Tempo comum XXV Semana
Evangelho:
Lc 8, 19-21
19 Foram ter com Ele
Sua mãe e Seus irmãos, e não podiam aproximar-se d'Ele por causa da multidão. 20
Foram dizer-Lhe: «Tua mãe e Teus irmãos estão lá fora e querem ver-Te». 21
Ele respondeu-lhes: «Minha mãe e Meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de
Deus e a põem em prática».
Comentário:
As “prioridades” de Jesus Cristo estão
bem definidas: Servir a todos, convocar todos, chamar todos.
A família fica, então, em lugar secundário?
Não!
A família de Cristo – Ele próprio o
diz – são todos os que procuram, em tudo, cumprir a Vontade de Deus.
(ama, comentário sobre Lc 8, 19-21, V
Moura 2013.09.24)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
CARTA ENCÍCLICA
INSCRUTABILI DEI CONSILIO
DE SUA SANTIDADE O PAPA LEÃO XIII
A TODOS OS NOSSOS VENERÁVEIS
IRMÃOS, OS PATRIARCAS, PRIMAZES, ARCEBISPOS
E BISPOS DO ORBE CATÓLICO, EM GRAÇA
E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE OS MALES DA SOCIEDADE MODERNA,
SUAS CAUSAS E SEUS REMÉDIOS
Veneráveis
Irmãos,
Saudação
e Bênção Apostólica.
INTRODUÇÃO
1.
Apenas elevado, por um impenetrável desígnio de Deus, e sem o merecer, ao
fastígio da Dignidade Apostólica, sentimo-Nos impelido por um vivo desejo e por
uma espécie de necessidade a dirigir-Nos a Vós por carta, não somente para vos
manifestar os sentimentos da Nossa profunda afeição, mas ainda para cumprir
junto de Vós, chamados que fostes a compartilhar a Nossa solicitude, os deveres
do cargo que Deus nos confiou, animando-vos a sustentar connosco os combates
dos tempos actuais pela Igreja de Deus e pela salvação das almas.
I. OS MALES DA SOCIEDADE
2.
Efectivamente, desde os primeiros instantes do Nosso Pontificado, o que se
oferece aos Nossos olhares é o triste espetáculo dos males que de todas as
partes acabrunham o género humano: é essa subversão geral das verdades supremas
que são como que os fundamentos em que se apoia o estado da sociedade humana; é
essa audácia dos espíritos que não podem suportar nenhuma autoridade legítima;
é essa causa perpétua de dissensões de onde nascem as querelas intestinas e as
guerras cruéis e sangrentas; é o desprezo das leis que regulam os costumes e
protegem a justiça; é a insaciável cupidez das coisas que passam e o
esquecimento das coisas eternas, levados ambos até esse furor insensato que por
toda parte induz tantos infelizes a levarem sobre si mesmos, sem tremerem, mãos
violentas; é a administração inconsiderada da fortuna pública, o esbanjamento,
a malversação, como também a impudência dos que, cometendo as maiores
espertezas, se esforçam por dar-se a aparência de defensores da pátria, da
liberdade e de todos os direitos; é, enfim, essa espécie de peste mortal que,
insinuando-se nos membros da sociedade humana, não deixa a esta repouso e lhe
prepara novas revoluções e funestas catástrofes.
II. A CAUSA DESSES MALES
3.
Ora, havemo-Nos convencido de que esses males têm a sua principal causa no
desprezo e na rejeição dessa santa e augustíssima Autoridade da Igreja que governa
o género humano em nome de Deus, e que é a salvaguarda e o apoio de toda
autoridade legítima. Os inimigos da ordem pública, que perfeitamente o têm
compreendido, pensaram que nada era mais próprio para subverter os fundamentos
da sociedade do que atacar sem trégua a Igreja de Deus, do que torná-la odiosa
e odiável por meio de vergonhosas calúnias, representando-a como inimiga da
verdadeira civilização, do que enfraquecer-lhe a autoridade e a força por meio
de feridas incessantemente renovadas, e do que derrubar o poder supremo do
Pontífice romano, que é neste mundo o guarda e o defensor das regras eternas e
imutáveis do bem e do justo.
Daí,
pois, saíram essas leis subversivas da divina constituição da Igreja Católica,
leis cuja promulgação na maioria dos países temos de deplorar; daí promanaram o
desprezo do poder espiritual, e os entraves opostos ao exercício do ministério
eclesiástico, e a dispersão das Ordens religiosas, e o confisco dos bens que
serviam para sustentar os ministros da Igreja e os pobres; daí, ainda, o
resultado de haverem sido subtraídas à salutar direcção da Igreja as
instituições públicas consagradas à caridade e à beneficência; daí essa
liberdade desenfreada de ensinar e de publicar tudo o que é mal, ao passo que,
contrariamente, de toda maneira se viola e se oprime o direito da Igreja à
instrução e à educação da juventude.
E
outro não foi o fim que os homens se propuseram apoderando-se do Principado
temporal que a Divina Providência havia longos séculos concedera ao Pontífice
romano para que este livremente e sem peias pudesse, para a salvação eterna dos
povos, usar do poder que Jesus Cristo lhe conferiu.
III. REMÉDIOS PARA OS
MALES
4.
Se relembramos, Veneráveis Irmãos, esses funestos e inúmeros males, não é para
aumentar a tristeza que por si mesmo faz nascer em Vós tão deplorável estado de
coisas; mas é por compreendermos que, à vista disso, reconhecereis qual é a
gravidade da situação que reclama o Nosso ministério e o Nosso zelo, e com que
solicitude devemos, nestes tempos inditosos, trabalhar para defender e garantir
com todas as Nossas forças a Igreja de Cristo e a dignidade da Sé Apostólica
atacada por tantas calúnias.
Caridade fraterna
5.
Bem claro e evidente é, Veneráveis Irmãos, que à causa da civilização faltam
fundamentos sólidos se ela não se apoia nos princípios eternos da verdade e nas
leis imutáveis do direito e da justiça, se um amor sincero não une entre si as
vontades dos homens e não regula felizmente a distinção e os motivos dos seus
deveres mútuos. Ora, quem ousaria negá-lo? Não foi a Igreja quem, pregando o
Evangelho entre as nações, fez brilhar a luz da verdade no meio dos povos selvagens
e imbuídos de superstições vergonhosas, e quem os reconduziu ao conhecimento do
divino Autor de todas as coisas e ao respeito de si mesmos?
Não
foi a Igreja quem, fazendo desaparecer a calamidade da escravidão, revocou os
homens à dignidade da sua nobilíssima natureza? Não foi ela quem, desfraldando
sobre todas as plagas da terra o estandarte da Redenção, atraindo a si as
ciências e as artes ou cobrindo-as com a sua proteção, por suas excelentes
instituições de caridade, onde todas as misérias acham alívio, por suas
fundações e pelos depósitos cuja guarda aceitou, em toda parte civilizou nos
seus costumes privados e públicos o género humano, reergueu-o da sua miséria e
formou-o, com toda sorte de desvelos, para um género de vida conforme à
dignidade e à esperança humanas?
E
agora, se um homem de espírito são comparar a época em que vivemos, tão hostil
à Religião e à Igreja de Jesus Cristo, com aqueles tempos tão felizes em que a
Igreja era honrada pelos povos como uma Mãe, convencer-se-á inteiramente de que
a nossa época cheia de perturbações e destruições se precipita directa e
rapidamente para a sua perda, e que aqueles tempos foram tanto mais
florescentes em excelentes instituições, em tranquilidade da vida, em riqueza e
em prosperidade, quanto mais submissos ao governo da Igreja e quanto mais
observantes das suas leis se mostraram os povos.
E,
se os bens numerosos que acabamos de relembrar e que deveram o seu nascimento
ao ministério da Igreja e à sua influência salutar, são verdadeiramente obras e
glórias da civilização humana, muitíssimo longe está, pois, que a Igreja de
Jesus Cristo abomine a civilização e a repila, visto ser a si, pelo contrário,
que ela crê caber inteiramente a honra de lhe haver sido a nutriz, a mestra e a
mãe.
6.
Bem mais: essa espécie de civilização que, pelo contrário, repugna às santas
doutrinas e às leis da Igreja, não passa de uma falsa civilização e deve ser considerada
como um vão nome sem realidade.
É
esta uma verdade de que nos fornecem prova manifesta esses povos que não viram
brilhar a luz do Evangelho; na vida deles podem ter-se vislumbrado algumas
falsas aparências de educação mais cultivada, porém os verdadeiros e sólidos
bens da civilização não prosperariam neles.
Respeito à autoridade da
Igreja
7.
Com efeito, não se deve considerar como civilização perfeita a que consiste em
desprezar audaciosamente todo poder legítimo; e não se deve saudar com o nome
de liberdade a que tem por cortejo vergonhoso e miserável a propagação
desenfreada dos erros, o livre saciamento das cupidezes perversas, a impunidade
dos crimes e dos malfeitores e a opressão dos melhores cidadãos de toda classe.
Esses
são princípios erróneos, perversos e falsos; não poderiam, pois, certamente ter
força para aperfeiçoar a natureza humana e fazê-la prosperar, pois o pecado
torna os homens miseráveis (Prov 14, 34); pelo contrário, torna-se inevitável que
após haverem corrompido as mentes e os corações, pelo seu próprio peso esses
princípios lançam os povos em toda sorte de desgraças, que subvertem toda ordem
legítima e conduzem assim, mais cedo ou mais tarde, a situação e a
tranquilidade pública à sua última perda.
8.
Ao contrário, se contemplarmos as obras do Pontificado Romano, que pode haver
de mais iníquo do que negar quanto os Pontífices Romanos têm nobremente e bem
merecido de toda a sociedade civil?
Os
nossos predecessores, com efeito, querendo prover à felicidade dos povos,
empreenderam lutas de todo género, suportaram rudes fadigas e nunca hesitaram
em se expor a ásperas dificuldades; de olhos fitos no céu, não abaixaram a
fronte ante as ameaças dos maus, nem cometeram a baixeza de se deixarem desviar
do seu dever, fosse pelas lisonjas, fosse pelas promessas.
Foi
esta Sé Apostólica quem apanhou os restos da antiga sociedade destruída e os
reuniu juntos. Ela foi também o facho amigo que iluminou a civilização dos
tempos cristãos; a âncora de salvação no meio das mais terríveis tempestades
que tenham agitado a raça humana; o vínculo sagrado da concórdia que une entre
si nações afastadas e costumes diversos; ela foi enfim o centro comum onde se
vinha buscar tanto a doutrina da fé e da religião quanto os auspícios de paz e
os conselhos dos atos a cumprir.
Que
mais?
É
uma glória dos Pontífices Romanos a de se haverem sempre e sem trégua oposto
como uma muralha e um baluarte a que a sociedade humana tornasse a cair na
superstição e na antiga barbárie.
(cont)
(revisão da versão portuguesa por ama)