Cartas de São Paulo
Efésios - 4
II. EXORTAÇÃO AOS BAPTIZADOS
Todos unidos em Cristo –
1 Eu, o prisioneiro no Senhor, exorto-vos, pois, a que procedais de um modo digno do chamamento que recebestes; 2 com toda a humildade e mansidão, com paciência: suportando-vos uns aos outros no amor, 3 esforçando-vos por manter a unidade do Espírito, mediante o vínculo da paz. 4 Há um só Corpo e um só Espírito, assim como a vossa vocação vos chamou a uma só esperança; 5 um só Senhor, uma só fé, um só baptismo; 6 um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por todos e permanece em todos. 7 Mas, a cada um de nós foi dada a graça, segundo a medida do dom de Cristo. 8 Por isso se diz: Ao subir às alturas, levou cativos em cativeiro, deu dádivas aos homens. 9 Ora, este «subiu» que quer dizer, senão que também desceu às regiões inferiores da terra? 10 Aquele que desceu é precisamente o mesmo que subiu muito acima de todos os céus, a fim de encher o universo. 11 E foi Ele que a alguns constituiu como Apóstolos, Profetas, Evangelistas, Pastores e Mestres, 12 em ordem a preparar os santos para uma actividade de serviço, para a construção do Corpo de Cristo, 13 até que cheguemos todos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, ao homem adulto, à medida completa da plenitude de Cristo. 14 Assim, deixaremos de ser crianças, batidos pelas ondas e levados por qualquer vento da doutrina, ao sabor do jogo dos homens, da astúcia que maliciosamente leva ao erro; 15 antes, testemunhando a verdade no amor, cresceremos em tudo para aquele que é a cabeça, Cristo. 16 É a partir dele que o Corpo inteiro, bem ajustado e unido, por meio de toda a espécie de articulações que o sustentam, segundo uma força à medida de cada uma das partes, realiza o seu crescimento como Corpo, para se construir a si próprio no amor.
O homem novo –
17 É isto, pois, o que digo e recomendo no Senhor: não volteis a proceder como procedem os gentios, no vazio da sua mente; 18 vivem obscurecidos no pensamento, alienados da vida de Deus, devido à ignorância que neles existe e ao endurecimento do seu coração; 19 tornados insensíveis, a si mesmos se entregam à libertinagem, até chegarem a praticar toda a espécie de impureza, na ganância. 20 Vós, porém, não foi assim que aprendestes, ao conhecerdes a Cristo, 21 supondo que dele ouvistes falar e nele fostes instruídos, conforme a verdade que está em Jesus: 22 que deveis, no que toca à conduta de outrora, despir-vos do homem velho, corrompido por desejos enganadores; 23 que vos deveis renovar pela transformação do Espírito que anima a vossa mente; 24 e que deveis revestir-vos do homem novo, que foi criado em conformidade com Deus, na justiça e na santidade, próprias da verdade.
Vida exemplar –
25 Por isso, despi-vos da mentira e diga cada um a verdade ao seu próximo, pois somos membros uns dos outros. 26 Se vos irardes, não pequeis; que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento, 27 nem deis espaço algum ao diabo. 28 Aquele que roubava deixe de roubar; antes se esforce por trabalhar com as suas próprias mãos, fazendo o bem, para que tenha com que partilhar com quem passa necessidade. 29 Nenhuma palavra desagradável saia da vossa boca, mas apenas a que for boa, que edifique, sempre que necessário, para que seja uma graça para aqueles que a escutam. 30 E não ofendais o Espírito Santo de Deus, selo com o qual fostes marcados para o dia da redenção. 31 Toda a espécie de azedume, raiva, ira, gritaria e injúria desapareça de vós, juntamente com toda a maldade. 32 Sede, antes, bondosos uns para com os outros, compassivos; perdoai-vos mutuamente, como também Deus vos perdoou em Cristo.
Amigos de Deus
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Os paus pintados de vermelho
Ficaram bem gravados na minha cabeça de menino aqueles sinais que, nas montanhas da minha terra, colocavam nas bermas dos caminhos. Chamaram-me a atenção uns paus altos, geralmente pintados de vermelho. Explicaram-me então que, quando a neve cai e cobre os caminhos, sementeiras e pastos, bosques, rochedos e barrancos, essas estacas saltam à vista como pontos de referência seguros. E assim toda a gente sabe sempre por onde vai o caminho.
Na vida interior acontece uma coisa parecida. Há primaveras e verões, mas também chegam os invernos, dias sem sol e noites órfãs de lua. Não podemos permitir que a intimidade com Jesus Cristo dependa do nosso estado de espírito ou das mudanças do nosso carácter. Essas atitudes são sinal de egoísmo, de comodismo e, evidentemente, não se coadunam com o amor.
Por isso, nos momentos de nevão e de borrasca, algumas práticas de piedade sólidas, nada sentimentais, bem arreigadas e ajustadas às circunstâncias próprias de cada um, serão como os tais paus pintados de vermelho, que continuam a marcar-nos o rumo, até que o Senhor decida que brilhe de novo o sol, se derreta o gelo e o coração volte a vibrar, inflamado com um fogo que, na realidade, nunca esteve apagado - foi apenas um rescaldo oculto pela cinza de uma temporada de provação, de menos empenho ou de reduzido sacrifício.
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Não oculto que, ao longo destes anos, houve quem viesse ter comigo e me dissesse, compungido pela dor: Padre, não sei o que se passa comigo, sinto--me cansado e frio; a minha piedade, que dantes era tão segura e simples, parece-me uma comédia... Pois aos que passam por essa situação e a todos vós respondo: uma comédia? Magnífico! O Senhor está a brincar connosco como um pai com os filhos.
Lê-se na Escritura: Iudens in orbe terrarum, que Ele brinca em toda a superfície da terra. Mas Deus não nos abandona, porque imediatamente acrescenta: deliciæ meæ esse cum filiis hominum, a minha delícia é estar com os filhos dos homens. O Senhor brinca connosco. E quando nos parecer que estamos a representar uma comédia, por nos sentirmos gelados e apáticos, quando estivermos aborrecidos e sem vontade de fazer nada, quando nos custar cumprir o nosso dever e alcançar as metas espirituais que nos tínhamos proposto, é altura de pensar que Deus brinca connosco e espera então que saibamos representar a nossa comédia com galhardia.
Não me importo de vos contar que, em algumas ocasiões, o Senhor me concedeu muitas graças, mas que geralmente vou a contrapelo. Prossigo o meu plano de vida, não porque me agrade, mas porque devo fazê-lo por Amor. Mas, Padre, pode-se representar uma comédia diante de Deus? Não será uma hipocrisia? Não te inquietes, pois chegou para ti o momento de entrares numa comédia humana que tem um espectador divino. Persevera, pois o Pai, o Filho e o Espírito Santo assistem a essa tua comédia. Faz tudo por amor de Deus, para lhe agradar, mesmo que te custe.
Que bonito é ser jogral de Deus! Como é belo representar essa comédia por Amor, com sacrifício, sem nenhuma satisfação pessoal, para agradar ao nosso Pai Deus, que brinca connosco! Põe-te diante do Senhor e diz-lhe confiadamente: não me apetece nada fazer isto, mas oferecê-lo-ei por Ti. E ocupa-te a sério desse trabalho, ainda que penses que é uma comédia. Abençoada comédia! Garanto-te que não se trata de hipocrisia, porque os hipócritas, para os seus fingimentos, necessitam de público. Pelo contrário, os espectadores desta nossa comédia, deixa-me repetir-to, são o Pai, o Filho e o Espírito Santo; a Virgem Santíssima, S. José e todos os Anjos e Santos do Céu. Na nossa vida interior não há outro espectáculo senão esse: é Cristo que passa quasi in occulto, ocultamente.
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Iubilate Deo. Exsultate Deo adiutori nostro. Louvai a Deus. Exultai de alegria no Senhor, nossa única ajuda. Jesus, quem não compreende isto, não conhece nada de amores, nem de pecados, nem mesmo de misérias! Eu sou um pobre homem e entendo de pecados, de amores e de misérias. Sabeis o que é elevar-se até ao coração de Deus? Compreendeis o que é uma alma pôr-se diante do Senhor, abrir-lhe o coração e contar-lhe as suas queixas? Eu queixo-me, por exemplo, quando leva para junto d'Ele gente nova, que ainda o poderia servir e amar muitos anos na terra, porque não consigo compreender isso. Mas são gemidos de confiança, pois sei que, se me afastasse dos braços de Deus, logo a seguir tropeçaria. Por isso, acrescento imediatamente, devagar, enquanto aceito os desígnios do Céu: faça-se, cumpra-se, seja louvada e eternamente glorificada a justíssima e amabilíssima Vontade de Deus sobre todas as coisas. Amen. Amen.
Este é o modo de proceder que nos ensina o Evangelho, a habilidade mais santa e a fonte de eficácia no apostolado; este é o manancial do nosso amor e da nossa paz de filhos de Deus, a via pela qual podemos transmitir aos homens carinho e serenidade. Só assim conseguiremos acabar os nossos dias no Amor, tendo santificado o nosso trabalho, procurando aí a felicidade escondida das coisas de Deus. Conduzir-nos-emos com a santa desvergonha das crianças e rejeitaremos a vergonha - a hipocrisia - dos adultos, que receiam voltar para o Pai, depois do fracasso de uma queda.
Termino com a saudação do Senhor que se lê hoje no Santo Evangelho: pax vobis! A paz seja convosco... E encheram-se de alegria os discípulos, ao ver o Senhor, esse Senhor que nos acompanha até ao Pai.
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Aqui estamos, consummati in unum, em unidade de petição e de intenções, dispostos a começar este tempo de conversa com o Senhor com renovado desejo de sermos instrumentos eficazes nas suas mãos. Diante de Jesus Sacramentado - como gosto de fazer um acto de fé explícita na presença real do Senhor na Eucaristia! - fomentai nos vossos corações o desejo de transmitir, pela vossa oração, um impulso fortíssimo que chegue a todos os lugares da terra, até ao último recanto do planeta, onde houver alguém gastando a sua existência ao serviço de Deus e das almas. Com efeito, graças à inefável realidade da Comunhão dos Santos, somos solidários - cooperadores, diz S. João - na tarefa de difundir a verdade e a paz do Senhor.
É lógico que pensemos no nosso modo de imitar o Mestre; que nos detenhamos a reflectir sobre isso, para aprendermos directamente da vida do Senhor algumas das virtudes que devem resplandecer na nossa conduta, se aspiramos deveras a estender o reinado de Cristo.
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A prudência, virtude necessária
Na passagem do Evangelho de São Mateus da missa de hoje, lemos: tunc abeuntes pharisæi, consilium inierunt ut caperent eum in sermone, reuniram-se os fariseus a fim de combinarem entre si como poderiam apanhar Jesus nas suas palavras. Não esqueçais que este sistema, próprio dos hipócritas, continua a ser táctica corrente no nosso tempo. Julgo que a erva má dos fariseus nunca se extinguirá do mundo; tem gozado sempre de uma prodigiosa fecundidade. Talvez o Senhor permita que ela cresça para nos tornar prudentes, a nós, seus filhos, porque a virtude da prudência é imprescindível para quem quer que tenha de dar critério, de fortalecer, de corrigir, de animar, de alentar os outros. Aliás, qualquer cristão deve actuar em relação aos que o rodeiam precisamente assim, como apóstolo, aproveitando as circunstâncias do seu trabalho quotidiano.
Levanto neste momento o coração a Deus e peço, por mediação da Virgem Santíssima - que está na Igreja, mas sobre a Igreja: entre Cristo e a Igreja, para proteger, reinar e ser Mãe dos homens, como o é de Jesus, Senhor Nosso-; peço que conceda a prudência a todos nós, mas especialmente àqueles que, metidos na torrente circulatória da sociedade, desejam trabalhar por Deus. Realmente, convém-nos aprender a ser prudentes.