08/05/2015

Evangelho, comentário, L. Espiritual (A beleza de ser cristão)


Semana V da Páscoa

Evangelho: Jo 15 12-17

12 «O Meu preceito é este: Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei. 13 Não há maior amor do que dar a própria vida pelos seus amigos.14 Vós sois Meus amigos se fizerdes o que vos mando.15 Não mais vos chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de Meu Pai. 16 Não fostes vós que Me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi, e vos destinei para que vades e deis fruto, e para que o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo o que pedirdes a Meu Pai em Meu nome, Ele vo-lo conceda. 17 Isto vos mando: Amai-vos uns aos outros.

Comentário:

Continua a liturgia a fazer-nos pensar no amor.

Parece lógico.

O amor é o  sentimento mais profundo e determinante na vida humana e é exclusivo do homem. Nenhum outro ser vivo é capaz de amar.
O amor vem  directamente do coração entendendo este como a origem de todos os sentimentos e virtudes.
É no coração que o Espírito Santo insinua o que precisamos para cumprir o mandato de Cristo.

(ama, comentário sobre Jo 15, 12-17 2014.05.23)


Leitura espiritual

a beleza de ser cristão

PRIMEIRA PARTE



XI. OS DONS DO ESPÍRITO SANTO

…/24

E esta é a missão do Dom de Fortaleza.
Dizemos que o Dom de Fortaleza actua, particularmente, sobre a memória do homem.
Na memória entendida como a faculdade que permite ao homem viver a sua «temporalidade”, o seu percurso histórico no tempo, sem deixar de ser consciente de que um dia a sua «temporalidade” se converterá em «eternidade”.
A memória de cada homem está aberta ao seu passado, ilumina o seu presente e prepara a vinda do futuro.
Permite-lhe viver no presente, suportando os sobressaltos da perspectiva do futuro e sem se ater aos abismos do passado.
O Dom de Fortaleza sustém a Esperança, e ancora-a em Deus, mantendo-a aberta à perspectiva da Vida Eterna e, ao mesmo tempo, impede que as dificuldades da vida cristã no presente do tempo provoquem a desesperança, o desânimo, ante a grandeza da chamada sobrenatural que Deus nos faz e ante a consciência da nossa fragilidade e da nossa debilidade.
Este Dom dá vigor ao espírito em momentos dramáticos, como poderá ser a proximidade do martírio, e nos instantes mais difíceis da vida quotidiana, que reclamam um comportamento heroico para ser fiéis aos princípios da Fé e da Moral cristã, para suportar com serenidade ofensas e injustiças recebidas ao fazer o bem.
E é uma ajuda muito especial para perseverar na procura de Deus, sendo constante todos os dias, em qualquer estado em que o crente se possa encontrar e ante qualquer situação que tenha de abordar.

São Paulo, uma vez mais, exprime a acção deste Dom com palavras inequívocas: «Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, os perigos?, como diz a Escritura: “Por tua causa somos levados à morte diariamente, somos considerados como ovelhas destinadas ao matadouro”. Mas em todas estas coisas vencemos com facilidade graças àquele que nos amou. Porque estou convencido que nem a morte, nem os anjos, nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, Nosso Senhor. [i]
Os restantes Dons, de Piedade e de Temor de Deus, tornam possível que a vida divina entre a caudais na alma do crente.
De certo modo a acção de conversão a Deus que o Espírito Santo leva a cabo no espírito da criatura com os dons até agora considerados, é o preâmbulo para a conversão definitiva – deificação, divinização, endeusamento – que se origina com a presença da Piedade e do Temor de Deus.

O Dom de Piedade vivifica a Caridade e o Espírito Santo abre ao crente os caminhos para se adentrar na própria fonte de todo o amor com confiança e abandono: a relação intra-trinitária do Pai com o Filho no Espírito Santo.

A acção destes dons torna possível o apagamento da petição de S. Paulo: «Por isso dobro os meus joelhos ante o Pai, de quem toma nome toda a família no Céu e na terra, para que vos conceda, segundo a riqueza da sua glória, que sejais vigorosamente fortalecidos pela acção do Espírito no homem interior, que Cristo habite pela Fé nos vossos corações, para que, arreigados e cimentados no amor, podais compreender com todos os santos qual é a largura e o comprimento, a altura a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede todo o conhecimento, para que sejais repletos de toda a Plenitude de Deus» [ii]

A plenitude da graça recebida permite-nos vislumbrar a riqueza contida na breve frase de São Paulo, tão repetida por estudiosos e pregadores na sua primeira parte, e tão esquecida no final conclusivo, onde realmente se encontra o seu significado pleno: «a piedade é útil para tudo, pois tem a promessa da vida, a presente e a futura».[iii]
Com efeito, estas palavras resumem de certo modo a realização dos planos de Deus nas suas criaturas.
A vida que nos foi dada na primeira criação, a vida presente num corpo mortal, é o campo em que Deus enterra a semente da Graça.
Só na piedade é possível este germinar; porque a piedade do homem deixa as mãos de Deus livres para realizar a sua obra de redenção.
A piedade abre o caminho para o enxerto do Amor de Deus no homem.
No desenvolvimento dessa nova seiva no seu espírito o homem encontra a graça necessária para conseguir viver o «mandamento maior da Lei»: «Amarás o Senhor teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e toda a tua mente»[iv]
«Onde abundou o pecado, superabundou a Graça»[v]
Com o Dom de Piedade, o Espírito Santo que já concedeu a luz da inteligência, fé e firmeza a fortaleza-esperança, enche o coração do homem de um amor que lhe permite descobrir-se querido e amado por Deus.
No calor desse amor, o coração humano liberta-se de qualquer dureza que lhe impede a liberdade e plenitude no seu actuar; e fortalecesse-se no caminho da sua conversão; e vive com um certa ternura as suas relações com Deus e em Deus, também com o próximo, em plenitude de confiança e de abandono.
Esse sentido profundo de ternura em relação com Deus leva o crente a descobrir em profundidade o verdadeiro significado da sua filiação divina; a gozar de «participar da natureza divina», sendo filho de Deus e inclusive a gozar da alegria de Deus de ser Pai de cada uma das suas criaturas.
O Dom de Piedade transforma realmente o espírito do homem e dá-lhe a capacidade de pôr em prática o mandamento novo do Senhor: «Dou-vos um mandamento novo, que vos ameis uns aos outros.
Como Eu vos amei, assim também vos ameis vós uns aos outros.
Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos tendes amor uns aos outros». [vi]
Convertido por este Dom de Piedade o cristão encontra-se com capacidade e com forças para perdoar, para ser compreensivo, para se sacrificar pelos outros; numa palavra, para amr o próximo como Cristo o ama.
«O temor de Yahvé é o princípio da sabedoria»[vii]
E a mesma afirmação, como uma certa transposição na ordem dos termos, encontramo-la pouco depois: «Começo de Sabedoria é o temor de Yahvé, e a ciência do santo é inteligência».[viii]
No livro de Job diz-nos o mesmo: «Olha, o temor do Senhor é a Sabedoria, fugir do mal, a inteligência»[ix]
SE a Piedade nos enche de amor e vida, o Temor de Deus parece unir-nos ainda mais à fonte de vida e de amor que é Deus:
«O Temor de Yahvé é praça-forte, os seus filhos terão nele refúgio. O Temor de Yahvé é fonte de vida, para se afastar das armadilhas da morte»[x]

Porque recolhemos esta série de citações?

O Dom de Temor de Deus, que alguns autores não distinguem do Dom de Piedade é difundido de muitas maneiras diferentes.
Está muito disseminada a opinião dos que consideram o Temor de Deus como um amoroso temor filial que leva o cristão a não ofender a Deus, a amá-lo como Pai.
Outra opinião vê este Dom como um imenso respeito para com a Majestade divina, que leva a um desejo ardente de se conformar até aos mínimos detalhes com a vontade de Deus Pai.

Sem deixar de considerar dentro das características do Dom de Temor de Deus os dois aspectos antes assinalados, parece-nos possível encontrar outro significado, que reflecte com mais clareza a grandeza do Dom.
Com efeito se se considera o Temor de Deus o princípio d Sabedoria e se é chamado «bem-aventurado o homem que teme a Deus»,[xi] parece possível entender este Dom como o cumulo do amor a Deus que o espírito do homem pode albergar.
O Espírito Santo levaria a cabo a conversão definitiva do homem em filho de Deus, pela acção deste Dom.

E isto por um duplo efeito do Dom.
Em primeiro lugar, concede ao homem o desejo de sofrer por amor e em união com Cristo crucificado, pelas ofensas que Deus recebe de todas as criaturas.
Em segundo lugar, torna possível que o homem se una de tal forma ao sacrifício redentor de Cristo, que se configura com o Redentor também no «fazer-se pecado».
«Em nome de Cristo vos suplicamos: reconciliai-vos com Deus! A quem não conheceu pecado, fê-lo pecado por nós para que viéssemos a ser justiça de Deus nele»[xii]

(cont)

ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)





[i] Rom 8, 35-39
[ii] Ef 3, 14-19
[iii] 1 Tm 4, 8
[iv] Mt 22, 37
[v] Rom 5, 20
[vi] Jo 13, 38
[vii] Pr 1, 7
[viii] Pr 9, 10
[ix] Job 28, 28
[x] Pr 14, 26-27
[xi] Sal 3, 1
[xii] 2 Cor 5, 21

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