deus nunca ninguém o viu; foi o Filho Unigénito,
que está no seio do Pai, que no-lo deu a conhecer" (cf. Jo 1,18).
Vindo da parte de Deus como Mestre (cf. Jo 3,2), para dar testemunho
a verdade (cf. Jo 18,37) iluminou com tanta luz a primitiva Igreja
dos apóstolos, que o príncipe deles exclamava: "Senhor, para quem iremos?
Vós tendes palavras de vida eterna" (cf. Jo 6,68). Assistiu do
céu os evangelistas, que como membros de Cristo, escreveram o que ele, como
cabeça, lhes ditou e ensinou. [2] E
hoje a nós que moramos neste exílio terrestre é autor da fé, como na pátria é o
seu consumador (cf. Hb 12,2). É ele que infunde nos féis a luz da
fé; ele que aos pastores e doutores e sobre todos ao seu vigário na terra
enriquece divinamente com os dons sobrenaturais de ciência, entendimento e
sabedoria, para que conservem fielmente o tesouro da fé, o defendam
corajosamente, piedosa e diligentemente o expliquem e valorizem; Ele é, enfim,
o que invisível preside e dirige os concílios da Igreja. [3]
50.
Cristo é autor e operador de santidade. Já que nenhum acto salutar pode haver
que dele não derive como fonte soberana: "Sem mim, diz ele, nada podeis
fazer" (cf. Jo 15,5). Se nos sentimos movidos à dor e contrição
dos pecados cometidos, se com temor e esperança filial nos convertemos a Deus,
é sempre a sua graça que nos comove. A graça e a glória brotam da sua
inexaurível plenitude. Sobretudo aos membros mais eminentes de seu corpo
místico enriquece o Salvador continuamente com os dons de conselho, fortaleza,
temor, piedade, para que todo o corpo cresça cada dia mais em santidade e
perfeição. E quando com rito externo se ministram os sacramentos da Igreja, é
ele que opera os seus efeitos nas almas. [4] É
ele também que, nutrindo os fiéis com a própria carne e sangue, serena os
movimentos desordenados das paixões; é ele que aumenta as graças e prepara a
futura glória das almas e dos corpos. Ele reparte todos esses tesouros da
divina bondade pelos membros do seu corpo místico não só enquanto os obtém do
Eterno Pai como vítima eucarística na terra e como vítima glorificada no céu,
mostrando as suas chagas e apresentando as suas súplicas, mas também porque
"segundo a medida do dom de Cristo" (Ef 4,7) escolhe,
determina, distribui a cada um as suas graças. Donde se segue que do divino
Redentor, como de fonte manancial, "todo o corpo bem organizado e unido
recebe por todas as articulações, segundo a medida de cada membro, o influxo e
energia que o faz crescer e aperfeiçoar na caridade" (Ef 4,16; cf. Cl
2,19).
c) Cristo é o sustentáculo
deste corpo
51.
O que até aqui expusemos, veneráveis irmãos, explicando resumidamente o modo
como Cristo Senhor Nosso quer que, da sua divina plenitude, desça sobre a
Igreja a abundância de seus dons, para que ela se lhe assemelhe o mais
possível, serve para explicar a terceira razão que demonstra como o corpo
social da Igreja é corpo de Cristo, isto é, por ser nosso Salvador quem
divinamente sustenta a sociedade que fundou.
52.
Observa Belarmino, com muita subtileza, [5]
que com esta denominação de corpo Cristo não quer dizer somente que ele é a
cabeça do seu corpo místico, senão também que sustenta a Igreja, de tal maneira
que a Igreja é como uma segunda personificação de Cristo. Afirma-o também o
Doutor das gentes, quando, na epístola aos Coríntios, chama, sem mais, Cristo a
Igreja (l Cor 12,12), imitando decerto o divino Mestre que, quando
ele perseguia a Igreja, lhe bradou do céu: "Saulo, Saulo, por que me
persegues?" (cf. At 9,4; 22, 7; 26,14). Antes são Gregório
Nisseno diz-nos que o Apóstolo repetidamente chama Cristo à Igreja; [6]
nem vós, veneráveis irmãos, ignorais aquela sentença de Agostinho: "Cristo
prega a Cristo". [7]
53.
Todavia essa nobilíssima denominação não deve entender-se como se aquela
inefável união, com que o Filho de Deus assumiu uma determinada natureza
humana, se estende a toda a Igreja; mas quer dizer que o Salvador comunica à
sua Igreja os seus próprios bens de tal forma que ela, em toda a sua vida
visível e invisível, é um perfeitíssimo retrato de Cristo. De facto por força
da missão jurídica com que o divino Redentor enviou os apóstolos ao mundo, como
o Pai o enviara a ele (cf. Jo 17,18 e 20,21), é ele que pela sua
Igreja baptiza, ensina, governa, ata, desata, oferece e sacrifica. E com aquela
comunicação mais elevada, interior e sublimíssima, de que falamos acima,
descrevendo o modo como a cabeça influi nos membros, Cristo faz que a Igreja
viva da sua vida sobrenatural, penetra com a sua divina virtude todo o corpo, e
a cada um dos membros, segundo o lugar que ocupa no corpo, nutre-o e sustenta-o
do mesmo modo que a videira sustenta e torna frutíferas as vides aderentes à
cepa. [8]
54.
Se bem considerarmos esse divino princípio de vida e actividade, dado por
Cristo, enquanto constitui a própria fonte de todos os dons e graças criadas,
compreenderemos facilmente que não é outra coisa senão o Espírito Paráclito que
procede do Pai e do Filho e de modo peculiar se diz "Espírito de Cristo"
ou "Espírito do Filho" (Rm 8, 9; 2 Cor 3,17; Gl 4,6). Com
esse Espírito de graça e de verdade ornou o Filho de Deus a sua alma logo no
imaculado seio da Virgem; esse Espírito deleita-se em habitar na alma do
Redentor, como no seu templo predileto; esse Espírito mereceu-no-lo Cristo
derramando o próprio sangue; e, soprando sobre os apóstolos, comunicou-o à
Igreja para perdoar os pecados (cf. Jo 20,22); e ao passo que só
Cristo o recebeu sem medida (cf. Jo 3,34), aos membros do corpo
místico dá-se da plenitude de Cristo e só na medida que ele o quer dar (cf.
Ef 1,8; 4,7). Depois que Cristo foi glorificado na cruz, o seu Espírito é
comunicado à Igreja em copiosíssima efusão para que ela e cada um dos seus
membros se pareçam cada vez mais com o Salvador. É o Espírito de Cristo que nos
faz filhos adoptivos de Deus (cf. Rm 8,14-17; Gl 4,6-7), para que um
dia "todos, contemplando a face descoberta, a glória do Senhor, nos
transformemos na sua própria imagem cada vez mais resplandecente" (cf.
2Cor 3,18).
55.
A esse Espírito de Cristo, como a princípio invisível, deve atribuir-se também
a união de todas as partes do corpo tanto entre si como com sua cabeça, pois
que ele está todo na cabeça, todo no corpo e todo em cada um dos membros;
conforme as suas funções e deveres, e segundo a maior ou menor saúde espiritual
de que gozam, está presente e assiste de diversos modos. É ele que com o hálito
de vida celeste em todas as partes do corpo é o princípio de toda a acção vital
e verdadeiramente salutar. É ele que, embora resida e opere divinamente em
todos os membros, contudo também age nos inferiores por meio dos superiores;
ele, enfim, que cada dia produz na Igreja com sua graça novos incrementos, mas
não habita com a graça santificante nos membros totalmente cortados do corpo.
Essa presença e acção do Espírito de Jesus Cristo foi expressa, sucinta e
energicamente, pelo nosso sapientíssimo predecessor, de imortal memória, Leão
XIII, na Encíclica Divinum Illud por
estas palavras: "Baste afirmar que, sendo Cristo cabeça da Igreja, o
Espírito Santo é a sua alma". [9]
56.
Se, porém, considerarmos aquela força e energia vital com que o divino Fundador
sustenta toda a família cristã, não já em si mesma, mas nos efeitos criados que
produz, então veremos que consiste nas dons celestes que nosso Redentor
juntamente com seu Espírito dá a Igreja e juntamente com o mesmo Espírito,
opera, como doador da luz sobrenatural e causa eficiente da santidade. E é por
isso que a Igreja não menos que todos os santos, seus membros, pode tornar sua,
aquela grande sentença do Apóstolo: "Vivo; já não eu; mas vive Cristo em
mim" (Gl 2,20).
d) Cristo é o
‘conservador’ deste corpo
57.
O que temos dito da "cabeça mística" [10]
ficaria incompleto, se não tocássemos, ao menos brevemente, aquela outra
sentença do mesmo Apóstolo: "Cristo é a cabeça da Igreja; ele é o Salvador
do seu corpo" (Ef 5,23). Nestas palavras temos a última razão
pela qual a Igreja é dita corpo de Cristo: Cristo é o Salvador divino desse
corpo. Com razão foi pelos samaritanos proclamado "Salvador do mundo"
(Jo 4,42); antes deve sem dúvida alguma dizer-se "Salvador de
todos", embora com São Paulo devamos acrescentar: "sobretudo dos
fiéis" (cf. 1Tm 4,10). De facto com o seu sangue, mais que
todos os outros, comprou os seus membros que constituem a Igreja (At
20,28). Tendo, porém, já exposto detalhadamente esse ponto quando acima
tratamos da Igreja nascida da cruz, de Cristo iluminador, santificador e
sustentador do seu corpo místico, não há porque demorarmo-nos em maiores
explanações; meditemo-lo antes com humildade e atenção, dando contínuas graças
a Deus. O que o nosso divino Salvador começou outrora, pendente da cruz, não
cessa de o perfazer continuamente na celeste bem-aventurança: "A nossa
cabeça, diz santo Agostinho, ora por nós; acolhe uns membros, castiga outros, a
outros purifica, a outros consola, a outros cria, a outros chama, a outros
torna a chamar, a outros corrige, a outros reintegra". [11] A
nós é dado cooperar com Cristo nesta obra, "de um e por um somos salvos e
salvamos". [12]
3. A Igreja é o corpo ‘místico’
de Cristo
58.
Passamos já, veneráveis irmãos, a expor as razões com que desejamos mostrar que
o corpo de Cristo, que é a Igreja, se deve denominar místico. Essa denominação,
usada já por vários escritores antigos, comprovam-na não poucos documentos
pontifícios. E há muitas razões para se dever adoptar: pois que por ela o corpo
social da Igreja, cuja cabeça e supremo regedor é Cristo, pode distinguir-se do
seu corpo físico, nascido da Virgem Maria e que agora está sentado à destra do
Pai ou oculto sob os véus eucarísticos; pode também distinguir-se, e isto é
importante por causa dos erros actuais, de qualquer corpo natural, quer físico,
quer moral.
59.
De facto, enquanto no corpo natural o princípio de unidade junta de tal maneira
as partes que cada uma fica sem própria subsistência, ao contrário, no corpo
místico, a força de mútua coesão, por mais íntima que seja, une os membros de
modo que conservam perfeita e personalidade própria. Além disso, se
considerarmos a relação entre o todo e os diversos membros em todo e qualquer
corpo físico dotado de vida, os membros particulares destinam-se, em última
análise, unicamente ao bem de todo o composto, ao passo que toda a sociedade de
homens, considerado o fim último da sua unidade, é finalmente ordenada ao
proveito de todos e cada um dos membros, como pessoas que são. Portanto, para
voltarmos ao nosso ponto, como o Filho do Eterno Pai desceu do céu por amor da
nossa eterna salvação, assim fundou o corpo da Igreja e o enriqueceu do seu
divino Espírito para procurar e conseguir a bem-aventurança das almas imortais,
conforme aquela sentença do Apóstolo; "Todas as coisas são vossas; vós,
porém, sois de Cristo; e Cristo de Deus" (l Cor 3,23); [13] A
Igreja como é ordenada ao bem dos fiéis, assim é destinada a glória de Deus e à
daquele que ele mandou, Jesus Cristo.
60.
Se compararmos o corpo místico com o moral, veremos que a diferença não é leve,
mas importantíssima e gravíssima. No corpo moral não há outro princípio de
unidade senão o fim comum e a cooperação comum sob a autoridade social para o
mesmo fim; ao passo que no corpo místico de que falamos, a essa tendência comum
do mesmo fim junta-se outro princípio interno, realmente existente e activo,
tanto de todo o composto, como em cada uma das partes, e tão excelente, que
supera imensamente todos os vínculos de unidade que unem o corpo, quer físico,
quer moral. Esse princípio é, como acima dissemos, de ordem não natural mas
sobrenatural, antes em si mesmo absolutamente infinito e incriado: o Espírito
divino, que, como diz o Angélico, "sendo um só e o mesmo enche e une toda
a Igreja". [14]
61.
Por conseguinte esse termo bem entendido lembra-nos que a Igreja, sociedade perfeita
no seu género, não consta só de elementos sociais e jurídicos. Ela é muito mais
excelente que quaisquer outras sociedades humanas [15]
às quais excede quanto a graça supera a natureza, quanto as coisas imortais se
avantajam as mortais e caducas. [16]
As Comunidades humanas, sobretudo a Sociedade civil, não são para desprezar,
nem para ser tidas em pouca conta; mas a Igreja não está toda em realidades
desta ordem, como o homem todo não é só corpo mortal. [17] É
verdade que os elementos jurídicos, em que a Igreja se estriba e de que se
compõe, nascem da divina constituição que Cristo lhe deu, e servem para
conseguir o fim sobrenatural; contudo o que eleva a sociedade cristã a um grau
absolutamente superior a toda a ordem natural, é o Espírito do Redentor, que, como
fonte de todas as graças, dons e carismas, enche perpétua e intimamente a
Igreja e nela opera. O organismo do nosso corpo é por certo obra-prima do
Criador, mas fica imensamente aquém da excelsa dignidade da alma; assim a
constituição social da república cristã, embora apregoe a sabedoria do seu
divino Arquitecto, é, contudo, de ordem muitíssimo inferior, quando se compara
aos dons espirituais de que se adorna e vive, e à fonte divina donde eles
dimanam.
Nota:
Revisão da tradução portuguesa por ama
[1] Comm. in Ep. ad Eph., cap. l, lect 8; Hb. 2,16-17.
[2] Cf. S. Agostinho, De cons. evang., I, 35, 54;
Migne, PL 34,1070.
[3] Cf . S. Cirilo Alex., Ep. 55 de
Symb.; Migne, PG 77, 293.
[4] Cf. S. Tomás, Summa theol., III, q. 64, a: 3.
[5] Cf. De Rom. Pont.,
I, 9; De Concil., II,19.
[6] Cf. S. Greg. Niss.,
De vita Moysis; Migne, PG 44, 385.
[7] Cf. Sermo 354, 1;
Migne, PL 39,1563.
[8] Cf. Leão XIII, enc. "Sapientiae Christianae';
AAS 22(1889-90), p. 392; enc. "Satis cognitum'; AAS 28(1895-96), p. 710.
[9] AAS 29 (1896-97),
p. 650.
[10] Cf. S. Ambrosio, De
Elia et ieiun., 10, 36-37, e in Psal. 118, serm. 20, 2; Migne, PL 14, 710 e
15,1483.
[11] Comentário aos
Salmos, 85,5.
[12] S. Clem. Alex.,
Strom., VII, 2; Migne, PG 9, 413.
[13] Pio XI, enc.
"Divini Redemptoris": AAS 29(1937), p. 80.
[14] De veritate, q. 29,
a. 4 c.
[16] Cf. Leão XIII, enc.
"Satis cognitum"; AAS 28 (1895-96), p. 724.
[17] Cf. ibidem, p. 710.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.