Tempo comum XXIII Semana
Santíssimo
Nome de Maria
Evangelho:
Lc 6, 43-49
43 Porque não há
árvore boa que dê mau fruto, nem árvore má que dê bom fruto. 44
Porquanto cada árvore se conhece pelo seu fruto; pois nem se colhem figos dos
espinheiros, nem se vindimam uvas dos abrolhos. 45 O homem bom, do
bom tesouro do seu coração tira o bem; o homem mau, do mau tesouro tira o mal;
porque a boca fala da abundância do coração. 46 «Porque Me chamais
Senhor, Senhor, e não fazeis o que Eu vos digo? 47 Todo aquele que vem a Mim,
ouve as Minhas palavras, e as põe em prática, vou mostrar-vos a quem é
semelhante. 48 É semelhante a um homem que, edificando uma casa,
cavou profundamente e pôs os alicerces sobre a rocha. Vindo uma inundação,
investiu a torrente contra aquela casa e não pôde movê-la, porque estava bem
edificada. 49 Mas quem ouve e não pratica, é semelhante a um homem
que edificou a sua casa sobre a terra, sem alicerces. Investiu a torrente
contra ela, e logo caiu, e foi grande a ruína daquela casa».
Comentário:
Hoje,
dia em que escrevo este comentário, uma multidão encontra-se em Fátima para
celebrar o dia 13 de Setembro de 1917, em que a Senhora apareceu pela penúltima
vez aos Pastorinhos.
Ali,
é de facto, “casa” da nossa Mãe do Céu que escolheu Portugal para que ali se
construísse o “ALTAR DO MUNDO”.
Não
poucas vezes as tempestades, os ventos e as torrentes criadas pela mão dos
homens investiram contra ela. Sem sucesso, como se constata.
Nestes
quase cem anos a sua construção não pára, não se detém porque milhões de
milhões de homens e mulheres de todo o mundo a acrescentam e dão solidez com as
suas peregrinações, sacrifícios, ofertas e orações.
(ama, comentário sobre Lc 6, 43-49, 2014.09.13)
Leitura espiritual
CRISTO QUE
PASSA
124
Sementeira de paz e de
alegria
Que fazer?
Dizia-vos que não
procurei descrever crises sociais ou políticas, derrocadas ou doenças
culturais.
Centrado sobre a fé
cristã, tenho-me referindo ao mal no sentido preciso da ofensa a Deus.
O apostolado cristão não
é um programa político, nem uma alternativa cultural: significa a difusão do
bem, o contágio do desejo de amar, uma sementeira concreta de paz e de alegria.
Desse apostolado, sem
dúvida, derivarão benefícios espirituais para todos: mais justiça, mais
compreensão, mais respeito do homem pelo homem.
Há muitas almas à nossa
volta, e não temos o direito de sermos obstáculo para o seu bem eterno.
Estamos obrigados a ser
plenamente cristãos, a ser santos, a não defraudar Deus nem todas as pessoas
que esperam do cristão o exemplo, a doutrina.
O nosso apostolado tem
de basear-se na compreensão.
Insisto novamente: a
caridade, mais do que em dar, está em compreender.
Não vos escondo como
aprendi, na minha própria carne, o que custa não ser compreendido.
Esforcei-me sempre por
fazer-me compreender, mas há quem se empenhe em não me entender: eis outra
razão, prática e viva, para que eu deseje compreender a todos.
Mas não é um impulso
circunstancial que há-de obrigar-nos a ter esse coração amplo, universal,
católico.
O espírito de
compreensão é expressão da caridade cristã do bom filho de Deus: porque o
Senhor quer que estejamos presentes em todos os caminhos rectos da terra, para
estender a semente da fraternidade - não do joio -, da desculpa, do perdão, da
caridade, da paz.
Nunca vos sintais
inimigos de ninguém.
O cristão há-de
mostrar-se sempre disposto a conviver com todos, a dar a todos - pela maneira
de lidar com os outros - a possibilidade de se aproximarem de Cristo Jesus.
Há-de sacrificar-se
gostosamente por todos, sem distinções, sem dividir as almas em departamentos
estanques, sem lhes pôr etiquetas como se fossem mercadorias ou insectos
dissecados.
O cristão não pode
separar-se dos outros, porque a sua vida seria miserável e egoísta: deve
fazer-se tudo para todos, para salvar a todos.
Se vivêssemos assim, se
soubéssemos impregnar a nossa conduta com esta sementeira de generosidade, com
este desejo de convivência, de paz, fomentar-se-ia a legítima independência
pessoal dos homens, cada um assumiria a sua responsabilidade e responderia
pelos afazeres que lhe competem nos trabalhos temporais.
Além disso, o cristão
saberia defender, em primeiro lugar, a liberdade alheia, para poder depois
defender a sua própria; teria a caridade de aceitar os outros como são - porque
cada um, sem excepção, traz consigo misérias e comete erros -, ajudando-os com
a graça de Deus e com delicadeza humana a superar o mal, a arrancar o joio, a
fim de que todos possamos ajudar-nos mutuamente e conduzir com dignidade a
nossa condição de homens e de cristãos.
125
A vida futura
A tarefa apostólica que
Cristo atribuiu a todos os seus discípulos produz, portanto, resultados
concretos no âmbito social.
Não é admissível pensar
que, para se ser cristão, seja preciso voltar as costas ao mundo, ser um
derrotista da natureza humana. Tudo, até o mais pequeno dos acontecimentos
honestos, encerra um sentido humano e divino.
Cristo, perfeito homem,
não veio destruir o que é humano, mas enobrecê-lo, assumindo a nossa natureza
humana, excepto o pecado. Veio compartilhar todos os anseios do homem, menos a
triste aventura do mal.
O cristão deve
encontrar-se sempre disposto a santificar a sociedade a partir de dentro,
estando plenamente no mundo, mas não sendo do mundo naquilo que ele tem - não
por característica real, mas por defeito voluntário, pelo pecado - de negação
de Deus, de oposição à Sua amável Vontade salvífica.
A festa da Ascensão do
Senhor sugere-nos também outra realidade: o Cristo que nos anima a esta tarefa
no mundo espera-nos no Céu. Por outras palavras: a vida na terra, que amamos,
não é a definitiva: porque não temos aqui cidade permanente, mas andamos em
busca da futura cidade imutável.
Procuremos, no entanto,
não interpretar a Palavra de Deus nos limites de horizontes estreitos.
O Senhor não nos impele
a sermos infelizes enquanto caminhamos, esperando só a consolação no além. Deus
quer-nos felizes também aqui, embora anelando o cumprimento definitivo dessa
outra felicidade, que só Ele pode preencher completa e abundantemente.
Nesta terra, a
contemplação das realidades sobrenaturais, a acção da graça nas nossas almas, o
amor ao próximo como fruto saboroso do amor a Deus, supõem já uma antecipação
do Céu, um começo destinado a crescer dia a dia.
Nós, cristãos, não
suportamos uma vida dupla: mantemos uma unidade de vida, simples e forte, na
qual se fundamentam e compenetram todas ás nossas acções.
126
Cristo espera-nos.
Vivemos já como cidadãos
do céu sendo plenamente cidadãos da Terra, no meio de dificuldades, de
injustiças, de incompreensões, mas também no meio da alegria e da serenidade
que dá saber-se filho amado de Deus.
Perseveremos no serviço
do nosso Deus e veremos como aumenta em número e em santidade este exército
cristão de paz, este povo de corredenção.
Sejamos almas
contemplativas, com um diálogo constante, convivendo com o Senhor a toda a
hora: desde o primeiro pensamento do dia ao último da noite, pondo
continuamente o nosso coração em Jesus Cristo Senhor Nosso, chegando até junto
d'Ele por intermédio da Nossa Mãe Santa Maria e, por Ele, ao Pai e ao Espírito
Santo.
Se, apesar de tudo, a
subida de Jesus aos Céus nos deixa na alma um amargo rasto de tristeza,
acudamos a sua Mãe como fizeram os apóstolos: então, voltaram a Jerusalém... e
oravam unanimemente... com Maria, a Mãe de Jesus.
127
Os Actos dos Apóstolos,
ao narrarem-nos os acontecimentos daquele dia de Pentecostes em que o Espírito
Santo desceu em forma de línguas de fogo sobre os discípulos de Nosso Senhor,
levam-nos a assistir à grande manifestação do poder de Deus com que a Igreja
iniciou a sua caminhada por entre as nações.
A vitória que Cristo obtivera sobre a morte e
sobre o pecado - com a sua obediência, a sua imolação na Cruz e a sua Ressurreição
- revelou-se então em todo o seu esplendor divino.
Os discípulos, que já
tinham sido testemunhas da glória do Ressuscitado, experimentaram em si a força
do Espírito Santo: as suas inteligências e os seus corações abriram-se a uma
nova luz.
Tinham seguido Cristo e
recebido com fé a sua doutrina; mas nem sempre conseguiam penetrar totalmente
no sentido desta.
Era necessário que
viesse o Espírito de Verdade para lhes fazer compreender todas as coisas.
Sabiam que só em Jesus
podiam encontrar palavras de vida eterna e estavam dispostos a segui-Lo e a dar
a vida por Ele; mas eram fracos e, quando chegou a hora da provação, fugiram,
deixaram-nO só.
No dia de Pentecostes
tudo isso passou: o Espírito Santo, que é espírito de fortaleza, tornou-os
firmes, seguros, audazes.
A palavra dos Apóstolos
ressoa então, forte e vibrante, pelas ruas e praças de Jerusalém.
Os homens e as mulheres
vindos das mais diversas regiões, que naqueles dias povoam a cidade, escutam
assombrados.
Partos, medos e
elamitas, e os que habitam a Mesopotâmia, a Judeia e a Capadócia, o Ponto e a
Ásia, a Frígia e a Panfília, o Egipto e várias partes da Líbia que é vizinha de
Cirene, e os que vieram de Roma, tanto judeus como prosélitos, cretenses e
árabes, todos os ouvimos falar, nas nossas próprias línguas, das maravilhas de
Deus.
Estes prodígios, que se
realizam diante dos seus olhos, levam-nos a prestar atenção à pregação
apostólica.
O mesmo Espírito Santo,
que actua nos discípulos do Senhor, tocou-lhes também nos corações e conduziu-os
à Fé.
Conta-nos S. Lucas que,
depois de S. Pedro ter falado, proclamando a Ressurreição de Cristo, muitos dos
que o rodeavam se aproximaram, perguntando: que
havemos de fazer, irmãos?
E o Apóstolo
respondeu-lhes: Fazei penitência, e cada
um de vós seja baptizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados;
e recebereis o dom do Espírito Santo.
E o texto sagrado
termina dizendo-nos que nesse dia se incorporaram na Igreja cerca de três mil
pessoas.
A vinda solene do
Espírito Santo no dia de Pentecostes não foi um acontecimento isolado.
Quase não há uma página
dos Actos dos Apóstolos em que se não fale d'Ele e da acção pela qual guia,
dirige e anima a vida e as obras da primitiva comunidade cristã.
É Ele que inspira a
pregação de S. Pedro, que confirma na fé os discípulos, que sela com a sua
presença o chamamento dirigido aos gentios e, que envia Saulo e Barnabé para
terras distantes, a fim de abrirem novos caminhos à doutrina de Jesus.
Numa palavra, a sua
presença e a sua actuação dominam tudo.
128
O renascimento baptismal
Esta realidade profunda
que o texto da Sagrada Escritura nos dá a conhecer não é uma simples recordação
do passado, de uma espécie de idade de ouro da Igreja, perdida na História.
Por cima das misérias e
dos pecados de cada um de nós, continua a ser a realidade da Igreja de hoje e
da Igreja de todos os tempos.
Eu rogarei ao Pai -
anunciou o Senhor aos seus discípulos - e Ele vos dará outro Consolador, para
que fique convosco eternamente.
Jesus cumpriu as suas
promessas: ressuscitou, subiu aos Céus e, em união com o Eterno Pai, envia-nos
o Espírito Santo para nos santificar e nos dar a vida.
A força e o poder de
Deus iluminam a face da Terra.
O Espírito Santo
continua a assistir à Igreja de Cristo, para que ela seja - sempre e em tudo -
sinal erguido diante das nações, anunciando à Humanidade a benevolência e o
amor de Deus.
Por maiores que sejam as
nossas limitações, nós, homens, podemos olhar com confiança para os Céus e
sentir-nos cheios de alegria: Deus ama-nos e liberta-nos dos nossos pecados.
A presença e a acção do
Espírito Santo na Igreja são o penhor e a antecipação da felicidade eterna,
dessa alegria e dessa paz que Deus nos prepara.
Também nós, tal como
aqueles primeiros que se aproximaram de S. Pedro no dia de Pentecostes, fomos
baptizados.
No baptismo, o Nosso Pai, Deus, tomou posse
das nossas vidas, incorporou-nos na vida de Cristo e enviou-nos o Espírito
Santo.
O Senhor, diz-nos a
Sagrada Escritura, salvou-nos fazendo-nos renascer pelo baptismo, renovando-nos
pelo Espírito Santo, que Ele difundiu sobre nós abundantemente por Jesus
Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados pela sua graça, sejamos
herdeiros da vida eterna, segundo a esperança.
A experiência da nossa
debilidade e das nossas faltas, a desedificação que pode produzir o espectáculo
doloroso da pequenez ou mesmo mesquinhez de alguns que se chamam cristãos, o
aparente fracasso ou a desorientação de algumas iniciativas apostólicas, tudo
isso - a comprovação da realidade do pecado e das limitações humanas - pode
constituir, no entanto, uma provação para a nossa fé e fazer com que se
insinuem em nós a tentação e a dúvida: onde estão a força e o poder de Deus?
É o momento de
reagirmos, de pormos em prática da maneira mais pura e firme a nossa esperança
e, portanto, de procurarmos ser mais firme na nossa fidelidade.
(cont)