2.ª Tessalonicenses - 6
Os escravos –
1
Todos os que se encontram sob o jugo da escravidão considerem os seus senhores
dignos de toda a honra, para que o nome de Deus e a doutrina não sejam blasfemados.
2 E os que têm senhores crentes não os desprezem, por serem irmãos; antes,
devem servi-los melhor, porque os que beneficiam do seu trabalho são fiéis e
amados de Deus.
Falsas doutrinas e verdadeira piedade –
Isto
é o que deves ensinar e recomendar. 3 Se alguém ensinar outra doutrina e não
aderir às sãs palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo e ao ensinamento conforme à
piedade, 4 é um obcecado pelo orgulho, um ignorante, um espírito doentio dado a
querelas e contendas de palavras. Daí nascem invejas, rixas, injúrias,
suspeitas maldosas, 5 altercações entre homens de espírito corrompido e
desprovidos de verdade, que julgam ser a piedade uma fonte de lucro. 6 A
piedade é, realmente, uma grande fonte de lucro para quem se contenta com o que
tem. 7 Pois nada trouxemos ao mundo e nada podemos levar dele. 8 Tendo alimento
e vestuário, contentemo-nos com isso. 9 Mas os que querem enriquecer caem na
tentação, na armadilha e em múltiplos desejos insensatos e nocivos que
precipitam os homens na ruína e na perdição. 10 Porque a raiz de todos os males
é a ganância do dinheiro. Arrastados por ele, muitos se desviaram da fé e se
enredaram em muitas aflições. 11 Mas tu, ó homem de Deus, foge dessas coisas.
Procura antes a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança, a mansidão.
12 Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste
chamado e da qual fizeste uma bela profissão na presença de muitas testemunhas.
13 Na presença de Deus, que dá a vida a todas as coisas, e de Jesus Cristo, que
deu testemunho perante Pôncio Pilatos numa bela profissão de fé, 14 recomendo-te
que guardes o mandato, sem mancha nem culpa, até à manifestação de Nosso Senhor
Jesus Cristo. 15 Esta manifestação será feita nos tempos estabelecidos, pelo
bem-aventurado e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, 16o
único que possui a imortalidade, que habita numa luz inacessível, que nenhum
homem viu nem pode ver. A Ele, honra e poder eterno! Ámen!
Recomendação aos ricos –
17
Aos ricos deste mundo recomenda que não sejam orgulhosos, nem ponham a sua
esperança na riqueza incerta, mas em Deus que nos dá tudo com abundância para
nosso usufruto; 18 que pratiquem o bem, se enriqueçam de boas obras, sejam
generosos, capazes de partilhar. 19 Deste modo, acumularão um bom tesouro para
o futuro, a fim de conquistarem a verdadeira vida.
Saudação final –
20
Ó Timóteo, guarda o depósito da fé, evita as vãs conversas profanas e as
contradições da falsa ciência, 21 que alguns professam e desviaram-se da fé. A
graça esteja convosco!
250
Olhai
que o Senhor anseia por nos conduzir com passos maravilhosos, divinos e
humanos, que se traduzem numa abnegação feliz, de alegria com dor, de
esquecimento de nós mesmos.
Se
alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo. Um conselho que já todos ouvimos.
Temos
de nos decidir a segui-lo de verdade: Que o Senhor Se sirva de nós para que,
metidos em todas as encruzilhadas do mundo - e estando nós metidos em Deus -
sejamos sal, levedura, luz.
Tu,
em Deus, para iluminar, para dar sabor, para aumentar, para fermentar.
Mas
não te esqueças de que não somos nós quem cria essa luz; apenas a reflectimos.
Não
somos nós quem salva as almas, levando-as a praticar o bem. Somos apenas um
instrumento, mais ou menos digno, para os desígnios salvíficos de Deus.
Se
alguma vez pensássemos que o bem que fazemos é obra nossa, voltaria a soberba,
ainda mais retorcida; o sal perderia o sabor, a levedura apodreceria, a luz
converter-se-ia em trevas.
251
Um personagem mais
Nestes
trinta anos de sacerdócio, ao insistir tenazmente na necessidade da oração, na
possibilidade de converter a existência num clamor incessante, algumas pessoas
têm-me perguntado: Mas será possível comportar-se sempre assim?
É.
Essa
união com Nosso Senhor não nos afasta do mundo, não nos transforma em seres
estranhos, alheios à passagem dos tempos.
Se
Deus nos criou, se nos redimiu, se nos ama até ao ponto de entregar o seu Filho
unigénito por nós, se nos espera - todos os dias! - como aquele pai da parábola
esperava o seu filho pródigo, como não há-de desejar que o tratemos com amor?
O
que seria estranho era não falar com Deus, afastar-se d'Ele, esquecê-lo,
dedicar-se a actividades estranhas a esses toques ininterruptos da graça.
252
Além
disso, seria bom que pensásseis que ninguém escapa ao mimetismo.
Os
homens, até inconscientemente, movem-se num contínuo afã de se imitarem uns aos
outros.
E
nós, abandonaremos o convite para imitar Jesus?
Cada
indivíduo esforça-se por se identificar, pouco a pouco, com aquilo que o atrai,
com o modelo que escolheu para a sua própria maneira de ser.
De
acordo com o ideal que cada um forja para si mesmo, assim resulta o seu modo de
proceder.
O
nosso Mestre é Jesus Cristo: o Filho de Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima
Trindade.
Imitando
a Cristo, alcançamos a maravilhosa possibilidade de participar nessa corrente
de amor, que é o mistério de Deus Uno e Trino.
Se
em certas ocasiões não vos sentis com forças para seguir as pisadas de Jesus
Cristo, conversai, como entre amigos, com aqueles que o conheceram enquanto
permaneceu nesta nossa terra.
Em
primeiro lugar, com Maria, que o trouxe para nós.
Com
os Apóstolos. Vários gentios aproximaram-se de Filipe, que era de Betsaida da
Galileia, e fizeram-lhe este pedido, dizendo: «Desejamos ver Jesus.
Foi
Filipe e disse-o a André; André e Filipe disseram-no a Jesus.»
Não
é verdade que isto nos anima?
Aqueles
estrangeiros não se atrevem a apresentar-se ao Mestre e procuram um bom
intercessor.
253
Pensas
que os teus pecados são muitos, que o Senhor não poderá ouvir-te?
Não
é assim, porque tem entranhas de misericórdia.
Se,
apesar desta maravilhosa verdade, dás conta da tua miséria, mostra-te como o
publicano: Senhor, aqui estou, tal como Tu vês!
E
observai o que nos conta São Mateus, quando põem diante de Jesus um paralítico.
Aquele
doente não diz nada: Só está ali, na presença de Deus.
E
Cristo, comovido por essa contrição, pela dor daquele que sabe que nada merece,
não tarda em reagir com a sua misericórdia habitual: Tem confiança, são-te
perdoados os teus pecados.
Eu
aconselho-te a que, na tua oração, intervenhas nas passagens do Evangelho, como
um personagem mais.
Primeiro,
imaginas a cena ou o mistério, que te servirá para te recolheres e meditares.
Depois,
aplicas o entendimento, para considerar aquele rasgo da vida do Mestre: o seu
Coração enternecido, a sua humildade, a sua pureza, o seu cumprimento da
Vontade do Pai.
Conta-lhe
então o que te costuma suceder nestes assuntos, o que se passa contigo, o que
te está a acontecer.
Mantém-te
atento, porque talvez Ele queira indicar-te alguma coisa: surgirão essas moções
interiores, o caíres em ti, as admoestações.
254
Para
orientar a oração, costumo - talvez isto possa ajudar algum de vós -
materializar até o que há de mais espiritual.
Nosso
Senhor utilizava este processo.
Gostava
de ensinar por parábolas, tiradas do ambiente que o rodeava: do pastor e das
ovelhas, da vide e dos sarmentos, de barcos e redes, da semente que o semeador
lança às mãos cheias...
Na
nossa alma caiu a Palavra de Deus.
Que
tipo de terra é a que lhe preparámos?
Abundam
as pedras?
Está
cheia de espinhos?
É
talvez um lugar demasiadamente calcado por pegadas meramente humanas,
mesquinhas, sem brio?
Senhor,
que a minha parcela seja terra boa, fértil, exposta generosamente à chuva e ao
sol; que a tua semente pegue; que produza espigas gradas, trigo bom.
«Eu
sou a videira, vós os sarmentos.»
Chegou
Setembro e as cepas estão carregadas de vergônteas longas, finas, flexíveis e
nodosas, abarrotadas de fruto, prontas já para a vindima.
Reparai
nesses sarmentos repletos, porque participam da seiva do tronco.
Só
assim aqueles minúsculos rebentos de alguns meses atrás puderam converter-se em
polpa doce e madura, que encherá de alegria a vista e o coração das pessoas.
No
solo ficam talvez algumas varas toscas, soltas, meias enterradas. Eram
sarmentos também, mas secos, estiolados.
São
o símbolo mais gráfico da esterilidade. Porque, sem mim, nada podeis fazer.
O
tesouro. Imaginai a alegria imensa do afortunado que o encontra. Acabaram os
apertos, as angústias.
Vende
tudo o que possui e compra aquele campo.
Todo
o seu coração pulsa aí: onde esconde a sua riqueza.
O
nosso tesouro é Cristo; não nos deve importar o facto de deitarmos pela borda
fora tudo o que for estorvo, para o poder seguir.
E a
barca, sem esse lastro inútil, navegará directamente para o porto seguro do
Amor de Deus.
255
Há
mil maneiras de rezar, digo-vos de novo.
Os
filhos de Deus não precisam de um método, quadriculado e artificial, para se
dirigirem ao seu Pai.
O
amor é inventivo, industrioso; se amamos, saberemos descobrir caminhos
pessoais, íntimos, que nos levam a este diálogo contínuo com o Senhor.
Queira
Deus que tudo o que acabamos de contemplar hoje, não passe pela nossa alma como
uma tormenta de verão: quatro gotas, sol e de novo a seca.
Esta
água de Deus tem de remansar-se, chegar às raízes e dar fruto de virtudes.
Assim
irão passando os nossos anos - dias de trabalho e de oração - na presença do
Pai.
Se
fraquejarmos, recorreremos ao amor de Santa Maria, Mestra de oração; e a São José, Pai e Senhor nosso, a quem tanto veneramos, que é quem mais intimamente
privou neste mundo com a Mãe de Deus e - depois de Santa Maria - com o seu
Filho Divino. E eles apresentarão a nossa debilidade a Jesus, para que Ele a
converta em fortaleza.