Fortaleza
A
matéria concreta da nossa luta
A virtude da fortaleza
abrange praticamente todo o ser humano.
Percorre de cima abaixo,
aquelas três grandes dimensões da personalidade humana : a cabeça, o coração e os braços.
Começa pela cabeça, pelas convicções. Temos de nos
acostumar a delimitar as ideias a torna-las fortes.
É o primeiro aspecto – a fonte
originária – do que se chama carácter.
Temos de exigir que a
nossa cabeça marque as fronteiras do sim e do não, “quero” e do “não quero”, da
verdade e da mentira, do certo e do errado.
Não nos podemos contentar
com ambiguidades. O “mais ou menos” neste terreno, é sinal de fraqueza, como é
sinal de fortaleza a definição e vivência da verdade.
Não querer olhar para a
verdade; contorná-la inventando teorias que favorecem o comodismo pessoal e o
interesse próprio, tomar atitudes equívocas para evitar os perigos, dizer meias
verdades por medo ou por vergonha – são sintomas de falta de carácter.
Ser forte é ser
transparente, sem medo de dizer as coisas como são, ainda que custe sangue.
Para isso é necessário exercitar-se,
não permitir um gesto, uma atitude, uma palavra que tenha – nem de longe – a menor
aparência de duplicidade.
O coração não foi feito para amorios, mas para amores fortes.
O sentimentalismo é para o amor o que a caricatura é para o rosto.
Precisamos educar o nosso
coração para a fidelidade.
Amores fortes são sempre
amores fiéis.
A guarda dos sentidos –
especialmente o da vista – e da imaginação há-de proteger-nos da inconstância
sentimental, do comportamento de “beija-flor”.
Mas é, talvez, na terceira
dimensão da personalidade humana – os braços
a acção motora – que parece mais importante conseguir o hábito da fortaleza.
As contrariedades internas
e externas avolumam-se diante de nós e é necessário que potenciemos a nossa
capacidade de luta para superá-las, como o atleta vigoriza os músculos para
lançar o corpo por cima da marca que deve ser batida.
Para isso importa muito
negar à sensualidade e à preguiça o que nos pedem continuamente: conforto,
comodidades, divertimentos, satisfações vida folgada isenta de sacrifício. Tudo
isto enfraquece-nos moral e fisicamente.
As fibras da alma
enrijecem-se quanto os músculos do corpo.
As privações, a carência
de recursos e comodidades, os empreendimentos duros, a persistência no
trabalho, a sobriedade na comida, na bebida, no descanso, a disposição de
enfrentar dificuldades e perigos, a falta de conforto, o sofrimento físico e
moral encarado com dignidade, tornam o homem mais robusto que o ferro. [i]
Pelo contrário, o excesso
de comodidades, a superabundância de recursos, o conforto de uma vida regalada,
a falta de esforço no exercício da profissão, com ânimo de progredir, a fuga ao
sofrimento, as facilidades de quem tem tudo à sua disposição – os mimos e
cuidados de “menino de família” – tornam o homem como madeira quebradiça que se
desfaz ao impulso de qualquer vento.
‘A energia moral, o equilíbrio
nervoso, a resistência orgânica, aumentam nas pessoas expostas às alternâncias do
calor e do frio, da secura e da humidade, do sol violento, da chuva, da neve,
do vento e do nevoeiro….
Os homens do século XX
perderam muitas vezes a força ancestral por não terem de lutar contra o seu
meio.
São capazes de um trabalho
fácil que, na sociedade moderna, garante o sustento do indivíduo, mas são
moles, emotivos, cobardes, lascivos e violentos.
Não têm senso moral, nem estético,
nem religioso.
Degeneraram moral e
mentalmente. [ii]
(Cfr FORTALEZA (1991) de Rafael Llano Cifuentes)
(Revisão da versão
portuguesa por AMA)
[i] São João
Crisóstomo, Homilia de gloria in tribulationibus,
[ii] Cfr Alexis Carrel,
O homem esse desconhecido.