18/01/2023

Publicações em 18 Janeiro 2022

 


Dentro do Evangelho

Mc IV

1 De novo começou a ensinar à beira-mar. Uma enorme multidão vem agrupar-se junto dele e, por isso, sobe para um barco e senta-se nele, no mar, ficando a multidão em terra, junto ao mar. 2 Ensinava-lhes muitas coisas em parábolas e dizia nos seus ensinamentos: 3 «Escutai: o semeador saiu a semear. 4 Enquanto semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho e vieram as aves e comeram-na. 5 Outra caiu em terreno pedregoso, onde não havia muita terra e logo brotou, por não ter profundidade de terra; 6 mas, quando o sol se ergueu, foi queimada e, por não ter raiz, secou. 7 Outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram, sufocaram-na, e não deu fruto. 8 Outra caiu em terra boa e, crescendo e vicejando, deu fruto e produziu a trinta, a sessenta e a cem por um.» 9 E dizia: «Quem tem ouvidos para ouvir, oiça.» 10 Ao ficar só, os que o rodeavam, juntamente com os Doze, perguntaram-lhe o sentido da parábola. 11 Respondeu: «A vós é dado conhecer o mistério do Reino de Deus; mas, aos que estão de fora, tudo se lhes propõe em parábolas, 12 para que ao olhar, olhem e não vejam, ao ouvir, oiçam e não compreendam, não vão eles converter-se e ser perdoados.» 13 E acrescentou: «Não compreendeis esta parábola? Como compreendereis então todas as outras parábolas? 14 O semeador semeia a palavra. 15 Os que estão ao longo do caminho são aqueles em quem a palavra é semeada; e, mal a ouvem, chega Satanás e tira a palavra semeada neles. 16 Do mesmo modo, os que recebem a semente em terreno pedregoso, são aqueles que, ao ouvirem a palavra, logo a recebem com alegria, 17 mas não têm raiz em si próprios, são inconstantes e, quando surge a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, logo desfalecem. 18 Outros há que recebem a semente entre espinhos; esses ouvem a palavra, 19 mas os cuidados do mundo, a sedução das riquezas e as restantes ambições entram neles e sufocam a palavra, que fica infrutífera. 20 Aqueles que recebem a semente em boa terra são os que ouvem a palavra, a recebem, dão fruto e produzem a trinta, a sessenta e a cem por um.» 21 Disse-lhes ainda: «Põe-se, porventura, a candeia debaixo do alqueire ou debaixo da cama? Não é para ser colocada no candelabro? 22 Porque não há nada escondido que não venha a descobrir-se, nem há nada oculto que não venha à luz. 23 Se alguém tem ouvidos para ouvir, oiça.» 24 E prosseguiu: «Tomai sentido no que ouvis. Com a medida que empregardes para medir é que sereis medidos, e ainda vos será acrescentado. 25 Pois àquele que tem, será dado; e ao que não tem, mesmo aquilo que tem lhe será tirado.» 26 Dizia ainda: «O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. 27 Quer esteja a dormir, quer se levante, de noite e de dia, a semente germina e cresce, sem ele saber como. 28 A terra produz por si, primeiro o caule, depois a espiga e, finalmente, o trigo perfeito na espiga. 29 E, quando o fruto amadurece, logo ele lhe mete a foice, porque chegou o tempo da ceifa.» 30 Dizia também: «Com que havemos de comparar o Reino de Deus? Ou com qual parábola o representaremos? 31 É como um grão de mostarda que, ao ser deitado à terra, é a mais pequena de todas as sementes que existem; 32 mas, uma vez semeado, cresce, transforma-se na maior de todas as plantas do horto e estende tanto os ramos, que as aves do céu se podem abrigar à sua sombra.» 33 Com muitas parábolas como estas, pregava-lhes a Palavra, conforme eram capazes de compreender. 34 Não lhes falava senão em parábolas; mas explicava tudo aos discípulos, em particular. 35 Naquele dia, ao entardecer, disse: «Passemos para a outra margem.» 36 Afastando-se da multidão, levaram-no consigo, no barco onde estava; e havia outras embarcações com Ele. 37 Desencadeou-se, então, um grande turbilhão de vento, e as ondas arrojavam-se contra o barco, de forma que este já estava quase cheio de água. 38 Jesus, à popa, dormia sobre uma almofada. 39 Acordaram-no e disseram-lhe: «Mestre, não te importas que pereçamos?» Ele, despertando, falou imperiosamente ao vento e disse ao mar: «Cala-te, acalma-te!» O vento serenou e fez-se grande calma. 40 Depois disse-lhes: «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» 41 E sentiram um grande temor e diziam uns aos outros: «Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?»

 

Comentários:

 

As comparações, exemplos, que Jesus Cristo dá quando fala do Reino de Deus devem ter ficado gravadas para sempre na mente e no coração dos que as ouviram. E em nós também, porque por inspiração do Espírito Santo os evangelistas no-las fizeram chegar. São palavras, explicações, simples, acessíveis que qualquer um pode perceber. Desta forma ninguém poderá dizer que não entende. O que é importante é que ninguém possa dizer: ninguém me explicou! Essa é a nossa tarefa o encargo de qualquer cristão.

Como comentar este trecho do Evangelho? Com as minhas pobres palavras humanas? Não! Deixo o comentário mais completo, esclarecedor e definitivo que é aquele que o próprio Senhor faz, na explicação da parábola.

Este semeador de que Cristo fala é O Próprio Deus que não faz qualquer acepção de pessoas dando a todos as mesmas oportunidades. Às «mãos cheias», com extraordinária prodigalidade, vai lançando ao mundo a Sua palavra, para que todos – absolutamente – possam usufruir de quanto contém e, sobretudo, das oportunidades de salvação. O Reino de Deus é vasto, mas Ele chega a todo o lado enviando os Seus apóstolos de hoje – como fez com os de ontem – a todos os lugares da terra e, como o semeador, fica esperando com expectante interesse, como essa palavra, essa semente lançada no coração dos homens, frutifique, dando muitos e bons frutos ou, ao contrário, estiole e morra sem nada produzir. Ele, O Senhor, fez o “Seu trabalho”, nós, homens, temos de fazer o nosso, isto é, receber essa semente e cuidar com esmero desta dádiva absolutamente gratuita para que, ao ajudá-la a crescer e frutificar, possamos distribuir a outros essa semente, palavra e garantia de Vida Eterna.

Talvez haja quem pense que Jesus Cristo deveria falar de outro modo, mais claro, directo. A verdade é que - desde sempre - a melhor forma de apresentar algo novo e revelar o até então desconhecido, ė através de exemplos gráficos, simples e assertivos que melhor possam ser compreendidos. Sobretudo naquele tempo de escassa cultura, ensinar usando os métodos tradicionais era algo reservado só a alguns e, o povo comum e anónimo, não tinha nem acesso nem possuía bases que lhe permitissem compreender totalmente o que se lhes transmitia. Seja como for, o Evangelista confirma que tudo era explicado aos discípulos para que entendessem bem a doutrina que as parábolas encerravam.

Como já antes comentamos, as comparações que o Senhor faz com o Reino dos Céus são tão simples e despidas de artifícios que qualquer um pode entender. Aos que nos dedicamos ao apostolado - que devemos ser todos os cristãos - deve servir-nos de exemplo a seguir: a nossa preocupação deve ser que nos entendam e compreendam o que desejamos transmitir donde que, a "velha desculpa eu não tenho jeito para falar", não tem qualquer cabimento.

É muito comum usar este texto de São Marcos para estabelecer uma correlação com a Igreja. De facto, desde o início tem sido submetida a autênticas tempestades que, muitas vezes, atingem proporções de autêntica catástrofe e tal como os da barca, também nós nos perguntamos: ‘Onde estás Senhor que pareces ausente ou desinteressado da sorte dos Teus filhos objecto de violências incríveis, vítimas de furor persecutório que provoca inumeráveis vítimas’? Sim… onde estás Senhor Tu que és a cabeça desta Igreja’?

É para nós um mistério do qual o demónio se serve muitas vezes para abalar a nossa fé e confiança. Neste debate íntimo que é lógico e naturalmente justificável, escolhamos antes rezar com redobrada confiança pelos perseguidos e pelos que perseguem, pela paz na Igreja e nos seus filhos.

Quantas vezes, Senhor, me ponho a pensar que dormes, que não vês o que se passa comigo. Sofro, tenho necessidades – julgo ter necessidades – aquela pessoa que tanto gostava morreu, desfez-se uma família a quem tanto quero, sou humilhado, tenho necessidade de justiça, parece-me que estou sozinho entregue a mim mesmo e às minhas dificuldades e problemas. Dormes, Senhor? Como me admiro, que Tu, que me amas – sei que me amas – adormeças assim, alheio à minha situação! Mas, depois, vejo que o sono é meu, a dormência é minha, o alheamento sou eu que o vivo. Percebo que Te quero como um “Deus particular”, só para mim, que me resolva os problemas e aplane as dificuldades e esqueço-me do mais importante: ter fé inquebrantável em que, Tu, sabes mais, e que tudo, absolutamente, é para bem. Omnia in bonum!

Jesus dorme rendido pelo cansaço de um trabalho apostólico intenso. A Sua humanidade, como a nossa, precisa de descansar. Cristo é um Homem Perfeito, mas não é um super-homem, tem fome, sente sede, é vencido pela fadiga. Esta realidade comove e atrai e, de certo modo, realça a humanidade do Salvador. De facto, Ele é igual a nós em tudo excepto no pecado.

«Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» e poderia ter acrescentado: o que mais será preciso para que a tenham!

De facto, só sabemos a “medida” da nossa fé, quando esta é colocada à prova. É fácil dizer ‘acredito’, ‘creio’ quando não há nenhum risco ou perigo ou, talvez, uma situação de confronto, aí...sim! Afirmar que se tem fé e, mais que afirmar, sentir a fé sólida, inabalável, inamovível... aí, quando o ambiente é adverso, contestatário, intolerante, mundano, ateu, aí... nessas situações em que os outros nos olham com suspeita ou desprezo, troçam e fazem pouco e se permitem teorizar sobre a “crendice” e “falta de cultura” que, segundo eles, caracteriza os verdadeiros cristãos, aí é que se revela em toda a sua grandeza a força da nossa fé em Jesus Cristo Nosso Senhor.

Porque temo, Senhor?! Porque me parece que Tu dormes, que não Te dás conta da tempestade que me assalta, da tormenta que me assedia. Mas… oiço-Te: Sim, Eu durmo, é verdade, a Minha humanidade que, por tua causa assumi, leva-me ao cansaço e o corpo, rendido, adormece; mas, acaso não estou no teu barco? Como podes então supor que o vento ou o mar ou outra coisa qualquer, tem algum poder sobre Mim?! A Minha humanidade pode adormecer mas a Minha divindade permanece e, Eu, sou o Senhor de todas as coisas… não acreditas nisto?

Oh Senhor, eu acredito, mas bem sabes como a minha fé é débil e que, sem Ti, me sinto perdido. Fica comigo, Senhor, fica no meu barco, dorme, descansa que eu fico de vela para que nada aconteça,mas, não Te esqueças, Senhor, aumenta a minha fé!

De facto, parece que a Fé tem a ver com o medo, muita gente tem, realmente, medo de ter Fé porque adivinha que, ao tê-la, a sua vida “se complica” inevitavelmente. A pessoa com Fé tem um sentido diferente da vida daquele que a não possui e, mais, obriga-se a proceder de acordo com essa mesma fé que, de modo simples, se pode traduzir: Acreditar em Jesus Cristo.

O Senhor não dorme, isto é, nunca se alheia das verdadeiras necessidades dos Seus irmãos os homens. Muitas vezes parece que Lhe é indiferente mas não! Está apenas a pôr à prova a nossa fé, a nossa confiança.

A bonança que se segue à tempestade faz esquecer a violência e o temor que aquela provocou. Assim a paz de espírito que se instala no nosso coração depois da Confissão Sacramental. O bem alcançado passa, assim, a ser muito mais importante que o mal-estar anterior. A absolvição que, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, o Sacerdote nos concede, é o lenitivo necessário e conveniente para a inquietação e humilhações que o pecado provocou. Vale a pena!!!

A Luz do Mundo fala da luz e explica que quem possui luz tem por obrigação iluminar o ambiente, os outros. Não pode guardar para si um bem que lhe foi dado, exactamente para ser portador e meio de transmissão. O que temos - tudo absolutamente - foi-nos entregue em confiança, em primeiro lugar para que o utilizemos nos nossos esforços de melhoria pessoal, na procura da santidade, depois para que distribuamos esses mesmos bens pelos outros que deles possam precisar para atingir o mesmo fim.

As palavras de Jesus: «Com a medida com que medirdes vos medirão a vós, e ainda se vos acrescentará», constituem uma autêntica sen­tença a ter em conta muito cuidadosamente. De facto, dar, acrescenta sempre algo a quem recebe, mas, o que dá, também recebe porque não se dá nada que não se tenha recebido an­tes. Nós, os homens, na realidade, não temos nada nosso, tudo nos foi dado por Deus e, quando daquilo que recebemos damos uma parte a quem precisa, recebemos daquele a quem demos, a gratidão e de Deus, a compensação porque, Ele, nunca Se deixa vencer em generosidade.

Nós, os cristãos, somos a «luz do mundo» na medida em reflectimos a Luz de Deus, e não temos o direito de a guardar só para nós. Iluminados pelo Espírito Santo, vamos – temos de ir – espalhando à nossa volta essa claridade que tudo descobre e retira das sombras o que deve estar à vista, mas… atenção, essa “luz” não é outra coisa que o exemplo que damos de nós mesmos com a nossa vida e comportamento.

Este trecho de São Marcos contém uma declaração de Jesus de extrema importância para a nossa vida de cristãos. Por palavras Suas, diz expressamente: «Tomai sentido no que ouvis. Com a medida que empregardes para medir é que sereis medidos, e ainda vos será acrescentado. Pois àquele que tem, será dado; e ao que não tem, mesmo aquilo que tem lhe será tirado.»

Todos, mais ou menos, temos esta tendência de julgar, aferir o comportamento dos outros sem qualquer autoridade ou direito de o fazer. Pois bem: é essa “medida” que o Senhor fala e que, garante, será usada connosco. Somos bons? Óptimo pois, então, o Senhor garante-nos que poderemos ser muito melhores. Somos mesquinhos, orgulhosos, convencidos que sabemos o suficiente? Pois, então, a nossa sabedoria revelar-se-á em ignorância e, aquilo que guardamos com tanto orgulho, ser-nos-á tirado e ficaremos reduzidos a simples humanos sem valor, qualificação ou merecimento.

O Senhor, por vezes, é algo enigmático no Seu discurso. Pelo menos assim nos parece, mas, se atendermos bem, compreenderemos o que Jesus Cristo quer dizer com as Suas palavras: Em primeiro lugar destaca o privilégio dos filhos de Israel como povo escolhido por Deus para ser o primeiro a receber o Seu Reino, cum­prindo as promessas feitas ao longo dos tempos tal como nos revelam os Profetas; Em segundo lugar porque deseja que a conversão seja um acto interior, fruto de um amadurecimento na Fé nele como Filho Unigénito de Deus e Salvador de todos os homens, e não algo furtuito nascido de um en­tusiasmo ocasional sem raízes profundas. Porque a conversão é algo pessoal; já a Fé pertence a Deus concedê-la como dom e graça inteiramente gratuitos.

O êxito apostólico – por assim dizer – depende em grande parte de nós próprios, é certo, mas está intimamente ligado àqueles a quem nos dirigimos e às disposições que possam ter no momento. De facto, temos de ter em atenção que “as condições” para sementeira podem variar devido às circunstâncias particulares que cada um vive, donde, seja absolutamente necessário um critério esclarecido, uma visão correcta para escolher o momento, a ocasião mais apropriada. Ajudar-nos-á, sem dúvida, pedir ajuda ao Espírito Santo, talvez utiizando a famosa composição de São Tomás de Aquino: “Oh! Espírito Santo, Amor do Pai e do Filho: Inspira-me sempre o que devo pensar, o que devo dizer, como devo dizer. O que devo calar, o que devo escrever, como devo fazer, ara obter a Vossa Glória, o bem das almas e a minha própria santificação”.

Haverá trabalho mais nobre e útil que semear? Penso que não! Transmitir aos outros o que se sabe ser verdade, conhecimentos sobre um ofício ou tarefa, formas de actuar nas diversas circunstâncias e fases da vida corrente e, sobretudo, as verdades da Fé Cristã, além de ser trabalho nobílissimo é serviço de Deus e a Deus. Ele, não obstante as nossas fraquezas e debilidades, – ou talvez por isso mesmo – quer servir-se de cada um dos homens, sem excluir ninguém, para transmitir a Sua Palavra, dar a conhecer o Seu Reino, mas... atenção! O primeiro “campo” a semear é o nosso coração, a nossa alma, instruir-nos, estudar, aprofundar o mais possível, de modo que, a semente que iremos utilizar seja a melhor, a mais conveniente a que melhores frutos poderá produzir.

É preciso, também, ter presente que, raramente quem colhe é aquele que semeou, não é este o seu encargo. Querer a todo o custo ver a seara, pode “apagar” o verdadeiro sentido de serviço e albergar algum sentimento de vã glória. Por isso mesmo convém, sumamente, orientar a sementeira de acordo com as instruções do Director Espiritual que sabe muito bem onde e como semear e, até, a ocasião mais oportuna para o fazer. Seguindo este critério, semeemos, pois, a semente de Deus e, Ele, a fará frutificar independentemente do “terreno” onde foi lançada.

Ao considerarmos este trecho de São Marcos voltamos sempre à mesma reflexão: Sou cristão! Sou Filho de Deus! Sou – devo ser – o reflexo da Sua luz que ilumina o mundo! Como poderei fazê-lo se “ficar em casa”, não contactar os outros, en­fim… se não fizer apostolado? Convençamo-nos que ser apóstolo não é mais que reflectir nos outros a Luz que recebemos de Cristo.

Na sua pregação, Jesus Cristo repete muitas vezes, de forma seme­lhante, esta frase: «Se alguém tem ouvidos para ouvir, oiça». É um aviso sério a ter muito em conta por todos os homens, sobretudo pelos cristãos. A Palavra que ouvimos é Palavra de vida eterna, tem a ver com a nossa salvação, por isso é de suma importância entender o que ouvimos, mas, principalmente, ouvir de forma a pôr em prática o que nos é dito se não… seremos uns sujeitos passivos, desatentos e a quem éindiferente ou pouco importa o que lhe é dito. Será uma pena e um desperdício com resultados nefastos e, talvez, decisivos para a nossa própria felicidade.

O que tenho, na verdade, não é meu, não me pertence, foi-me em­prestado para fazer render e passar a outros. Na medida em que o fizer – e tenho de o fazer como obrigação cristã – ser-me-á acrescentado e, não obstante dar, passarei a ter mais. É, de facto, um mistério mas, para mim, é claro como água porque foi O Próprio Jesus quem o disse. Ajuda-me, Senhor, a partilhar a luz que de Ti recebo para que outros também possam ver como eu vejo.

Quem dá aos pobres empresta a Deus!’ ouvia o meu querido Pai dizer com frequência. Mais que uma frase bonita, ela transmite uma realidade já que foi o próprio Jesus Cristo Quem garantiu que nem um simples copo com água dado por amor ao próximo ficará sem recompensa,  assim é que o Senhor devolve com altíssimos juros aquilo que Lhe emprestamos nas pessoas que nos pedem assistência, é, pois, um excelente negócio a ter muito em conta.

O Reino de Deus não é algo que se instala no espírito do homem de um momento para o outro. Começa no nosso Baptismo em que, por obra e Graça do Espírito Santo, somos convertidos em Filhos de Deus e, depois, ao longo da nossa vida deverá ir crescendo através da prática das boas obras, da frequência dos Sacramentos, principalmente com a recepção da Sagrada Comu­nhão Eucarística, este é o campo, a semente onde devemos “trabalhar” com afinco, pe­dindo que a Graça de Deus nos robusteça a Fé, a Esperança e a Cari­dade que enformarão todo o nosso ser humano.

Damo-nos conta da extraordinária Graça que nos é concedida: saber-mos de “fonte segura” o que é o Reino de Deus? Passaram centenas e centenas de anos em que uma incomensurável multidão de seres humanos não sabia exactamente o que era e, em enorme maioria, nem sequer suspeitava da sua existência, foram esses homens um pouco “desconfiados” e de escassa cultura que nos transmitiram esse conhecimento tal como o ouviram repetidas vezes dos lábios de Cristo. Como devemos agradecer, venerar e exaltar esses Discípulos e Após­tolos a quem tanto devemos!

O Reino de Deus existe quer o homem queira ou não, deseje ou não fazer parte dele. O Senhor explica abundantemente e com paciência amorosa o que é esse Reino e as vantagens – reais – de participar no seu anúncio a todos os homens sem distinção ou acepção. Os trabalhadores do Reino, que devemos ser todos os cristãos, têm uma garantia de “sucesso” que é dada pelo próprio Rei: mesmo que a sua acção seja como um grão de mostarda, aparentemente insignifi­cante, o resultado ultrapassa tudo o que possamos imaginar. Grandes e pequenas sementeiras, todas darão frutos porque é O Se­nhor Quem os faz surgir para os santificar e distribuir por todos.

Um grão de mostarda! Tal é o Reino de Deus! Esse mesmo Reino que Cristo veio instaurar na, missão a que entregou a própria Vida. Como Deus é simples! Nós, homens, temos esta tendência para O considerar Grande e Pode­roso e, consequentemente, complicado, mas não é. Não há nada nem ninguém mais simples que Deus, porque sendo Uno tem de ser simples, só o múltiplo é complicado e, por vezes, difícil de entender. A Deus Nosso Senhor entendemo-Lo perfeitamente desde que, verda­deiramente, escutemos o que nos diz.

Como se pode ver, o Reino de Deus que Jesus Cristo veio anunciar e trazer à terra, só existirá com o concurso do trabalho do homem. Não podemos ficar inertes à espera que tudo aconteça como uma dá­diva de Deus. Esta dádiva – aquilo que Deus assegura no Seu Reino – serão os frutos que o nosso trabalho, bem feito, com perseverança e persistência dará e que Ele distribuirá conforme Lhe aprouver. No fim e ao cabo, trata-se de exercer a nossa vocação pessoal – seja qual for – com os olhos postos no Senhor A Quem queremos oferecer o nosso trabalho e dedicar o nosso empenho. Ora, para que tal possa ser aceite, tem de ser algo em que nos empe­nhámos a sério, pondo todas as nossas capacidades e talentos naquilo que fazemos seja semear, estudar, ensinar, construir… o quer que seja a nossa profissão, o nosso trabalho, assim, seremos, de facto e pleno direito, súbditos deste Reino que nos foi dado pelo próprio Rei com a Sua imolação na Cruz.

Que extraordinário! Este Rei, Criador e Senhor de todas as coisas, quer que O “ajudemos” na construção do Seu Reino! Sem mérito algum da nossa parte, concede-nos essa dignidade espan­tosa: construtores do Reino de Deus! É admirável a confiança que o Senhor tem em nós, pobres criaturas cheios de fraquezas e misérias, para levar a cabo tão portentosa tarefa. Não desperdicemos a oportunidade, não desiludamos Quem nos con­vida. A paga será proporcional à tarefa: Incomensurável.

Dia após dia, passo a passo, assim é, deve ser, o trabalho de aposto­lado com perseverança e confiança. Perseverança em não esmorecer no trabalho, mesmo que os frutos tardem em surgir ou, até, não os vejamos nunca, alguém os colherá quando for o tempo certo. A missão do apóstolo não é colher, mas sim semear, não em seu nome mas em nome de Deus. Confiança porque, o Senhor, não deixa nunca que o trabalho de apos­tolado seja em vão. Ele, que sabe mais, decidirá quando e como os frutos hão-de aparecer e, também, não deixará sem prémio, o trabalho efectuado em Seu Nome.

Somos, de facto, imensamente mais afortunados que os discípulos que seguiam Jesus! Esta afirmação que faço sem hesitar, vem-me da constatação de que, a mim, não é preciso que o Senhor me explique as parábolas com que Se refere ao Seu Reino, aqueles se encarregaram de, ao longo dos tempos, as irem explicando e comentando de modo que, o que hoje nos chega é tão abundante e rico que só quem não quiser realmente entender é que terá alguma dúvida, mas, eles, foram os primeiros e enfrentavam uma “novidade”, algo tão “revolucionário”, grandioso e, ao mesmo tempo, simples que não eram capazes por si sós de entender completamente o significado.

A catequese de Jesus Cristo, chega-nos até aos dias de hoje através da Sua Igreja e do Magistério, desta Igreja que, constantemente, propõe aos seus filhos, abundantes meios de formação e enriquecimento espiri­tual. Mal de nós se não os aproveitar-mos!

 

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