13/11/2011

Qualquer um pode fazer leis?

O imperador Justiniano,
mosaico na Basílica de San Vitale, Ravena
Parece que a razão de qualquer um pode fazer leis:


1. Com efeito, diz o Apóstolo nas Carta aos Romanos que “os gentios, que não têm a lei, naturalmente fazem o que é da lei e são lei para si mesmos” (2, 14). Ora, diz isto comummente de todos. Logo, qualquer um pode fazer-se a lei.
2. Além disso, como diz o Filósofo, “a intenção do legislador é de induzir o homem à virtude” (livro II da Ética). Ora, qualquer homem pode induzir à virtude. Logo, a razão de qualquer homem pode fazer leis.
3. Ademais, como o príncipe da cidade é dela o governante, assim qualquer pai de família é o governante da casa. Ora, o príncipe da cidade pode fazer a lei na cidade. Logo, qualquer pai de família pode fazer a lei em sua casa.

EM SENTIDO CONTRÁRIO, diz Isidoro e está nas Decretais: “A lei é a constituição do povo, segundo a qual os que são maiores por nascimento, juntamente com as plebes, sancionaram algo”. Não é, portanto, de qualquer um fazer a lei.
A lei propriamente, por primeiro e principalmente, visa a ordenação ao bem comum. Ordenar, porém, algo para o bem comum é ou de toda a multidão ou de alguém que faz as vezes de toda a multidão. E assim constituir a lei ou pertence a toda a multidão, ou pertence à pessoa pública que tem o cuidado de toda a multidão. Porque em todas as coisas ordenar para o fim é daquele de quem este fim é próprio.
Quanto às objecções iniciais, portanto, deve-se dizer que:
1. Como foi afirmado acima (a.1), que a lei está em algo não só como em quem regula, mas também, participativamente, como em quem é regulado. E desse modo cada um é lei para si mesmo, enquanto participa da ordem de alguém que regula. Por isso, aí mesmo se acrescenta: “Aqueles que mostram a obra da lei, escrita em seus corações”.
2. A pessoa privada não pode induzir eficazmente à virtude. Pode, com efeito, somente admoestar, mas, se sua admoestação não é recebida, não tem força coactiva, que a lei deve ter, para que eficazmente induza à virtude, como diz o Filósofo. Tal virtude coactiva tem a multidão ou a pessoa pública à qual pertence infligir penas, como se dirá abaixo (q.92, a.2). E assim é apenas dela o fazer leis.
3. Como o homem é parte da casa, assim a casa é parte da cidade; e a cidade é a comunidade perfeita, como se diz no livro I da Política. E assim, como o bem de um só homem não é o fim último, mas ordena-se ao bem comum, assim também o bem de uma só casa ordena-se ao bem de uma cidade, que é a comunidade perfeita. Portanto, aquele que governa uma família, pode certamente fazer alguns preceitos ou estatutos; não porém, aqueles que têm propriamente razão de lei.

ST 1ª 2ae, q.90. a.


Novíssimos - Juízo Particular 8

Julgamento de Telmo - jovem estudante [i]

A motoreta ziguezagueava como louca por entre o trânsito compacto. Algumas businadelas irritantes atestavam a imprudente condução mas, Telmo, seguia imperturbável a sua vertiginosa carreira.
Estava atrasadíssimo para a primeira aula e não queria, mais uma vez, receber uma falta não justificada.

Tinha este problema com o levantar da cama a horas. O despertador bem tocava mas decidia sempre ficar “só mais um minuto” no aconchego dos lençóis. Quase sempre era o pai que com um safanão o fazia levantar-se.

“És um preguiçoso! Mandrião! Deitas-te a desoras e depois é isto!”

Era o “seu sermão” matinal!

Fazia propósitos e mais propósitos de corrigir a coisa mas, a verdade é que… nunca passava… dos propósitos.

O autocarro não lhe deu qualquer hipótese.
Foi só um pequeno toque na roda traseira mas o suficiente para o projectar pelos ares. O pobre sujeito que conduzia a camioneta carregada de fruta bem tentou evitar passar-lhe por cima mas… não conseguiu.
A morte foi imediata!

“O Telmo sempre foi um bom estudante desde menino. Muito aplicado, sempre com boas classificações, entrou na faculdade sem qualquer problema. No segundo ano é que as coisas se complicaram. Começou a sair à noite com uns amigos e o que principiara com umas saídas de fim-de-semana normais em rapazes da sua idade, passou a ser um hábito diário. O pior foi que começara a beber por vezes descontroladamente e a regressar a casa em muito más condições físicas. Tudo começou a mudar na sua vida a começar pelo aproveitamento nos estudos que passou de suficiente a menos de medíocre, as suas relações com os pais reagindo com brusquidão às repetidas chamadas de atenção dos progenitores cada vez mais preocupados com o que se estava a passar.”

O Ser resplandecente ia continuar mas…

O Juiz interrompeu:

“Como é triste ver um jovem como o Telmo seguir por tais caminhos depois de uma infância e adolescência tão promissoras… Há alguma referência a prática religiosa, participação nalgum organismo de solidariedade social?”

Uma voz quente e terna como um suspiro de Mãe fez ouvir:

“Tenho algo a dizer:
Os pais do Telmo não se preocuparam em proporcionar-lhe educação religiosa, infelizmente. Ele, na verdade, não tem culpa de ter vivido sempre sem preocupações de ordem espiritual.
Mas, uma vez, foi com um grupo da escola onde andava, numa excursão a Fátima. Lembro-me muito bem da sua admiração por tudo quanto pôde constatar. Por fim, enquanto todos os outros foram comer o farnel que traziam ele ficou, mais de uma hora, sentado na minha Capelinha, fixando a minha imagem e disse-me:

“Gosto de estar aqui”…

O Juiz disse então:

"Como em Caná da Galileia fiz o que me pediu, faça-se agora como a Minha Mãe desejar".


[i] Levanta-se a questão da vida para além da morte. É uma das grandes interrogações que alguma vez durante a sua vida o homem se coloca.
É natural porque o ser humano é dotado de espírito, alma, que tem preocupações mais para além do imediatamente sensível.
Para os cristãos a segurança da Fé fá-los compreender que está destinado à eternidade, ou seja, embora o corpo pereça e acabe a vida terrena, a sua alma não morrerá jamais e, naturalmente, tende a voltar para o seu Criador, Deus.
Sim... a lógica propõe o que a fé garante, porque não se concebe o Criador abandonar a criatura a um desaparecimento puro e simples.
O restante do problema é o que se refere ao "destino" da alma e que é "marcado" na conclusão do juízo a que é sujeita pelo próprio Criador, logo que, após a separação do corpo, se apresenta perante Si.
No imaginário livro da vida, ao contrário do que que é mais comum, não existem colunas de "deve" e "haver" onde é feita uma espécie de contabilidade, não! O que existe é uma lista completa dos bens recebidos em vida, os dons, graças, auxílios, inspirações e meios com que o Senhor foi dotando cada um de forma especial e única.
Cada ser humano recebe um "pacote" específico, para si em exclusivo.
Deus Nosso Senhor não dispensa os Seus benefícios adrede ou de uma forma sistemática ou mecânica. Cada ser humano é objecto de atenção exclusiva e única por parte do Criador que lhe concede os Seus dons e benefícios conforme a Sua Soberana Vontade determina.
Esta misteriosa magnitude de Deus tem uma razão de ser.
O homem não é capaz por si mesmo de evoluir, de melhorar sem que um estímulo o leve a tal.
Este estímulo surge exactamente no estreitamento das suas relações com Deus.
Quanto mais se relaciona mais recebe e, quanto mais se recebe mais se deseja intimar com Deus.
Por isso no Evangelho consta «àquele que tem, lhe será dado; e ao que não tem, ainda aquilo mesmo que julga ter, lhe será tirado» Lc 8, 16-18.

Para chegar a Deus, o caminho seguro, é Maria Sua e nossa Mãe! 

Sancta Maria iter para tutum! (Santa Maria, prepara-me um caminho seguro)

Dificuldades na oração

Reflectindo

Quando Jesus desperta os discípulos adormecidos e os exorta à oração, vinha de experimentar, na Sua própria, as mais graves dificuldades. Ele não pode estranhar que a nós nos custe orar. Mas a luta santa – a agonia de que fala S. Lucas – que o Senhor teve que enfrentar e vencer põe diante dos olhos que não se entra por caminhos de verdadeira vida interior se não há verdadeira luta por perseverar na oração: uma luta que, de um modo ou outro, é a de nos acomodarmos plenamente à Vontade Divina.

(d. javier echevarria, Getsemani, Planeta, 3ª Ed. Pg. 160)

Pensamentos inspirados à procura de Deus

À procura de Deus


Por acaso o lamentares-te,

trouxe-te algum alívio?









jma

Música e oração

Anton Bruckner - Ave Maria - Kings College Choir


selecção ALS 

Jesus ficou na Eucaristia por amor

Textos de São Josemaria Escrivá

A frequência com que visitamos o Senhor está em função de dois factores: fé e coração; ver a verdade, e amá-la. (Sulco, 818)

O coração! De vez em quando, sem poderes evitá-lo, projecta-se uma sombra de luz humana, uma recordação grosseira, triste, "saloia"...
Vai imediatamente ao Sacrário, física ou espiritualmente; e voltarás à luz, à alegria, à Vida! (Sulco, 817)

Assoma muitas vezes a cabeça ao oratório, para dizeres a Jesus: –... abandono-me nos teus braços.
Deixa a seus pés o que tens: as tuas misérias!
Desta maneira, apesar da turbamulta de coisas que levas dentro de ti, nunca perderás a paz. (Forja, 306)

Jesus ficou na Eucaristia por amor..., por ti.
Ficou, sabendo como o receberiam os homens... e como o recebes tu.
Ficou, para que o comas, para que o visites e lhe contes as tuas coisas e, falando intimamente com Ele na oração junto do Sacrário e na recepção do Sacramento, te apaixones cada dia mais e faças com que outras almas – muitas! – sigam o mesmo caminho. (Forja, 887)


© Gabinete de Informação do Opus Dei na Internet

Evangelho do dia e comentário













T. Comum– XXXIII Semana




Evangelho: Mt 25, 14-30

14 «Será também como um homem que, estando para empreender uma viagem, chamou os seus servos, e lhes entregou os seus bens. 15 Deu a um cinco talentos, a outro dois e a outro um, a cada qual segundo a sua capacidade, e partiu. 16 O que tinha recebido cinco talentos, logo em seguida, foi, negociou com eles, e ganhou outros cinco. 17 Do mesmo modo, o que tinha recebido dois, ganhou outros dois. 18 Mas o que tinha recebido um só, foi fazer uma cova na terra, e nela escondeu o dinheiro do seu senhor. 19 «Muito tempo depois, voltou o senhor daqueles servos e chamou-os a contas. 20 Aproximando-se o que tinha recebido cinco talentos, apresentou-lhe outros cinco, dizendo: “Senhor, entregaste-me cinco talentos, eis outros cinco que lucrei”. 21 Seu senhor disse-lhe: “Está bem, servo bom e fiel, já que foste fiel em poucas coisas, dar-te-ei a intendência de muitas; entra no gozo do teu senhor”. 22 Apresentou-se também o que tinha recebido dois talentos, e disse: “Senhor, entregaste-me dois talentos, eis que lucrei outros dois”. 23 Seu senhor disse-lhe: “Está bem, servo bom e fiel, já que foste fiel em poucas coisas, dar-te-ei a intendência de muitas; entra no gozo do teu senhor”. 24 «Apresentando-se também o que tinha recebido um só talento, disse: “Senhor, sei que és um homem duro, que colhes onde não semeaste e recolhes onde não espalhaste. 25 Tive receio e fui esconder o teu talento na terra; eis o que é teu”. 26 Então, o seu senhor disse-lhe: “Servo mau e preguiçoso, sabias que eu colho onde não semeei, e que recolho onde não espalhei. 27 Devias pois dar o meu dinheiro aos banqueiros e, à minha volta, eu teria recebido certamente com juro o que era meu. 28 Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que tem dez talentos, 29 porque ao que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, tirar-se-lhe-á até o que tem. 30 E a esse servo inútil lançai-o nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes”.

Comentário:

Imaginemos que na parábola se modificavam alguns termos, por exemplo, aquele que recebeu cinco talentos foi o que os enterrou e escondeu com medo de os perder.

Talvez, até, seja bastante aceitável esta "alteração" que nos permitimos imaginar já que, infelizmente, muitos dos que têm muito se comportam como se tivessem pouco para que não lhes seja pedido que repartam uma parte - mesmo pequena que seja - desse muito que escondem.

E que, aquele que recebeu só um talento se empenhasse a sério em fazê-lo dar fruto e, até, repartir com liberalidade esse pouco.

Sim... O que aconteceria?

Pois, de acordo com o espírito da parábola este último receberia os cinco talentos do outro ficando, assim, imensamente rico.

De facto, é o que acontece quando o Senhor premeia o bom uso dos talentos que a cada um atribuiu: com tal liberalidade e generosidade que o que se alcança constitui uma riqueza, uma fortuna incomensuráveis.

(ama, comentário sobre Mt 25, 14-30, 2011.08.27)

Educar a afectividade 4

EXEMPLO, EXIGÊNCIA, BOA COMUNICAÇÃO

Na aprendizagem emocional, o exemplo tem um protagonismo particular. Basta pensar, por exemplo, como se transmite de pais para filhos a capacidade de reconhecer a dor alheia, de compreender os outros, de prestar ajuda a quem necessita. São estilos emocionais que todos nós aprendemos de modo natural e registamo-los na nossa memória sem nos darmos conta, observando quem nos rodeia.
Mas, nem por isso, tudo é questão de bom exemplo. Há filhos egoístas e insensíveis cujos pais são pessoas de grande coração. E isto é assim porque o modelo é importante, mas, além dele (por exemplo, de pais atentos às necessidades dos outros), é preciso sensibilizar, face a esses valores (fazer-lhes descobrir essas necessidades nos outros, salientar-lhes quão atraente é um estilo de vida baseado na generosidade) e, além disso, educar num clima de exigência pessoal, porque, se não há auto-exigência, a preguiça e o egoísmo afogam facilmente qualquer processo de maturação emocional. A disciplina e a autoridade são decisivas para educar, pois sem um pouco de disciplina dificilmente se podem aprender a maioria das questões importantes para a vida.


Juntamente com isso, é essencial que haja um clima distendido, de boa comunicação; que na família seja fácil criar momentos de maior intimidade, em que possam emergir com confiança os sentimentos de cada um e, assim, serem partilhados e educados; que não haja um excessivo pudor à hora de manifestar os próprios sentimentos; que haja facilidade para expressar aos outros com lealdade e carinho o que neles nos desagradou; etc. 



Quando falta essa sintonia diante de algum tipo de sentimentos (de misericórdia face ao sofrimento alheio, de desejo de superar-se diante de uma contrariedade, de alegria diante do êxito de outros, etc.), ou na medida em que esses sentimentos não se fomentam, ou mesmo se dificultam ou se desprestigiam, cada um tende a restringi-los e, pouco a pouco, senti-los-á cada vez menos; vão-se e desfigurando e desaparecem pouco a pouco do repertório emocional.


a. aguiló

Pensamentos inspirados à procura de Deus

À procura de Deus





Se não podes adiar a vida,
porque adias o amor?

jma