17/10/2014

O trabalho, um sinal do amor de Deus

Está a ajudar-te muito, dizes-me, este pensamento: desde os primeiros cristãos, quantos comerciantes terão sido santos? E queres demonstrar que também agora isso é possível... O Senhor não te abandonará nesse empenho. (Sulco, 490)

O que sempre ensinei – desde há quarenta anos – é que todo o trabalho humano honesto, tanto intelectual como manual, deve ser realizado pelo cristão com a maior perfeição possível: com perfeição humana (competência profissional) e com perfeição cristã (por amor à vontade de Deus e em serviço dos homens). Porque, feito assim, esse trabalho humano, por humilde e insignificante que pareça, contribui para a ordenação cristã das realidades temporais – a manifestação da sua dimensão divina – e é assumido e integrado na obra prodigiosa da Criação e da Redenção do mundo: eleva-se assim o trabalho à ordem da graça, santifica-se, converte-se em obra de Deus, operatio Dei, opus Dei.


Ao recordar aos cristãos as palavras maravilhosas do Génesis – que Deus criou o homem para que trabalhasse –, fixámo-nos no exemplo de Cristo, que passou a quase totalidade da sua vida terrena trabalhando numa aldeia como artesão. Amamos esse trabalho humano que Ele abraçou como condição de vida, e cultivou e santificou. Vemos no trabalho – na nobre e criadora fadiga dos homens – não só um dos mais altos valores humanos, meio imprescindível para o progresso da sociedade e o ordenamento cada vez mais justo das relações entre os homens, mas também um sinal do amor de Deus para com as suas criaturas e do amor-dos-homens entre si e para com Deus: um meio de perfeição, um caminho de santificação. (Temas Actuais do Cristianismo, 10)

Bento VXI – Pensamentos espirituais 25

Adoração


Mas o que signfica «adorar»? Será uma coisa de outros tempos, que deixou de fazer sentido para o Homem contemporâneo? Não!... É um reconhecimento cheio de gratidão, que parte do fundo do coração e alastra a todo o ser, porque só adorando a Deus e amando-O sobre todas as coisas o Homem consegue realizar-se plenamente.



(Angelus. (7.Ago.05)

(in “Bento XVI, Pensamentos Espirituais”, Lucerna 2006)


Piedade



O Dom de Piedade é um dom cuja característica principal é a de nos dar uma familiaridade sobrenatural com Deus. Dirigimo-nos a Ele como filhos e Ele trata-nos como um bom Pai.



(F. F. CARVAJAL & PEDRO BETTETA LÓPEZ, Filhos de Deus, DIEL, nr. 76)

DIÁLOGOS COM O SENHOR DEUS (2)

Segue-me!
Como, Senhor?

Deixa tudo e segue-me!

Ó Senhor, mas então e a família, a casa, os bens e tantas outras coisas.

Repito, deixa tudo e segue-me!

Queres mesmo que deixe tudo para Te seguir?

Sim, tens que deixar tudo para me seguires.

És duro, Senhor, com aqueles que Te amam.

Ora pensa lá bem, com o coração iluminado pela fé o que é que Eu quero quando te digo, segue-me?

Ah, Senhor, de coração livre! Enformado primeiro pelo teu amor, para poder amar os outros, a família, os que colocares no meu caminho. Para poder fazer uso das coisas que me deste com amor, sobretudo amor aos outros.

Vês, como percebeste! Vá, agora deixa tudo e segue-me!



Marinha Grande, 2 de Outubro de 2014
Joaquim Mexia Alves
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Tratado do verbo encarnado 02

Questão 1: Da conveniência da encarnação

Art. 2 — Se a união do Verbo encarnado se fez na Pessoa.

O segundo discute-se assim — Parece que a união do Verbo incarnado não se fez na pessoa.

1. — Pois, a Pessoa de Deus não difere da sua natureza, como se demonstrou na Primeira Parte. Se, portanto, não se fez a união na natureza, segue-se que também não se fez na pessoa.

2. Demais. — A natureza humana não teve menor dignidade em Cristo do que a tem em nós. Ora, a personalidade respeita à dignidade, como se demonstrou na Primeira Parte. Donde, tendo a natureza humana em nós uma personalidade própria, com maior razão teve uma personalidade própria em Cristo.

3. Demais. — Como diz Boécio, a pessoa é uma substância individual de natureza racional. Ora, o Verbo de Deus assumiu a natureza humana individual, pois a natureza universal não subsiste em si mesma, mas é considerada pela só contemplação, como diz Damasceno. Logo, a natureza humana tem a sua personalidade. Portanto, parece que não se fez a união na Pessoa.

Mas, em contrário, lê-se no Sínodo Calcedonense: Nós confessamos que Nosso Senhor Jesus Cristo é o Deus Verbo, um e mesmo Filho unigênito, não repartido ou dividido em duas pessoas. Logo fez-se a união do Verbo na Pessoa.

Pessoa tem uma significação diferente de natureza. Pois, a natureza significa a essência específica, expressa pela definição. E se a essência específica não fosse susceptível de nenhum acréscimo, nenhuma necessidade haveria de distinguir a natureza, do seu suposto, que é o indivíduo nela subsistente, pois, então, todo indivíduo subsistente numa natureza seria absolutamente idêntico a esta. Mas, há certas coisas subsistentes, susceptíveis do que não se inclui em a essência específica, como os acidentes e os princípios individuantes, como sobretudo o manifestam os seres compostos de matéria e forma. Donde o diferir, mesmo realmente, em tais seres, a natureza, do suposto, não como coisas absolutamente separadas mas porque o suposto inclui a natureza mesma da espécie, e se lhe fazem certos outros acréscimos, estranhos à essência específica. Por isso, o suposto é significado como um todo, tendo a natureza como a sua parte formal e perfectiva. E por isso, nos compostos de matéria e forma, a natureza não é predicada do suposto, assim, não dizemos que tal homem é a sua humanidade. Mas um ser como Deus em que absolutamente nada houver, além da essência da espécie ou da sua natureza, em tal ser não há diferença real entre o suposto e a natureza, mas somente lógica. Pois, natureza se chama ao que é uma certa essência, e ela mesma também se chama suposto, enquanto é subsistente. E o que se disse do suposto devemos entender da pessoa, na criatura racional ou intelectual, pois, a pessoa nada mais é do que a substância individual de natureza racional, segundo Boécio.

Portanto, tudo o que existe numa determinada pessoa, quer lhe pertença à natureza, quer não, está-lhe unido na pessoa. Se, pois, a natureza humana não esta unida à Pessoa do Verbo de Deus, de nenhum modo lhe está unida. - E então, desaparece totalmente a fé na Encarnação, o que é fazer em ruínas toda a fé cristã. Como, pois, o Verbo tem a natureza humana unida a si, e não como pertinente à sua natureza divina, é consequente que a união foi feita na Pessoa do Verbo, e não, na natureza.

DONDE A RESPOSTA À OBJECÇÃO. — Embora em Deus não difira realmente a natureza da pessoa, difere contudo pelo modo de significar, como se disse, porque a pessoa significa uma subsistência. E como a natureza humana está assim unida ao Verbo, que o Verbo nela subsista, e não que algo se lhe acrescente à essência da sua natureza, ou que a sua natureza se transforme em outra, por isso a união foi feita na Pessoa e não em a natureza.

RESPOSTA À SEGUNDA. — A personalidade pertence necessariamente, à dignidade e à perfeição de um ser, na medida em que lhe é próprio à dignidade e à perfeição existir por si, o que se entende pelo nome de pessoa. Pois, será mais digno para um ser existir num outro de maior dignidade, do que existir por si mesmo. Donde, a natureza humana é mais digna em Cristo, do que em nós, por isso que em nós, quase existindo por si, tem a sua personalidade própria, ao passo que em Cristo existe na Pessoa do Verbo. Assim, embora o ser completivo da espécie pertença à dignidade da forma, contudo o sensitivo é mais nobre no homem, por causa da união com uma forma completiva mais nobre, do que no animal bruto, do qual é a forma complectiva.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O Verbo de Deus não assumiu a natureza humana em universal, mas na sua indivisibilidade isto é, no indivíduo, como diz Damasceno, do contrário, a qualquer homem necessariamente conviria ser o Verbo de Deus, como o convém a Cristo. Devemos porém saber, que não qualquer indivíduo, no género da substância, mesmo em a natureza racional, tem a natureza de pessoa, mas só o que existe por si, não, porém, o que existe num ser mais perfeito. Por onde, a mão de Sócrates, embora seja um indeterminado indivíduo, não é contudo uma pessoa, porque não existe por si, mas, num ser mais perfeito, isto é, no seu todo. E isto também pode ser significado quando se diz, que a pessoa é uma substância individual, pois, não é a mão uma substância completa, mas, parte da substância. Embora, portanto, esta natureza humana seja um determinado indivíduo no género da substância, porque contudo não existe por si separadamente, mas, num ser mais perfeito, a saber, na pessoa do Verbo de Deus, é consequente que não tenha personalidade própria. E portanto a união se fez na Pessoa.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.

Evangelho diário, coment., leit. espiritual (Enc Iucunda semper expectatione)

Tempo comum XXIII Semana

Evangelho: Lc 12, 1-7

1 Tendo-se juntado à volta de Jesus milhares e milhares de pessoas, de sorte que se atropelavam uns aos outros, começou Ele a dizer aos Seus discípulos: «Guardai-vos do fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. 2 Nada há oculto que não venha a descobrir-se e nada há escondido que não venha a saber-se. 3 Por isso as coisas que dissestes nas trevas serão ouvidas às claras, e o que falastes ao ouvido no quarto será apregoado sobre os telhados. 4 «A vós, pois, Meus amigos, digo-vos: não tenhais medo daqueles que matam o corpo e depois nada mais podem fazer. 5 Eu vou mostrar-vos a quem haveis de temer; temei Aquele que, depois de matar, tem poder de lançar no inferno; sim, Eu vos digo, temei Este. 6 Não se vendem cinco passarinhos por dois asses?; contudo nem um só deles está em esquecimento diante de Deus . 7 Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais pois; vós valeis mais que muitos passarinhos.

Comentário

Devemos ter medo do demónio?

Esta pergunta só pode ter uma resposta: não!
O demónio não pode forçar-nos a fazer seja o que for, as suas 'vitórias' dependem única e exclusivamente de um acto livre da nossa vontade.

Devemos ter medo de não termos força  para lhe resistir?
Não! Ao invés devemos pedir, como no Pai-nosso: 'livrai-nos do mal', fugir das ocasiões e ter confiança em Deus.

(ama, comentário sobre Lc 12, 1-7, 2012.10.19)

Leitura espiritual


Documentos do Magistério
CARTA ENCÍCLICA
IUCUNDA SEMPER EXPECTATIONE
DE SUA SANTIDADE
PAPA LEÃO XIII
A TODOS OS NOSSOS VENERÁVEIS
IRMÃOS, OS PATRIARCAS,
PRIMAZES, ARCEBISPOS
E BISPOS DO ORBE CATÓLICO,
EM GRAÇA E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA

SOBRE O ROSÁRIO DE NOSSA SENHORA

11. Mas às coisas que nela pedimos, já de per si tão rectas e ordenadas e tão conformes à fé, à esperança, à caridade cristã, junta-se um valor que não pode deixar de ser sumamente apreciado pela Virgem Santíssima. Este: que à nossa voz se une a de seu Filho Jesus, o qual, depois de nos haver ensinado, palavra por palavra, essa fórmula de oração, autorizadamente no-la impõe, dizendo: "Vós, pois, rezareis assim" (Mt. 6, 9).

Estejamos certos, pois, de que, se formos fiéis a este mandato com a recitação do Rosário, de sua parte Maria não deixará de exercer com maior benevolência o seu ofício de solícita caridade, e, acolhendo com semblante benigno estas místicas coroas de orações, recompensar-nos-á com abundância de graças.

O Rosário ajuda-nos a bem orar

12. Outra fortíssima razão para contarmos com maior segurança com a generosa bondade de Maria reside na própria natureza do Rosário, tão adequado para nos fazer rezar bem. Pela sua fragilidade, o homem, durante a oração, muitas vezes é levado a distrair-se do pensamento de Deus e a faltar ao seu louvável propósito.

Ora, quem considera atentamente este fenómeno logo verá quão eficaz é o Rosário não só para fazer aplicar a mente e para sacudir a preguiça da alma, como também para excitar um salutar arrependimento das culpas, e, finalmente, para elevar o espírito às coisas celestes. E isto porque, como é bem sabido, o Rosário é composto de duas partes, distintas entre si, porém inseparáveis: a meditação dos mistérios e a oração vocal.

Por consequência, este género de oração requer da parte do fiel uma atenção particular que não só o faz elevar, de algum modo, a mente a Deus, mas o leva também a reflectir tão seriamente sobre as coisas propostas à sua consideração e contemplação, que é induzido também a tirar delas estímulo para uma vida melhor e alimento para toda forma de piedade. Realmente, não há nada maior ou mais maravilhoso do que estas coisas, que são como que o resumo da fé cristã, e que, com a sua luz e íntima força, têm sido fonte de verdade, de justiça e de paz, e que assinalaram para o mundo uma nova ordem de coisas, rica de frutos maravilhosos.

13. Atente-se, além disto, no modo como estes profundíssimos mistérios são apresentados a quem reza o Rosário: isto é, um modo que bem se adapta às mentes mesmo dos simples e dos menos instruídos. O Rosário não tem em mira fazer-nos perscrutar os dogmas da fé e da doutrina cristã, mas principalmente pôr como que diante do nosso olhar e evocar à nossa memória factos.

Visto como os factos que são apresentados quase nas mesmas circunstâncias de lugar, de tempo e de pessoa em que aconteceram, impressionam mais a alma e a comovem salutarmente. E, visto que estas coisas são geralmente inculcadas e gravadas nas almas desde a infância, daí se segue que, apenas enunciado um mistério, todo aquele que efectivamente tem amor à oração percorre-o sem nenhum esforço de imaginação, mas com movimento espontâneo da mente e do coração, e, pelo auxílio de Maria, tira dele em abundância um orvalho de graças celestes.

O Rosário prova a Maria o nosso reconhecimento

14. Mas há outra razão que torna as nossas coroas mais agradáveis e mais meritórias em presença da Virgem. Quando, com devota recordação, repetimos a tríplice ordem dos mistérios, vimos a demonstrar-lhe mais claramente o nosso afectuoso reconhecimento, porque com isto professamos que nunca nos fartamos de recordar os benefícios dispensados pela sua inexaurível caridade, para a nossa salvação. Ora, nós podemos ter apenas uma vaga ideia da alegria, sempre nova, que a lembrança destes grandiosos factos, repetidos com frequência e com amor em sua presença, pode infundir no seu ânimo bendito, movendo-o a sentimentos de solicitude e de generosidade materna.

Além disto, estas mesmas lembranças fazem com que as nossas orações se tornem mais ardentes e eficazes: porque cada mistério que passa diante do nosso pensamento fornece-nos um novo estímulo para orar, maximamente eficaz perante a Virgem. Sim, a ti recorremos, santa Mãe de Deus, e tu não desprezes estes míseros filhos de Eva!

A ti suplicamos, ó poderosa e benigna Mediadora da nossa salvação, conjuramos-te com toda a alma, pelas suaves alegrias recebidas de teu Filho Jesus, pela participação nas suas indizíveis dores, pelo esplendor da sua glória que em ti se reflecte. Eia, pois, escuta-nos, se bem que indignos, e atende-nos!

A moderna perseguição contra a Igreja

15. A excelência do Rosário mariano, focalizada também pelas duas considerações que acabamos de vos expor, dir-vos-á ainda mais claramente, Veneráveis Irmãos, por que razão Nós não nos cansamos de inculcá-lo e de promovê-lo com todo cuidado.

Conforme desde o princípio observamos, a nossa época tem, cada vez mais, necessidade dos auxílios celestes, especialmente pelas muitas tribulações que a Igreja sofre, contrariada no seu direito e na sua liberdade, e, depois, pelos muitos perigos que ameaçam as próprias bases da prosperidade e da paz dos povos cristãos. Pois bem: mais uma vez declaramos solenemente que no Rosário depositamos as maiores esperanças de obter esses auxílios.

Queira Deus - é este um ardente desejo Nosso - que esta prática de piedade retome em toda parte o seu antigo lugar de honra! Nas cidades e nas aldeias, nas famílias e nas oficinas, entre os nobres e os plebeus seja o Rosário amado e venerado como o mais nobre distintivo da profissão cristã, e como o auxílio mais eficaz para nos propiciar a divina clemência.

Os últimos excessos da impiedade

16. E, pois que a insensata perversidade dos ímpios a tudo já agora recorre - com o dolo e com a audácia - para provocar a cólera divina e atrair sobre a pátria o peso de um justo castigo, necessário é que a piedosa prática do Rosário seja seguida com sempre maior empenho.

Além disto, todos os bons sofrem connosco, porque no próprio seio dos povos católicos há muitos que, satisfeitos de se regozijar com as ofensas de qualquer modo feitas à religião, eles mesmos, fortes de uma incrível licença de propaganda, mostram não ter em mira outra coisa senão expor ao desprezo e ao escárnio do povo as coisas mais santas da religião e sua experimentada confiança na intercessão da Virgem.

Nestes últimos meses, pois, não se tem poupado nem sequer a augustíssima pessoa de Jesus Cristo Salvador. Não se tem tido pejo de apoderar-se dela para os atractivos do palco, já agora sobejamente contaminado de infâmias, e de representarmo-la despojada da majestade da sua natureza divina, sem a qual necessariamente rui o próprio fundamento da redenção do género humano. E levou-se ao cúmulo a afronta quando se quis reabilitar da infâmia dos séculos o homem réu da criminosa perfídia que a história tem estigmatizado como a mais abominável e a mais monstruosa: o traidor de Cristo.

17. Ante tais excessos, cometidos ou em via de sê-lo pelas cidades da Itália, tem-se levantado um brado geral de indignação e um enérgico protesto pela violação dos sacrossantos direitos da religião, naquela nação que justamente considera sua precípua ufania o ser católica.

Ante tais excessos, como era natural, levantou-se a vigilante solicitude dos bispos, que apresentaram justíssimas recriminações àqueles que têm o inalienável dever de tutelar a honra da religião pátria, e não só têm avisado os seus rebanhos da gravidade do perigo, mas os têm exortado também a especiais actos de reparação da ímpia ofensa lançada contra o amorosíssimo Autor da nossa salvação.

Nós temos apreciado imensamente as múltiplas e notáveis demonstrações de zelo dadas pelos bons nestas circunstâncias, e delas temos haurido um vivo conforto para a Nossa alma, profundamente ferida. Mas, dado que temos ocasião de falar, não podemos abafar a voz do Nosso altíssimo ministério. E por isto falamos, para juntar o Nosso mais enérgico protesto aos já levantados pelos bispos e pelos fiéis.

18. Mas, enquanto lamentamos e detestamos esse sacrílego crime, com o mesmo ardor do Nosso ânimo apostólico dirigimos uma cálida exortação a todos os cristãos, mas particularmente aos Italianos, para que guardem intacta, defendem estrenuamente e continuem a alimentar com obras honestas e piedosas essa fé avoenga que constitui a sua herança mais preciosa.

Recurso à poderosa Rainha do Céu

19. É esta mais uma razão pela qual Nós vivamente desejamos que durante o mês de Outubro os simples fiéis e as confrarias porfiem em honrar a grande Mãe de Deus, a poderosa Auxiliadora do povo cristão, a gloriosíssima Rainha do Céu. Pela Nossa parte, de todo coração confirmamos os favores das santas Indulgências anteriormente concedidos a este propósito.

20. E Deus, ó Veneráveis Irmãos, que "na sua misericordiosa bondade nos deu uma Mediadora tão poderosa" (S. Bernardo, De C II Praerogativis B. M. V., n. 2), "e quis que tudo nos viesse pelas mãos de Maria" (S. Bernardo, Sermo in Nativitatem B. M. V., n. 7), pela intercessão e pelo favor dela acolha propício os votos e satisfaça as esperanças de todos. Como auspício, pois, destes bens, juntamos de todo coração para vós, para o vosso clero e para o vosso povo a Bênção Apostólica.

Dado em Roma, junto a S. Pedro, a 8 de Setembro de 1894, décimo sétimo do Nosso Pontificado.

LEÃO PP. XIII.

(Revisão da versão portuguesa por ama)