Tempo Comum II Semana
Evangelho: Mc 2 23-28
23 Sucedeu também
que, caminhando Jesus em dia de sábado, por entre campos de trigo, os
discípulos começaram a colher espigas, enquanto caminhavam. 24 Os
fariseus diziam-Lhe: «Como é que fazem ao sábado o que não é permitido?». 25
Ele respondeu: «Nunca lestes o que fez David, quando se viu necessitado, e teve
fome, ele e os que com ele estavam? 26 Como entrou na casa de Deus,
sendo sumo-sacerdote Abiatar, e comeu os pães da proposição, dos quais não era
permitido comer, senão aos sacerdotes, e deu também aos que o acompanhavam?». 27
E acrescentou: «O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. 28
Por isso o Filho do Homem é Senhor também do sábado».
Comentário:
No tempo em que vivemos na Igreja Católica, o Domingo é
o dia que se reserva de um modo especial para o Senhor. Todos os dias Lhe
pertencem e, pelo facto de estarmos vivos, Lhe devemos dar graças. Mas, ao
Domingo, devemos de modo muito particular ter presente essa filiação divina que
é a nossa porque Ele assim quis e, de certa forma, converter esse dia, num dia
da família dos filhos de Deus é aquilo que se pretende.
Para quê? Evidentemente para fomentar a união entre os
cristãos e, fruto dessa união, constituir uma família autêntica que procura
seguir, em tudo, as ‘pisadas’ do seu Chefe.
O grande encontro dominical na Santa Missa, torna-se
assim, um ocasião excelente para o fazermos e, dando o exemplo, levar outros a
cumprir esse preceito que a nossa Mãe, a Santa Igreja, vivamente nos recomenda.
(ama,
comentário sobre Mc 2, 23-28, 2014.01.22)
Leitura espiritual
São Josemaria Escrivá
Temas actuais do
cristianismo [i]
24
Quererá
V. Rev.ª explicar qual a missão central e quais os objectivos do Opus Dei? Em
que precedentes baseou as suas ideias sobre a Associação? Ou será o Opus Dei
algo de único, de totalmente novo dentro da Igreja e da Cristandade? Será
lícito compará-lo com as Ordens Religiosas e com os Institutos Seculares, ou
com associações católicas do tipo, por exemplo, da Holy Name Society, dos
Caballeros de Colón ou do Christopher Movement?
O
Opus Dei propõe-se promover, entre pessoas de todas as classes da sociedade, o
desejo da plenitude de vida cristã no meio do mundo. Isto é, o Opus Dei
pretende ajudar as pessoas que vivem no mundo - o homem vulgar, o homem da rua
- a levar uma vida plenamente cristã, sem modificar o seu modo normal de vida,
o seu TRABALHO habitual, nem os seus ideais e preocupações.
Por
isto se pode dizer, como escrevi há muitos anos, que o Opus Dei é velho como o
Evangelho e, como o Evangelho, novo. Trata-se de recordar aos cristãos as
palavras maravilhosas que se lêem no Génesis: que Deus criou o homem para
TRABALHAR. Pusemos os olhos no exemplo de Cristo, que passou quase toda a sua
vida terrena trabalhando como artesão numa terra pequena. O trabalho não é
apenas um dos mais altos valores humanos e um meio pelo qual os homens hão-de
contribuir para o progresso da sociedade; é também um caminho de santificação.
A
que outras organizações poderíamos comparar o Opus Dei? A resposta não é fácil,
porque, quando se querem comparar entre si organizações com fins espirituais,
corre-se o risco de ficar pelos traços exteriores ou pelas denominações
jurídicas, esquecendo o que mais importa - o espírito que dá vida e razão de
ser a toda a actividade.
Limitar-me-ei
a dizer-lhe que, no que diz respeito às que mencionou, a Obra está muito longe
das Ordens Religiosas e dos Institutos Seculares, e mais perto de instituições
como a Holy Name Society.
O
Opus Dei é uma organização internacional de leigos, a que pertencem também
sacerdotes diocesanos (minoria bem exígua em comparação com o total de
membros). Os seus membros são pessoas que vivem no mundo e nele exercem uma
profissão ou ofício. Não entram no Opus Dei para abandonar esse trabalho, mas,
pelo contrário, para encontrar uma ajuda espiritual que os leve a santificar o
seu trabalho quotidiano, convertendo-o também em meio de santificação, sua e
dos outros. Não mudam de estado: continuam a ser solteiros, casados, viúvos, ou
sacerdotes; procuram, sim, servir Deus e os outros homens, dentro do seu
próprio estado. Ao Opus Dei, não interessam votos nem promessas; o que pede aos
seus sócios é que, no meio das deficiências e erros, próprios de toda a vida
humana, se esforcem por praticar as virtudes humanas e cristãs, sabendo-se
filhos de Deus.
Se
alguma comparação se quer fazer, a maneira mais fácil de entender o Opus Dei é
pensar na vida dos primeiros cristãos. Eles viviam profundamente a sua vocação
cristã; procuravam muito a sério a perfeição a que eram chamados, pelo facto,
ao mesmo tempo simples e sublime, do Baptismo. Não se distinguem exteriormente
dos outros cidadãos. Os membros do Opus Dei são como toda a gente: realizam um
trabalho corrente; vivem no meio do mundo conforme aquilo que são - cidadãos
cristãos que querem responder inteiramente às exigências da sua fé.
25
Permita-me,
Monsenhor, que insista na questão dos Institutos Seculares. Num estudo dum
conhecido canonista, o Dr. Julián Herranz, li eu que alguns desses Institutos
são secretos e que muitos outros, na prática, se identificam com as Ordens
Religiosas (usando hábito, abandonando o trabalho profissional para se
dedicarem aos mesmos fins a que se dedicam os religiosos, etc.), a ponto de os
seus membros não terem inconveniente em considerar-se eles próprios como
religiosos. Que pensa V. Rev.º deste assunto?
O
estudo acerca dos Institutos Seculares, a que se refere, teve, efectivamente,
ampla difusão entre os especialistas. O Dr. Herranz exprime, sob
responsabilidade inteiramente pessoal, uma tese bem documentada. Sobre as
conclusões desse trabalho, prefiro não falar.
Quero
apenas dizer-lhe que todo esse modo de proceder nada tem que ver com o Opus
Dei, que não é secreto, nem é de modo algum comparável, pela sua actuação ou
pela vida dos seus membros, às Ordens Religiosas. Os sócios do Opus Dei, como
acabo de dizer, são cidadãos iguais aos outros, que exercem livremente todas as
profissões e todas as tarefas humanas que sejam honestas. [*]
[*]
Mons. Escrivá de Balaguer afirmou repetidamente que o Opus Dei, de facto, não
era um Instituto Secular, como também não era uma comum associação de fiéis.
Ainda que tenha sido aprovado, em 1947, como Instituto Secular, por ser a
solução jurídica menos inadequada para o Opus Dei dentro das normas jurídicas
então vigentes na Igreja, Mons. Escrivá de Balaguer pensara, já há muitos anos,
que a situação jurídica definitiva do Opus Dei estava entre as estruturas
seculares de jurisdição pessoal, como é o caso das Prelaturas pessoais.
26
Poderia
descrever o desenvolvimento e a evolução do Opus Dei, tanto na sua natureza
como nos seus objectivos, desde a fundação, durante um período que assistiu a
tamanhas modificações dentro da própria Igreja?
Desde
o primeiro momento, o único objectivo do Opus Dei foi o que acabo de lhe
indicar: contribuir para que, no meio do mundo, haja homens e mulheres de todas
as raças e condições sociais que procurem amar e servir a Deus e aos outros
homens no seu trabalho habitual e através dele. No início da Obra, em 1928, o
que eu defendi foi que a santidade não é coisa para privilegiados, pois podem
ser divinos todos os caminhos da Terra, todos os estados de vida, todas as
profissões, todas as tarefas honestas. As implicações dessa mensagem são muitas
e a experiência da vida da Obra tem-me ajudado a conhecê-las cada vez mais
profundamente e com mais riqueza de cambiantes.
A
Obra nasceu pequena e foi crescendo normalmente, de maneira gradual e
progressiva, como cresce um organismo vivo e como tudo o que se desenvolve na
História. Mas o objectivo e razão de ser da Obra não mudou, nem mudará, por
muito que possa mudar a sociedade, porque a mensagem do Opus Dei consiste em
proclamar que qualquer trabalho honesto pode ser santificado, sejam quais forem
as circunstâncias em que se processa.
Hoje,
fazem parte da Obra pessoas de todas as profissões: não só médicos, advogados,
engenheiros e artistas, mas também pedreiros, mineiros, camponeses; qualquer
profissão - desde realizadores de cinema e pilotos de aviões de reacção, até
cabeleireiros de alta moda.
Para
os membros do Opus Dei, estar actualizado, compreender o mundo moderno, é uma
coisa natural e instintiva, porque são eles - juntamente com os outros
cidadãos, e tal como eles - quem faz nascer esse mundo e lhe dá a sua
modernidade.
Se
é este o espírito da nossa Obra, já vê como terá sido grande alegria para nós
ouvir o Concílio declarar solenemente que a Igreja não repele o mundo em que
vive, nem o seu progresso e desenvolvimento, antes o compreende e o ama. De
resto, uma das características essenciais da espiritualidade que os membros da
Obra se esforçam, desde há quase 40 anos, por viver, é justamente a consciência
de que são, ao mesmo tempo, parte integrante da Igreja e do Estado, assumindo,
portanto, cada um, plenamente e com toda a liberdade, a sua responsabilidade
individual como cristão e como cidadão.
27
Poderia
descrever as diferenças que existem entre o modo como a Opus Dei, enquanto
associação, cumpre a sua missão, e o modo como os membros da Obra, enquanto
indivíduos, cumprem as suas? Por exemplo, que critérios levam a considerar que
determinado projecto - um colégio, uma casa de retiros - deva ser de
preferência realizado pela Associação, e outro - uma empresa editora ou
comercial, por exemplo - caiba a pessoas individuais?
A
actividade principal do Opus Dei consiste em dar aos seus sócios e a quem o
deseje os meios espirituais necessários para viverem como bons cristãos no meio
do mundo. Dá-lhes a conhecer a doutrina de Cristo, os ensinamentos da Igreja;
proporciona-lhes um espírito que os leva a trabalhar bem, por amor de Deus e ao
serviço de todos os homens. Numa palavra, trata-se de viver como cristão:
convivendo com toda a gente, respeitando a legítima liberdade de todos e fazendo
com que este nosso mundo seja mais justo.
Cada
um dos sócios do Opus Dei ganha a vida e serve a sociedade com a profissão que
tinha antes de entrar na Obra. Assim, uns são mineiros, outros ensinam em
escolas ou Universidades, outros ainda são comerciantes, donas de casa,
secretárias, lavradores. Entre as actividades honestas do homem, nenhuma há que
não possa ser exercida por um sócio do Opus Dei. Quem, por exemplo, antes de
pertencer à Obra, trabalhava numa actividade editorial ou comercial, continua
nessa actividade. E, se, por causa desse trabalho ou de qualquer outro, procura
novo emprego, ou decide, com os seus companheiros de profissão, fundar uma
empresa qualquer, isso é matéria em que lhe cabe decidir livremente, aceitando
ele pessoalmente os resultados do seu trabalho e assumindo também pessoalmente
a respectiva responsabilidade.
Toda
a actuação dos Directores do Opus Dei se baseia num rigorosíssimo respeito pela
liberdade profissional dos sócios. É este um ponto de importância capital, do
qual depende a própria existência da Obra, e que, por conseguinte, é posto em
prática com fidelidade absoluta. Cada sócio pode trabalhar profissionalmente
nos mesmos campos de actividade que lhe estariam abertos se não pertencesse ao
Opus Dei. Assim, nem a Obra como tal, nem nenhum dos outros sócios, têm nada a
ver com o trabalho profissional que esse sócio exerce. O compromisso que os
sócios tomam ao vincularem-se à Obra é o de que se esforçarão por procurar a
perfeição cristã no seu trabalho e por meio dele, e por ter uma consciência
mais viva do carácter de serviço à humanidade que toda a vida cristã deve ter.
A
principal missão da Obra - já atrás o afirmei - é, portanto, formar cristãmente
os seus membros e outras pessoas que desejem receber essa formação. O desejo de
contribuir para a solução dos problemas que afectam a sociedade e para os quais
o ideal cristão representa tanto, leva além disso a que a Obra como tal, como
instituição, ou corpo, desenvolva algumas actividades e iniciativas. O
critério, neste campo, é que o Opus Dei, cujos fins são puramente espirituais,
só pode realizar, corporativamente, aquelas actividades que constituam, de modo
claro e imediato, um serviço cristão, um apostolado. Seria absurdo pensar que o
Opus Dei como tal se pudesse dedicar a extrair carvão das minas ou a promover
qualquer género de empresas de tipo económico. As suas obras próprias são,
todas elas, actividades directamente apostólicas: uma escola para a formação de
agricultores, um dispensário médico numa zona ou país subdesenvolvida, um
colégio para a promoção social da mulher, etc. Portanto, obras assistenciais,
educativas ou de beneficência, como as que costumam realizar, em toda a parte,
instituições de qualquer credo religioso.
Para
efectuar estas tarefas, conta-se, em primeiro lugar, com o trabalho pessoal dos
membros, que, por vezes, a eles se consagram plenamente. Mas conta-se também
com a ajuda generosa de muitas pessoas, cristãs ou não cristãs. Alguns
sentem-se impulsionados a colaborar por motivos espirituais; outros, ainda que
não compartilhem dos fins apostólicos, vêem que se trata de iniciativas em
benefício da sociedade, abertas a todos, sem discriminação de raça, religião ou
ideologia [*].
[*]
Estas obras corporativas, de carácter claramente apostólico, são promovidas,
como acaba de assinalar Mons. Escrivá de Balaguer, pelos membros do Opus Dei
juntamente com outras pessoas. A Prelatura do Opus Dei assume exclusivamente a
responsabilidade pela orientação doutrinal e espiritual; e nem as empresas
proprietárias dessas iniciativas, nem os correspondentes bens móveis ou imóveis
pertencem à Prelatura. Os fiéis do Opus Dei que trabalham nessas obras fazem-no
com liberdade e responsabilidade pessoais, em plena conformidade com as leis do
país, e obtendo das autoridades o mesmo reconhecimento legal que se concede a
outras actividades similares dos demais cidadãos.
(cont)
[i]
Entrevista realizada por Peter Forbarth,
correspondente de Time (New York), em 15 de Abril de 1967.