Amar a Igreja
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Não
compreendo o empenho de alguns sacerdotes em se confundirem com os outros
cristãos esquecendo ou descuidando a sua missão específica na Igreja, para a
qual foram ordenados.
Pensam
que os cristãos desejam ver no sacerdote um homem mais Não é verdade.
No
sacerdote querem admirar as virtudes próprias de qualquer cristão e de qualquer
homem honrado: a compreensão, a justiça, a vida de trabalho - trabalho
sacerdotal neste caso -, a caridade, a educação, a delicadeza no trato.
Mas,
juntamente com isto, os fiéis pretendem que se destaque claramente o carácter
sacerdotal: esperam que o sacerdote reze, que não se negue a administrar os
Sacramentos, que esteja disposto a acolher a todos sem se constituir chefe ou
militante de partidarismos humanos, sejam de que tipo forem; que ponha amor e
devoção na celebração da Santa Missa, que se sente no confessionário, que conforte
os doentes e os atormentados, que ensine catequese às crianças e aos adultos,
que pregue a Palavra de Deus e não qualquer tipo de ciência humana, que - mesmo
que a conhecesse perfeitamente - não seria a ciência que salva e leva à vida
eterna; que saiba aconselhar e ter caridade com os necessitados.
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Numa
palavra: pede-se ao sacerdote que aprenda a não estorvar em si a presença de
Cristo nele, especialmente no momento em que realiza o Sacrifício do Corpo e
Sangue e quando, em nome de Deus, na Confissão sacramental auricular e secreta,
perdoa os pecados.
A
administração destes dois Sacramentos é tão capital na missão do sacerdote, que
tudo o mais deve girar à sua volta.
As
outras tarefas sacerdotais - a pregação e a instrução na fé - careceriam de
base, se não estivessem dirigidas a ensinar a ter intimidade com Cristo, a
encontrar-se com Ele no tribunal amoroso da Penitência e na renovação incruenta
do Sacrifício do Calvário, na Santa Missa.
Deixai
que me detenha ainda um pouco na consideração do Santo Sacrifício: porque, se
para nós é o centro e a raiz da vida cristã, deve sê-lo, de modo especial, na
vida do sacerdote.
Um
sacerdote que, culpavelmente, não celebrasse diariamente o Santo Sacrifício do
Altar, demonstraria pouco amor de Deus; seria como lançar em cara a Cristo que
não compartilha da ânsia de Redenção, que não compreende a sua impaciência em
se entregar, inerme, como alimento da alma.
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Sacerdote para a Santa
Missa
Convém
recordar, com importuna insistência, que todos nós, sacerdotes, quer sejamos
pecadores quer santos, quando celebramos a Santa Missa não somos nós próprios.
Somos
Cristo, que renova no altar o seu divino Sacrifício do Calvário. A obra da
nossa Redenção cumpre-se continuamente no mistério do Sacrifício Eucarístico,
no qual os sacerdotes exercem o seu principal ministério, e por isso
recomenda-se encarecidamente a sua celebração diária pois, mesmo que os fiéis
não possam estar presentes, é um acto de Cristo e da sua Igreja.
Ensina
o Concilio de Trento que na Missa se realiza, se contém e incruentamente se
imola aquele mesmo Cristo que uma só vez se ofereceu Ele mesmo cruentamente no
altar da Cruz...
Com
efeito, a vítima é uma e a mesma: e O que agora se oferece pelo ministério dos
sacerdotes, é O mesmo que então se ofereceu na Cruz, sendo apenas diferente a
maneira de se oferecer.
A
assistência ou a falta de assistência de fiéis à Santa Missa não altera em nada
esta verdade de fé.
Quando
celebro rodeado de povo, sinto-me satisfeito, sem necessidade de me considerar
presidente de nenhuma assembleia.
Sou,
por um lado, um fiel como os outros, mas sou, sobretudo, Cristo no Altar!
Renovo
incruentamente o divino Sacrifício do Calvário e consagro in persona Christi, representando realmente Jesus Cristo, porque
lhe empresto o meu corpo, a minha voz e as minhas mãos, o meu pobre coração,
tantas vezes manchado, que quero que Ele purifique.
Quando
celebro a Santa Missa apenas com a participação daquele que ajuda à Missa,
também aí há povo.
Sinto
junto de mim todos os católicos, todos os crentes e também os que não crêem.
Estão
presentes todas as criaturas de Deus - a terra, o céu, o mar, e os animais e as
plantas -, dando glória ao Senhor da Criação inteira.
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E especialmente -
di-lo-ei com palavras do Concilio Vaticano II - unimo-nos no mais alto grau ao culto da Igreja celestial, comunicando e
venerando sobretudo a memória da gloriosa sempre Virgem Maria, de S. José, dos
santos Apóstolos e Mártires e de todos os santos.
Peço
a todos os cristãos que rezem muito por nós, sacerdotes, para que saibamos
realizar santamente o Santo Sacrifício.
Rogo-lhes
que mostrem um amor tão delicado à Santa Missa, que nos leve, a nós,
sacerdotes, a celebrá-la com dignidade - com elegância - humana e sobrenatural:
com asseio nos paramentos e nos objectos destinados ao culto, com devoção, sem
pressas.
Porquê
pressa?
Têm-na
por acaso os namorados ao despedir-se?
Parece
que se vão embora e não vão: voltam uma e outra vez, repetem palavras correntes
como se acabassem de as descobrir...
Não
receeis aplicar exemplos do amor humano, nobre, limpo, às coisas de Deus.
Se
amarmos o Senhor com este coração de carne - não temos outro - não sentiremos
pressa em terminar esse encontro, essa entrevista amorosa com Ele.
Alguns
vivem com calma e não se importam de prolongar até ao cansaço leituras, avisos,
anúncios mas, ao chegarem ao momento principal da Santa Missa, ao Sacrifício
propriamente dito, precipitam-se, contribuindo assim para que os outros fiéis
não adorem com piedade Cristo, Sacerdote e Vítima; nem aprendam a dar-lhe
graças depois - com pausa, sem precipitações -, por ter querido vir de novo até
nós
Todos
os afectos e necessidades do coração do cristão encontram na Santa Missa o
melhor caminho: aquele que, por Cristo, chega ao Pai no Espirito Santo.
O
sacerdote deve pôr especial empenho em que todos o saibam e vivam.
Não
há actividade alguma que possa antepor-se normalmente à de ensinar e fazer amar
e venerar a Sagrada Eucaristia.
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O
sacerdote exerce dois actos: um, principal, sobre o Corpo de Cristo verdadeiro;
outro, secundário, sobre o Corpo Místico de Cristo.
O
segundo acto ou ministério depende do primeiro, e não ao contrário. Por isso, o
que há de melhor no ministério sacerdotal é procurar que todos os católicos se
aproximem do Santo Sacrifício cada vez com mais pureza, humildade e veneração.
Se
o sacerdote se esforça nesta tarefa, não ficará defraudado, nem defraudará as
consciências dos seus irmãos cristãos.
Na
Santa Missa adoramos, cumprindo amorosamente o primeiro dever da criatura para
com o seu Criador: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.
Não
adoração fria, exterior, de servo; mas íntima estima e acatamento, que é amor
profundo de filho.
Na
Santa Missa encontramos a oportunidade perfeita de expiar os nossos pecados e
os de todos os homens: para poder dizer, como S. Paulo, que estamos cumprindo
na nossa carne o que falta padecer a Cristo.
Ninguém
caminha sozinho no mundo, ninguém deve considerar-se livre de uma parte de
culpa no mal que se comete sobre a terra, consequência do pecado original e
também da soma de muitos pecados pessoais.
Amemos
o sacrifício, procuremos a expiação.
Como?
Unindo-nos
na Santa Missa a Cristo, Sacerdote e Vítima; será sempre Ele quem carregará com
o peso imenso das infidelidades das criaturas; das tuas e das minhas...
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O
Sacrifício do Calvário é uma prova infinita a generosidade de Cristo. Nós -
cada um - somos sempre muito interesseiros; mas Deus Nosso Senhor não se
importa de que na Santa Missa Lhe apresentemos todas as nossas necessidades.
Quem
não tem coisas a pedir?
Senhor,
aquela doença... Senhor, esta tristeza...
Senhor,
aquela humilhação, que não sei suportar por amor de Ti... Queremos o bem, a
felicidade e a alegria das pessoas da nossa casa; oprime-nos o coração a sorte
dos que padecem fome e sede de pão e de justiça; dos que sentem a amargura da
solidão; dos que, no termo dos seus dias, não recebem um olhar de carinho nem
um gesto de ajuda
Mas
a grande miséria que nos faz sofrer, a grande necessidade a que queremos pôr
remédio é o pecado, o afastamento de Deus, o risco de que as almas se percam
para toda a eternidade.
Levar
os homens à glória eterna no amor de Deus: esta é a nossa aspiração fundamental
ao celebrar a Missa, como o foi a de Cristo ao entregar a sua vida no Calvário.
Acostumemo-nos
a falar com esta sinceridade ao Senhor, quando desce, vítima inocente, até às
mãos do sacerdote.
A
confiança no auxílio do Senhor dar-nos-á essa delicadeza de alma, que se traduz
sempre em obras de bem e de caridade, de compreensão, de profunda ternura com
os que sofrem e com os que vivem artificialmente fingindo uma satisfação oca,
tão falsa, que depressa se converte em tristeza.
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Agradeçamos,
finalmente, tudo o que Deus Nosso Senhor nos concede, pelo facto maravilhoso de
Se nos entregar Ele mesmo.
Que
venha ao nosso peito o Verbo Encarnado!...
Que
se encerre, na nossa pequenez, Aquele que criou céus e terra!... A Virgem Maria
foi concebida imaculada para albergai Cristo no seu seio.
Se
a acção de graças há-de ser proporcional à diferença entre o dom e os méritos,
não devíamos converter todo o nosso dia numa Eucaristia contínua?
Não
saiais do templo, mal acabeis de receber o Santo Sacramento. Tão importante é o
que vos espera que não podeis dedicar ao Senhor dez minutos para lhe dizer
obrigado?
Não
sejamos mesquinhos.
Amor
com amor se paga.
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Sacerdote para a
Eternidade
Um
sacerdote que vive deste modo a Santa Missa adorando, expiando, impetrando,
dando graças, identificando-se com Cristo -, e que ensina os outros a fazer do
Sacrifício do Altar o centro e a raiz da vida do cristão, demonstrará realmente
a grandeza incomparável da sua vocação, esse carácter com que foi selado, e que
não perderá por toda a eternidade.
Sei
que me compreendeis quando vos afirmo que, ao lado de um sacerdote assim, se
pode considerar um fracasso - humano e cristão - a conduta de alguns que se
comportam como se tivessem de pedir desculpa por ser ministros de Deus.
É
uma desgraça, porque os leva a abandonar o ministério, a arremedar os leigos, a
procurar uma segunda ocupação que a pouco e pouco suplanta a que lhes é própria
por vocação e por missão.
Frequentemente,
ao fugir do trabalho de cuidar espiritualmente das almas, tendem a substituí-lo
por uma intervenção em campos próprios dos leigos - nas iniciativas sociais, na
política -, aparecendo então esse fenómeno do clericalismo, que é a patologia
da verdadeira missão sacerdotal.
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Não
quero terminar com esta nota sombria, que pode parecer pessimismo.
Não
desapareceu na Igreja de Deus o autêntico sacerdócio cristão; a doutrina é
imutável, ensinada pelos lábios divinos de Jesus.
Há
muitos milhares de sacerdotes em todo o mundo que cumprem plenamente a sua
missão, sem espectáculo, sem cair na tentação de lançar pela borda fora um
tesouro de santidade e de graça, que existe na Igreja desde o princípio.
Aprecio
a dignidade da finura humana e sobrenatural destes meus irmãos, espalhados por
toda a terra.
É
de justiça que se vejam já agora rodeados pela amizade, a ajuda e o carinho de
muitos cristãos.
E
quando chegar o momento de se apresentarem diante de Deus, Jesus Cristo irá ao
seu encontro, para glorificar eternamente aqueles que, no tempo, actuaram em
seu nome e na sua Pessoa, derramando com generosidade a graça de que eram
administradores.
Voltemos
de novo, em pensamento, aos membros do Opus Dei que serão sacerdotes no próximo
Verão.
Não
deixeis de pedir por eles, para que sejam sempre sacerdotes fiéis, piedosos,
doutos, entregues, alegres!
Encomendai-os
especialmente a Santa Maria, que torna ainda mais generosa a sua solicitude de
Mãe com aqueles que se empenham, para toda a vida, em servir de perto o seu
Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, Sacerdote Eterno.
SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ