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Theotokos de Vladimir
(séc. XII |
Parece que se deve adorar a mãe de Deus com adoração de latria, pois:1. Parece que a mesma honra deve ser tributada ao rei e à mãe de rei, como afirma o livro dos Reis: “Foi colocado um trono para a mãe do rei e ela se sentou à sua direita” (I Re 2, 19). E Agostinho diz: “É justo que o trono de Deus, o leito nupcial do Senhor do céu e o tabernáculo de Cristo estejam lá onde se encontra o próprio Cristo”. Ora, Cristo é adorado com adoração de latria. Logo, também sua mãe.
2. Além disso, afirma Damasceno que “a honra à mãe remete ao filho”. Ora, o Filho é adorado com adoração de latria. Logo, a mãe também.
3. Ademais, a mãe de Cristo esteve mais unida a ele do que a cruz. Ora, a cruz é adorada com adoração de latria. Logo, também a mãe deve ser adorada com a mesma adoração.
EM SENTIDO CONTRÁRIO, a mãe de Deus é pura criatura; portanto, não lhe é devida adoração de latria.
Dado que a latria é devida exclusivamente a Deus, não é devida a nenhuma criatura em si mesma. Pois, embora as criaturas insensíveis não tenham condições de ser veneradas em si mesmas, a criatura racional pode ser venerada por si mesma. Por isso, a nenhuma simples criatura racional se deve o culto de latria. E como a virgem bem-aventurada é uma simples criatura racional, não lhe é devida uma adoração de latria, mas unicamente uma veneração de dulia; de forma mais eminente, contudo, do que às outras criaturas, por ser a mãe de Deus. Por isso, se diz que lhe é devido não um culto de dulia qualquer, mas de hiperdulia. [i]
Suma Teológica, III, 25, 5
Quanto às objecções iniciais, portanto, deve-se dizer que:
1. A honra devida à mãe do rei não é a mesma que a que se deve ao rei; mas uma honra que se lhe assemelha, em razão de sua dignidade. É o sentido dos textos aduzidos.
2. A honra da mãe remete ao filho, porque ela mesma deve ser honrada por causa do filho. Mas não da maneira como a honra da imagem remete ao modelo, porque a imagem em si mesma, se considerada como uma coisa, não deve ser venerada de forma alguma.
3. A cruz, considerada em si mesma, não é objecto de veneração, como já foi dito. Mas a bem-aventurada Virgem, em si mesma, é passível de ser venerada. Por isso, a razão não é a mesma.
[i] Nota: Se veneramos os objectos inanimados na medida em que possuem uma certa relação com Cristo, por mais forte razão devemos venerar sua mãe, cujas relações com ele foram e são incomparavelmente superiores. Essa veneração não pode ser de latria, nem mesmo relativa, mas é claro que o culto de dulia que lhe é dirigido é tanto mais superior à dos outros santos na medida em que sua perfeição é maior. Daí a introdução por São Tomás do termo hiperdulia, que ele utilizou para se referir ao culto prestado à santa humanidade de Cristo. Não se deve esquecer, todavia, que a Virgem só possui essa excelência em total dependência da excelência do Verbo encarnado.