O
Papa um escândalo e um mistério
Pergunta:
Santidade, com a minha
primeira pergunta desejava voltar aos começos; e desculpar-me-á, pois, se é
mais longa que as seguintes.
Estou ante um homem
vestido de banco, com uma cruz sobre o peito. Não quero deixar de assinalar que
este homem ao qual chamam Papa («Pai»,
em grego) é em si mesmo um mistério, um sinal de contradição, e
inclusive uma provocação, um “escândalo” segundo o que para muitos é o sentido
comum.
Efectivamente, ante um
Papa há que escolher. O que é Cabeça da Igreja católica é definido pela fé
“Vigário de Cristo”. É considerado como o homem que na terra representa o Filho
de Deus, o que faz “as vezes” da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Isto é
o que afirma qualquer Papa de si mesmo. Isto é o que crêem os católicos.
Todavia, e segundo muitos
outros, esta pretensão é absurda; para eles o Papa não é representante de Deus
mas testemunha supervivente de uns antigos mitos e lendas que o homem de hoje
não pode aceitar.
Portanto, perante Vós é
necessário – dizendo ao modo de Pascal –apostar: Ou bem que Vós sois o
testemunho vivo do Criador do Universo, ou antes o protagonista mais ilustre de
uma história milenária.
Se me permite,
Perguntar-Lhe-ia: Nunca duvidou, no meio da sua certeza, de tal vínculo com
Jesus Cristo e portanto, com Deus? Nunca se lhe colocaram perguntas e problemas
acerca da verdade desse Credo que se
recita na Missa e que proclama uma fé inaudita, de que o Senhor é o garante
mais autorizado?
Resposta:
Quereria começar com a
explicação d palavras e dos conceitos. A sua pergunta está, por um lado,
penetrada de uma fé viva e, por outro, de uma certa inquietude. Devo assinalar
isto já desde o início e, ao fazê-lo, devo referir-me à exortação que ressoou
no início do meu ministério na Sede de Pedro: ‘Não tenhais medo!’
(…)
Não são palavras ditas por
mim, estão profundamente enraizadas no Evangelho; são, simplesmente as Palavras
do próprio Cristo.
De que não devemos ter
medo? Não devemos temer a verdade de nós próprios. Pedro teve consciência
disso, um dia, com especial viveza, e disse a Jesus: «Afasta-te de mim, Senhor,
que sou um homem pecador»! [i]
(…)
Assim que, ante a sua
primeira pergunta, desejo referir-me às palavras de Cristo e, ao mesmo tempo,
às minhas primeiras palavras na Praça de São Pedro. Portanto, “não há que ter
medo ”quando a gente te chama Vigário de Cristo, quando te dizem Santo Padreou
Sua Santidade ou empregam outras expressões semelhantes a estas, que,
inclusive, parecem contrárias ao Evangelho, porque O próprio Cristo afirmou: «a ninguém chameis Pai (…) porque só um é vosso Pai, O do Céu. Tampouco
vos façais chamar mestres, porque um só é o vosso Mestre: Cristo» [ii]
(…)
Assim pois, Pedro não teve
medo de Deus que Se tinha feito homem. Ao contrário, sentiu medo ante o Filho
de Deus como homem; não conseguia aceitar que fosse flagelado e coroado de espinhos
e por fim crucificado. Pedro não o podia aceitar. Dava-lhe medo. E por isso Cristo
reprendeu-o severamente. Todavia, não o rejeitou.
(…)
Esta Igreja confessa: «Tu
és Criso, o Filho de Deus vivo». Isto confessa a Igreja através dos séculos
juntamente com todos os que partilham a sua fé. Juntamente com todos aqueles a
quem o Pai revelou ao Filho no Espírito Santo, assim como aqueles a quem o
Filho no Espírito Santo revelou ao Pai.» [iii]
Esta revelação é definitiva, só se a pode aceitar ou
rejeitar. Pode-se aceitá-la confessando a Deus, Pai Omnipotente, Criador do céu
e da terra, e a Jesus Cristo, o Filho, da mesma substância que o Pai e o
Espírito Santo, que é o Senhor e dá a vida.
Ou também se pode rejeitar
todo o isto e escrever em maiúsculas: «Deus não tem um Filho»; «Jesus Cristo, é
somente um dos profetas, ainda que não o último; é somente um homem.»
Pode alguém surpreender-se
com tais posturas quando sabemos que o próprio Pedro teve dificuldades a este
respeito?
Ele acreditava no Filho de
Deus, mas não conseguia aceitar que este Filho de Deus, como homem, pudesse ser
flagelado, coroado de espinhos, e que depois tivesse de morrer na cruz.
Na Igreja – edificada
sobre a rocha que é Cristo – Pedro, os Apóstolos e os seus sucessores são
testemunhas de Deus crucificado e ressuscitado em Cristo.
Desse modo, são
testemunhas da vida que é mais forte que a morte.
São testemunhas de Deus
que dá a vida porque é Amor [iv].
São testemunhas porque
viram, ouviram e tocado com as mãos, com os olhos e os ouvidos de Pedro, e João
e de tantos outros.
Mas Cristo disse a Tomé:
«Bem aventurados os que, ainda que sem terem visto, acreditaram» [v]
(Excertos da entrevista de
Vittorio Messori a São João Paulo II, CRUZANDO EL UMBRAL DE LA ESPERANZA,
Outubro de 1994)
(Tradução do castelhano por AMA)