RESUMOS DA FÉ CRISTÃ
TEMA 17 A liturgia e os sacramentos em
geral
3. A Liturgia
A
liturgia cristã «é essencialmente acção de Deus (actio Dei) que nos envolve em Jesus por meio do Espírito» [i], e possui uma dupla dimensão: ascendente e descendente [ii].
«A
liturgia é “acção” do “Cristo total” (Christus
totus)» (Catecismo, 1136), por isso «é toda a comunidade, o corpo de Cristo
unido à sua Cabeça, que celebra» (Catecismo, 1140).
No
centro da assembleia encontra-se o próprio Jesus Cristo (cf. Mt 18, 20), agora
ressuscitado e glorioso.
Cristo
precede a assembleia que celebra.
Ele
– que actua inseparavelmente unido ao Espírito Santo – convoca-a, reúne-a e
ensina-a. Ele, o Sumo e Eterno Sacerdote é o principal protagonista da acção
ritual que torna presente o evento fundador, embora se sirva dos seus ministros
para representar (para tornar presente, real e verdadeiramente, no aqui e agora
da celebração litúrgica) o seu sacrifício redentor e tornar-nos participantes
dos dons conviviais da sua Eucaristia.
Sem
esquecer que, formando com Cristo-Cabeça «como que uma única pessoa mística» [iii], a Igreja actua nos sacramentos como “comunidade sacerdotal”,
“organicamente estruturada”: graças ao Baptismo e à Confirmação, o povo
sacerdotal tornas-e apto para celebrar a Eucaristia.
Por
isso, «as acções litúrgicas não são acções privadas, mas celebrações da Igreja
(…), pertencem a todo o corpo da Igreja, manifestam-no e afectam-no, atingindo,
porém, cada um dos membros de modo diverso, segundo a variedade de estados,
funções e participação actual» [iv].
Em
cada celebração litúrgica comparticipa toda a Igreja, céus e terra, Deus e os
homens (cf. Ap 5).
A
liturgia cristã, embora se celebre apenas aqui e agora, num lugar concreto e
expresse em si uma certa comunidade, é por natureza católica, provém do todo e
conduz ao todo, em unidade com o Papa, com os bispos em comunhão com o Romano
Pontífice, com os crentes de todas as épocas e lugares «para que Deus seja tudo
em todas as coisas» (1 Cor 15, 28).
Nesta
perspectiva, é fundamental o princípio de que o verdadeiro sujeito da liturgia
é a Igreja, concretamente a communio
sanctorum de todos os lugares e de todos os tempos [v].
Por
isso, quanto mais uma celebração está imbuída desta consciência, tanto mais
nela se realiza concretamente o sentido da liturgia.
Expressão
desta consciência de unidade e universalidade da Igreja é o uso do latim e do
canto gregoriano em algumas partes da celebração litúrgica [vi].
A
partir destas considerações, podemos afirmar que a assembleia que celebra a
Eucaristia é a comunidade dos baptizados que, «pela regeneração e pela unção do
Espírito Santo, são consagrados para serem casa espiritual, sacerdócio santo,
para que, por meio de todas as obras próprias do cristão, ofereçam oblações
espirituais» [vii].
Este
“sacerdócio comum” é o de Cristo, único Sacerdote, no qual todos os seus
membros participam [viii].
«Assim,
na celebração dos sacramentos, toda a assembleia é “liturgia”, cada qual
segundo a sua função, mas “na unidade do Espírito” que age em todos» (Catecismo,
1144).
Por
isso, a participação nas celebrações litúrgicas, mesmo que não abarque toda a
vida sobrenatural dos fiéis, constitui para eles, como para toda a Igreja, o
cume para o qual tende toda a sua actividade e a fonte donde mana a sua força [ix].
Na
realidade, «a Igreja recebe-se e simultaneamente exprime-se nos sete
sacramentos, pelos quais a graça de Deus influencia concretamente a existência
dos fiéis para que toda a sua vida, redimida por Cristo, se torne culto
agradável a Deus» [x].
Quando
nos referimos à assembleia como sujeito da celebração quer dizer que cada fiel,
ao actuar como membro participante da assembleia, faz tudo e só o que lhe
corresponde.
«Os
membros não têm todos a mesma função» (Rm 12, 4).
Alguns
são chamados por Deus na e pela Igreja para um serviço especial da comunidade.
Estes
servidores são escolhidos pelo sacramento da Ordem, por meio do qual o Espírito
Santo os torna aptos para actuar em representação de Cristo-Cabeça ao serviço
de todos os membros da Igreja [xi].
Como
João Paulo II esclareceu em diversos momentos, «in persona Christi quer dizer
algo mais do que “em nome”, ou então “nas vezes” de Cristo.
In persona, isto é, na específica e sacramental identificação com o
Sumo e Eterno Sacerdote, que é o Autor e o principal Sujeito deste seu próprio
sacrifício, no que verdadeiramente não pode ser substituído por ninguém» [xii].
Podemos
dizer graficamente, como diz o Catecismo, que «o ministro ordenado é como que o
“ícone” de Cristo-Sacerdote» (Catecismo, 1142).
«O
mistério celebrado na liturgia é um só, mas as formas da sua celebração são
diversas.
A
riqueza insondável do mistério de Cristo é tal, que nenhuma tradição litúrgica
pode esgotar-lhe a expressão». (Catecismo, 1200-1201).
«As
tradições litúrgicas ou ritos, actualmente em uso na Igreja, são: o rito latino
(principalmente o rito romano, mas também os ritos de certas igrejas locais,
como o rito ambrosiano ou o de certas ordens religiosas) e os ritos bizantino,
alexandrino ou copta, siríaco, arménio, maronita e caldeu» (Catecismo, 1203).
«A
Igreja considera iguais em direito e honra todos os ritos legitimamente
reconhecidos, quer que se mantenham e sejam por todos os meios promovidos» [xiii].
JUAN
JOSÉ SILVESTRE
Bibliografia
básica
- Catecismo da Igreja Católica, 1066-1098;
1113-1143; 1200-1211 e 1667-1671.
Leituras
recomendadas
-
S. Josemaria, Homilia «A Eucaristia, mistério de fé e de amor», em Cristo que
Passa, 83-94; também os n. 70 e 80. Temas Actuais do Cristianismo, 115. - J.
Ratzinger, Introdução ao Espírito da Liturgia, Edições Paulinas, 2002. - J. L.
Gutiérrez-Martín, Belleza y misterio. La liturgia, vida de la Iglesia, EUNSA
(Astrolabio), Pamplona 2006, pp. 53-84, 13-126.
[i]
Benedicto XVI, Exh. apost. Sacramentum Caritatis, 37
[ii] «Por una parte, la Iglesia, unida a su Señor y
“bajo la acción del Espíritu Santo” (Lc 10, 21), bendice al Padre “por su don
inefable” (2 Co 9, 15) mediante la adoración, la alabanza y la acción de
gracias. Por otra parte, y hasta la consumación del designio de Dios, la
Iglesia no cesa de presentar al Padre “la ofrenda de sus propios dones” y de
implorar que el Espíritu Santo venga sobre esta ofrenda, sobre ella misma,
sobre los fieles y sobre el mundo entero, a fin de que por la comunión en la
muerte y en la resurrección de Cristo-Sacerdote y por el poder del Espíritu
estas bendiciones divinas den frutos de vida “para alabanza de la gloria de su
gracia” (Ef 1, 6)» (Catecismo, 1083).
[iii]
Pío XII, Enc. Mystici Corporis cit. en Catecismo, 1119.
[iv]
Concilio Vaticano II, Const. Sacrosanctum Concilium, 26; cfr. Catecismo, 1140.
[v]
«Que la oblación redunde en salvación de todos –Orate, fratres, reza el
sacerdote–, porque este sacrificio es mío y vuestro, de toda la Iglesia Santa. Orad,
hermanos, aunque seáis pocos los que os encontráis reunidos; aunque sólo se
halle materialmente presente nada más un cristiano, y aunque estuviese solo el
celebrante: porque cualquier Misa es el holocausto universal, rescate de todas
las tribus y lenguas y pueblos y naciones (cfr. Ap 5, 9). Todos los cristianos,
por la Comunión de los Santos, reciben las gracias de cada Misa, tanto si se
celebra ante miles de personas o si ayuda al sacerdote como único asistente un
niño, quizá distraído. En cualquier caso, la tierra y el cielo se unen para
entonar con los Angeles del Señor: Sanctus, Sanctus, Sanctus…» (San Josemaría,
Es Cristo que pasa, 89).
[vi]
Cfr. Benedicto XVI, Exh. Apost.
Sacramentum caritatis, 62; Concilio Vaticano II, Const. Sacrosanctum Concilium,
54.
[vii] Concilio Vaticano II, Const. Lumen
Gentium, 10.
[viii] Cfr. Concilio Vaticano II, Const.
Lumen Gentium, 10 y 34; Decr. Presbyterorum Ordinis, 2.
[ix] Cfr. Concilio Vaticano II, Const.
Sacrosantum Concilium, 20.
[x] Benedicto XVI, Exh. Apost. Sacramentum
caritatis, 29.
[xi] Cf. Concilio Vaticano II, Decr. Presbyterorum Ordinis, 2 y 15.
[xii]
Juan Pablo II, Enc. Ecclesia de Eucharistia, 29. En nota 59 y 60 se reproducen
las intervenciones magisteriales del siglo XX sobre este punto: «El ministro
del altar actúa en la persona de Cristo en cuanto cabeza, que ofrece en nombre
de todos los miembros».
[xiii] Concilio Vaticano II,
Const. Sacrosanctum Concilium, 4.