Tempo comum XXIII Semana
Evangelho: Lc 11, 47-54
47 Ai de vós, que
edificais sepulcros aos profetas, e foram vossos pais que lhes deram a morte! 48
Assim dais a conhecer que aprovais as obras de vossos pais; porque eles os
mataram, e vós edificais os seus sepulcros. 49 Por isso disse a
sabedoria de Deus: Mandar-lhes-ei profetas e apóstolos, e eles darão a morte a
uns e perseguirão outros, 50 para que a esta geração se peça conta
do sangue de todos os profetas, derramado desde o princípio do mundo, 51
desde o sangue de Abel até ao sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e
o templo. Sim, Eu vos digo que será pedida conta disto a esta geração. 52
Ai de vós, doutores da lei, que usurpastes a chave da ciência, e nem entrastes
vós, nem deixastes entrar os que queriam entrar!». 53 Dizendo-lhes
estas coisas, os fariseus e doutores da lei começaram a insistir fortemente e a
importuná-Lo com muitas perguntas, 54 armando-Lhe ciladas, e
buscando ocasião de Lhe apanharem alguma palavra da boca para O acusarem.
Comentários:
As perguntas capciosas e
mal-intencionadas não têm direito a resposta. Igualmente quando, quem pergunta,
o faz não com a intenção – que em princípio poderia ser legítima – de saber,
ser informado, esclarecer dúvidas, também não tem direito a obter qualquer
resposta.
Ninguém poderá considerar-se
insatisfeito ou, até, ofendido se a resposta que procura obter não lhe
interessa para outra coisa que encontrar argumentos para contrariar quem responde.
(ama, comentário sobre Lc 11, 47-54, 2013.10.17)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
CARTA ENCÍCLICA
IUCUNDA SEMPER EXPECTATIONE
DE SUA SANTIDADE
PAPA LEÃO XIII
A TODOS OS NOSSOS VENERÁVEIS
IRMÃOS, OS PATRIARCAS,
PRIMAZES, ARCEBISPOS
E BISPOS DO ORBE CATÓLICO,
EM GRAÇA E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE O ROSÁRIO DE NOSSA SENHORA
Veneráveis
Irmãos,
Saúde
e Bênção Apostólica.
Viva
confiança no Rosário
1.
Com alegre expectativa e com renovada confiança olhamos sempre a volta do mês
de Outubro, porque, desde quando começamos a exortar os fiéis a consagrarem
este mês à beatíssima Virgem, ele tem acarretado em toda parte uma poderosa
floração do Rosário entre os católicos. Qual tenha sido o motivo das Nossas
exortações, já mais de uma vez o expusemos. Visto que os tempos, prenunciadores
de desgraças para a Igreja e para a sociedade, exigiam o auxílio poderoso de
Deus, Nós achamos dever implorá-lo justamente mediante a intercessão de sua
Mãe, e sobretudo com essa fórmula de oração cuja salutar eficácia o povo
cristão pôde sempre experimentar.
Experimentou-a,
com efeito, desde as origens do Rosário mariano, quer na defesa da santa fé
contra os nefastos ataques dos hereges, quer no repor em honra aquelas virtudes
que haviam sido sufocadas pela corrupção do mundo. Experimentou-a por uma série
ininterrupta de benefícios, privados e públicos, cuja lembrança por toda parte
foi imortalizada até mesmo com insignes instituições e monumentos. E também nos
nossos tempos, trabalhados por múltiplas crises, folgamos reconhecer que
justamente do Rosário têm provindo frutos salutares. Todavia, olhando em volta,
Veneráveis Irmãos, vós mesmos vedes que ainda permanecem, e em parte agravados,
os motivos para convidarmos, ainda este ano, os vossos fiéis a reavivarem o fervor
das suas súplicas para com a Rainha do Céu.
2.
Além disto, quanto mais fixamos o pensamento na íntima natureza do Rosário,
tanto mais claramente se nos manifesta a sua excelência e utilidade. E por isto
cresce em Nós o desejo e a esperança de que a Nossa recomendação seja tão
eficaz que dê o mais amplo desenvolvimento a esta santíssima oração,
difundindo-lhe sempre mais o conhecimento e a prática.
Confiança
em Maria como mediadora
3.
Para tal fim não evocaremos aqui os argumentos que, sob vários aspectos,
expusemos sobre este mesmo assunto nos anos precedentes, mas, antes, apraz-nos
considerar e expor como, de acordo com os divinos desígnios da Providência, o
Rosário desperta no ânimo de quem reza uma suave confiança de ser atendido, e
move a maternal piedade da Virgem bendita a corresponder a tal confiança com a
ternura dos seus socorros.
4.
O nosso suplicante recurso ao patrocínio de Maria funda-se no seu ofício de
Mediadora da graça divina, ofício que ela - agradabilíssima a Deus pela sua
dignidade e pelos seus méritos, e de longe superior em poder a todos os Santos
- continuamente exerce por nós junto ao trono do Altíssimo. Ora, este seu ofício
talvez por nenhum outro género de oração seja tão vivamente expresso como pelo
Rosário, onde a parte tida pela Virgem na Redenção dos homens é posta tão em
evidência que parece desenrolar-se agora ante o nosso olhar, e isto traz um
singular proveito à piedade, seja na sucessiva contemplação dos sagrados
mistérios, seja na recitação repetida das preces.
Nos
mistérios gozosos
5.
Primeiramente apresentam-se-nos os mistérios gozosos. O Filho eterno de Deus
abaixa-se até aos homens, feito Ele próprio homem mas com o assentimento de
Maria, "que o concebe do Espírito Santo". Daí ser João, por uma graça
especial, "santificado" no seio materno e enriquecido de escolhidos
dons "para preparar os caminhos do Senhor". Mas isto sucede em
seguida à saudação de Maria, que, por divina inspiração, vai visitar sua
parenta. Finalmente vem à luz o Cristo, "o esperado das nações", e
vem à luz do seio da Virgem. Os pastores e os Magos, primícias da fé,
dirigem-se com ânsia pressurosa ao seu berço, e "acham o Menino com Maria
sua Mãe". Depois Ele quer ser levado em pessoa ao templo para se oferecer
publicamente em holocausto a Deus Pai. Mas é por obra da Mãe que ali "é
apresentado ao Senhor". É sempre ela que, na misteriosa perda do Filho, o
procura com ansiosa solicitude e o reencontra com alegria imensa.
Nos
mistérios dolorosos
6.
No mesmo sentido falam os mistérios dolorosos. É verdade que Maria não está
presente no horto de Getsémani, onde Jesus treme e está triste até à morte, e
no pretório, onde é flagelado, coroado de espinhos, condenado à morte. Mas já
desde tempo ela conhecera e vira claramente todas estas coisas. Com efeito,
quando ela se ofereceu a Deus como escrava, para depois se tornar sua mãe, e
quando no templo se consagrou inteiramente a Ele, juntamente com o Filho, já
desde então, em virtude destes dois factos, ela se tornou participante da
dolorosa expiação de Cristo, para vantagem do género humano. Não há, pois,
dúvida alguma de que, mesmo por tal razão, durante as cruéis angústias e
torturas do Filho ela experimentou no seu coração as mais agudas dores.
Aliás,
na sua própria presença e sob seus olhos devia consumar-se aquele divino
sacrifício para o qual, com o próprio leite, ela generosamente criara a vítima.
Isto se contempla no último e mais comovente destes mistérios. "Estava
junto à Cruz de Jesus Maria sua Mãe", a qual, movida por um imenso amor a
nós, para nos ter como seus filhos ofereceu, ela mesma, seu Filho à justiça
divina, e com Ele morreu no seu coração, traspassada pela espada da dor.
Nos
mistérios gloriosos
7.
Finalmente, nos mistérios gloriosos, que seguem os dolorosos, é mais
copiosamente confirmado este mesmo misericordioso ofício da Virgem excelsa. Com
tácita alegria ela saboreia a glória do Filho triunfante sobre a morte, segue-o
depois com maternal afecto na sua volta à sede celeste. Mas, conquanto digna do
Céu, ela é mantida na terra, como suprema consoladora e mestra da Igreja
nascente, "ela penetrou, além de tudo o que se possa crer, nos profundos
arcanos da sabedoria divina" (S. Bernardo, De Praerogativis B. M. V., n.
3).
E,
pois que a obra santa da redenção dos homens não podia dizer-se completa antes
da descida do Espírito Santo, prometido por Cristo, eis que a vemos lá naquele
Cenáculo cheio de recordações, a orar-lhe, juntamente com os Apóstolos e em
vantagem dos Apóstolos, com gemidos inenarráveis, a apressar para a Igreja a
sabedoria do Espírito consolador, supremo dom de Cristo, tesouro que nunca lhe
faltará. Porém em medida ainda mais cheia e perene ela poderá advogar a nossa
causa quando tiver passado à vida imortal.
E,
assim, deste vale de lágrimas vemo-la assunta à cidade santa de Jerusalém, por
entre as festas dos coros angélicos, veneramo-la elevada acima da glória de
todos os Santos, coroada de estrelas por seu divino Filho, sentada junto d'Ele,
rainha e senhora do universo. Em todos estes mistérios, ó Veneráveis Irmãos, se
tão bem se manifesta "o desígnio de Deus, desígnio de sabedoria e desígnio
de misericórdia" (S. Bernardo, Sermo in Nativitate B. M. V., n. 6), não
menos claramente brilhai ao mesmo tempo os grandíssimos benefícios da Virgem
Mãe para connosco: benefícios que não podem deixar de nos encher de alegria,
porque nos infundem a firme esperança de obtermos, pela mediação de Maria, a
clemência e a misericórdia de Deus.
Nas
orações vocais
8.
Para este mesmo fim, em perfeita harmonia com os mistérios, tende a oração
vocal. Procede, como é justo, a oração dominical dirigida ao Pai celeste. Em
seguida, após haver invocado o mesmo Pai com a mais Pobre das orações, do trono
da sua majestade a nossa suplicante volve-se para Maria, em obséquio à lembrada
lei da sua, mediação e da sua intercessão, expressa por S. Bernardino de Sena
com as seguintes palavras: "Toda graça que é comunicada a esta terra passa
por três ordens sucessivas. De Deus é comunicada a Cristo, de Cristo à Virgem,
e da Virgem a nós" (S. Bernardino de Sena, Sermo VI in Festis B. M. V., De
Annunciatione, a. 1, c. 2).
E
nós, na recitação do Rosário, passamos por todos os três graus desta escala, em
diversa relação entre eles, porém mais longamente, e de certo modo com mais
gosto, detemo-nos no último, repetindo por dez vezes a saudação angélica, como
que para nos elevarmos com maior confiança aos outros graus, isto é, por meio
de Cristo a Deus Padre.
Porquanto,
se tornamos a repetir tantas vezes a mesma saudação a Maria, é para que a nossa
oração, fraca e defeituosa, seja reforçada pela necessária confiança, confiança
que surge em nós se pensarmos que Maria, mais do que rogar por nós, roga em
nosso nome. Decerto as nossas vozes serão mais agradáveis e eficazes na
presença de Deus se forem apoiadas pelos rogos da Virgem, à qual Ele mesmo
dirige o amoroso convite: "Ressoe a tua voz ao meu ouvido, porque suave é
a tua voz" (Cânt. 2, 14).
Por
esta mesma razão, no Rosário nós tornamos tantas vezes a celebrar os seus
gloriosos títulos de Mediadora. Em Maria saudamos aquela que "achou favor
junto a Deus", aquela que foi por Ele, de modo singularíssimo,
"cumulada de graça", para que tal superabundância se entornasse sobre
todos os homens, aquela a quem o Senhor está unido pelo vínculo mais estreito
que existir possa, aquela que, "bendita entre as mulheres", "só
ela dissolveu a maldição e trouxe a bênção" (S. Tom., op. VIII, Sobre a
Saudação Angélica, n. 8), ou seja o fruto bendito do seu seio, no qual
"todas as nações são benditas", aquela, enfim, que invocamos como
"Mãe de Deus".
Pois
bem, em virtude de uma dignidade tão sublime, que coisa haverá que ela não
possa pedir com segurança "para nós pecadores", e, por outro lado,
que coisa haverá que não possamos esperar nós, em toda a vida e nas nossas
extremas agonias?
9.
Quem com toda diligência houver recitado estas orações e meditado com fé estes
mistérios, não poderá deixar de admirar os desígnios divinos que uniram a
Virgem Santíssima à salvação dos homens, e, com comovida confiança, desejará
refugiar-se sob a sua protecção e no seu seio, repetindo a súplica de S.
Bernardo: "Lembrai-vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu
dizer que alguém que tenha recorrido à vossa protecção, implorado o vosso
auxílio, invocado a vossa intercessão, tenha sido por vós desamparado".
O
Rosário comove Maria em nosso favor
10.
Porém a virtude que o Rosário tem de inspirar a confiança em quem o reza,
possui-a também em mover à piedade para connosco o coração da Virgem. Quanto
deve ser suave para ela ver-nos e escutar-nos, enquanto entrelaçamos em coroa
pedidos para nós justíssimos e louvores para ela belíssimo! Assim rezando, nós
desejamos e tributamos a Deus a glória que lhe é devida, procuramos unicamente
o cumprimento dos seus acenos e da sua vontade, exaltamos a sua bondade e a sua
munificência, chamando-lhe Pai e pedindo-lhe, embora indignos deles, os dons
mais preciosos.
Com
tudo isto Maria exulta imensamente, e, pela nossa piedade, de coração
"magnifica o Senhor". Porque, quando nos dirigimos a Deus pela oração
dominical, nós o suplicamos mediante uma oração digna d'Ele.
(cont.)
Revisão
da versão portuguesa por ama