Padroeiros do blog: SÃO PAULO; SÃO TOMÁS DE AQUINO; SÃO FILIPE DE NÉRI; SÃO JOSEMARIA ESCRIVÁ
02/10/2014
Jesus Cristo e a Igreja - 36
A
figura Jesus de Nazaré foi-se tornando muito controversa com o tempo, conforme
ia sendo conhecida a sua pregação. As autoridades religiosas de Jerusalém
mostravam-se inquietas devido à agitação que o mestre, chegado da Galileia para
a Páscoa, tinha suscitado entre o povo. As elites imperiais também, uma vez que
– numa altura em que periodicamente se renovavam os levantamentos contra a ocupação
romana, encabeçados por líderes locais que apelavam ao carácter próprio dos
judeus – as notícias que lhes chegavam, acerca deste mestre que falava em
preparar-se para a chegada de um «reino de Deus», não eram nada
tranquilizadoras. Uns e outros estavam, pois, prevenidos contra ele, ainda que
por diversos motivos.
Jesus
foi detido e o seu caso foi examinado perante o Sinédrio. Não se tratou de um
processo formal, com os requerimentos que mais tarde se recolheram na Misná (Sanhedrin IV, 1) – e que exigem entre outras coisas que tenha lugar
durante o dia – mas de um interrogatório em domicílios particulares para
verificar as acusações recebidas ou as suspeitas que se tinham acerca dos seus
ensinamentos. Concretamente sobre a sua atitude crítica dirigida ao templo; a auréola
messiânica que rodeava a sua pessoa e que era provocada pelas suas palavras e
atitudes e, sobretudo, acerca da pretensão que lhe era atribuída de possuir uma
dignidade divina. Mais do que as questões doutrinais em si mesmas, talvez o que
realmente preocupasse as autoridades religiosas fosse a perturbação que
poderiam provocar relativamente à situação presente. Poderia dar lugar a uma
agitação popular que os romanos não tolerariam, e da qual poderia derivar uma
situação política pior da que existia nesse momento.
Decidiram
então levar essa causa a Pilatos, e o contencioso legal contra Jesus foi
apresentado perante a autoridade romana. Diante de Pilatos manifestaram os
temores de como aquele que falava de um «reino» poderia ser um perigo para
Roma. O procurador tinha diante de si duas formas possíveis de enfrentar a
situação. Uma delas, a chamada cognitio
extra ordinem («castigo, medida forçosa») que lhe outorgava a capacidade de
aplicar as medidas oportunas para manter a ordem pública. Recorrendo a esta poderia
infligir um castigo exemplar ou inclusivamente condená-lo à morte para que
servisse de exemplo. Ou por outro lado, podia estabelecer uma cognitio («conhecimento»), um processo
formal no qual se formulava uma acusação, havia um interrogatório e se ditava
uma sentença de acordo com a lei.
Pilatos
parece ter sentido momentos de dúvida acerca do procedimento a seguir, embora
tenha acabado por optar por um processo que seguia a fórmula mais habitual nas
províncias romanas, a chamada cognitio
extra ordinem, isto é, um processo em que o próprio pretor determinava o procedimento
e ele mesmo ditava sentença. Assim se deduz de alguns detalhes aparentemente
acidentais que ficaram reflectidos nos relatos: Pilatos recebe as acusações, interroga,
senta-se no tribunal para ditar a sentença (Jo 19, 13; Mt 27, 19), e condena à
morte na cruz por um delito formal. Foi justiçado como «rei dos judeus» segundo
se fez constar no titulus crucis.
A
avaliação histórica relativa à condenação de Jesus à morte deve de ser muito
prudente, para não conduzir a generalizações precipitadas que levem a uma
avaliação injusta. Concretamente, é importante fazer notar – ainda que seja
óbvio – que os judeus não são responsáveis colectivamente pela morte de Jesus.
“Partindo do princípio de que os nossos pecados atingem Cristo em pessoa (cf. Mt
25, 45; Act 9, 4-5), a Igreja não duvida em imputar aos cristãos a mais grave
responsabilidade no suplício de Jesus, responsabilidade que eles muitas vezes
imputaram unicamente aos judeus”
(Catecismo da Igreja Católica n. 598).
(Catecismo da Igreja Católica n. 598).
© www.opusdei.org
- Textos elaborados por uma equipa de professores de Teologia da Universidade
de Navarra, dirigida por Francisco Varo.
Reflectindo - 40
Não haverá pior defeito.
Na verdade, o indiferente, carece de
virtudes fundamentais num ser humano tais como, entre outras: solidariedade,
preocupação pelos outros, carinho, compaixão, ternura, afectividade,
companheirismo, amizade, dedicação, caridade, espírito de serviço, amor.
O indiferente vai pela vida sozinho,
debruçado sobre si próprio, sem emoções, sem causas a defender nem princípios a
observar.
Não tem interesse especial por nada
nem ninguém. A sua vida é monótona, o percurso errático, o comportamento
abúlico.
O principal efeito da indiferença é a
aridez que gera à sua volta, o isolamento e solidão.
O indiferente é um morto vivo. Não
interessa aos outros homens. Deus não pode comunicar com ele.
E, sem comunicação com Deus não há
vida.
(AMA, reflexão, 2010)
Tratado da Graça 14
Art.
4 — Se a graça está na essência da alma como no sujeito, ou em alguma das duas
potências.
[Sent., dist. XXVI, a. 3, IV, dist,
IV, q. 1, a. 3, qª 3, ad 1, De Verit., q. 27, a. 6].
O quarto discute-se assim. — Parece
que a graça não está na essência da alma, como no sujeito, mas numa das suas
potências.
1. — Pois, diz Agostinho, a graça está
para a vontade, ou para o livre arbítrio, como o cavaleiro para o cavalo. Ora,
à vontade ou livre arbítrio é uma potência, como já dissemos na Primeira Parte
(q. 83, a. 2). Logo, a graça está na potência da alma como no seu sujeito.
2. Demais. — Da graça derivam os
méritos do homem, como diz Agostinho. Ora, o mérito depende do acto procedente
de alguma potência. Logo, a graça é a perfeição de alguma das potências da
alma.
3. Demais. — Se a essência da alma
fosse o sujeito próprio da graça, a alma haveria necessariamente de, na sua
essência, ser capaz da graça. Ora, isto é falso, porque daí resultaria que toda
alma é capaz da graça. Logo, a essência da alma não é o sujeito próprio da
graça.
4. Demais. — A essência da alma é-lhe
anterior às potências. Ora, o anterior é concebível independentemente do
posterior. Donde resulta que podemos conceber a graça, na alma, sem recebermos
nenhuma parte ou potência da alma, e nem à vontade, nem o intelecto, nem
qualquer faculdade. Ora, isto é inadmissível.
Mas, em contrário, regenerados pela
graça, tornamo-nos filhos de Deus. Ora, a geração termina, antes na essência,
que nas potências. Logo, a graça está na essência da alma, antes de lhe estar
nas potências.
Esta questão depende da
precedente. Pois, se a graça é o mesmo que a virtude, há-de necessariamente
estar nas potências da alma como no sujeito, porque elas são o sujeito próprio
da virtude, como já dissemos (q. 56, a. 1). Se, ao contrário, difere da virtude,
não se pode dizer que as potências da alma sejam o sujeito dela, porque toda
perfeição das potências da alma tem natureza de virtude, como já dissemos (q.
55, a. 1, q. 56, a. 1). Donde se conclui, que a graça, assim como tem
prioridade sobre a virtude, tem também um sujeito às potências da alma, a
saber, a essência desta. Ora, pela potência intelectiva e pela virtude da fé, o
homem participa do conhecimento divino, e, pela potência da vontade e pela
virtude da caridade, participa do amor divino. Assim também, pela natureza da
alma participa, por uma certa semelhança, da natureza divina, regenerando-se,
de algum modo, e como criada de novo.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO.
— Assim como da essência da alma decorrem as suas potências, que são os
princípios das obras, assim também, da graça decorrem virtudes para as potências
da alma, que a movem aos seus actos. E sendo assim, a graça está para a vontade
como o motor, para o móvel, ou, o que é o mesmo, como o cavaleiro, para o
cavalo, não, porém, como o acidente, para a substância.
E daqui se deduz também clara a
RESPOSTA À SEGUNDA OBJECÇÃO. — Pois, a graça é, mediante as virtudes, o
princípio das obras meritórias, assim como a essência da alma é, mediante as
potências, o princípio das operações vitais.
RESPOSTA À TERCEIRA. — Alma é o
sujeito da graça, enquanto pertencente à espécie da natureza intelectual ou
nacional. Ora, a alma não se especifica por meio de alguma potência, pois as
potências são propriedades naturais da alma, resultantes da espécie. E
portanto, a alma, por essência, difere especificamente das almas dos brutos e
das plantas. E por isso, de ser a essência da alma humana sujeito da graça não
se segue possa qualquer alma ser tal sujeito, pois, isso convém à essência da
alma, enquanto pertencente a uma determinada espécie.
RESPOSTA À QUARTA. — Sendo as
potências da alma propriedades naturais, resultantes da espécie, a alma não
pode existir sem elas. Mas, dado que o pudesse, ainda a alma seria chamada,
conforme a sua espécie, intelectual ou racional. Não por ter essas potências, actualmente,
mas por causa da sua essência específica, de que naturalmente decorrem tais
potências.
Nota:
Revisão da versão portuguesa por ama.
Evangelho do dia, coment e Leit. esp. (Enc.In multiplicibus curis)
Tempo comum XXVI Semana
Evangelho:
Mt 18, 1-5
1 Naquela mesma ocasião aproximaram-se de Jesus os
discípulos, dizendo: «Quem é o maior no Reino dos Céus?». 2 Jesus,
chamando uma criança, pô-la no meio deles 3 e disse: «Na verdade vos
digo que, se não vos converterdes e vos tornardes como crianças, não entrareis
no Reino dos Céus. 4 Aquele, pois, que se fizer pequeno como esta
criança, esse será o maior no Reino dos Céus. 5 E quem receber em
Meu nome uma criança como esta, é a Mim que recebe.10 Vede, não desprezeis um só destes pequeninos,
pois vos declaro que os seus anjos nos céus vêem incessantemente a face de Meu
Pai que está nos céus. 12 «Que vos parece? Se alguém tiver cem
ovelhas, e uma delas se extraviar, porventura não deixa as outras noventa e
nove no monte, e vai em busca daquela que se extraviou? 13 E, se
acontecer encontrá-la, digo-vos em verdade que se alegra mais por esta, do que
pelas noventa e nove que não se extraviaram. 14 Assim, não é a
vontade de vosso Pai que está nos céus que pereça um só destes pequeninos.
Comentário:
A
realidade da existência dos Anjos da Guarda é para o cristão motivo de enorme
alegria e agradecimento.
Alegria
porque tem a seu lado um interlocutor atento e sempre disponível para
estabelecer as “pontes” que necessita para chegar ao Criador;
Agradecimento
pelo bem inestimável que constitui para nós e que só conheceremos completamente
quando, ao nosso lado, assistir ao nosso derradeiro encontro com Deus.
(ama,
comentário sobre Mt
18, 1-5; 10. 11-14, 2014.05.26)
Leitura espiritual
Documentos do Magistério
CARTA ENCÍCLICA
IN MULTIPLICIBUS CURIS
DO SUMO PONTÍFICE PAPA PIO XII
AOS VENERÁVEIS IRMÃOS
PATRIARCAS, PRIMAZES, ARCEBISPOS E BISPOS
E OUTROS ORDINÁRIOS DO LUGAR
EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA
PEDEM-SE NOVAMENTE ORAÇÕES PÚBLICAS PARA A
PACIFICAÇÃO DA PALESTINA
1.
Entre as muitas preocupações que nos afligem neste tempo tão cheio de
consequências decisivas para a vida da grande família humana, e nos fazem
sentir tão pesado o cargo do pontificado supremo, tem lugar destacado aquela
que nos é causada pela guerra na Palestina. Na verdade, veneráveis irmãos,
podemos vos dizer que nenhum acontecimento, nem alegre nem triste, consegue
atenuar a dor que permanece viva em nosso ânimo, ao pensar que na terra onde o
Senhor nosso Jesus Cristo derramou seu sangue para trazer a redenção e a
salvação a toda a humanidade continua a ser derramado o sangue dos homens; que
debaixo daquele céu no qual ecoou, naquela fatídica noite, o anúncio evangélico
de paz, continuam os combates, acresce-se a miséria dos míseros e o terror dos
aterrorizados, e milhares de prófugos, acossados e perdidos, vagueiam longe da
pátria à procura de abrigo e de pão.
2.
Contribuem para nos tornar mais viva essa dor não só as notícias que
continuamente nos chegam de destruição e de danos causados aos edifícios
sagrados e de beneficência que surgiram ao seu redor, mas também o medo que nos
inspiram quanto à sorte destes mesmos lugares, espalhados por toda a Palestina
e, em número maior, em Jerusalém, que foram santificados pelo nascimento, vida
e morte do Salvador. Nem é preciso vos assegurar, veneráveis irmãos, que, no
meio deste espetáculo de tantos males e na previsão de maiores ainda, não nos
fechamos na nossa dor, mas fizemos tudo o que estava em nosso poder para
aliviá-los.
3.
Antes ainda que iniciasse o conflito armado, ao falar a uma delegação de
notáveis árabes que nos veio homenagear, manifestamos a nossa mais viva
solicitude pela paz na Palestina e, condenando todo recurso à violência,
declaramos que ela não podia ser realizada a não ser na verdade e na justiça,
isto é no respeito aos direitos de todos, às tradições, especialmente no campo
religioso, assim como no fiel cumprimento de deveres e obrigações de cada grupo
de moradores. Iniciada a guerra, sem nos afastar da atitude de imparcialidade a
que somos obrigados pelo nosso ministério apostólico que nos põe acima dos
conflitos que agitam a sociedade humana, não deixamos de agir, no que nos era
possível, para o triunfo da justiça e da paz na Palestina e o respeito e a
proteção dos lugares sagrados.
4.
Ao mesmo tempo, solicitados por apelos numerosos e urgentes, que todos os dias
são dirigidos a esta sé apostólica, procuramos, no limite das nossas
possibilidades, socorrer as vítimas infelizes da guerra, enviando para este fim
aos nossos representantes na Palestina, no Líbano e no Egito os meios ao nosso
dispor e estimulando o surgimento e o firmar-se, entre os católicos nos vários
países de iniciativas que tenham a mesma finalidade. Convencidos, porém, da
insuficiência dos meios humanos para uma solução adequada desta questão de que todos
podem ver a complexidade excepcional, recorremos antes de mais nada e
constantemente ao grande meio da oração, e na nossa recente encíclica Auspicia
quaedam vos convidávamos a rezar e a fazer rezar os fiéis confiados aos vossos
cuidados pastorais, para que, sob a proteção da Virgem santíssima,
"conciliadas as coisas na justiça, a concórdia e a paz voltassem
felizmente na Palestina". (1)
5.
Sabemos que o nosso convite não vos foi dirigido em vão. Nem esquecemos que, ao
mesmo tempo que com as nossa súplicas e nossa obra nos esforçávamos juntamente
com o mundo católico para a paz na Palestina, homens de boa vontade
multiplicaram, com a mesma finalidade sem olhar para sacrifícios e perigos,
seus nobres esforços para os quais nos é grato prestar homenagem. Contudo, a
continuação do conflito e o aumento ininterrupto de ruínas materiais e morais
que inexoravelmente os acompanham, nos levam, veneráveis irmãos a renovar com
redobrada insistência o nosso convite, na esperança que seja acolhido não
somente por vós mas também por todo o mundo católico.
6.
Como declaramos no dia 2 de Junho passado aos membros do sagrado colégio dos
cardeais, ao comunicar-lhes a nossa ansiedade quanto à Palestina, julgamos que
o mundo cristão não poderia contemplar indiferente ou com indignação estéril
aquela terra sagrada, à qual todos iam com todo respeito para beijá-la com o
amor mais ardente, pisada por soldados em guerra e atingida por bombardeios
aéreos. Julgamos que não poderia deixar consumar a devastação dos lugares
santos e revolver o sepulcro de Jesus Cristo. Temos a maior confiança de que as
súplicas fervorosas que se levantam ao Deus onipotente e misericordioso por
parte dos cristãos espalhados por todo o mundo, junto com as aspirações de
tantos corações nobres e ardentemente solícitos do bem e da verdade, possam
tornar menos difícil aos que dirigem o destino dos homens a tarefa de fazer com
que a justiça e a paz na Palestina se tornem uma realidade benéfica, e com a
cooperação eficaz de todos os interessados, se crie uma ordem que garanta a
cada parte, agora em conflito, a segurança da existência e, ao mesmo tempo,
condições de vida, físicas e morais, capazes de alicerçar normalmente um estado
de bem-estar espiritual e material.
7.
Temos plena confiança que essas súplicas e essas aspirações, índice do valor
que tão grande parte da família humana atribui a esses lugares sagrados,
fortaleçam nas reuniões dos poderosos nas quais se discutem os problemas da
paz, a convicção de dar a Jerusalém e cercanias, onde se conservam tantas e tão
preciosas lembranças da vida e da morte do Salvador, um caráter internacional
que, nas presentes circunstâncias, parece garantir melhor a tutela dos
santuários. E também será preciso assegurar com garantias internacionais livre
acesso aos lugares santos espalhados na Palestina, assim como a liberdade de
culto e o respeito a usos e tradições religiosos.
8.
E que cedo possa nascer o dia em que os homens tenham de novo a possibilidade
de se dirigir em piedosas peregrinações aos lugares sagrados para encontrar,
finalmente manifesto, naqueles monumentos vivos do Amor que se sublima no
sacrifício da vida pelos irmãos, o grande segredo de pacífica convivência
humana. Com essa confiança, de coração, concedemos a vós, veneráveis irmãos,
aos vossos fiéis e a todos que acolherem com ânimo solícito este nosso apelo,
com os votos dos favores divinos e como penhor de nossa benevolência, a bênção
apostólica.
Dado
em Castel Gandolfo, junto de Roma, no dia 24 de Outubro de 1948, ano X do nosso
pontificado.
PIO
PP. XII
(Revisão da versão portuguesa por ama)
__________________________
Nota:
(1)
AAS 40 (1948), p.171.
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