Tempo comum XXIII Semana
Evangelho: Lc 12, 1-7
1 Tendo-se juntado à volta de Jesus
milhares e milhares de pessoas, de sorte que se atropelavam uns aos outros,
começou Ele a dizer aos Seus discípulos: «Guardai-vos do fermento dos fariseus,
que é a hipocrisia. 2 Nada há oculto que não venha a descobrir-se e
nada há escondido que não venha a saber-se. 3 Por isso as coisas que
dissestes nas trevas serão ouvidas às claras, e o que falastes ao ouvido no
quarto será apregoado sobre os telhados. 4 «A vós, pois, Meus amigos,
digo-vos: não tenhais medo daqueles que matam o corpo e depois nada mais podem
fazer. 5 Eu vou mostrar-vos a quem haveis de temer; temei Aquele
que, depois de matar, tem poder de lançar no inferno; sim, Eu vos digo, temei
Este. 6 Não se vendem cinco passarinhos por dois asses?; contudo nem
um só deles está em esquecimento diante de Deus . 7 Até os cabelos
da vossa cabeça estão todos contados. Não temais pois; vós valeis mais que
muitos passarinhos.
Comentário:
Devemos
ter medo do demónio?
Esta
pergunta só pode ter uma resposta: não!
O
demónio não pode forçar-nos a fazer seja o que for, as suas 'vitórias' dependem
única e exclusivamente de um acto livre da nossa vontade.
Devemos
ter medo de não termos força para lhe
resistir?
Não!
Ao invés devemos pedir, como no Pai-nosso: 'livrai-nos do mal', fugir das
ocasiões e ter confiança em Deus.
(ama, comentário sobre Lc 12, 1-7,
2012.10.19)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
CARTA ENCÍCLICA
IUCUNDA SEMPER EXPECTATIONE
DE SUA SANTIDADE
PAPA LEÃO XIII
A TODOS OS NOSSOS VENERÁVEIS
IRMÃOS, OS PATRIARCAS,
PRIMAZES, ARCEBISPOS
E BISPOS DO ORBE CATÓLICO,
EM GRAÇA E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
SOBRE O ROSÁRIO DE NOSSA SENHORA
11.
Mas às coisas que nela pedimos, já de per si tão rectas e ordenadas e tão
conformes à fé, à esperança, à caridade cristã, junta-se um valor que não pode
deixar de ser sumamente apreciado pela Virgem Santíssima. Este: que à nossa voz
se une a de seu Filho Jesus, o qual, depois de nos haver ensinado, palavra por
palavra, essa fórmula de oração, autorizadamente no-la impõe, dizendo:
"Vós, pois, rezareis assim" (Mt. 6, 9).
Estejamos
certos, pois, de que, se formos fiéis a este mandato com a recitação do
Rosário, de sua parte Maria não deixará de exercer com maior benevolência o seu
ofício de solícita caridade, e, acolhendo com semblante benigno estas místicas
coroas de orações, recompensar-nos-á com abundância de graças.
O
Rosário ajuda-nos a bem orar
12.
Outra fortíssima razão para contarmos com maior segurança com a generosa
bondade de Maria reside na própria natureza do Rosário, tão adequado para nos
fazer rezar bem. Pela sua fragilidade, o homem, durante a oração, muitas vezes
é levado a distrair-se do pensamento de Deus e a faltar ao seu louvável
propósito.
Ora,
quem considera atentamente este fenómeno logo verá quão eficaz é o Rosário não
só para fazer aplicar a mente e para sacudir a preguiça da alma, como também
para excitar um salutar arrependimento das culpas, e, finalmente, para elevar o
espírito às coisas celestes. E isto porque, como é bem sabido, o Rosário é
composto de duas partes, distintas entre si, porém inseparáveis: a meditação
dos mistérios e a oração vocal.
Por
consequência, este género de oração requer da parte do fiel uma atenção
particular que não só o faz elevar, de algum modo, a mente a Deus, mas o leva
também a reflectir tão seriamente sobre as coisas propostas à sua consideração
e contemplação, que é induzido também a tirar delas estímulo para uma vida
melhor e alimento para toda forma de piedade. Realmente, não há nada maior ou
mais maravilhoso do que estas coisas, que são como que o resumo da fé cristã, e
que, com a sua luz e íntima força, têm sido fonte de verdade, de justiça e de
paz, e que assinalaram para o mundo uma nova ordem de coisas, rica de frutos
maravilhosos.
13.
Atente-se, além disto, no modo como estes profundíssimos mistérios são
apresentados a quem reza o Rosário: isto é, um modo que bem se adapta às mentes
mesmo dos simples e dos menos instruídos. O Rosário não tem em mira fazer-nos
perscrutar os dogmas da fé e da doutrina cristã, mas principalmente pôr como
que diante do nosso olhar e evocar à nossa memória factos.
Visto
como os factos que são apresentados quase nas mesmas circunstâncias de lugar,
de tempo e de pessoa em que aconteceram, impressionam mais a alma e a comovem
salutarmente. E, visto que estas coisas são geralmente inculcadas e gravadas
nas almas desde a infância, daí se segue que, apenas enunciado um mistério,
todo aquele que efectivamente tem amor à oração percorre-o sem nenhum esforço
de imaginação, mas com movimento espontâneo da mente e do coração, e, pelo
auxílio de Maria, tira dele em abundância um orvalho de graças celestes.
O
Rosário prova a Maria o nosso reconhecimento
14.
Mas há outra razão que torna as nossas coroas mais agradáveis e mais meritórias
em presença da Virgem. Quando, com devota recordação, repetimos a tríplice
ordem dos mistérios, vimos a demonstrar-lhe mais claramente o nosso afectuoso
reconhecimento, porque com isto professamos que nunca nos fartamos de recordar
os benefícios dispensados pela sua inexaurível caridade, para a nossa salvação.
Ora, nós podemos ter apenas uma vaga ideia da alegria, sempre nova, que a
lembrança destes grandiosos factos, repetidos com frequência e com amor em sua
presença, pode infundir no seu ânimo bendito, movendo-o a sentimentos de
solicitude e de generosidade materna.
Além
disto, estas mesmas lembranças fazem com que as nossas orações se tornem mais
ardentes e eficazes: porque cada mistério que passa diante do nosso pensamento
fornece-nos um novo estímulo para orar, maximamente eficaz perante a Virgem.
Sim, a ti recorremos, santa Mãe de Deus, e tu não desprezes estes míseros
filhos de Eva!
A
ti suplicamos, ó poderosa e benigna Mediadora da nossa salvação, conjuramos-te
com toda a alma, pelas suaves alegrias recebidas de teu Filho Jesus, pela
participação nas suas indizíveis dores, pelo esplendor da sua glória que em ti
se reflecte. Eia, pois, escuta-nos, se bem que indignos, e atende-nos!
A
moderna perseguição contra a Igreja
15.
A excelência do Rosário mariano, focalizada também pelas duas considerações que
acabamos de vos expor, dir-vos-á ainda mais claramente, Veneráveis Irmãos, por que
razão Nós não nos cansamos de inculcá-lo e de promovê-lo com todo cuidado.
Conforme
desde o princípio observamos, a nossa época tem, cada vez mais, necessidade dos
auxílios celestes, especialmente pelas muitas tribulações que a Igreja sofre,
contrariada no seu direito e na sua liberdade, e, depois, pelos muitos perigos
que ameaçam as próprias bases da prosperidade e da paz dos povos cristãos. Pois
bem: mais uma vez declaramos solenemente que no Rosário depositamos as maiores
esperanças de obter esses auxílios.
Queira
Deus - é este um ardente desejo Nosso - que esta prática de piedade retome em
toda parte o seu antigo lugar de honra! Nas cidades e nas aldeias, nas famílias
e nas oficinas, entre os nobres e os plebeus seja o Rosário amado e venerado
como o mais nobre distintivo da profissão cristã, e como o auxílio mais eficaz
para nos propiciar a divina clemência.
Os
últimos excessos da impiedade
16.
E, pois que a insensata perversidade dos ímpios a tudo já agora recorre - com o
dolo e com a audácia - para provocar a cólera divina e atrair sobre a pátria o
peso de um justo castigo, necessário é que a piedosa prática do Rosário seja
seguida com sempre maior empenho.
Além
disto, todos os bons sofrem connosco, porque no próprio seio dos povos
católicos há muitos que, satisfeitos de se regozijar com as ofensas de qualquer
modo feitas à religião, eles mesmos, fortes de uma incrível licença de
propaganda, mostram não ter em mira outra coisa senão expor ao desprezo e ao
escárnio do povo as coisas mais santas da religião e sua experimentada
confiança na intercessão da Virgem.
Nestes
últimos meses, pois, não se tem poupado nem sequer a augustíssima pessoa de
Jesus Cristo Salvador. Não se tem tido pejo de apoderar-se dela para os atractivos
do palco, já agora sobejamente contaminado de infâmias, e de representarmo-la
despojada da majestade da sua natureza divina, sem a qual necessariamente rui o
próprio fundamento da redenção do género humano. E levou-se ao cúmulo a afronta
quando se quis reabilitar da infâmia dos séculos o homem réu da criminosa
perfídia que a história tem estigmatizado como a mais abominável e a mais monstruosa:
o traidor de Cristo.
17.
Ante tais excessos, cometidos ou em via de sê-lo pelas cidades da Itália,
tem-se levantado um brado geral de indignação e um enérgico protesto pela
violação dos sacrossantos direitos da religião, naquela nação que justamente
considera sua precípua ufania o ser católica.
Ante
tais excessos, como era natural, levantou-se a vigilante solicitude dos bispos,
que apresentaram justíssimas recriminações àqueles que têm o inalienável dever
de tutelar a honra da religião pátria, e não só têm avisado os seus rebanhos da
gravidade do perigo, mas os têm exortado também a especiais actos de reparação
da ímpia ofensa lançada contra o amorosíssimo Autor da nossa salvação.
Nós
temos apreciado imensamente as múltiplas e notáveis demonstrações de zelo dadas
pelos bons nestas circunstâncias, e delas temos haurido um vivo conforto para a
Nossa alma, profundamente ferida. Mas, dado que temos ocasião de falar, não
podemos abafar a voz do Nosso altíssimo ministério. E por isto falamos, para juntar
o Nosso mais enérgico protesto aos já levantados pelos bispos e pelos fiéis.
18.
Mas, enquanto lamentamos e detestamos esse sacrílego crime, com o mesmo ardor
do Nosso ânimo apostólico dirigimos uma cálida exortação a todos os cristãos,
mas particularmente aos Italianos, para que guardem intacta, defendem
estrenuamente e continuem a alimentar com obras honestas e piedosas essa fé
avoenga que constitui a sua herança mais preciosa.
Recurso
à poderosa Rainha do Céu
19.
É esta mais uma razão pela qual Nós vivamente desejamos que durante o mês de
Outubro os simples fiéis e as confrarias porfiem em honrar a grande Mãe de
Deus, a poderosa Auxiliadora do povo cristão, a gloriosíssima Rainha do Céu. Pela
Nossa parte, de todo coração confirmamos os favores das santas Indulgências
anteriormente concedidos a este propósito.
20.
E Deus, ó Veneráveis Irmãos, que "na sua misericordiosa bondade nos deu
uma Mediadora tão poderosa" (S. Bernardo, De C II Praerogativis B. M. V.,
n. 2), "e quis que tudo nos viesse pelas mãos de Maria" (S. Bernardo,
Sermo in Nativitatem B. M. V., n. 7), pela intercessão e pelo favor dela acolha
propício os votos e satisfaça as esperanças de todos. Como auspício, pois,
destes bens, juntamos de todo coração para vós, para o vosso clero e para o
vosso povo a Bênção Apostólica.
Dado
em Roma, junto a S. Pedro, a 8 de Setembro de 1894, décimo sétimo do Nosso
Pontificado.
LEÃO
PP. XIII.
(Revisão
da versão portuguesa por ama)