12/09/2015

Evangelho, comentário, L. espiritual


Tempo comum XXIII Semana

Santíssimo Nome de Maria

Evangelho: Lc 6, 43-49

43 Porque não há árvore boa que dê mau fruto, nem árvore má que dê bom fruto. 44 Porquanto cada árvore se conhece pelo seu fruto; pois nem se colhem figos dos espinheiros, nem se vindimam uvas dos abrolhos. 45 O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; o homem mau, do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala da abundância do coração. 46 «Porque Me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que Eu vos digo? 47 Todo aquele que vem a Mim, ouve as Minhas palavras, e as põe em prática, vou mostrar-vos a quem é semelhante. 48 É semelhante a um homem que, edificando uma casa, cavou profundamente e pôs os alicerces sobre a rocha. Vindo uma inundação, investiu a torrente contra aquela casa e não pôde movê-la, porque estava bem edificada. 49 Mas quem ouve e não pratica, é semelhante a um homem que edificou a sua casa sobre a terra, sem alicerces. Investiu a torrente contra ela, e logo caiu, e foi grande a ruína daquela casa».

Comentário:

Hoje, dia em que escrevo este comentário, uma multidão encontra-se em Fátima para celebrar o dia 13 de Setembro de 1917, em que a Senhora apareceu pela penúltima vez aos Pastorinhos.

Ali, é de facto, “casa” da nossa Mãe do Céu que escolheu Portugal para que ali se construísse o “ALTAR DO MUNDO”.

Não poucas vezes as tempestades, os ventos e as torrentes criadas pela mão dos homens investiram contra ela. Sem sucesso, como se constata.

Nestes quase cem anos a sua construção não pára, não se detém porque milhões de milhões de homens e mulheres de todo o mundo a acrescentam e dão solidez com as suas peregrinações, sacrifícios, ofertas e orações.

(ama, comentário sobre Lc 6, 43-49, 2014.09.13)


Leitura espiritual



CRISTO QUE PASSA

124  
        
Sementeira de paz e de alegria

Que fazer?
Dizia-vos que não procurei descrever crises sociais ou políticas, derrocadas ou doenças culturais.
Centrado sobre a fé cristã, tenho-me referindo ao mal no sentido preciso da ofensa a Deus.
O apostolado cristão não é um programa político, nem uma alternativa cultural: significa a difusão do bem, o contágio do desejo de amar, uma sementeira concreta de paz e de alegria.
Desse apostolado, sem dúvida, derivarão benefícios espirituais para todos: mais justiça, mais compreensão, mais respeito do homem pelo homem.

Há muitas almas à nossa volta, e não temos o direito de sermos obstáculo para o seu bem eterno.
Estamos obrigados a ser plenamente cristãos, a ser santos, a não defraudar Deus nem todas as pessoas que esperam do cristão o exemplo, a doutrina.

O nosso apostolado tem de basear-se na compreensão.
Insisto novamente: a caridade, mais do que em dar, está em compreender.
Não vos escondo como aprendi, na minha própria carne, o que custa não ser compreendido.
Esforcei-me sempre por fazer-me compreender, mas há quem se empenhe em não me entender: eis outra razão, prática e viva, para que eu deseje compreender a todos.
Mas não é um impulso circunstancial que há-de obrigar-nos a ter esse coração amplo, universal, católico.
O espírito de compreensão é expressão da caridade cristã do bom filho de Deus: porque o Senhor quer que estejamos presentes em todos os caminhos rectos da terra, para estender a semente da fraternidade - não do joio -, da desculpa, do perdão, da caridade, da paz.
Nunca vos sintais inimigos de ninguém.

O cristão há-de mostrar-se sempre disposto a conviver com todos, a dar a todos - pela maneira de lidar com os outros - a possibilidade de se aproximarem de Cristo Jesus.
Há-de sacrificar-se gostosamente por todos, sem distinções, sem dividir as almas em departamentos estanques, sem lhes pôr etiquetas como se fossem mercadorias ou insectos dissecados.
O cristão não pode separar-se dos outros, porque a sua vida seria miserável e egoísta: deve fazer-se tudo para todos, para salvar a todos.

Se vivêssemos assim, se soubéssemos impregnar a nossa conduta com esta sementeira de generosidade, com este desejo de convivência, de paz, fomentar-se-ia a legítima independência pessoal dos homens, cada um assumiria a sua responsabilidade e responderia pelos afazeres que lhe competem nos trabalhos temporais.
Além disso, o cristão saberia defender, em primeiro lugar, a liberdade alheia, para poder depois defender a sua própria; teria a caridade de aceitar os outros como são - porque cada um, sem excepção, traz consigo misérias e comete erros -, ajudando-os com a graça de Deus e com delicadeza humana a superar o mal, a arrancar o joio, a fim de que todos possamos ajudar-nos mutuamente e conduzir com dignidade a nossa condição de homens e de cristãos.

125 
         
A vida futura

A tarefa apostólica que Cristo atribuiu a todos os seus discípulos produz, portanto, resultados concretos no âmbito social.
Não é admissível pensar que, para se ser cristão, seja preciso voltar as costas ao mundo, ser um derrotista da natureza humana. Tudo, até o mais pequeno dos acontecimentos honestos, encerra um sentido humano e divino.
Cristo, perfeito homem, não veio destruir o que é humano, mas enobrecê-lo, assumindo a nossa natureza humana, excepto o pecado. Veio compartilhar todos os anseios do homem, menos a triste aventura do mal.

O cristão deve encontrar-se sempre disposto a santificar a sociedade a partir de dentro, estando plenamente no mundo, mas não sendo do mundo naquilo que ele tem - não por característica real, mas por defeito voluntário, pelo pecado - de negação de Deus, de oposição à Sua amável Vontade salvífica.

A festa da Ascensão do Senhor sugere-nos também outra realidade: o Cristo que nos anima a esta tarefa no mundo espera-nos no Céu. Por outras palavras: a vida na terra, que amamos, não é a definitiva: porque não temos aqui cidade permanente, mas andamos em busca da futura cidade imutável.

Procuremos, no entanto, não interpretar a Palavra de Deus nos limites de horizontes estreitos.
O Senhor não nos impele a sermos infelizes enquanto caminhamos, esperando só a consolação no além. Deus quer-nos felizes também aqui, embora anelando o cumprimento definitivo dessa outra felicidade, que só Ele pode preencher completa e abundantemente.

Nesta terra, a contemplação das realidades sobrenaturais, a acção da graça nas nossas almas, o amor ao próximo como fruto saboroso do amor a Deus, supõem já uma antecipação do Céu, um começo destinado a crescer dia a dia.
Nós, cristãos, não suportamos uma vida dupla: mantemos uma unidade de vida, simples e forte, na qual se fundamentam e compenetram todas ás nossas acções.

126 
         
Cristo espera-nos.
Vivemos já como cidadãos do céu sendo plenamente cidadãos da Terra, no meio de dificuldades, de injustiças, de incompreensões, mas também no meio da alegria e da serenidade que dá saber-se filho amado de Deus.
Perseveremos no serviço do nosso Deus e veremos como aumenta em número e em santidade este exército cristão de paz, este povo de corredenção.

Sejamos almas contemplativas, com um diálogo constante, convivendo com o Senhor a toda a hora: desde o primeiro pensamento do dia ao último da noite, pondo continuamente o nosso coração em Jesus Cristo Senhor Nosso, chegando até junto d'Ele por intermédio da Nossa Mãe Santa Maria e, por Ele, ao Pai e ao Espírito Santo.

Se, apesar de tudo, a subida de Jesus aos Céus nos deixa na alma um amargo rasto de tristeza, acudamos a sua Mãe como fizeram os apóstolos: então, voltaram a Jerusalém... e oravam unanimemente... com Maria, a Mãe de Jesus.

127  
        
Os Actos dos Apóstolos, ao narrarem-nos os acontecimentos daquele dia de Pentecostes em que o Espírito Santo desceu em forma de línguas de fogo sobre os discípulos de Nosso Senhor, levam-nos a assistir à grande manifestação do poder de Deus com que a Igreja iniciou a sua caminhada por entre as nações.
 A vitória que Cristo obtivera sobre a morte e sobre o pecado - com a sua obediência, a sua imolação na Cruz e a sua Ressurreição - revelou-se então em todo o seu esplendor divino.

Os discípulos, que já tinham sido testemunhas da glória do Ressuscitado, experimentaram em si a força do Espírito Santo: as suas inteligências e os seus corações abriram-se a uma nova luz.
Tinham seguido Cristo e recebido com fé a sua doutrina; mas nem sempre conseguiam penetrar totalmente no sentido desta.
Era necessário que viesse o Espírito de Verdade para lhes fazer compreender todas as coisas.
Sabiam que só em Jesus podiam encontrar palavras de vida eterna e estavam dispostos a segui-Lo e a dar a vida por Ele; mas eram fracos e, quando chegou a hora da provação, fugiram, deixaram-nO só.
No dia de Pentecostes tudo isso passou: o Espírito Santo, que é espírito de fortaleza, tornou-os firmes, seguros, audazes.
A palavra dos Apóstolos ressoa então, forte e vibrante, pelas ruas e praças de Jerusalém.

Os homens e as mulheres vindos das mais diversas regiões, que naqueles dias povoam a cidade, escutam assombrados.
Partos, medos e elamitas, e os que habitam a Mesopotâmia, a Judeia e a Capadócia, o Ponto e a Ásia, a Frígia e a Panfília, o Egipto e várias partes da Líbia que é vizinha de Cirene, e os que vieram de Roma, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes, todos os ouvimos falar, nas nossas próprias línguas, das maravilhas de Deus.
Estes prodígios, que se realizam diante dos seus olhos, levam-nos a prestar atenção à pregação apostólica.
O mesmo Espírito Santo, que actua nos discípulos do Senhor, tocou-lhes também nos corações e conduziu-os à Fé.

Conta-nos S. Lucas que, depois de S. Pedro ter falado, proclamando a Ressurreição de Cristo, muitos dos que o rodeavam se aproximaram, perguntando: que havemos de fazer, irmãos?
E o Apóstolo respondeu-lhes: Fazei penitência, e cada um de vós seja baptizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo.
E o texto sagrado termina dizendo-nos que nesse dia se incorporaram na Igreja cerca de três mil pessoas.

A vinda solene do Espírito Santo no dia de Pentecostes não foi um acontecimento isolado.
Quase não há uma página dos Actos dos Apóstolos em que se não fale d'Ele e da acção pela qual guia, dirige e anima a vida e as obras da primitiva comunidade cristã.
É Ele que inspira a pregação de S. Pedro, que confirma na fé os discípulos, que sela com a sua presença o chamamento dirigido aos gentios e, que envia Saulo e Barnabé para terras distantes, a fim de abrirem novos caminhos à doutrina de Jesus.
Numa palavra, a sua presença e a sua actuação dominam tudo.

128
          
O renascimento baptismal

Esta realidade profunda que o texto da Sagrada Escritura nos dá a conhecer não é uma simples recordação do passado, de uma espécie de idade de ouro da Igreja, perdida na História.
Por cima das misérias e dos pecados de cada um de nós, continua a ser a realidade da Igreja de hoje e da Igreja de todos os tempos.
Eu rogarei ao Pai - anunciou o Senhor aos seus discípulos - e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco eternamente.
Jesus cumpriu as suas promessas: ressuscitou, subiu aos Céus e, em união com o Eterno Pai, envia-nos o Espírito Santo para nos santificar e nos dar a vida.

A força e o poder de Deus iluminam a face da Terra.
O Espírito Santo continua a assistir à Igreja de Cristo, para que ela seja - sempre e em tudo - sinal erguido diante das nações, anunciando à Humanidade a benevolência e o amor de Deus.
Por maiores que sejam as nossas limitações, nós, homens, podemos olhar com confiança para os Céus e sentir-nos cheios de alegria: Deus ama-nos e liberta-nos dos nossos pecados.
A presença e a acção do Espírito Santo na Igreja são o penhor e a antecipação da felicidade eterna, dessa alegria e dessa paz que Deus nos prepara.

Também nós, tal como aqueles primeiros que se aproximaram de S. Pedro no dia de Pentecostes, fomos baptizados.
 No baptismo, o Nosso Pai, Deus, tomou posse das nossas vidas, incorporou-nos na vida de Cristo e enviou-nos o Espírito Santo.
O Senhor, diz-nos a Sagrada Escritura, salvou-nos fazendo-nos renascer pelo baptismo, renovando-nos pelo Espírito Santo, que Ele difundiu sobre nós abundantemente por Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados pela sua graça, sejamos herdeiros da vida eterna, segundo a esperança.

A experiência da nossa debilidade e das nossas faltas, a desedificação que pode produzir o espectáculo doloroso da pequenez ou mesmo mesquinhez de alguns que se chamam cristãos, o aparente fracasso ou a desorientação de algumas iniciativas apostólicas, tudo isso - a comprovação da realidade do pecado e das limitações humanas - pode constituir, no entanto, uma provação para a nossa fé e fazer com que se insinuem em nós a tentação e a dúvida: onde estão a força e o poder de Deus?
É o momento de reagirmos, de pormos em prática da maneira mais pura e firme a nossa esperança e, portanto, de procurarmos ser mais firme na nossa fidelidade.

(cont)


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