07/02/2019

Leitura espiritual


Fortaleza

A matéria concreta da nossa luta

A virtude da fortaleza abrange praticamente todo o ser humano.
Percorre de cima abaixo, aquelas três grandes dimensões da personalidade humana : a cabeça, o coração e os braços.

Começa pela cabeça, pelas convicções. Temos de nos acostumar a delimitar as ideias a torna-las fortes.
É o primeiro aspecto – a fonte originária – do que se chama carácter.


Temos de exigir que a nossa cabeça marque as fronteiras do sim e do não, “quero” e do “não quero”, da verdade e da mentira, do certo e do errado.

Não nos podemos contentar com ambiguidades. O “mais ou menos” neste terreno, é sinal de fraqueza, como é sinal de fortaleza a definição e vivência da verdade.

Não querer olhar para a verdade; contorná-la inventando teorias que favorecem o comodismo pessoal e o interesse próprio, tomar atitudes equívocas para evitar os perigos, dizer meias verdades por medo ou por vergonha – são sintomas de falta de carácter.

Ser forte é ser transparente, sem medo de dizer as coisas como são, ainda que custe sangue.
Para isso é necessário exercitar-se, não permitir um gesto, uma atitude, uma palavra que tenha – nem de longe – a menor aparência de duplicidade.

O coração não foi feito para amorios, mas para amores fortes.

O sentimentalismo é para o amor o que a caricatura é para o rosto.

Precisamos educar o nosso coração para a fidelidade.
Amores fortes são sempre amores fiéis.

A guarda dos sentidos – especialmente o da vista – e da imaginação há-de proteger-nos da inconstância sentimental, do comportamento de “beija-flor”.

Mas é, talvez, na terceira dimensão da personalidade humana – os braços a acção motora – que parece mais importante conseguir o hábito da fortaleza.

As contrariedades internas e externas avolumam-se diante de nós e é necessário que potenciemos a nossa capacidade de luta para superá-las, como o atleta vigoriza os músculos para lançar o corpo por cima da marca que deve ser batida.

Para isso importa muito negar à sensualidade e à preguiça o que nos pedem continuamente: conforto, comodidades, divertimentos, satisfações vida folgada isenta de sacrifício. Tudo isto enfraquece-nos moral e fisicamente.

As fibras da alma enrijecem-se quanto os músculos do corpo.

As privações, a carência de recursos e comodidades, os empreendimentos duros, a persistência no trabalho, a sobriedade na comida, na bebida, no descanso, a disposição de enfrentar dificuldades e perigos, a falta de conforto, o sofrimento físico e moral encarado com dignidade, tornam o homem mais robusto que o ferro. [i]

Pelo contrário, o excesso de comodidades, a superabundância de recursos, o conforto de uma vida regalada, a falta de esforço no exercício da profissão, com ânimo de progredir, a fuga ao sofrimento, as facilidades de quem tem tudo à sua disposição – os mimos e cuidados de “menino de família” – tornam o homem como madeira quebradiça que se desfaz ao impulso de qualquer vento.

‘A energia moral, o equilíbrio nervoso, a resistência orgânica, aumentam nas pessoas expostas às alternâncias do calor e do frio, da secura e da humidade, do sol violento, da chuva, da neve, do vento e do nevoeiro….

Os homens do século XX perderam muitas vezes a força ancestral por não terem de lutar contra o seu meio.
São capazes de um trabalho fácil que, na sociedade moderna, garante o sustento do indivíduo, mas são moles, emotivos, cobardes, lascivos e violentos.

Não têm senso moral, nem estético, nem religioso.

Degeneraram moral e mentalmente. [ii]


(Cfr FORTALEZA (1991) de Rafael Llano Cifuentes)

(Revisão da versão portuguesa por AMA)






[i] São João Crisóstomo, Homilia de gloria in tribulationibus,
[ii] Cfr Alexis Carrel, O homem esse desconhecido.

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