Como o fermento na massa
47.
Quando, nalguma ocasião, noteis com especial força o peso do ambiente adverso,
no local de trabalho, entre os próprios parentes, no círculo de amigos e
conhecidos, pensai com profunda responsabilidade que o Senhor chama os cristãos
para ser fermento no meio da massa. O Reino dos céus é comparado ao fermento
que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha e que faz fermentar
toda a massa (Mt 13, 33). E S. João Crisóstomo explica: «Como o fermento
comunica a sua própria virtude a uma grande massa, assim vós haveis de
transformar o mundo inteiro» 86.
Assim
atuou e actua Deus na história do mundo. Nas suas mãos está a possibilidade de
que todos caiam rendidos a seus pés, porque nenhuma criatura pode resistir ao
seu poder; mas então não respeitaria a liberdade que Ele mesmo nos concedeu. Deus
não quer vencer pela força, mas convencer pelo amor, contando com a colaboração
livre e entusiasta doutras criaturas, sem ignorar que ao Mestre interessam as
multidões, as pessoas, os desorientados como ovelhas sem dono. Não quer impor
despoticamente a sua Verdade, mas também não fica indiferente ante a ignorância
das pessoas ou os desvios morais; e por isso, da boca do bom pai de família que
convida para o banquete, brota a indicação: Sai pelos caminhos e atalhos e
obriga todos a entrar, para que se encha a minha casa (Lc 14, 23): compélle
intráre!
«Mesmo
que, permanecendo no mesmo lugar, Cristo tivesse podido atrair a Si as pessoas
para ouvirem a sua pregação, não atuou desse modo; dando-nos exemplo, para que
percorramos também nós os caminhos, buscando aqueles que se perdem como o
pastor procura a ovelha perdida, como o médico socorre o doente» 87.
Por
este trabalho constante produziram-se inúmeras conversões ao longo do caminho
que a Igreja foi abrindo no mundo. Raramente surgiram como resultado da ação
duma personalidade excecional, ou como resultado duma estratégia pensada até
aos menores detalhes. Surgiram como efeito do bom exemplo de homens e mulheres,
de famílias inteiras, que com a ajuda da graça praticaram a sua fé com
naturalidade e souberam dar com continuidade razão da esperança que neles
habitava (cfr. 1 Pd 3 15).
Que
grande é a responsabilidade dos cristãos, de cada um de nós! Do nosso
comportamento, do zelo pelas almas, dependem tantas tarefas grandes, altamente
eficazes e atraentes. Se as pessoas se tornam insípidas, vós podeis
devolver-lhes o seu sabor; mas se isso vos acontecer a vós, com a vossa perda
arrastaríeis também os outros. Por isso, quanto maiores encargos tendes, mais
necessitais de maior fervor e zelo 88.
Copyright © Prælatura Sanctæ Crucis et
Operis Dei
Nota: Publicação devidamente
autorizada
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Notas:
86
S. João Crisóstomo, Homilias sobre o Evangelho de S. Mateus, 46, 2 (PG 58,
478).
87
S. João Crisóstomo, cit. por S. Tomás de Aquino, Suma Teológica, III, q. 40, a.
1 ad 2.
88
S. João Crisóstomo, Homilias sobre o Evangelho de S. Mateus, 15, 7 (PG 57,
231).