12/03/2018

Leitura espiritual

RESUMOS DA FÉ CRISTà

TEMA 17 A liturgia e os sacramentos em geral

3. A Liturgia


A liturgia cristã «é essencialmente acção de Deus (actio Dei) que nos envolve em Jesus por meio do Espírito» [i], e possui uma dupla dimensão: ascendente e descendente [ii].

«A liturgia é “acção” do “Cristo total” (Christus totus)» (Catecismo, 1136), por isso «é toda a comunidade, o corpo de Cristo unido à sua Cabeça, que celebra» (Catecismo, 1140).

No centro da assembleia encontra-se o próprio Jesus Cristo (cf. Mt 18, 20), agora ressuscitado e glorioso.

Cristo precede a assembleia que celebra.

Ele – que actua inseparavelmente unido ao Espírito Santo – convoca-a, reúne-a e ensina-a. Ele, o Sumo e Eterno Sacerdote é o principal protagonista da acção ritual que torna presente o evento fundador, embora se sirva dos seus ministros para representar (para tornar presente, real e verdadeiramente, no aqui e agora da celebração litúrgica) o seu sacrifício redentor e tornar-nos participantes dos dons conviviais da sua Eucaristia.
Sem esquecer que, formando com Cristo-Cabeça «como que uma única pessoa mística» [iii], a Igreja actua nos sacramentos como “comunidade sacerdotal”, “organicamente estruturada”: graças ao Baptismo e à Confirmação, o povo sacerdotal tornas-e apto para celebrar a Eucaristia.
Por isso, «as acções litúrgicas não são acções privadas, mas celebrações da Igreja (…), pertencem a todo o corpo da Igreja, manifestam-no e afectam-no, atingindo, porém, cada um dos membros de modo diverso, segundo a variedade de estados, funções e participação actual» [iv].

Em cada celebração litúrgica comparticipa toda a Igreja, céus e terra, Deus e os homens (cf. Ap 5).

A liturgia cristã, embora se celebre apenas aqui e agora, num lugar concreto e expresse em si uma certa comunidade, é por natureza católica, provém do todo e conduz ao todo, em unidade com o Papa, com os bispos em comunhão com o Romano Pontífice, com os crentes de todas as épocas e lugares «para que Deus seja tudo em todas as coisas» (1 Cor 15, 28).
Nesta perspectiva, é fundamental o princípio de que o verdadeiro sujeito da liturgia é a Igreja, concretamente a communio sanctorum de todos os lugares e de todos os tempos [v].

Por isso, quanto mais uma celebração está imbuída desta consciência, tanto mais nela se realiza concretamente o sentido da liturgia.
Expressão desta consciência de unidade e universalidade da Igreja é o uso do latim e do canto gregoriano em algumas partes da celebração litúrgica [vi].

A partir destas considerações, podemos afirmar que a assembleia que celebra a Eucaristia é a comunidade dos baptizados que, «pela regeneração e pela unção do Espírito Santo, são consagrados para serem casa espiritual, sacerdócio santo, para que, por meio de todas as obras próprias do cristão, ofereçam oblações espirituais» [vii].

Este “sacerdócio comum” é o de Cristo, único Sacerdote, no qual todos os seus membros participam [viii].

«Assim, na celebração dos sacramentos, toda a assembleia é “liturgia”, cada qual segundo a sua função, mas “na unidade do Espírito” que age em todos» (Catecismo, 1144).
Por isso, a participação nas celebrações litúrgicas, mesmo que não abarque toda a vida sobrenatural dos fiéis, constitui para eles, como para toda a Igreja, o cume para o qual tende toda a sua actividade e a fonte donde mana a sua força [ix].

Na realidade, «a Igreja recebe-se e simultaneamente exprime-se nos sete sacramentos, pelos quais a graça de Deus influencia concretamente a existência dos fiéis para que toda a sua vida, redimida por Cristo, se torne culto agradável a Deus» [x].

Quando nos referimos à assembleia como sujeito da celebração quer dizer que cada fiel, ao actuar como membro participante da assembleia, faz tudo e só o que lhe corresponde.
«Os membros não têm todos a mesma função» (Rm 12, 4).
Alguns são chamados por Deus na e pela Igreja para um serviço especial da comunidade.
Estes servidores são escolhidos pelo sacramento da Ordem, por meio do qual o Espírito Santo os torna aptos para actuar em representação de Cristo-Cabeça ao serviço de todos os membros da Igreja [xi].

Como João Paulo II esclareceu em diversos momentos, «in persona Christi quer dizer algo mais do que “em nome”, ou então “nas vezes” de Cristo.
In persona, isto é, na específica e sacramental identificação com o Sumo e Eterno Sacerdote, que é o Autor e o principal Sujeito deste seu próprio sacrifício, no que verdadeiramente não pode ser substituído por ninguém» [xii].

Podemos dizer graficamente, como diz o Catecismo, que «o ministro ordenado é como que o “ícone” de Cristo-Sacerdote» (Catecismo, 1142).
«O mistério celebrado na liturgia é um só, mas as formas da sua celebração são diversas.
A riqueza insondável do mistério de Cristo é tal, que nenhuma tradição litúrgica pode esgotar-lhe a expressão». (Catecismo, 1200-1201).
«As tradições litúrgicas ou ritos, actualmente em uso na Igreja, são: o rito latino (principalmente o rito romano, mas também os ritos de certas igrejas locais, como o rito ambrosiano ou o de certas ordens religiosas) e os ritos bizantino, alexandrino ou copta, siríaco, arménio, maronita e caldeu» (Catecismo, 1203).

«A Igreja considera iguais em direito e honra todos os ritos legitimamente reconhecidos, quer que se mantenham e sejam por todos os meios promovidos» [xiii].

JUAN JOSÉ SILVESTRE
Bibliografia básica

 - Catecismo da Igreja Católica, 1066-1098; 1113-1143; 1200-1211 e 1667-1671.
Leituras recomendadas
- S. Josemaria, Homilia «A Eucaristia, mistério de fé e de amor», em Cristo que Passa, 83-94; também os n. 70 e 80. Temas Actuais do Cristianismo, 115. - J. Ratzinger, Introdução ao Espírito da Liturgia, Edições Paulinas, 2002. - J. L. Gutiérrez-Martín, Belleza y misterio. La liturgia, vida de la Iglesia, EUNSA (Astrolabio), Pamplona 2006, pp. 53-84, 13-126.





[i] Benedicto XVI, Exh. apost. Sacramentum Caritatis, 37
[ii] «Por una parte, la Iglesia, unida a su Señor y “bajo la acción del Espíritu Santo” (Lc 10, 21), bendice al Padre “por su don inefable” (2 Co 9, 15) mediante la adoración, la alabanza y la acción de gracias. Por otra parte, y hasta la consumación del designio de Dios, la Iglesia no cesa de presentar al Padre “la ofrenda de sus propios dones” y de implorar que el Espíritu Santo venga sobre esta ofrenda, sobre ella misma, sobre los fieles y sobre el mundo entero, a fin de que por la comunión en la muerte y en la resurrección de Cristo-Sacerdote y por el poder del Espíritu estas bendiciones divinas den frutos de vida “para alabanza de la gloria de su gracia” (Ef 1, 6)» (Catecismo, 1083).
[iii] Pío XII, Enc. Mystici Corporis cit. en Catecismo, 1119.
[iv] Concilio Vaticano II, Const. Sacrosanctum Concilium, 26; cfr. Catecismo, 1140.
[v] «Que la oblación redunde en salvación de todos –Orate, fratres, reza el sacerdote–, porque este sacrificio es mío y vuestro, de toda la Iglesia Santa. Orad, hermanos, aunque seáis pocos los que os encontráis reunidos; aunque sólo se halle materialmente presente nada más un cristiano, y aunque estuviese solo el celebrante: porque cualquier Misa es el holocausto universal, rescate de todas las tribus y lenguas y pueblos y naciones (cfr. Ap 5, 9). Todos los cristianos, por la Comunión de los Santos, reciben las gracias de cada Misa, tanto si se celebra ante miles de personas o si ayuda al sacerdote como único asistente un niño, quizá distraído. En cualquier caso, la tierra y el cielo se unen para entonar con los Angeles del Señor: Sanctus, Sanctus, Sanctus…» (San Josemaría, Es Cristo que pasa, 89).
[vi] Cfr. Benedicto XVI, Exh. Apost. Sacramentum caritatis, 62; Concilio Vaticano II, Const. Sacrosanctum Concilium, 54.
[vii] Concilio Vaticano II, Const. Lumen Gentium, 10.
[viii] Cfr. Concilio Vaticano II, Const. Lumen Gentium, 10 y 34; Decr. Presbyterorum Ordinis, 2.
[ix] Cfr. Concilio Vaticano II, Const. Sacrosantum Concilium, 20.
[x] Benedicto XVI, Exh. Apost. Sacramentum caritatis, 29.
[xi] Cf. Concilio Vaticano II, Decr. Presbyterorum Ordinis, 2 y 15.
[xii] Juan Pablo II, Enc. Ecclesia de Eucharistia, 29. En nota 59 y 60 se reproducen las intervenciones magisteriales del siglo XX sobre este punto: «El ministro del altar actúa en la persona de Cristo en cuanto cabeza, que ofrece en nombre de todos los miembros».
[xiii] Concilio Vaticano II, Const. Sacrosanctum Concilium, 4.

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