18/01/2019

Leitura espiritual


O Papa um escândalo e um mistério

Pergunta:

Santidade, com a minha primeira pergunta desejava voltar aos começos; e desculpar-me-á, pois, se é mais longa que as seguintes.

Estou ante um homem vestido de banco, com uma cruz sobre o peito. Não quero deixar de assinalar que este homem ao qual chamam Papa («Pai»,  em grego) é em si mesmo um mistério, um sinal de contradição, e inclusive uma provocação, um “escândalo” segundo o que para muitos é o sentido comum.

Efectivamente, ante um Papa há que escolher. O que é Cabeça da Igreja católica é definido pela fé “Vigário de Cristo”. É considerado como o homem que na terra representa o Filho de Deus, o que faz “as vezes” da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Isto é o que afirma qualquer Papa de si mesmo. Isto é o que crêem os católicos.

Todavia, e segundo muitos outros, esta pretensão é absurda; para eles o Papa não é representante de Deus mas testemunha supervivente de uns antigos mitos e lendas que o homem de hoje não pode aceitar.

Portanto, perante Vós é necessário – dizendo ao modo de Pascal –apostar: Ou bem que Vós sois o testemunho vivo do Criador do Universo, ou antes o protagonista mais ilustre de uma história milenária.

Se me permite, Perguntar-Lhe-ia: Nunca duvidou, no meio da sua certeza, de tal vínculo com Jesus Cristo e portanto, com Deus? Nunca se lhe colocaram perguntas e problemas acerca da verdade desse Credo que se recita na Missa e que proclama uma fé inaudita, de que o Senhor é o garante mais autorizado?

Resposta:

Quereria começar com a explicação d palavras e dos conceitos. A sua pergunta está, por um lado, penetrada de uma fé viva e, por outro, de uma certa inquietude. Devo assinalar isto já desde o início e, ao fazê-lo, devo referir-me à exortação que ressoou no início do meu ministério na Sede de Pedro: ‘Não tenhais medo!’
(…)
Não são palavras ditas por mim, estão profundamente enraizadas no Evangelho; são, simplesmente as Palavras do próprio Cristo.
De que não devemos ter medo? Não devemos temer a verdade de nós próprios. Pedro teve consciência disso, um dia, com especial viveza, e disse a Jesus: «Afasta-te de mim, Senhor, que sou um homem pecador»! [i]

(…)

Assim que, ante a sua primeira pergunta, desejo referir-me às palavras de Cristo e, ao mesmo tempo, às minhas primeiras palavras na Praça de São Pedro. Portanto, “não há que ter medo ”quando a gente te chama Vigário de Cristo, quando te dizem Santo Padreou Sua Santidade ou empregam outras expressões semelhantes a estas, que, inclusive, parecem contrárias ao Evangelho, porque O próprio Cristo afirmou: «a ninguém chameis Pai (…) porque só um é vosso Pai, O do Céu. Tampouco vos façais chamar mestres, porque um só é o vosso Mestre: Cristo» [ii]

(…)

Assim pois, Pedro não teve medo de Deus que Se tinha feito homem. Ao contrário, sentiu medo ante o Filho de Deus como homem; não conseguia aceitar que fosse flagelado e coroado de espinhos e por fim crucificado. Pedro não o podia aceitar. Dava-lhe medo. E por isso Cristo reprendeu-o severamente. Todavia, não o rejeitou.

(…)

Esta Igreja confessa: «Tu és Criso, o Filho de Deus vivo». Isto confessa a Igreja através dos séculos juntamente com todos os que partilham a sua fé. Juntamente com todos aqueles a quem o Pai revelou ao Filho no Espírito Santo, assim como aqueles a quem o Filho no Espírito Santo revelou ao Pai.» [iii]

Esta revelação é definitiva, só se a pode aceitar ou rejeitar. Pode-se aceitá-la confessando a Deus, Pai Omnipotente, Criador do céu e da terra, e a Jesus Cristo, o Filho, da mesma substância que o Pai e o Espírito Santo, que é o Senhor e dá a vida.

Ou também se pode rejeitar todo o isto e escrever em maiúsculas: «Deus não tem um Filho»; «Jesus Cristo, é somente um dos profetas, ainda que não o último; é somente um homem.»

Pode alguém surpreender-se com tais posturas quando sabemos que o próprio Pedro teve dificuldades a este respeito?

Ele acreditava no Filho de Deus, mas não conseguia aceitar que este Filho de Deus, como homem, pudesse ser flagelado, coroado de espinhos, e que depois tivesse de morrer na cruz.

Na Igreja – edificada sobre a rocha que é Cristo – Pedro, os Apóstolos e os seus sucessores são testemunhas de Deus crucificado e ressuscitado em Cristo.


Desse modo, são testemunhas da vida que é mais forte que a morte.

São testemunhas de Deus que dá a vida porque é Amor [iv].
São testemunhas porque viram, ouviram e tocado com as mãos, com os olhos e os ouvidos de Pedro, e João e de tantos outros.

Mas Cristo disse a Tomé:

«Bem aventurados os que, ainda que sem terem visto, acreditaram» [v]

(Excertos da entrevista de Vittorio Messori a São João Paulo II, CRUZANDO EL UMBRAL DE LA ESPERANZA, Outubro de 1994)

(Tradução do castelhano por AMA)


[i] Lc 5, 8
[ii] Mt 23, 9-10
[iii] Cfr. Mt 11, 25-27
[iv] Cfr.  Jo 4,8
[v] Jo 20,029

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