Semana V da Páscoa
Evangelho:
Jo 15 12-17
12 «O Meu preceito é este: Amai-vos
uns aos outros, como Eu vos amei. 13 Não há maior amor do que dar a própria
vida pelos seus amigos.14 Vós sois Meus amigos se fizerdes o que vos mando.15
Não mais vos chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor;
mas chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de Meu Pai. 16
Não fostes vós que Me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi, e vos destinei
para que vades e deis fruto, e para que o vosso fruto permaneça, a fim de que
tudo o que pedirdes a Meu Pai em Meu nome, Ele vo-lo conceda. 17 Isto vos
mando: Amai-vos uns aos outros.
Comentário:
Continua a liturgia a fazer-nos
pensar no amor.
Parece lógico.
O amor é o sentimento mais profundo
e determinante na vida humana e é exclusivo do homem. Nenhum outro ser vivo é
capaz de amar.
O amor vem directamente do coração entendendo este como a origem de todos
os sentimentos e virtudes.
É no coração que o Espírito Santo
insinua o que precisamos para cumprir o mandato de Cristo.
(ama,
comentário sobre Jo 15, 12-17 2014.05.23)
Leitura espiritual
a beleza de
ser cristão
PRIMEIRA PARTE
XI. OS DONS DO ESPÍRITO SANTO
…/24
E
esta é a missão do Dom de Fortaleza.
Dizemos
que o Dom de Fortaleza actua, particularmente, sobre a memória do homem.
Na
memória entendida como a faculdade que permite ao homem viver a sua
«temporalidade”, o seu percurso histórico no tempo, sem deixar de ser
consciente de que um dia a sua «temporalidade” se converterá em «eternidade”.
A
memória de cada homem está aberta ao seu passado, ilumina o seu presente e
prepara a vinda do futuro.
Permite-lhe
viver no presente, suportando os sobressaltos da perspectiva do futuro e sem se
ater aos abismos do passado.
O
Dom de Fortaleza sustém a Esperança, e ancora-a em Deus, mantendo-a aberta à
perspectiva da Vida Eterna e, ao mesmo tempo, impede que as dificuldades da
vida cristã no presente do tempo provoquem a desesperança, o desânimo, ante a
grandeza da chamada sobrenatural que Deus nos faz e ante a consciência da nossa
fragilidade e da nossa debilidade.
Este
Dom dá vigor ao espírito em momentos dramáticos, como poderá ser a proximidade
do martírio, e nos instantes mais difíceis da vida quotidiana, que reclamam um
comportamento heroico para ser fiéis aos princípios da Fé e da Moral cristã,
para suportar com serenidade ofensas e injustiças recebidas ao fazer o bem.
E
é uma ajuda muito especial para perseverar na procura de Deus, sendo constante
todos os dias, em qualquer estado em que o crente se possa encontrar e ante
qualquer situação que tenha de abordar.
São
Paulo, uma vez mais, exprime a acção deste Dom com palavras inequívocas: «Quem
nos separará do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a
fome, a nudez, os perigos?, como diz a Escritura: “Por tua causa somos levados
à morte diariamente, somos considerados como ovelhas destinadas ao matadouro”.
Mas em todas estas coisas vencemos com facilidade graças àquele que nos amou.
Porque estou convencido que nem a morte, nem os anjos, nem os principados, nem
o presente nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem a profundidade,
nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus manifestado em
Cristo Jesus, Nosso Senhor. [i]
Os
restantes Dons, de Piedade e de Temor de Deus, tornam possível que a vida
divina entre a caudais na alma do crente.
De
certo modo a acção de conversão a Deus que o Espírito Santo leva a cabo no
espírito da criatura com os dons até agora considerados, é o preâmbulo para a
conversão definitiva – deificação, divinização, endeusamento – que se origina
com a presença da Piedade e do Temor de Deus.
O
Dom de Piedade vivifica a Caridade e o Espírito Santo abre ao crente os
caminhos para se adentrar na própria fonte de todo o amor com confiança e
abandono: a relação intra-trinitária do Pai com o Filho no Espírito Santo.
A
acção destes dons torna possível o apagamento da petição de S. Paulo: «Por isso
dobro os meus joelhos ante o Pai, de quem toma nome toda a família no Céu e na
terra, para que vos conceda, segundo a riqueza da sua glória, que sejais
vigorosamente fortalecidos pela acção do Espírito no homem interior, que Cristo
habite pela Fé nos vossos corações, para que, arreigados e cimentados no amor,
podais compreender com todos os santos qual é a largura e o comprimento, a
altura a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede todo o
conhecimento, para que sejais repletos de toda a Plenitude de Deus» [ii]
A
plenitude da graça recebida permite-nos vislumbrar a riqueza contida na breve
frase de São Paulo, tão repetida por estudiosos e pregadores na sua primeira
parte, e tão esquecida no final conclusivo, onde realmente se encontra o seu
significado pleno: «a piedade é útil para tudo, pois tem a promessa da vida, a
presente e a futura».[iii]
Com
efeito, estas palavras resumem de certo modo a realização dos planos de Deus
nas suas criaturas.
A
vida que nos foi dada na primeira criação, a vida presente num corpo mortal, é
o campo em que Deus enterra a semente da Graça.
Só
na piedade é possível este germinar; porque a piedade do homem deixa as mãos de
Deus livres para realizar a sua obra de redenção.
A
piedade abre o caminho para o enxerto do Amor de Deus no homem.
No
desenvolvimento dessa nova seiva no seu espírito o homem encontra a graça
necessária para conseguir viver o «mandamento maior da Lei»: «Amarás o Senhor
teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e toda a tua mente»[iv]
«Onde
abundou o pecado, superabundou a Graça»[v]
Com
o Dom de Piedade, o Espírito Santo que já concedeu a luz da inteligência, fé e
firmeza a fortaleza-esperança, enche o coração do homem de um amor que lhe
permite descobrir-se querido e amado por Deus.
No
calor desse amor, o coração humano liberta-se de qualquer dureza que lhe impede
a liberdade e plenitude no seu actuar; e fortalecesse-se no caminho da sua
conversão; e vive com um certa ternura as suas relações com Deus e em Deus,
também com o próximo, em plenitude de confiança e de abandono.
Esse
sentido profundo de ternura em relação com Deus leva o crente a descobrir em
profundidade o verdadeiro significado da sua filiação divina; a gozar de
«participar da natureza divina», sendo filho de Deus e inclusive a gozar da
alegria de Deus de ser Pai de cada uma das suas criaturas.
O
Dom de Piedade transforma realmente o espírito do homem e dá-lhe a capacidade
de pôr em prática o mandamento novo do Senhor: «Dou-vos um mandamento novo, que
vos ameis uns aos outros.
Como
Eu vos amei, assim também vos ameis vós uns aos outros.
Nisto
todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos tendes amor uns aos outros». [vi]
Convertido
por este Dom de Piedade o cristão encontra-se com capacidade e com forças para
perdoar, para ser compreensivo, para se sacrificar pelos outros; numa palavra,
para amr o próximo como Cristo o ama.
«O
temor de Yahvé é o princípio da sabedoria»[vii]
E
a mesma afirmação, como uma certa transposição na ordem dos termos,
encontramo-la pouco depois: «Começo de Sabedoria é o temor de Yahvé, e a
ciência do santo é inteligência».[viii]
No
livro de Job diz-nos o mesmo: «Olha, o temor do Senhor é a Sabedoria, fugir do
mal, a inteligência»[ix]
SE
a Piedade nos enche de amor e vida, o Temor de Deus parece unir-nos ainda mais
à fonte de vida e de amor que é Deus:
«O
Temor de Yahvé é praça-forte, os seus filhos terão nele refúgio. O Temor de
Yahvé é fonte de vida, para se afastar das armadilhas da morte»[x]
Porque
recolhemos esta série de citações?
O
Dom de Temor de Deus, que alguns autores não distinguem do Dom de Piedade é
difundido de muitas maneiras diferentes.
Está
muito disseminada a opinião dos que consideram o Temor de Deus como um amoroso
temor filial que leva o cristão a não ofender a Deus, a amá-lo como Pai.
Outra
opinião vê este Dom como um imenso respeito para com a Majestade divina, que
leva a um desejo ardente de se conformar até aos mínimos detalhes com a vontade
de Deus Pai.
Sem
deixar de considerar dentro das características do Dom de Temor de Deus os dois
aspectos antes assinalados, parece-nos possível encontrar outro significado, que
reflecte com mais clareza a grandeza do Dom.
Com
efeito se se considera o Temor de Deus o princípio d Sabedoria e se é chamado
«bem-aventurado o homem que teme a Deus»,[xi]
parece possível entender este Dom como o cumulo do amor a Deus que o espírito
do homem pode albergar.
O
Espírito Santo levaria a cabo a conversão definitiva do homem em filho de Deus,
pela acção deste Dom.
E
isto por um duplo efeito do Dom.
Em
primeiro lugar, concede ao homem o desejo de sofrer por amor e em união com
Cristo crucificado, pelas ofensas que Deus recebe de todas as criaturas.
Em
segundo lugar, torna possível que o homem se una de tal forma ao sacrifício
redentor de Cristo, que se configura com o Redentor também no «fazer-se
pecado».
«Em
nome de Cristo vos suplicamos: reconciliai-vos com Deus! A quem não conheceu
pecado, fê-lo pecado por nós para que viéssemos a ser justiça de Deus nele»[xii]
(cont)
ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)